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“Acabo de voltar do Irã.”


Por Stephen Kinzer*

Nos EUA, hoje, há um tema que faz calar todas as conversas periféricas. Os que estejam em posição de servir-se dessa vara de condão, convertem-se em objeto de fascinação geral, embora temporária, como deve ter acontecido com nossos avós, caso tivessem visitado a China ou a URSS dos anos 50s. Viajar ao Irã converte qualquer um em aventureiro amalucado ou em forasteiro em perigo, em território inimigo.

A realidade é mais prosaica. Embora poucos norte-americanos visitem o Irã, não há, de fato, nada que os impeça. No meu caso, acompanhei um grupo de turistas norte-americanos em giro de duas semanas e poucos quilômetros pelo país. Não nos reunimos nem com o governo nem com os líderes da oposição, e andamos livremente, conversando com quem nos desse na telha conversar, com iranianos comuns, e o fizemos em todas as lojas onde entramos. Dado que o governo impôs restrições a visitas de jornalistas ocidentais, que mal conseguem trabalhar no Irã, andar como turista pela cidade pode ser o melhor meio de descobrir o que pensam e sentem as pessoas.

O que mais chama a atenção de norte-americanos que visitem o Irã é ver o quanto as pessoas são pró-EUA. Em nenhum outro lugar do Oriente Médio, em outros pontos do mundo muçulmano, e praticamente em lugar algum do planeta encontra-se gente que tanto e tão abertamente admira os EUA. Pesquisas de opinião confirmam o fenômeno, e não foi novidade para mim, que já vira exatamente o mesmo em outras visitas. Mas perturba sempre, se se pensa que ali se está no coração do eixo do mal, cercados, como eu estava, em plena praça Imam, em Isfahan, por garotas de ginásio, aos gritinhos de “Amamos os EUA!” Num jardim persa em Kashan, encontrei um solene ancião, que, de inglês, só sabia dizer “America very good”, frase que pronunciava com grave reverência.

O sentimento pró-EUA no Irã explica-se, sobretudo, pela admiração que os iranianos sentem pelos feitos dos EUA. Os EUA têm tudo a que muitos iranianos aspiram: democracia, liberdade pessoal e Estado de Direito. Os iranianos aspiram profunda e sinceramente por essas bênçãos, aspiração que não é nem abstrata nem transitória. Essa aspiração é produto de um século de luta para construir uma democracia liberal. Desde a Revolução Constitucional de 1906, gerações de iranianos assimilaram ideais democráticos. Hoje, a sociedade iraniana é o oposto do regime iraniano: é sociedade aberta, tolerante, ansiosa por engajar-se no mundo contemporâneo. Há muito mais potencial de longo prazo para a democracia no Irã do que em qualquer outro pondo do Oriente Médio muçulmano.

O sentimento pró-EUA no Irã é ativo estratégico valiosíssimo para os EUA. Um ataque militar dos EUA contra o Irã liquidaria ou, pelo menos, feriria gravemente esse importante ativo estratégico. O mais provável é que, se os EUA atacarem militarmente o Irã, terão conseguido converter o mais pró-americanos dos povos do Oriente Médio em mais um povo de antinorte-americanistas, o que enfraquecerá ainda mais a posição dos EUA, na região mais volátil do mundo.

A segunda coisa que aprendi, por ver, no Irã, é que a explosão de protestos antigoverno do ano passado acabou-se, pelo menos por hora. O governo insiste em reprimir com violência alguns fracos protestos, apenas porque repressão violenta funciona. E funcionou no Irã. Há muitos iranianos insatisfeitos – não sei estimar quantos –, mas ninguém com quem falei previu novos levantes ou agitações de rua. A vida transcorre razoavelmente boa para muitos iranianos, e uma eleição talvez roubada (e nem se sabe se foi roubada) não é suficiente para tirá-los de casa e fazê-los enfrentar espancamentos e prisões.

Isso implica que, se a alguém interessa manter negociações com o Irã em futuro próximo e nos próximos anos – o tempo necessário para que o programa nuclear iraniano amadureça –, terá de negociar com o atual regime. Adiar o início de negociações amplas com o Irã, na esperança de que o governo de Ahmadinejad caia... parece-me esperança totalmente delirante, irrealista.

Finalmente, me chamou a atenção – embora não me tenha surpreendido – a unanimidade dos iranianos, inclusive muitos dos que participaram dos protestos no ano passado, em torno de dois pontos: o apoio a uma agenda de reformas e a firme rejeição de qualquer ajuda externa de qualquer outra potência, EUA ou outra.

“Muitos não gostam de Ahmadinejad, mas muito menos queremos os EUA, aqui, mandando em nós” – disse-me o dono de uma loja no bazaar de Shiraz. “Preferem viver sob um governo do qual não gostam, do que sob qualquer governo imposto ao Irã por estrangeiros.”

Esses sentimentos são fortes e estão por toda a parte, no Irã. O motivo é histórico, da história moderna do país. Durante quase todos os séculos 19 e 20, o Irã foi devastado por potências estrangeiras que subjugaram o povo e saquearam seus recursos. Cada vez que o Irã começou a tentar modernizar-se – por exemplo, construindo uma usina de aço nos anos 1930s, ou nacionalizando seu petróleo, nos anos 1950s – alguém veio de fora e interrompeu qualquer modernização.

Os iranianos tornaram-se super sensíveis à intervenção estrangeira. São mais sensíveis que qualquer outro povo no mundo. Por isso, rejeitam quaisquer forças políticas que suspeitem ser patrocinadas, apoiadas ou estimuladas por potências estrangeiras.

Muitos norte-americanos apreciariam ver o Congresso e o presidente Obama abraçarem publica e vigorosamente o movimento democrático iraniano. Pois nem os líderes dos próprios movimentos democráticos iranianos querem vê-los por lá, ainda que para apoiá-los.Em vez de ajudar a democracia iraniana, qualquer sinal de apoio que venha de Washington só servirá para estigmatizar o apoiado e deslegitimar sua causa. Os norte-americanos tendem a supor que seu apoio a amigos que se digam democráticos sempre ajuda. Não. No Irã, só atrapalhará.

“Bush foi um desastre”, disse um professor de matemática que encontrei sentado ao pé de uma figueira na cidade de Rayen. “Obama é um pouco melhor. Mas os iranianos acreditam firmemente que, quando EUA ou Inglaterra viram os olhos para o Irã ou para países árabes, sempre querem roubar alguma coisa. Todos eles.”

Há alguns traços da realidade iraniana, bem claros: tão cedo não haverá mudança de regime, e não há o que o ocidente possa tentar para acelerar qualquer mudança. Isso não implica que os iranianos não sejam democráticos: são mais democráticos e mais democratizáveis, eles mesmos, que qualquer outra sociedade no mundo muçulmano. 70% dos iranianos têm hoje menos de 30 anos. As mudanças virão. Mas virão ao ritmo do Irã, não ao ritmo dos EUA.

Enquanto isso, as centrífugas continuaram girando nas usinas nucleares iranianas, é claro. A crise exige diplomacia criativa. E Washington parece congelada no paradigma da confrontação.

* Texto traduzido por Caia Fittipaldi e publicado no Huffington Post .

Fonte: Sul21

Imagem: Kayser

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¿Dónde será la guerra?

Venezuela: La ofensiva de EU es total

Frida Modak para ALAI, América Latina en Movimiento

ALAI AMLATINA, 09/08/2010.- En las últimas semanas hemos presenciado una serie de hechos que no son lo que aparentan, sino que forman parte de los preparativos de una acción militar de gran envergadura destinada a ponerle término al gobierno constitucional de Venezuela. Como señalamos la semana pasada, Estados Unidos está aplicando su vieja estrategia del Track 1 y el Track 2, que implica derrocar a un gobierno desestabilizándolo hasta provocar su caída en términos ?constitucionales o derrocarlo por la fuerza si eso no es posible.

En Venezuela se ha estado aplicando el Track I desde que el presidente Hugo Chávez ganó las elecciones presidenciales en 1998 y al asumir la presidencia de la república en 1999 puso en práctica un programa de gobierno que no le gusta ni conviene a Estados Unidos, que ya el año 2002 logró que un grupo de militares lo secuestrara y anunciara que el mandatario había renunciado.

Mientras tanto, Chávez era llevado a un recinto militar desde el cual lo iban a sacar del país en una avioneta con registro estadunidense que, según se informó, era de propiedad del grupo venezolano Cisneros, dueño entonces de Venevisión y de Ediciones América. Cualquier parecido con lo sucedido en Honduras no es casual y en ambos casos las renuncias de los presidentes nunca existieron.

El próximo 26 de septiembre habrá elecciones parlamentarias en Venezuela y el Pentágono y el Departamento de Estado se están moviendo por toda América Latina para crear las condiciones que justifiquen un golpe de estado si la oposición venezolana vuelve a perder los comicios, así como perdió los comicios y referendos realizados los años 1998, 1999, 2000, 2004, 2005, 2006, 2008 y 2009. El único revés del gobierno venezolano, y relativo, fue el de la reforma constitucional del 2008.

Las encuestas le dan ventaja hasta ahora al gobierno del presidente Chávez para las elecciones parlamentarias de septiembre y Estados Unidos quiere revertir esa situación y, si no puede, hay todo un engranaje militar que sugiere una intervención armada, de lo que es parte lo dicho por el ya ex presidente colombiano Alvaro Uribe sobre la supuesta presencia de guerrilleros de las FARC en Venezuela.

Intervencionismo político latinoamericano

En el intento por lograr que el presidente Chávez pierda esta elección parlamentaria hay sectores políticos latinoamericanos involucrados y dinero estadunidense y europeo. Pero empecemos por la intervención política.

El 26 de junio el diario chileno El Mercurio informó que el lunes 21 de ese mes, habían llegado a ese país 16 dirigentes de la oposición venezolana que pertenecen a la llamada Mesa de Unidad Democrática, para participar en "un programa especial de trabajo", con personeros de la Concertación de Partidos para la Democracia, que gobernó Chile desde la salida de Pinochet hasta el triunfo del actual presidente, cuyo período de inició en marzo de este año.

Los opositores al gobierno venezolano buscaban que los chilenos les dieran "capacitación", por las semejanzas que según ellos habría "entre la realidad venezolana y la de Chile de fines de los años 80", cuando surgió la Concertación, que derrotó al dictador Pinochet en un plebiscito. Los "instructores" fueron altos ex-funcionarios de gobiernos de la Concertación, pertenecientes a los distintos partidos que la integran.

Estuvieron, entre otros, el democristiano Mariano Fernández, último canciller de la presidenta Bachelet y ex-embajador en Estados Unidos; el socialista Enrique Correa, ex Secretario General de Gobierno del ex-presidente Aylwin y Sergio Bitar, dirigente del Partido por la Democracia, quien fue senador, ministro de Educación en el gobierno de Ricardo Lagos y de Obras Públicas en el de Michelle Bachelet. Bitar fue también ministro de Minería del Presidente Allende.

Esto provocó críticas en sectores del partido Socialista en particular, mientras otros concertacionistas se unían a la derecha para cuestionar al presidente venezolano y sus parlamentarios se autodesignaron observadores electorales para septiembre próximo, creando un conflicto que llegó a niveles gubernamentales hasta que el presidente chileno relegó el asunto al parlamento.

El detalle es importante, porque si bien no aparece involucrado José Miguel Insulza, sí lo está su amigo y colaborador en la Secretaría General de la OEA Enrique Correa, al que generalmente designa como observador de ese organismo en las elecciones de la región. Insulza fue responzabilizado por el canciller ecuatoriano de la ruptura de relaciones entre Colombia y Venezuela, por no haber postergado, como se lo pidió, la sesión en la que Colombia formuló sus cargos.

Dinero y preparativos militares

Como es habitual en estos casos, Estados Unidos destina fuertes cantidades de dólares a financiar sus acciones intervencionistas en otros países. Contra el presidente Allende invirtieron muchos millones, como documentó el congreso estadunidense y en Venezuela están haciendo lo mismo, aunque los concertacionistas chilenos no lo quieran recordar

La Fundación Nacional para la Democracia, NED por sus siglas en inglés, fue creada por Ronald Reagan para legalizar lo que antes se hacía sólo bajo el ropaje de la Agencia Central de Inteligencia. El dinero, que se aprueba en el congreso, se reparte a través de las fundaciones republicana y demócrata, y de organismos empresariales y sindicales del país del norte a sus similares de los países a desestabilizar.

En 1999, la NED repartió en Venezuela un millón 273 mil 408 dólares, según se lee en su página de internet. Pero eso no es lo único que se ha enviado, de acuerdo a un informe del instituto FRIDE de España, también se da financiamiento por medio del Movimiento Mundial para la Democracia, creado por la NED.

A esto se agrega lo que se manda por medio de la Agencia Internacional para el Desarrollo, USAID, de Estados Unidos;la Freedom House, la Comision Europea y las fundaciones Konrad Adenauer y Friederich Ebert de Alemania, cada una ha girado alrededor de 500 mil euros anuales a los partidos venezolanos de oposición. La embajada de Estados Unidos en Venezuela usa la valija diplomática para otros envíos y todo se lavaba en el mercado paralelo, lo que determinó que el gobierno venezolano dictara una nueva legislación cambiaria.

Si todo esto que hemos descrito no conduce a una derrota electoral del gobierno del presidente Chávez en Septiembre, todo indica que el plan "B" está en marcha. A Costa Rica, el país ?"in ejército", llegarán este año 43 barcos de guerra estadunidenses artillados. En las calles de Panamá ya se encuentran militares estadunidenses uniformados incluso, lo que no se veia desde que se cerraron las bases de EU el año 2000. Dicen que van a combatir el narcotráfico a través de 15 nuevas instalaciones militares.

En Colombia son 13 las bases estadunidenses autorizadas por Uribe. En Perú se acaban de realizar ejercicios navales con participación de diez países sur y centro americanos encabezados por Estados Unidos. ¿Dónde será la guerra?

- Frida Modak, periodista, fue Secretaria de Prensa del Presidente Salvador Allende.
Imagem: Latuff
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Objetivo Irã: os riscos de uma Terceira Guerra Mundial


Fonte: Agência Carta Maior

Objetivo Irã: os riscos de uma Terceira Guerra Mundial

As consequências de um ataque mais amplo por parte dos EUA, da OTAN e de Israel contra o Irã são de grande alcance. A guerra e a crise econômica estão intimamente relacionadas. A economia de guerra é financiada por Wall Street que, por sua vez, se ergue como credor da administração dos EUA. Por sua vez, “a luta pelo petróleo” no Oriente Médio e Ásia Central serve diretamente aos interesses dos gigantes do petróleo anglo-estadunidense. Os EUA e seus aliados estão “batendo os tambores da guerra” na altura de uma depressão econômica mundial, para não mencionar a catástrofe ambiental mais grave na história da humanidade. O artigo é de Michel Chossudovsky, diretor do Centro para Investigação sobre a Globalização.

Data: 11/08/2010

Centro para a Investigação da Globalização (Global Research on Globalization)

A humanidade está numa encruzilhada perigosa. Os preparativos de guerra para atacar o Irã estão em estágio avançado. Sistemas de alta tecnologia, incluindo armas nucleares, estão totalmente desenvolvidos. Esta aventura militar está colocada sobre o tabuleiro de xadrez do Pentágono desde meados da década de 1990. Primeiro o Iraque, depois o Irã, segundo documentos desclassificados de 1995, do Comando Central dos EUA.

A escalada é parte da agenda militar. Além do Irã, próximo objetivo junto com a Síria e o Líbano, esse desdobramento estratégico ameaça também a Coréia do Norte, a China e a Rússia. Desde 2005, os EUA e seus aliados, incluídos aqui os Estados Unidos da OTAN e Israel, estão envolvidos numa ampla atividade e no armazenamento de sistemas de armas avançados.

Os sistemas de defesa aéreos dos EUA, os países membros da OTAN e Israel estão totalmente integrados. Trata-se de uma tarefa coordenada pelo Pentágono, pela OTAN e pela Força de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), com a participação ativa de militares de vários países da OTAN e não só, incluindo os estados árabes de primeira linha (os membros da OTAN do Mediterrâneo e a Iniciativa de Cooperação de Istambul), Arábia Saudita, Japão, Coréia do Sul, Índia, Indonésia, Singapura, Austrália, entre outros. A OTAN se compõe de 28 estados membros. Outros 21 países são membros do Conselho da Aliança Euro-Atlântica (EAPC); o Diálogo Mediterrânico e a Iniciativa de Cooperação de Istambul contam com dez países árabes e Israel.

O papel do Egito, dos Estados do Golfo e da Arábia Saudita (dentro de uma aliança militar ampliada) é de particular relevância. O Egito controla o trânsito de barcos de guerra e de barcos petroleiros pelo Canal de Suez. Arábia Saudita e os Estados do Golfo ocupam a costa ocidental do sul do Golfo Pérsico, o estreito de Ormuz e o Golfo de Omã.

Em princípios de junho deste ano o Egito informou que permitiu a onze barcos dos EUA e de Israel passar pelo Canal de Suez, numa aparente sinalização ao Irã. Em 12 de junho, vozes da imprensa regional informaram que os sauditas haviam dado a Israel autorização para sobrevoar seu espaço aéreo (Mirak Weissbach Muriel, Israel Insane War on Iran Must Be Prevented, Global Research, 31 de julho de 2010). Na doutrina militar consagrada após o 11 de setembro, o estabelecimento massivo de armamento militar se definiu como parte da chamada Guerra Global contra o terrorismo, dirigido para organizações terroristas não estatais, como a Al Qaeda e os chamados Estados patrocinadores do terrorismo, entre eles o Irã, Síria, Líbano e Sudão.

A criação de novas bases militares dos EUA, o armazenamento de armas avançadas, incluindo as armas nucleares táticas, etc. foram levadas a cabo como parte da preventiva doutrina militar defensiva debaixo do guarda chuva da "Guerra Global contra o Terrorismo".

Guerra e crise econômica
As consequências de um ataque mais amplo por parte dos EUA, da OTAN e de Israel contra o Irã são de grande alcance. A guerra e a crise econômica estão intimamente relacionadas. A economia de guerra é financiada por Wall Street que, por sua vez, se ergue como credor da administração dos EUA.

Os produtores de armas dos EUA são os destinatários de bilhões de dólares do Departamento de Defesa do país, pelos contratos de aquisição de sistemas de armas avançadas.

Por sua vez, “a luta pelo petróleo” no Oriente Médio e Ásia Central serve diretamente aos interesses dos gigantes do petróleo anglo-estadunidense. Os EUA e seus aliados estão “batendo os tambores da guerra” na altura de uma depressão econômica mundial, para não mencionar a catástrofe ambiental mais grave na história da humanidade. Por amarga ironia, a British Petroleum, uma das maiores jogadoras do tabuleiro de xadrez geopolítico da Ásia Central no Médio Oriente, antigamente conhecida como Anglo-Persian Oil, causou a terrível catástrofe ecológica no Golfo do México.

Meios de desinformação
A opinião pública, influenciada pelo barulho dos meios de comunicação, oferece apoio tático, indiferente ou ignorante dos possíveis impactos daquilo que se mantém propositalmente como um fator punitivo da operação dirigida contra as instalações nucleares do Irã em lugar de uma guerra total.

Os preparativos de guerra incluem o aumento da atividade dos fabricantes de armas nucleares dos EUA e de Israel. Neste contexto, as consequências devastadoras de uma guerra nuclear são banalizadas ou simplesmente não se mencionam. A crise “real” que ameaça a humanidade é o “aquecimento global” e não a guerra.

A guerra contra o Irã é apresentada à opinião pública como um tema banal entre tantos outros. Não é apresentado como uma ameaça à Mãe Terra, como é o caso do aquecimento global. Não se noticia com destaque. O fato de que um ataque contra o Irã poderia levar a uma potencial escalada e o desencadear uma guerra global não é motivo de preocupação.

Culto à morte e a destruição
A máquina global de matar é sustentada pelo culto à morte e pela destruição que impregnam muitos dos filmes de Hollywood, e por não mencionar as guerras no horário nobre. E também pelas séries de televisão sobre delinquência.

Este culto à matança está respaldado pela CIA e pelo Pentágono, que apóia, financiando, produções de Hollywood como instrumento de propaganda de guerra.

O ex-agente da CIA Bob Baer disse: "Existe uma simbiose entre a CIA e Hollywood e revelou que o ex-diretor da CIA, George Tenet, se encontra atualmente em Hollywood, conversando com os estúdios. (Matthew Alford and Robie Graham, “Lights, Camera Covert Action: The Deep Politics of Hollywood”, Global Research, 31 de janeiro de 2009).

A máquina de matar se desenvolveu em nível global dentro do marco de estrutura de comando de combate unificado. E é mantida habitualmente por instituições de governo, meios corporativos, altos funcionários e intelectuais que se colocam à disposição de uma Nova Ordem Mundial a partir de um grupo de pensadores de Washington e dos institutos de investigação de estudos estratégicos, como instrumento indiscutível da paz e da prosperidade mundial. É a cultura da morte e da violência gravando-se na consciência humana.

A guerra está amplamente aceita como parte de um projeto social: a Pátria tem que ser defendida e protegida.

A violência legitimada e as execuções extrajudiciais contra os terroristas são mantidas nas democracias ocidentais como instrumentos necessários de segurança nacional.

Uma “guerra humanitária” é sustentada pela chamada comunidade internacional. Não é condenada como um ato criminoso. Seus principais idealizadores são recompensados por suas contribuições à paz mundial. Em relação ao Irã, o que se está desenvolvendo é a legitimação direta de uma guerra em nome de uma idéia ilusória de segurança mundial.

Um ataque aéreo “preventivo” contra o Irã levaria a uma escalada. Na atualidade existem três teatros de guerra no Oriente Médio e Ásia Central: Iraque, Afeganistão/Paquistão e Palestina.

Se o Irã se tornar objeto de um ataque “preventivo” por forças aliadas, toda a região, desde o Mediterrâneo Oriental até a fronteira da China com o Afeganistão e o Paquistão poderia arder em chamas, o que nos conduz, potencialmente, a um cenário de Terceira Guerra Mundial.

A guerra se estenderia ao Líbano e a Síria. É muito pouco provável que se os ataques, caso se concretizassem, ficassem circunscritos a instalações nucleares do Irã, como afirmam as declarações oficiais dos EUA e da OTAN. O mais provável será um ataque aéreo tanto a infraestruturas militares como civis, sistemas de transporte, fábricas e edifícios públicos.

O Irã, com dez por cento estimados do petróleo mundial, ocupa o terceiro lugar em reservas de gás, depois da Arábia Saudita (25%) e o Iraque (11%), pelo tamanho de suas reservas. Em comparação, os EUA têm menos de 2,8% das reservas mundiais de petróleo. (Cf. Eric Waddell, The Battle for Oil, Global Research, dezembro de 2004).

É de grande importância o recente descobrimento no Irã, nas regiões de Soumar e Halgan, das segundas maiores reservas mundiais conhecidas que se estimam em 12,4 bilhões de pés cúbicos. Apontar as armas ao Irã não só consiste em recuperar o controle anglo-estadunidense sobre o petróleo e a economia de gás, incluindo-se as rotas de oleodutos, mas também questiona a influência da China e da Rússia na região.

O ataque planificado contra o Irã faz parte de um mapa global coordenado de orientação militar. É parte da “longa guerra do Pentágono”, uma proveitosa guerra sem fronteiras, um projeto de dominação mundial, uma sequencia de operações militares.

Os planificadores militares dos EUA e da OTAN têm previsto diversos cenários da escalada militar. E são também muito conscientes das implicações geopolíticas, como por exemplo, saber que a guerra poderá se estender para além da região do Oriente Médio e da Ásia Central. Os efeitos econômicos sobre os mercados do petróleo, etc. são também analisados. Enquanto o Irã, a Síria e o Líbano são os objetivos imediatos, China, Rússia, Coréia do Norte, sem contar Venezuela e Cuba, são também objeto de ameaça dos EUA.

Está em jogo a estrutura das alianças militares. As atividades militares da OTAN-EUA-Israel, incluindo manobras e exercícios realizados na Rússia e suas fronteiras próximas com a China têm uma relação direta com a guerra proposta contra o Irã. Estas ameaças veladas, incluindo o seu calendário, constituem um claro aviso aos antigos poderes da época da Guerra Fria, para evitar que possam ou venham a interferir em um ataque dos EUA ao Irã.

Guerra Mundial
O objetivo estratégico em médio prazo é chegar ao Irã e neutralizar seus aliados, através da diplomacia dos tiros de canhão. O objetivo militar em longo prazo é dirigir-se diretamente à China e a Rússia.

Ainda que o Irã seja o objetivo imediato, o desdobramento militar não se limita ao Oriente Médio e a Ásia Central. Uma agenda militar global está estabelecida. O avanço das tropas de coalizão e os sistemas de armas avançadas dos EUA, da OTAN e seus sócios, está se configurando de forma simultânea em todas as principais regiões do mundo.

As recentes ações dos militares dos EUA em frente as costas da Coréia do Norte em forma de manobras são parte de um desenho global. Os exercícios militares, simulações de guerra, o deslocamento de armas, etc. dos EUA, da OTAN e seus aliados que se estão realizando simultaneamente nos principais pontos geopolíticos, visam principalmente a Rússia e a China.

-A península da Coréia, o Mar do Japão, o estreito de Taiwan, o Mar Meridional da China, ameaçam a China.

- O deslocamento de mísseis Patriot para Polônia, o Centro de Alerta próximo à República Checa, ameaça a Rússia.

- Avanços navais na Bulgária, na Romênia e Mar Negro, ameaçam a Rússia.

- Avanços de tropas da OTAN e dos EUA na Geórgia também.

- Um deslocamento naval de grande dimensão no Golfo Pérsico, incluindo-se submarinos israelenses, dirigidos contra o Irã.

Ao mesmo tempo, o Mediterrâneo Oriental, o Mar Negro, o Caribe, América Central e região andina da América do Sul, são as zonas de militarização em curso. Na América Latina e no Caribe, as ameaças se dirigem à Venezuela e a Cuba.

“Ajuda militar” dos EUA
Por sua vez, transferências de armas em grande escala foram feitas sob a bandeira norte americana como “ajuda militar” a países selecionados, incluindo-se cinco bilhões de dólares num acordo de armamento com a Índia que se destina a melhorar as capacidades bélicas da Índia contra a China. (Huge U.S – Índia Arms Deal To Contain China, Global Times, 13 de julho de 2010).

“Isto (a venda de armas) significa melhorar as relações entre Washington e Nova Delhi e, de forma deliberada ou não terá o efeito de conter a influência da China na região”. (Citado em Rick Rozoff, Confronting both China and Russia: U.S. Risks Military Clash With China in Yellow Sea, Global Research, 16 de julho de 2010).

Os EUA conseguiram acordos de cooperação militar com alguns países do sul da Ásia Oriental, como Singapura, Vietnã e Indonésia, incluindo sua “ajuda militar”, assim como a participação em manobras militares, sempre dirigidas pelos Estados Unidos, na órbita do Pacífico (julho/agosto de 2010). Esses acordos são de apoio às implementações de armas dirigidas contra a República Popular da China. (Cf. Rick Rozoff, op. Cit.)

Do mesmo modo e mais diretamente relacionado ao ataque planificado contra o Irã, os EUA estão armando os Estados do Golfo (Bahrein, Kuwait, Qatar e os Emirados Árabes Unidos) com o interceptador de mísseis terra-ar Patriot Advanced Capability-3 (THAAD), assim como os baseados nos modelos de mísseis mar-3, interceptadores instalados em barcos de guerra de classe Aegis no Golfo Pérsico. (Cf. Rick Rozoff, NATO’s Role in the Military Encirclement of Iran, 10 de fevereiro de 2010).

Calendário de provisão e armazenamento militar
No que diz respeito à transferência de armas dos EUA para sócios e aliados, o crucial é o momento da entrega e do seu desdobramento. O lançamento de uma operação militar dos EUA ocorrerá, uma vez que esses sistemas de armas estejam em seu lugar mediante o desenvolvimento efetivo da aplicação e da capacitação do pessoal preparado. (Por exemplo, a Índia)

Estamos falando de um desenho militar mundial cuidadosamente coordenado e controlado pelo Pentágono, com a participação de forças armadas combinadas de mais de quarenta países. Esse desdobramento militar mundial é, com certeza, o maior desdobramento de sistema de armas avançados da história.

Por sua vez, os EUA e seus aliados têm estabelecido novas bases militares em diferentes partes do mundo. “A superfície da terra está estruturada como se fosse um enorme campo de batalha” (Cf. Jules Dufour, The Worldwide Network of US Military Bases, Investigación Global, 01 de julho de 2007).

O Comando Unificado da estrutura geográfica dividida em comandos de combate tem como base uma estratégia de militarização em nível global. “Os militares norte americanos têm bases em 63 países. E novas bases foram construídas a partir do 11 de setembro de 2001 em sete países. No total, existem 255.065 militares dos EUA distribuídos por todo o mundo”. (Cf. Jules Dufour, op. Cit.)
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O cenário da Terceira Guerra Mundial
Esse desdobramento militar se produz em várias regiões e ao mesmo tempo sob a coordenação dos comandos regionais dos EUA com a participação de aliados no armazenamento de arsenais norte americanos, inclusive antigos inimigos, como o Vietnã e o Japão.

O contexto atual se caracteriza por uma acumulação militar global controlada por uma superpotência mundial que está utilizando seus aliados para desencadear numerosas guerras regionais.

A diferença que se estabelece com a Segunda Guerra Mundial, que foi também uma conjunção de distintas guerras regionais, é que com a tecnologia de comunicações e sistemas de armas da década de 1940, não havia estratégia em “tempo real” para coordenar as ações militares entre grandes regiões geográficas.

A guerra mundial se apóia num desdobramento coordenado de uma só potência militar dominante, que supervisiona as ações de seus aliados e sócios.

Com exceção de Hiroshima e Nagasak, a Segunda Guerra Mundial se caracterizou pelo uso de armas convencionais. A planificação de uma guerra mundial se baseia na militarização do espaço ultra terrestre.

Se uma guerra contra o Irã se inicia, não somente o uso de armas nucleares, mas toda uma gama de novos sistemas de armas avançadas, incluindo armas eletrônicas e técnicas de modificação ambiental, seria utilizada.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas
O Conselho de Segurança da ONU aprovou em princípios de junho último uma quarta rodada de sanções de grande alcance contra a República Islâmica do Irã, que incluem o embargo de armas e “controles financeiros mais estritos”.

Em amarga ironia, esta resolução foi aprovada poucos dias depois da negativa pura e simples do mesmo Conselho de Segurança em adotar uma moção de condenação ao Estado de Israel em seu ataque à Frota pela Liberdade em Gaza em águas internacionais.

Tanto a China quanto a Rússia, pressionados pelos EUA, têm apoiado o regime de sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas em seu próprio prejuízo. Suas decisões no CS contribuem para enfraquecer sua própria aliança militar, a Organização de Cooperação de Xangai (OCS), onde o Irã tem o estatuto de observador. A resolução do Conselho de Segurança congela os respectivos acordos de cooperação militar e econômica da China e da Rússia com o Irã. Isto tem graves repercussões no sistema de defesa aérea do Irã que, em parte, depende da tecnologia e da experiência russas. A Resolução do Conselho de Segurança outorga, de fato, “luz verde” para liberar uma guerra preventiva contra o Irã.

A inquisição estadunidense: construção de um consenso político para a guerra

Em coro, os meios de comunicação ocidentais têm qualificado o Irã como uma ameaça à segurança mundial por seu suposto (inexistente) programa de armas nucleares. Fazendo eco com as declarações oficiais, os meios de comunicação estão exigindo agora a aplicação de bombardeios punitivos dirigidos contra o Irã, a fim de salvaguardar a integridade de Israel.

Esse mesmos meios de comunicação fazem soar os tambores de guerra. O propósito é incutir na mente das pessoas, a partir da repetição de notícias até a exaustão, a idéia de que a ameaça iraniana é real e que a República islâmica deve ser “banida”.

O processo de criação de um consenso para fazer a guerra é similar ao da Inquisição espanhola. Requer e exige submissão à idéia de que a guerra é uma tarefa humanitária.

Contudo, conhecida e documentada, a verdadeira ameaça à segurança global vem da aliança EUA-OTAN-Israel; na verdade, a realidade por um ambiente inquisitorial é exatamente o seu oposto: os belicistas parecem estar comprometidos com a paz, enquanto as vítimas da guerra se apresentam como protagonistas do conflito.

Considerando que em 2006 quase dois terços dos norte americanos se opunham a uma ação militar contra o Iraque, uma recente pesquisa feita em 2010 pela Reuter-Zogby, indica que 56% dos estadunidenses são favoráveis a uma ação militar da OTAN contra o Irã. A construção de um consenso político que se nutre de uma mentira não pode, contudo, confiar somente na posição oficial daqueles que são a fonte da própria mentira.

Os movimentos pacifistas nos EUA, que em parte têm sido infiltrados e cooptados, assumiram uma posição fragilizada em relação ao Irã. O movimento contra a guerra está dividido. A ênfase se coloca contra as guerras que estão em andamento (Afeganistão e Iraque) ao invés de se oporem vigorosamente a guerras que estão sendo preparadas e que se encontram sobre o tabuleiro de xadrez do Pentágono.

Desde a posse de Barack Obama, o movimento contra a guerra perdeu muito da sua força. Por outro lado, aqueles que se opõem ativamente às guerras no Afeganistão e no Iraque, não se opõem necessariamente à realização de “bombardeios punitivos” contra o Irã, nem consideram essas ações como atos de guerra. Guerra esta que poderia ser o prelúdio da Terceira Guerra Mundial.

A escalada de protestos contra a guerra em relação ao Irã tem sido mínima em comparação com as enormes manifestações que precederam os bombardeios de 2003 e a invasão do Iraque.

Mas a verdadeira ameaça à segurança do mundo vem da aliança EUA-OTAN-Israel. À operação Irã, não se opuseram, no âmbito diplomático, tanto a China quanto a Rússia, sendo que conta também com o apoio dos governos dos estados árabes de primeira linha que integram o diálogo OTAN - Mediterrâneo. Conta também com o apoio tácito da opinião pública ocidental.

Fazemos aqui um apelo às pessoas de todos os países, nas Américas, Europa Ocidental, Turquia, Israel, em todo o mundo, a levantarem-se contra este projeto militar, contra os seus governos que apóiam a ação militar no Irã, a levantarem-se contra os meios de comunicação que servem para dissimular as devastadoras conseqüências de uma guerra contra o Irã. Esta guerra será uma insanidade.

A Terceira Guerra Mundial é terminal. Albert Einstein sabia dos perigos da guerra nuclear e da extinção da vida na terra, que já começou com a contaminação radioativa resultante do urânio empobrecido. “Não sei com que armas se fará a luta numa III Guerra Mundial, mas na IV Guerra Mundial se lutará com paus e pedras”. Os meios de comunicação, os intelectuais, os cientistas e os políticos, em coro, ofuscam a verdade não contada, ou seja, que a guerra que utiliza ogivas nucleares destrói a humanidade e que este complexo processo de destruição gradual já começou.

Quando a mentira se converte em verdade, já não há volta atrás. Quando a guerra se invoca como uma “tarefa humanitária”, a justiça e todo o sistema jurídico internacional são tomados ao contrário: o pacifismo e o movimento contra a guerra são criminalizados. Opor-se à guerra se converte num ato criminoso.

A mentira deve ser exposta como aquilo que é e o que faz: sanciona a matança indiscriminada de homens, mulheres e crianças. Destrói famílias e pessoas. Destrói o compromisso das pessoas com os seus semelhantes. Impede as pessoas de expressarem sua solidariedade pelos que sofrem. Defende a guerra e o estado policial como a única saída. Destrói o internacionalismo.

Impedir a mentira significa impedir um projeto criminoso de destruição global. Nela, a busca do benefício é a força primordial. Este benefício, movendo a agenda militar, destrói os valores humanos e transforma as pessoas em zumbis inconscientes. Vamos inverter essa maré.

Desafio aos criminosos de guerra em seus altos cargos e em suas poderosas corporações, bem como aos grupos de pressão que os apóiam: fim da inquisição dos Estados Unidos da América. Fim da cruzada militar EUA-OTAN-Israel.Fechem as fábricas de armas e as bases militares. Retirada das tropas dos campos de guerra. Os membros das Forças Armadas devem desobedecer às ordens e negarem-se a participar de uma guerra criminosa.

(*) Michel Chossudovsky é laureado autor, professor (emérito) de Economia na Universidade de Ottawa e diretor do Centro para Investigação sobre a Globalização (CRG), Montreal. É autor de ‘La Globalización de la Pobreza y el Nuevo Orden Mundial’ (2003) e de ‘La guerra de América contra el terrorismo’ (2005). Também é colaborador da Enciclopédia Britânica. Seus escritos são publicados em mais de vinte idiomas.

Tradução do espanhol de Izaías Almada.

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A guerra do Afeganistão em gráficos e mapas


Tradução: Caia Fittipaldi

Ferramentas de Fonte Aberta & os dados vazados em WikiLeaks para fazer-ver o andamento da guerra no Afeganistão (atualizado)
9/8/2010, Noah Shachtman, Blog “Danger Room”, revista Wired
http://www.wired.com/dangerroom/2010/08/open-source-wikileaked-docs-illustrated-afghan-meltdown/

Uma coisa é ler sobre os ataques dos Talibã nos arquivos vazados em WikiLeads. Outra coisa, muito diferente é ver a evolução dos bombardeios e ataques, e assistir ‘ao vivo’ à metátase da guerrilha Talibã – e vê-la arrastando as forças de ocupação dos EUA e OTAN para dentro de seu (dos Talibã) território.

Drew Conway, aluno de ciências políticas da University of New York (e colaborador ocasional desse “Danger Room”) fez exatamente esse serviço[1], usando uma linguagem de programação estatística chamada “R” e um programa de plotagem gráfica[2]. Os resultados são impressionantes, como assistir a um filme em câmera lenta de um engavetamento em autoestrada. Na imagem acima, vê-se exemplo disso: as imagens mostram a evolução dos combates, de 2004 a 2009.

É exatamente o que ninguém quer ver, ao mesmo tempo em que a guerra avança.

“A imensa quantidade de observações e dados [na base de dados de WikiLeaks] impede que a maioria das pessoas extraia a informação e o conhecimento que estão lá, ainda não construídos. Se se constroem sumários gráficos daqueles dados, as pessoas veem facilmente e podem tirar suas conclusões, o que seria quase impossível a partir da simples leitura dos dados vazados” – escreveu Conway em e-mails para esse Blog “Danger Room”.

“Por exemplo, a partir das últimas imagens divulgadas [a imagem acima reproduzida], as pessoas já começam a ver[3] o crescente número de ataques em torno do “anel de estradas” do Afeganistão, ao longo do tempo. Pode ser sinal claro de que os Talibã trabalham para enfraquecer o governo do Afeganistão, separando as vilas e cidades, umas das outras.”

Boa parte dos achados de Conway levam a conclusões semelhantes às das equipes de inteligência militar interna dos EUA[4]. Mas Conway e Mike Dewar[5] trabalharam sozinhos, confiados exclusivamente em ferramentas de fonte aberta e nos dados vazados por WikiLeaks[6] . Aplicando análise estatística àqueles dados, começaram por demonstrar que é baixíssima a probabilidade de os arquivos serem falsificados ou terem sido manipulados.[7]

No próximo mês, espera Conway, vários usuários de R reunir-se-ão em New York, para analisar juntos os resultados que têm obtido, todos trabalhando com os dados vazados.

Evidentemente, os dados vazados não contam toda a história da guerra, como já comentamos nesse “Danger Room”.[8] E as estatísticas podem tem influenciado indevida e temerariamente as forças da Otan[9], para ações em diferentes partes do país.

Até agora, o ponto mais perturbador das descobertas de Conway estão nas provas de o quanto as coisas estavam dando errado em 2006 e 2007. No sul do Afeganistão, por exemplo, só havia raros e mínimos confrontos, no início de 2006. Quanto ao ano que seguinte... Vejam vocês mesmos..., em http://www.drewconway.com/zia/?p=2226.

ATUALIZAÇÃO: O trabalho de Conway é um dentre dúzias de esforços, em andamento em todo o mundo, para tornar visíveis e acessíveis para o grande público os dados vazados por WikiLeaks. Por exemplo, o blog “Visualising Data” (em http://visualisingdata.com/).

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NOTAS

[1] O trabalho está, na íntegra, em http://www.drewconway.com/zia/, Blog “Zero Intelligence Agents”, 16/12/2009, em http://www.drewconway.com/zia/?p=1623

[2] Sobre o programa, ver http://had.co.nz/ggplot2/

[3] Em http://www.reddit.com/r/worldnews/comments/cyj26/wikileaks_attack_data_by_year_and_type_projected/, vê-se uma longa troca de comentários de internautas que já estão trabalhando com os gráficos.

[4] Ver “Afghan Insurgency Can Sustain Itself Indefinitely’: Top U.S. Intel Officer”, 8/1/2010, Noah Shachtman, revista Wired, em http://www.wired.com/dangerroom/2010/01/afghan-insurgency-can-sustain-itself-indefinitely-top- us-intel-officer/.

[8] Ver “My War, WikiLeaked: Why the Public (and the Military) Can’t Count on Those Battle Logs”, 28/6/2010, Noah Shachtman, revista Wired, em http://www.wired.com/dangerroom/ 2010/07/my-war-wikileaked-why-the-public-and-the-military-cant-count-on-those-battle-logs/

[9] Sobre isso, interessante, ver Drew Conway “On the Ecology of Human Insurgency”, 16/12/2009

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O vazamento das informações sobre a guerra dão uma nova dimensão a Internet. Além de revelar dados secretos, tais dados são apropriados por várias pessoas que, num esforço conjunto, constroem uma visão da guerra que vai além daquela percepção que os próprios militares tem do conflito. O que se pode depreender, até aqui, que esta é mais uma guerra que os EUA não podem vencer.

Imagem: Drew Conway e Michael Dewar

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“Os Talibã podem ler WikiLeaks. Vocês, não!”


Tradução: Caia Fittipaldi

Do Pentágono aos soldados:
“Os Talibã podem ler WikiLeaks. Vocês, não!”
6/8/2010, Noah Shachtman, Blog “Danger Room”, revista Wired
http://www.wired.com/dangerroom/2010/08/pentagon-to-troops-taliban-can-read-wikileaks- you-cant/

Todos os civis, todos os espiões estrangeiros, todos os Talibã e todos os terroristas podem visitar a página WikiLeaks e baixar informações detalhadas sobre onde estavam, o que faziam os soldados dos EUA, como o fizeram e o que fizeram e não fizeram na Guerra do Afeganistão de 2004 a 2009. Mas os próprios soldados dos EUA estão proibidos de conhecer detalhes daqueles mesmos documentos militares. “Quem visitar aquelas páginas estará introduzindo informação potencialmente secreta em redes não protegidas”, como se lê em documentos com instruções emitido pelas forças armadas dos EUA para os soldados.

Ouviram um grito lancinante? É o bom-senso sendo espancado, berrando de dor.

Tempo houve, há apenas poucos meses, em que o Pentágono dava a impressão de estar começando a não se dar tão mal na emergente paisagem da mídia digital. Os soldados eram livres para manter blogs e tuitar, desde que usassem os miolos e não revelassem segredos. Podiam usar pendrives [ing. thumb drives] e DVDs, desde que não contivessem nem vírus nem segredos de Estado. Mas depois do vazamento de informações secretas pela página WikiLeaks – dezenas de milhares de documentos secretos –, todos os avanços parecem ter sumido e o Pentágono regrediu à estaca zero.

A Marinha acaba de distribuir memorando aos fuzileiros e empregados civis, no qual se lê:

“Acesso voluntário e deliberado à página WIKILEAKS para o propósito de ver o material secreto lá postado implica procedimento não autorizado de processar, ver e baixar informação secreta em computador NÃO-AUTORIZADO e não aprovado para armazenar informação secreta. [Quem o faça] estará VOLUNTARIAMENTE cometendo VIOLAÇÃO DE SEGURANÇA.”

Outros ramos das Forças Armadas divulgaram memorandos de teor semelhante. O Washington Times foi o primeiro a noticiar a proibição. Mas a matéria já foi retirada do website do jornal.

Sumit Agarwal, ex-gerente da Google e atualmente empregado na função de czar dos contatos com a mídia no Departamento de Defesa, explicou a lógica do Pentágono em e-mail enviado a esse “Danger Room”.

“Penso na coisa como se se tratasse de MP3s ou de romance com copyrighs para distribuição online — a distribuição não apaga o que digam as leis sobre o uso daqueles materiais” – escreveu ele. “Se Avatar aparecesse disponível online, seria legal que todos baixassem o filme? Na prática, muitas pessoas baixariam. Mas também na prática, é muito provável que James Cameron processasse as páginas e as pessoas que estivessem distribuindo ou facilitando a distribuição. Mas mesmo que não processasse ninguém, ainda assim seria distribuição ilegal e seria ilegal tornar Avatar disponível, mesmo que num desses websites tipo torrent, ou equivalentes.”

“Com pequenas modificações quanto ao que seja legal/ilegal, entre material secreto e filme protegido por copyrights, a analogia é boa, não lhe parece?” – pergunta Argawal. “Uma pessoa que distribua o que é proibido distribuir não muda a lei sobre material secreto. Nossa posição é simples: os soldados e agentes civis que trabalham para o exército não podem usar computadores do governo para fazer algo que é completamente ilegal (tráfico de material secreto).”

No mínimo, a analogia é imperfeita. Cameron ainda poderá argumentar que cada cópia pirata de Avatar diminui o público interessado em comprar as versões legais (embora já se saiba que acontece exatamente o contrário). Mas proibir os soldados de ler os arquivos de guerra publicados na página WikiLeaks de modo algum prejudicará as expectativas de lucro, nem ensinará ‘o público’ a mais piratear filmes do que a desejar pagar por eles. A analogia só estaria correta, se Cameron resolvesse proibir que toda a equipe do filme assistisse a Avatar — fosse onde fosse, depois de o filme ter sido pirateado, e exclusivamente porque tivesse sido pirateado.

Ao mesmo tempo, o secretário de imprensa do Pentágono Geoff Morrell exigiu, semana passada, que WikiLeaks “entregue todas as versões de todos os documentos do governo dos EUA e as delete permanentemente de seu website, computadores e registros.”

E imediatamente acrescentou: “Não sei se todos confiamos muito em que eles mudarão substancialmente de posição. Até agora não deram qualquer sinal de perceber a gravidade, a seriedade da situação que causaram, as vidas que puseram em risco, as operações que podem ter obrigado a abortar, as pessoas inocentes cujas vidas puseram em risco, como resultado do que fizeram. Portanto, duvido que isso – esse pedido, essa exigência, só ela, os preocupe muito.”

Todos os oficiais militares – e muitos dos alistados – tem um credencial básica, de acesso a documentos “secretos”. São centenas de milhares de fontes potenciais para WikiLeaks. Em minha opinião, a única explicação plausível para a ordem do Pentágono é lembrar os soldados de que não devem vazar segredos. A questão, portanto, é: “Será que a obediência a regulamentos militares que não fazem qualquer sentido e que espancam o bom senso estimularia algum soldado a respeitar a política de sigilo do Pentágono – ou só serve para tornar ainda mais absurdo o regime dos segredos?

Atualização: “Tirem a palavra “wikileaks’ de circulação” – diz msg por e-mail de uma das empresas contratadas pelo Exército, a esse blog Danger Room. Os filtros foram atualizados para bloquear qualquer coisa que contenha “wikileaks” na URL[1].”

Oh, yeah, agora, jogaram o bom senso pela janela” – conclui o empresário.


[1] Uniform Resource Locator, em português Localizador-Padrão de Recursos. URL é um endereço virtual. Não é rua, nem CEP, nem bairro ou tampouco uma imagem do Google Maps. Um endereço virtual é um caminho que indica onde está um arquivo, uma máquina, uma página, um site, uma pasta. Simplificando ainda mais, URL é normalmente o link, o endereço de uma página ou conteúdo da página (em http://www.putsgrilo.com/internet/o-que-e-url/).

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Espiões americanos alertam Obama para que não permita que Israel ataque o Iran


Fonte: Blog do Bourdokan

Um documento para a História

Espiões americanos alertam Obama para que não permita que Israel ataque o Iran:

“O resultado da guerra estendida que se seguirá levará à destruição do Estado de Israel”.


Presidente Obama,

Escrevemos para alertá-lo da possibilidade de que Israel ataque o Irã talvez ainda em agosto. Esse ataque levará a guerra mais ampla.
Os estrategistas israelenses trabalham com o dado segundo o qual, iniciada a guerra, o presidente dos EUA estará politicamente encurralado e nada mais poderá fazer além de apoiar Israel, não importa como comece a guerra. E que, então, haverá fluxo regular de soldados e armas norte-americanas, e a guerra poderá continuar. Mas o resultado da guerra estendida que se seguirá levará à destruição do Estado de Israel.

Ainda há tempo para deter esse movimento, mas só se o senhor mover-se com rapidez para impedir que Israel ataque o Irã. A única via que resta é o senhor, em declaração pública e bem clara, condenar o movimento antes de Israel atacar o Irã.

É nossa opinião que comentários feitos por altos funcionários dos EUA, o presidente inclusive, refletem confiança não-razoável no primeiro-ministro de Israel [Binyamin] Netanyahu.

De fato, até a construção das frases é reveladora, como quando o diretor Panetta, da CIA, deixa subentendido que o ‘cavalheirismo’ obrigaria Washington a deixar a cargo de Israel decidir se e quando atacar o Irã, e o ‘espaço’ que se deveria limitar para os esforços diplomáticos.

Dia 27/6, Panetta, falando como que casualmente, disse a Jake Tapper, da rede ABC: “Acho que [os israelenses] estão querendo nos dar espaço para tentar modificar o Irã com diplomacia (...) antes de se ter de mudar o Irã militarmente.”

O senhor, presidente Obama, usou o mesmo tom descontraído, ao referir-se a Netanyahu e ao senhor, em entrevista do dia 7/7 à TV israelense, tom evidentemente deslocado, se se consideram décadas de história e contatos com líderes políticos israelenses.

“Entre nós dois, nenhum tenta surpreender o outro” – disse o senhor. E que “o primeiro-ministro Netanyahu está comprometido com essa abordagem”. O presidente talvez deva pedir ao vice-presidente que o relembre sobre o tipo de surpresa que encontrou em Israel.

A dissimulação é, há muito tempo, flecha que Israel sempre tem à mão. No início da crise do Oriente Médio, na primavera de 1967, alguns de nós testemunharam verdadeira avalanche de 'surpresas' e fingimento dos israelenses, por exemplo quando os antecessores de Netanyahu fingiram temer ataque dos árabes, que disseram que estaria próximo, para justificar um ataque, que iniciou uma guerra para ocupar territórios árabes. Todos sabemos, desde aquela época, que Israel sempre exagera a ‘ameaça’ árabe. Por exemplo, em 1982, o ex-primeiro-ministro israelense Menachem Begin confessou, em público:
“Em junho de 1967, tínhamos uma escolha. As concentrações do exército egípcio perto do Sinai não provam que [o presidente egípcio] Nasser estivesse prestes a nos atacar. Temos de ser honestos com nós mesmos. Nós decidimos atacá-los.”

A verdade é que Israel preparou-se militarmente bem e até montou cenário de provocações contra seus vizinhos, para induzi-los a responder, de modo que a resposta pudesse ser usada para justificar a invasão para expansão de fronteiras.

Considerados esses registros, seria aconselhável receber com dose apropriada de ceticismo todas as promessas que Netanyahu tenha feito privadamente ao presidente, de que Israel não o surpreenderá com um ataque ao Irã.

O cálculo de Netanyahu

Netanyahu crê que está jogando com as cartas mais altas, em larga medida por causa do apoio que recebe do Congresso dos EUA e da mídia norte-americana, ambos sempre pró-Israel. E interpreta a relutância do presidente dos EUA – que não mencionou as questões bilaterais controversas durante sua recente visita – como comprovação de que Israel tem os EUA sob controle, nesse relacionamento.

Em anos de eleições nos EUA (também nas eleições de meio de mandato), os líderes israelenses confiam ainda mais firmemente no próprio poder (e no poder do lobby do Partido Likud no Congresso). como força que controla o cenário político nos EUA.

O atual primeiro-ministro de Israel aprendeu bem as lições de Menachem Begin e Ariel Sharon.

A atitude de Netanyahu transparece bem evidente em vídeo gravado há nove anos e exibido pela televisão em Israel, no qual se gaba de o quão facilmente induziu o presidente Clinton a crer que ele, Netanyahu, estaria ajudando a aplicar as decisões do Acordo de Oslo, quando, de fato, as estava destruindo.

Naquele vídeo, vê-se a atitude de desprezo – e de deslumbramento – por os EUA de deixarem influenciar tão facilmente por Israel. Netanyahu diz:
“A America é coisa que se conduz facilmente, na direção certa. Eles não nos atrapalharão. 80% dos norte-americanos nos apóiam. É absurdo.”
Para Gideon Levy, do jornal israelense Ha'aretz, esse vídeo mostra Netanyahu como “rematado farsante (...) que acha que tem Washington no bolso do colete e pode guiá-la como se fosse cega. E esse comportamento não mudou com o passar dos anos.”

Como já se disse acima, Netanyahu teve instrutivos exemplos dos quais aprender.

Ninguém menos que o general Brent Scowcroft disse ao Financial Times que o ex-primeiro-ministro israelense Ariel Sharon “hipnotizou” George W. Bush; que “Sharon fazia dele o que quisesse, como se fosse um chaveiro pendurado no dedinho.”

(Scowcroft foi imediatamente demitido do prestigioso posto de presidente do Conselho de Aconselhamento Presidencial para Assuntos de Inteligência Internacional e proibido de por os pés na Casa Branca.)
Se for preciso mais provas do apoio com que Netanyahu pode contar no governo dos EUA, basta lembrar o que se viu na recente visita dos senadores McCain, Lieberman e Graham a Israel, na segunda semana de julho.

Lieberman disse que Israel conta com amplo apoio no Congresso para usar quaisquer meios, “para adotar medidas militares, se for preciso” para impedir que o Irã converta-se em potência nuclear. O senador Graham foi também explícito: “O Congresso [dos EUA] zela por Israel”.
Mais recentemente, 47 deputados Republicanos assinaram declaração (HR 1.553) na qual declaram “apoio ao direito de Israel de usar todos os meios necessários para enfrentar e eliminar a ameaça nuclear iraniana (...) inclusive com recurso a força militar.”

O poder do lobby do Partido Likud, especialmente em ano eleitoral, facilita a ação de Netanyahu para convencer os seus raros colegas que ainda precisam ser convencidos, de que não haverá momento mais auspicioso para promover “a mudança do regime” em Teerã.

E – como esperamos que os conselheiros presidenciais já tenham informado ao presidente –, a mudança do regime, não as armas nucleares que não existem no Irã, é o principal interesse de Israel.
Se uma ou duas bombas atômicas iranianas pudessem alterar o jogo – não obstante o que diga Israel –, seria de esperar que Israel se agarrasse com unhas e dentes à chance de ver metade do urânio baixo-enriquecido do Irã ser mandado para longe.

Mas não. Em vez disso, Israel declarou que o acordo tripartide, negociado por Turquia e Brasil e pessoalmente encorajado pelo presidente dos EUA, seria “uma manobra”. Estranha “manobra”, se fosse, que põe metade do urânio baixo-enriquecido iraniano completamente fora do controle de Teerã.

O documento “National Intelligence Estimate” (NIE)
Os israelenses não tiraram os olhos, observando atentamente, os esforços da inteligência dos EUA para atualizar, com um novo “Memorandum to Holders”, o antigo NIE de novembro de 2007 sobre o programa nuclear iraniano. Vale a pena lembrar algumas das ideias centrais daquele documento:
“Entendemos, com alta confiabilidade, que no outono de 2003 Teerã suspendeu seu programa de armas nucleares. Entendemos, com média confiabilidade, que Teerã não reiniciou o programa que havia em meados de 2007, mas não se sabe se atualmente tem planos para desenvolver armas atômicas (...)”.

No início de 2010, em depoimentos públicos ao Congresso, o ex-diretor da National Intelligence Dennis Blair (1-2/2) e o diretor da Defense Intelligence Agency general Ronald Burgess, com o vice-presidente do Conselho do Estado-maior general James Cartwright (14/4), não alteraram essas conclusões.

Blair e os demais confirmaram as conclusões da comunidade de inteligência quanto a esse ponto-chave. Como Blair declarou recentemente: “Só não podemos dizer hoje, se o Irã, algum dia, decidirá construir uma bomba nuclear.”

A mídia supernoticiou os comentários de Panetta e do presidente, com conclusões diferentes e mais sombrias. O senhor, presidente Obama, disse à televisão israelense que “todos os indicadores mostram que eles [os iranianos] estão de fato trabalhando para construir uma bomba atômica”. E Panetta disse à rede ABC, “Acho que eles continuam a trabalhar em projetos nessa área [da fabricação de armas atômicas].”
Panetta apressou-se a dizer contudo que, em Teerã, “Há debate continuado, nesse momento, sobre se devem ou não prosseguir com a bomba.”

Israel provavelmente crê que deva dar mais peso ao depoimento oficial de Blair, Burgess e Cartwright, que seguem o NIE anterior. E os israelenses temem que, com a tantas vezes adiada divulgação do Memorando-revisão do NIE de 2007, se confirmarão, na essência, as avaliações de 2007.

Nossas fontes asseguram que uma revisão honesta do NIE 2007 fará precisamente isso, e suspeitam que o adiamento de vários meses para a divulgação da revisão significa que as avaliações da inteligência estão sendo ‘corrigidas’ para ‘combinarem’ com as decisões políticas – exatamente como já foi feito antes de os EUA atacarem o Iraque.

Uma guerra projetada

Em novembro de 2007, as conclusões principais do NIE 2007 meteram uma trava de aço na engrenagem da máquina de guerra de Dick Cheney que, antes delas, já marchava acelerada para a guerra contra o Irã. O NIE enfureceu os líderes israelenses, que planejavam atacar o Irã antes do final do mandato do presidente Bush e de seu vice Cheney. Agora, Netanyahu teme que a divulgação de um Memorando-revisão honesto tenha efeito semelhante.

Conclusão: mais um incentivo para que Israel ataque o Irã, antes tarde do que nunca, porque é possível que a divulgação de um Memorando-revisão honesto impeça o ataque. E o ataque impedirá a divulgação do Memorando.

O anúncio, semana passada, de que funcionários dos EUA reunir-se-ão com funcionários do Irã, para reiniciar as conversações sobre o enriquecimento do urânio iraniano baixo-enriquecido que será usado no reator de pesquisas em Teerã, foi boa notícia para todos, exceto para os líderes israelenses.

Além disso, o Irã já declarou que está preparado para suspender o enriquecimento do urânio a 20% (nível de enriquecimento necessário para o reator de pesquisas médicas), e também já deixou bem claro que considera bem-vindo o reinício das conversações.

Repetindo: um acordo que obrigue o Irã a mandar para outro país praticamente a metade de todo o seu urânio baixo-enriquecido, é garantia de que, no mínimo, retarda-se muito o processo de fabricar bombas atômicas, na hipótese de que, algum dia, o Irã resolva fabricá-las. Mas é arranjo inconveniente do ponto de vista de Israel, porque Israel perde o mais convincente argumento que tem, para justificar a guerra ao Irã.

Resultado: com as conversações que os líderes israelenses já chamaram de “manobra” agendadas para recomeçar em setembro... cresce a pressa, em Telavive, para atacar o Irã antes de que haja qualquer conversação e acordo.

Repetindo: o objetivo de Israel é a mudança de regime no Irã. Inventar o medo de armas nucleares iranianas é, só, um meio eficaz para ‘justificar’ o golpe. Deu certo no Iraque, não deu?

Outra guerra que tem de ser evitada

Presidente Obama,
é absolutamente necessário que o presidente, em declaração pública e bem clara, declare que não é recomendável que Israel ataque o Irã. Imediatamente depois da declaração, é indispensável que o presidente despache o almirante Mullen outra vez para Telavive, com instruções bem explícitas, dos militares para os militares: Nem pensem em atacar o Irã.

Logo depois de divulgado o NIE 2007, o presidente Bush atropelou o vice-presidente Cheney e despachou o almirante Mullen para Israel, com essa mesma, idêntica mensagem. Naquela primavera, o almirante Mullen voltou aliviado para casa, com passos firmes e grato por ter conseguido livrar-se da suspeita de que trabalhava sob ordens de Cheney, que tentava obrigá-lo a mandar o exército dos EUA à guerra contra o Irã.

Mas Mullen voltou nervoso, suando nas mãos, da visita que fez a Israel em fevereiro de 2010. Desde então, já disse várias vezes que Israel pode encurralar os EUA e nos arrastar para uma guerra contra o Irã. Também tem dito que é indispensável que o Pentágono tenha plano pronto para atacar o Irã, se for necessário.

Diferente porém da experiência de 2008, Mullen parecia perturbado, porque os líderes israelenses não deram sinal de levar a sério os seus recados.

Em Israel, Mullen insistiu publicamente que um ataque ao Irã criaria “um grande, grande, grande problema para nós, e preocupam-me muito as conseqüências não desejadas.”

Na volta, em conferência de imprensa no Pentágono, dia 22/2, Mullen repetiu em casa o mesmo ponto. Depois de recitar a morna conversa de sempre sobre o Irã, “que estaria a caminho de alcançar competência bélica nuclear” e “sua ambição de dominar os países vizinhos”, Mullen recitou o seguinte parágrafo de declarações que trouxe escritas:
“Por hora, as alavancas diplomáticas e econômicas do poder internacional são e devem ser as primeiras alavancas a serem acionadas. De fato, espero que sempre sejam acionadas consistentemente. Mas nenhum ataque, por efetivo que seja, será, de si e por si só, decisivo.”

Diferente nisso de generais mais jovens – como David Petraeus, por exemplo –, o almirante Mullen serviu na Guerra do Vietnã. É essa experiência que o faz dizer coisas como “Gostaria de lembrar a todos uma verdade essencial: a guerra é sempre sangrentea e desigual. É confusa, é feia e é um incrível desperdício...”

Embora o contexto imediato desse comentário seja o Afeganistão, Mullen já disse inúmeras vezes que uma guerra contra o Irã seria desastre muitas vezes maior. Quem tenha familiaridade, por mínima que seja, com o que está em jogo em termos militares, estratégicos e econômicos, sabe que ele tem razão.

Outros passos

Em 2008, depois que Mullen leu para os israelenses o decreto que proibia atacar o Irã, os israelenses puseram de lado seus planos preventivos para o Irã. Com essa missão cumprida, Mullen passou a trabalhar concentradamente em meios para evitar que incidentes (no caso, principalmente os que fossem deliberadamente provocados) no super engarrafado Golfo Persa levassem a hostilidades de maior escala.
Em conferência de imprensa dia 2/7/2008, Mullen lançou um interessante balão de ensaio, ao sugerir que um diálogo militares-militares poderia “acrescentar muito ao entendimento recíproco” entre os EUA e o Irã. Mas nada mais se ouviu sobre o tema, provavelmente porque Cheney mandou-o esquecer o assunto.

Era boa ideia – e ainda é. Ainda não se está dando a atenção devida ao risco de confrontação EUA-Irã no super engarrafado Golfo Persa. É questão importante. Estabelecer linhas de comunicação direta entre os altos oficiais militares em Washington e em Teerã reduziria o risco de acidente, erro de cálculo, ou ataque por navios sem bandeira ou com falsa bandeira.

Nossa opinião é que isso tem de ser providenciado imediatamente – sobretudo porque as sanções recentemente introduzidas dão direito de acesso para inspeção a navios iranianos. O comandante da Marinha da Guarda Revolucionária do Irã já ameaçou com “resposta imediata no Golfo Persa e no Estreito de Hormuz”, caso alguém tente inspecionar navios iranianos em águas internacionais.

Outra válvula de segurança pode ser providenciada nos termos das bem-sucedidas negociações por protocolo bilateral para “incidentes no mar” que foi assinado com os russos em 1972, em período de tensões relativamente altas.

Em momento de joões-ninguéns no reino da comunidade de inteligência, é possível considerar também a via de todos nos pormos em campo e insistir, nos ouvidos certos, para que concluam rapidamente um honesto Memorando-revisão do NIE 2007, a ser divulgado em meados de agosto, e que, se necessário, pode registrar opiniões divergentes.

Notícia triste, nossos ex-colegas informam que a politização ‘eleitoral’ da análise de inteligência não foi enterrada com o mandato de Bush e Cheney…e que o problema é grave mesmo no Setor de Inteligência e Pesquisa do Departamento de Estado, de onde, no passado, se produziram as melhores análises, profissionais, objetivas, de analisar o que há, como há.

Imprensa e ‘experts’: não veem o que interessa ver

Como muitos viram, o Washington Post cedeu quase toda a primeira página da seção “Outlook”, domingo, a um artigo intitulado “A Nuclear Iran: Would America Strike to Prevent It? — Imagining Obama’s Response to an Iranian Missile Crisis” [Um Irã nuclear: os EUA devem atacar para impedir? Como Obama responderia a uma crise de mísseis iranianos?”][2]
A página cinco, inteira, traz o resto do artigo, sob o título “Who will blink first when Iran is on the brink?” [Quem pisca primeiro, quando se trata de Irã?]
Foto de meia página de um míssil em desfile para autoridades iranianas (ao estilo das imagens de desfiles na Praça Vermelha), na dobra da seção “Outlook”, como se o míssil estivesse a um segundo da explosão.
Como sempre, os jornalistas falam da “ameaça” iraniana como se houvesse ameaça ameaçando os EUA, mesmo depois de a secretária Clinton já ter dito publicamente que não é nada disso. E lá vem, o recado jornalístico: a única opção para os EUA seria “a solitária, impopular via da ação militar, se os aliados não chegarem a um consenso.” O Tempora, O Mores!

Em menos de uma década, as guerras de agressão tornaram-se nada além de “vias solitárias e impopulares”.
O que mais espanta é que a palavra “Israel” não aparece uma única vez, em todo aquele longo artigo. E peças assemelhadas, assinadas por especialistas, muitas publicadas por think tanks relativamente progressistas, também discutem essas questões como se fossem problemas bilaterais entre EUA e Irã. É como se não vissem ou não dessem importância alguma a Israel.

As armas de agosto?[3]

O jogo é pesado, as apostas são altíssimas. Deixar que escapem os cães da guerra terá repercussões imensas. Outra vez, presidente Obama, esperamos que o almirante Mullen e outros o estejam mantendo a par do que está acontecendo.

Netanyahu joga jogo de vida ou morte se atacar o Irã, com alto risco para todos os envolvidos. No pior dos mundos, pior, mas provável, Netanyahu – não intencionalmente – será o Dr. Kevorkian[4] do Estado de Israel.

Ainda que os EUA venham a ser arrastados para guerra provocada por Israel, nada garante que a guerra leve a qualquer resultado positivo, ou que ‘termine bem’.

No caso de muitas baixas norte-americanas, e se os norte-americanos entenderem que nossos mortos morreram porque Israel exagerou até a loucura a ideia de que o Irã representaria ‘ameaça nuclear’, há risco real de que Israel perca muito do prestígio de que goza nos EUA.

Deve-se prever o ressurgimento de movimentos antissemitas nos EUA, se os cidadãos norte-americanos concluírem que políticos eleitos serviam a dois senhores no Congresso, e que o braço executivo de nosso governo lançou nossos soldados em guerra provocada, sob falsos argumentos, por Likudniks cegos a tudo que não fossem seus próprios estreitos propósitos.

Nada nos autoriza a crer que os principais atores políticos em Telavive ou em Washington sejam suficientemente sensíveis a esses fatores críticos.

Mas o senhor, presidente Obama, o senhor pode, sim, evitar que se detone essa desgraçada, mas muito provável e iminente, reação em cadeia. Concedemos que é possível que a ação militar dos israelenses contra o Irã talvez não leve a grande guerra regional, porque tudo é possível, mas avaliamos como baixa, bem baixa, a probabilidade de que não leve.

NOTA FINAL E ASSINATURAS
Os membros do grupo Veteran Intelligence Professionals for Sanity (VIPS) já enfrentamos antes situação semelhante à atual. Nosso primeiro Memorando ao Presidente foi distribuído na tarde de 5/2/2003, depois do discurso de Colin Powell na ONU.
Já há tempos acompanhávamos o processo pelo qual o trabalho da inteligência dos EUA vinha sendo corrompido e utilizado como a falsa-inteligência que mais tarde foi oficialmente (e corretamente) declarada “jamais comprovada, contraditória e inexistente” – adjetivos usados pelo ex-presidente da Comissão do Senado para Assuntos de Inteligência Jay Rockefeller, na conclusão de investigação ali conduzida durante cinco anos.
Ouvindo Powell falar, decidimos em coletivo que a única coisa séria a fazer seria tentar alertar o presidente, antes de que ele agisse orientado pela ‘anti-inteligência’ que o cercava e atacasse o Iraque. Diferentes de Powell, jamais dissemos que nossas análises seriam “irrefutáveis e inegáveis”. Concluímos nossa carta ao presidente com a seguinte mensagem de alerta:
“Depois de ouvir falar o secretário Powell hoje, estamos convencidos de que o presidente só terá a ganhar se ampliar a discussão (...) para além do círculo desses conselheiros que bem evidentemente desejam uma guerra, para a qual nós não vemos nenhuma causa ou motivo, e da qual entendemos que só podem advir conseqüências catastróficas.”
Não sentimos qualquer prazer por termos acertado no caso do Iraque. Naquele momento, vários outros grupos, alguns com bom conhecimento imediato do Iraque, acertaram tanto quanto nós e também lançaram alertas semelhantes ao nosso. Mas não conseguimos nos aproximar dos círculos que blindavam Bush e Cheney.
Infelizmente para os EUA, nosso vice-presidente, que então presidia a Comissão do Senado para Assuntos Externos, estava entre os que mais se empenharam para calar todas as vozes dissidentes. Por isso, também, fomos arrastados para o Iraque e para o pior desastre da política exterior da história dos EUA.
Sabemos que outra vez é possível que nossas análises estejam corretas e outra vez os EUA estão ameaçados por catástrofe, dessa vez ainda maior, no Irã. Outra vez o presidente, dessa vez o senhor, presidente Obama, não está sendo corretamente aconselhado pelo seu círculo mais próximo de conselheiros.
É provável que muitos à sua volta estejam dizendo ao senhor que, uma vez que o senhor já aconselhou o primeiro-ministro Netanyahu a não atacar o Irã, ele não atacará. O mais provável é que se trate, na Casa Branca, da conhecida síndrome de só dizer ao presidente o que outros suponham que o presidente queira ouvir.
Surpreenda-os, presidente Obama. Diga que há quem insista em que eles estão terrivelmente errados quanto a Netanyahu. A única coisa positiva em tudo isso é que só o presidente – o senhor e só o senhor – pode ainda impedir que Israel ataque o Irã.
[seguem-se as assinaturas, pelo grupo Veteran Intelligence Professionals for Sanity (VIPS)]
Ray Close, Diretoria de Operações, Divisão do Oriente Próximo, CIA (26 anos de serviço)
Phil Giraldi, Diretoria de Operações, CIA (20 anos de serviço)
Larry Johnson, Diretoria de Inteligência, CIA; Departmento de Estado; Departamento de Defesa (consultor) (24 anos de serviço)
W. Patrick Lang, Coronel do Exército, EUA, Forças Especiais (aposentado); Alto Serviço Executivo: Oficial da Defesa, Inteligência, para Oriente Médio/Sul da Ásia, Diretor de HUMINT, Agência de Inteligência de Defesa (30 anos de serviço)
Ray McGovern, Oficial de Inteligência do Exército dos EUA; Diretoria de Inteligência, CIA (30 anos de serviço)
Coleen Rowley, Agente Especial e Conselho da Divisão de Minneapolis, FBI (24 anos de serviço)
Ann Wright, Coronel do Exército dos EUA (aposentada) (29 anos de serviço); Funcionário do Serviço Exterior, Departamento de Estado (16 anos de serviço)
_______________________________


[1] Veteran Intelligence Professionals for Sanity (VIPS), é organização formada em janeiro de 2003 "para falar contra o uso dos serviços de inteligência para justificar a invasão do Iraque”. É “organização nacional, costa a costa, nos EUA. Reúne funcionários dos serviços de inteligência, sobretudo analistas, mas também agentes de campo, da CIA e outras agências e serviços” (em Sourcewatch, http://www.sourcewatch.org/wiki.phtml?title=Veteran_Intelligence_Professionals_for_Sanity).
[3] Orig. The Guns http://www.consortiumnews.com/2010/080310c.html)/080310c.html August, obra de história militar, de Barbara Tuchman, publicada originalmente como August 1914, em 1962 [NT].
[4] Jack Kevorkian (norte-americano, nascido em Michigan, em 1928) também conhecido como “Dr. Morte”, famoso por sua luta para que o suicídio assistido seja direito de todos. É o inventor da “máquina do suicídio” [NT].
em Consortiumnews, http://www.consortiumnews.com/
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