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Consciência negra

Nenhum alto dirigente do PSDB é negro, nenhum governador, nenhum senador, nenhum deputado federal, nenhum deputado estadual. Coincidência, claro.
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Governo paulista anunciou em jornais fantasmas

Ricardo Mendonça

O governo do Estado de São Paulo gastou mais que o dobro do governo federal para fazer publicidade oficial em jornais que não existem.

Entre 2008 e 2010, durante a gestão do ex-governador José Serra (PSDB), o Palácio dos Bandeirantes desembolsou pelo menos R$ 309 mil para pagar anúncios nos jornais "O Dia de Guarulhos", "Jornal do ABC Paulista" e "Diário de Cubatão", todos fictícios.

Esse valores, corrigidos pela inflação pela reportagem, estão listados num relatório de gastos com publicidade do Estado obtido pela Folha no primeiro semestre deste ano com base na Lei de Acesso à Informação.

As três publicações citadas são vinculadas à Laujar Empresa Jornalística Ltda, com sede registrada num imóvel vazio em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

A Laujar é a mesma empresa que, conforme mostrou a Folha no domingo passado, recebeu R$ 135,6 mil da Presidência da República por anúncios em cinco jornais inexistentes: os três que aparecem citados como veiculadores de anúncios do governo paulista, mais "Gazeta de Osasco" e "O Paulistano".

Após a reportagem sobre os gastos do governo federal, a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência) anunciou ter pedido uma investigação à Polícia Federal sobre o caso.

Disse ainda que, caso constate irregularidades "tomará as atitudes judiciais cabíveis" contra a Laujar.

Os jornais que receberam verba publicitária dos governos paulista e federal inexistem em bancas das cidades citadas em seus títulos.

Eles não são cadastrados em nenhuma entidade do meio editorial e são totalmente desconhecidos de jornalistas e diversos jornaleiros consultados nessas regiões.

Além disso, exemplares usados para "provar" a existência das publicações têm sinais de serem forjados. Diferentes publicações têm exatamente os mesmos textos.

Uma das "reportagens" num jornal com data de 15 de março na capa cita declarações de um ministro que foram dadas no próprio dia 15. É improvável que a impressão tenha ocorrido na data informada, ainda mais no caso de um jornal pequeno.

Outra estranheza são anúncios da Unimed que, segundo a empresa de plano de saúde, nunca foram contratados.

O governo paulista afirma que anunciou nesses jornais por orientação da Contexto, uma das agência de publicidade que prestam serviço ao Palácio dos Bandeirantes.

A Contexto confirma ser "responsável pelo plano de mídia do Estado". Uma representante da empresa afirmou que irá verificar a documentação sobre esses jornais e "tomará as providências cabíveis" em caso de irregularidade.

O dono da Laujar, Wilson Nascimento, diz que os jornais existem. Em documento enviado à Secom, a empresa informou que suas publicações, vendidas por R$ 2,50, têm tiragem total de 250 mil exemplares. Nascimento alega que elas circulam de terça a sábado, mas não quis informar em quais bancas seria possível encontrá-las.
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Novos rumos do PSDB

Charge PSDB

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O PSDB e seus dilemas

Marcos Coimbra
Correio Braziliense

Enganam-se os mal informados que creditam o sucesso do PT ao que seria seu maquiavelismo. Os que, por ingenuidade ou má-fé, dizem que o "lulopetismo" dá certo às custas de complôs bem tramados. A dificuldade de o PSDB enfrentar seus dilemas é uma das razões de o PT ser o que é.

O PSDB precisa aprender com seu passado.

Ou, como reza a sabedoria popular, não conseguirá evitar a repetição de antigos erros.

Está reagindo a outra eleição complicada como fez em relação à anterior. O que sugere que não tirou daquela experiência as lições necessárias.

Seu primeiro equívoco é tentar tapar o sol com a peneira. E acreditar que, assim fazendo, apaga a luz.

Nas eleições municipais de outubro, o partido se saiu mal. Encolheu no número de prefeituras, perdeu vereadores, reduziu sua participação no comando dos principais municípios.

Valorizar vitórias no Norte e, em capitais menores do Nordeste, é uma parca compensação para o desempenho medíocre nas grandes metrópoles. Nas capitais do Sul e do Sudeste em que teve candidato próprio, perdeu em todas — em algumas, ficando do tamanho de nanicos.

A derrota em São Paulo é do porte da maior cidade do País.

Ninguém gosta de admitir fracassos, mas fingir que não existem é péssimo. Com limões azedos, só se fazem limonadas amargas.

Uma das coisas que mais atrapalham a auto-crítica dos tucanos são os amigos. De tanto querer confortá-los, os comentaristas e analistas da "grande imprensa" acabam por dificultar a reflexão que deveriam fazer.

(Logo após a eleição, ainda sob o impacto dos números de Fernando Haddad, um jornal conservador carioca estampou em manchete que os resultados em Manaus e Belém "enchiam de ânimo" o PSDB. Para o bem do partido, tomara que não seja verdade.)

O fato é que o ano termina, para ele, com a perspectiva de um mau desempenho na próxima eleição legislativa. Pior que o da última, que tinha sido ruim.

Também como em 2010, o PSDB sai da eleição falando em "renovação". Seus principais líderes, a começar por Fernando Henrique Cardoso, dizem-se convictos de que o partido precisa "sangue novo".

O problema é que os tucanos, pelo menos de uns anos para cá, revelam acreditar mais na conversa de renovação que na sua prática. Gostam de defendê-la, mas, na hora H, refugam.

Há maior exemplo que o ocorrido em São Paulo, quando o partido abortou um processo de prévias partidárias — cujo conteúdo fundamental era a renovação pela base —, para insistir no que de mais antigo tinha a oferecer à cidade?

Pensando bem, foi igualmente por não confiar na renovação que Serra tinha sido candidato a presidente em 2010. De tanto temer o risco de perder com algo novo — como seria a candidatura de Aécio —, o PSDB preferiu a falsa segurança do conhecido.

Assim fazendo, deixou escapar a chance de construir um nome nacional para 2014. Que ainda não tem — pois o senador por Minas Gerais continua a ter pouca visibilidade junto à grande maioria do eleitorado.

Enganam-se os mal informados que creditam o sucesso do PT ao que seria seu maquiavelismo. Os que, por ingenuidade ou má-fé, dizem que o "lulopetismo" dá certo às custas de complôs bem tramados.

A dificuldade de o PSDB enfrentar seus dilemas é uma das razões de o PT ser o que é.
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E a Dalila, governador?


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Advogado de Marcos Valério diz que denúncias contra tucanos foram engavetadas pelo PGR

Advogado diz que mensalão de MG do PSDB não foi considerado
Políticos foram poupados no mensalão mineiro tucano, diz defesa
FAUSTO MACEDO

O advogado do empresário Marcos Valério, Marcelo Leonardo, acusou o ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza de tratar "de forma diversa" o mensalão mineiro e o petista. Leonardo disse que Valério entregou nomes de beneficiários do esquema em MG, mas "o procurador considerou que, como crime eleitoral, já estava prescrito, e a pena é pequena". O STF retomará julgamento hoje.

Na etapa derradeira do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, que abrange a fixação das penas aos 25 réus, e sob clima de forte tensão provocado pelo depoimento secreto de Marcos Valério Fernandes de Souza, seu advogado, o criminalista Marcelo Leonardo, acusou ontem o ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza de tratar "de forma diversa" dois fatos que teriam, em sua visão, a mesma origem e finalidade: o mensalão mineiro, que envolve tucanos, e o federal, que envolve petistas.

"No caso (do mensalão mineiro) ele (Antonio Fernando) não ofereceu denúncia contra os deputados que receberam valores por entender que participaram de caixa 2 eleitoral e o crime já estava prescrito", disse Leonardo. "O procurador entendeu de maneira diversa a ação penal 470 (mensalão do governo Lula)."

Na ação penal que está sendo julgada pelo STF, Antonio Fernando denunciou 40 investigados, entre eles o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), o ex-presidente do PT, José Genoino, e o ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares. O ex-procurador não acolheu os argumentos das defesas, que alegavam crime eleitoral, e denunciou o núcleo político por corrupção ativa e quadrilha - crimes relacionados à compra de apoio parlamentar no Congresso Nacional.

A mesma crítica já havia sido feita pelo defensor de Valério em novembro de 2007, logo após Antonio Fernando apresentar a denúncia do mensalão mineiro. Leonardo afirmou que o então procurador-geral foi parcial ao analisar, em 1998, os fatos relacionados à campanha do ex-governador de Minas Eduardo Azeredo (PSDB) - atualmente deputado federal.

Carta. O advogado voltou ao tema ao enviar carta em resposta a um post publicado pelo jornalista Luis Nassif em seu blog. Leonardo sustentou que, assim como no caso do mensalão federal, Valério entregou à Procuradoria-Geral da República nomes de beneficiários dos repasses do valerioduto de 1998.

"Entreguei, na ocasião, a lista com os nomes de parlamentares e ex-parlamentares, 79 nomes ao todo, com valores recebidos e comprovantes. Mas ele (Antonio Fernando) entendeu que o crime já estava prescrito porque os fatos se deram em 1998. O procurador considerou que, como crime eleitoral, já estava prescrito, e a pena é pequena", disse Leonardo ao Estado.

Na denúncia de novembro de 2007 ao STF, Antonio Fernando afirma que um "esquema delituoso verificado no ano de 1998 foi a origem e o laboratório dos fatos descritos" na acusação formal do mensalão. O ex-procurador-geral apontou desvio de pelo menos R$ 3,5 milhões para a campanha à reeleição, por meio da "retirada criminosa" de recursos públicos da Copasa (R$ 1,5 milhão), Comig (R$ 1,5 milhão) e do antigo Banco Estadual do Estado, Bemge (R$ 500 mil).

"Faz tanto tempo que saí de lá (da procuradoria), quase quatro anos, que sinceramente não tenho lembrança desse caso específico", disse Antonio Fernando. "Tenho quase certeza de que não se tratou de crime eleitoral, mas acho que era a tal lista de Furnas sobre a qual havia dúvida de sua autenticidade."

"Vazamento seletivo". Na carta ao jornalista, Leonardo trata como vazamento "parcial" as revelações do Estado e da revista Veja sobre o depoimento e os pedidos de delação premiada e proteção feitos por Valério.

"Se alguém "vazou" de forma seletiva, parcial e ilicitamente alguma providência jurídico-processual que está sujeita a sigilo, eu não tenho absolutamente nada a dizer, a confirmar ou não confirmar", disse o advogado de Marcos Valério.
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A derrota de Serra e a renovação

Alberto Carlos Almeida 

No dia 10 de agosto, publiquei nesta coluna um artigo cujo título era: "Serra é o favorito para perder". Nele, fiz a previsão, baseada em dados, de que Serra seria derrotado na eleição para prefeito. O argumento era simples e direto. Serra disputou a eleição como o candidato apoiado pelo prefeito Kassab. Como Kassab tinha uma avaliação muito ruim, a soma de "ótimo" e "bom" dele estava abaixo de 30% e a tendência seria de que não melhoraria, então seu candidato seria derrotado. Acabamos de ver em São Paulo uma eleição de mudança. O raciocínio do eleitor é simples: se o governo está ruim, então ele deve ser mudado; se o governo está bom, então deve ser mantido. Nada mais eloquente quanto a isso do que o fato de que, em toda a série de pesquisas do Datafolha simulando o segundo turno entre Haddad e Kassab, a partir do início de setembro, a vantagem do petista jamais se alterara, como não mudou a soma de "ótimo" e "bom" de Kassab.

Além disso, e também nesta coluna, publiquei um artigo em 23 de março, na antevéspera das prévias do PSDB, mostrando que Serra tinha um histórico de candidato ruim de voto, de candidato que tinha dificuldades para vencer. Mais do isso, nesse artigo chamei atenção para o erro que seria para o PSDB não renovar, não disputar a eleição paulistana com um nome novo. Foi inacreditável que os tucanos tenham escolhido alguém que acabara de perder uma eleição presidencial para uma candidata que nunca havia disputado um voto na vida. Nesse artigo chamei atenção para o fato de que, se o PSDB escolhesse Serra, estaria optando pelo lema de campanha "em time que está perdendo não se mexe". Foi exatamente o que aconteceu.

O PSDB poderia ter sido bem mais competitivo na eleição de São Paulo. Bastaria que tivesse escolhido um nome desvinculado da administração de Kassab. Um candidato com esse perfil ficaria livre para criticar a prefeitura e se colocar como oposição. Fazer exatamente o que Haddad, o vitorioso, fez. Nomes com esse perfil não faltaram e se colocaram nas prévias do partido: José Aníbal e Ricardo Trípoli. Bruno Covas também poderia ter sido esse candidato de oposição, mas decidiu, conciliatoriamente, não concorrer às previas e apoiar Serra. O próprio resultado dessa consulta interna do partido já indicava as dificuldades que Serra enfrentaria. Ele venceu com pouco mais de 50%, o que revelou uma grande rejeição junto àqueles que, teoricamente, deveriam desejar ardentemente que fosse candidato.

O PSDB impediu a renovação, tanto agora como em 2010. Caso Aécio tivesse sido candidato a presidente naquela ocasião, agora seria um nome nacionalmente reconhecido e muito dificilmente haveria a especulação que hoje há sobre Eduardo Campos como possível candidato de oposição em 2014. A eleição em São Paulo teve o mesmo desfecho. Se José Aníbal ou Ricardo Trípoli tivesse sido o escolhido, mesmo derrotado, um deles abriria perspectivas futuras mais promissoras para o partido. Serra é um político em fim de carreira, ainda que se considere revigorado pela derrota.

Fernando Henrique e outros importantes líderes do PSDB declararam, após essa nova derrota de Serra, que o partido precisa de renovação. Levar a sério esse propósito implica não oferecer uma secretaria de Estado para Serra. É hora de o velho político se retirar do cenário. É hora de abrir espaço para outras figuras que esperam que a fila ande. Isso premiaria a lealdade política. É algo importante, porque Serra não é leal a Alckmin, como foi possível constatar na eleição municipal de 2008.

Considerando-se a fama de bem preparado, surpreendem os erros crassos cometidos por Serra em todas as eleições nas quais foi derrotado, em particular na última eleição presidencial. Naquela oportunidade, ele era o candidato de oposição a um governo muito bem avaliado. Tudo indicava que iria perder, inclusive os dados de pesquisas realizadas mais de um ano antes das eleições. Mesmo assim, quis ser candidato. Não fosse esse erro, ele seria hoje um importante ator político, seria reeleito governador de São Paulo e estaria ocupando o segundo cargo mais importante do Brasil. A propósito, Serra jamais será presidente.

As decisões erradas de Serra contrastam com as decisões corretas de Lula. A escolha de Fernando Haddad para prefeito de São Paulo não foi uma renovação em qualquer direção. Pelo contrário, Lula sabe que a cidade de São Paulo é conservadora. Por isso, sua indicação recaiu em um quadro político que se assemelhasse ao mundo tucano. Haddad é professor universitário, tem sólida formação acadêmica e foi ministro da Educação. Nada mais importante para os conservadores do que a educação: é graças a ela que as pessoas podem melhorar de vida pelo próprio mérito. Além disso, Haddad tinha o que mostrar como gestor público durante a campanha. A principal peça de comunicação da campanha petista não foi o bilhete único mensal nem a rede Hora Certa de consultas médicas, mas o próprio candidato.

Mais interessante ainda é como Lula escolhe seus objetivos políticos. Na eleição de 2010 o ex-presidente teve duas metas claras: eleger sua sucessora e aumentar o número de cadeiras do PT no Senado. Várias decisões de aliança abrindo mão de candidaturas a governos estaduais foram tomadas com a finalidade principal de conseguir maioria no Senado. Hoje, o PT tem a segunda maior bancada de senadores, em 2010 elegeu figuras de destaque em seus respectivos Estados, como Lindberg Farias no Rio de Janeiro, Gleisi Hoffman no Paraná, Walter Pinheiro na Bahia, José Pimentel no Ceará e Humberto Costa em Pernambuco. Agora em 2012, a prioridade foi vencer em São Paulo.

Política é relação de poder. Não existe na política a visão cristã de que o certo vence no final e o errado é derrotado. O motivo é simples: não há um lado certo ou errado; são apenas ideologias que estão em jogo. Não existe um Deus acima do bem e do mal que aponte que um lado é o correto e o outro é o errado. Por isso existem as eleições. E há as circunstâncias, que são de grande importância. Muito dificilmente um candidato ligado a Kassab venceria em 2012. Ainda mais, sendo esse candidato alguém como Serra, sem carisma e pouco agregador. O que Lula e seus liderados fizeram foi aproveitar as circunstâncias favoráveis a um candidato de oposição. É bem verdade que, em algum momento da campanha, o risco de o candidato do PT não ir para o segundo turno se tornou grande. Mas, como diz o ditado popular, quem não arrisca não petisca.

Lula sempre foi um tomador de risco. Para aqueles que prezam o empreendedorismo, cumpre reconhecer que, dos anos 1980 para cá, Lula vem sendo o maior empreendedor político do Brasil. A trajetória dele no mundo político se inicia como a maioria dos empreendedores. Lula não tinha nada a perder quando fez a transição do sindicalismo para a política. Não tinha um partido, fundou um e iniciou do zero. Foi por isso que pôde ser candidato a presidente três vezes consecutivas para só vencer na quarta tentativa. O PT ainda era um partido muito pequeno, com pouca competição interna. Agora que o PT é grande e em São Paulo há muitas estrelas, Lula decidiu assumir outro tipo de risco, o de indicar um candidato novato em eleições, um marinheiro de primeira viagem. Ele continua arriscando e empreendendo. Mudou a forma e o estilo, mas o conteúdo é o mesmo.

Depois de oito anos na Presidência, Lula passou a combinar essas características de personalidade com o enorme aprendizado político que teve. Hoje, o PT conta com Dilma cuidando do governo federal e Lula cuidando de conquistar mais espaço político para seu partido. É uma óbvia vantagem sobre seus adversários. Ainda mais quando Serra é visto como alguém eleitoralmente competitivo.

Caso o PSDB leve a sério as palavras de renovação pronunciadas esta semana por seus líderes, será bom para todo o sistema político, inclusive para o PT. Renovar hoje significa livrar-se de Serra, impedi-lo de ser candidato a qualquer cargo majoritário, o que inclui o Senado. É o PT que está obrigando o PSDB a se renovar. Por outro lado, uma eventual renovação do PSDB vai obrigar o PT também a se renovar ainda mais. O Brasil ganhará com isso.

Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário, é autor de "A Cabeça do Brasileiro" e "O Dedo na Ferida: Menos Imposto, Mais Consumo"
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O que restou aos tucanos


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O doente moral

Leandro Fortes

Olha, sinceramente, sempre foi difícil acreditar que pessoas decentes pudessem ainda votar em José Serra, mesmo depois daquela campanha de 2010.

A hipocrisia sobre a questão do aborto, a falsa adoção de religiosidade e, principalmente, a fraude da bolinha de papel já seria mais do que suficiente para deixar Serra como opção apenas de desequilibrados e eleitores com desvio de caráter.

O anti-esquerdismo raivoso, simbolizado pelo anti-petismo, e o apoio até então irrestrito dos oligopólios de mídia deram a Serra e, por extensão, a seus eleitores uma salvaguarda ética artificial que, nessas eleições, se mostrou insuficiente, afinal.

Ao usar as redes sociais para divulgar uma falsa notícia do cancelamento do Enem, a campanha de José Serra cometeu um crime de lesa-pátria, um atentado contra os estudantes e a juventude do Brasil. Uma crueldade institucional que beira o terrorismo.

É esse homem, acometido de grave doença moral, que ainda pretende ser protagonista da política brasileira. Um derrotado que, incrivelmente, está sendo cotado para presidir o PSDB.
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Serra presidente

Janio de Freitas

Os figurantes de mais relevo dentro do PSDB não se dão conta de que o seu partido está em uma encruzilhada

A solução de dar a José Serra a presidência do PSDB, noticiada como reação dos peessedebistas à sua prenunciada derrota na eleição paulistana, é mais do que um jogar precipitado da toalha de nocaute político.

A presidência de um partido não é prêmio de consolação. E muito menos o seria a presidência do PSDB, cuja perda de expressão entre as forças políticas tem a ver com José Serra, mas é anterior à disputa pela Prefeitura de São Paulo. A formação de direções partidárias por arranjos e interesses subalternos é, aliás, um dos fatores importantes na degeneração do sistema político brasileiro.

Os figurantes de mais relevo dentro do PSDB não se dão conta de que o seu partido está em uma encruzilhada, falta de percepção que o razoável desempenho nas eleições municipais vem acentuar. Não são muitas as hipóteses de futuro oferecidas ao PSDB. Nem muito tempo para definir o que é capaz de vir a ser, por meio do que seus integrantes influentes sejam capazes de querer e de fazer.

Uma das hipóteses é a volta do PSDB às suas origens, de partido com o propósito de representar ideias de social-democracia e de reformas democratizantes e moralizantes da política brasileira. Aquilo mesmo que levou Franco Montoro e Mario Covas a deixarem o PMDB de suas tantas batalhas.

A alternativa àquela hipótese, para o PSDB, é continuar no jogo de patotas em que se mediocrizou, tornando-se a bandeira do neoliberalismo por aqui, e logo descambando para a posição de centro-direita, como representação política do mercadismo e dos negócios financeiros. Por esse caminho tomou o lugar do hoje fantasmagórico PFL-DEM, e, pelo mesmo caminho, não é provável que tarde muito a chegar ao mesmo destino.

Se José Serra é capaz de fazer algo pelo PSDB, não sei dizer. Mas é certo que a tarefa não poderia ser de um só, e José Serra é um desagregador notório, como demonstrou em sua longa contribuição para o desarranjo interno do partido (só as suas brigas com os então senadores e dirigentes Tasso Jereissatti e Sérgio Guerra e com Aécio Neves já exemplificam o suficiente).

Gente em condições de recuperar o PSDB, se tal vier a ser o desejo dos que vivem à sua sombra, é material escasso -para dizer o mínimo a respeito. Carência comum a todos os partidos, em dimensões variadas. Com dificuldade adicional no PSDB: as inconvivências internas, muito agudas, desgastaram todos os que têm alguma presença no partido. E, afinal de contas, eles são os que demoliram o projeto PSDB.

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Soninha Francine e o aparelhamento do Estado

NOME
ÓRGÃO
CARGO
TOTAL BRUTO
(R$)
TOTAL DO MÊS
 (R$)
TOTAL LÍQUIDO
(R$)
NEIDE FERREIRA GASPAR
EDUCACAO
ASSIST.TECN.
GABINETE I
3.343,00
3.343,00
2.779,92
TANIA ESTHER GASPAR SIMOES
CASA CIVIL
DIRETOR II
5.366,10
4.599,52
4.480,13
SARAH MARMO AZZARI
CULTURA
DIRETOR I
3.087,83
3.087,83
2.596,14
RACHEL MARMO A DOMENICHELLI
MEIO AMBIENTE
ASSIST.TECN.
COORDENADOR
5.780,79
5.540,79
4.585,68



17.577,72
16.571,14
14.441,87
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O tamanho do desastre tucano no estado de São Paulo

1
São Paulo
11.244.369
PT ou PSDB
2
Guarulhos
1.222.357
PT
3
Campinas
1.080.999
PT ou PSB
4
São Bernardo do Campo
765.203
PT
5
Santo André
673.914
PT ou PTB
6
Osasco
666.469
PT
7
São José dos Campos
636.876
PT
8
Ribeirão Preto
604.682
PSD ou PSDB
9
Sorocaba
586.311
PMDB ou PSDB
10
Santos
419.757
PSDB
11
Mauá
417.281
PT ou PMDB
12
São José do Rio Preto
408.435
PSB
13
Mogi das Cruzes
387.241
PSD
14
Diadema
386.039
PT ou PV
15
Jundiaí
370.251
PCdoB ou PSDB

Em Jundiaí a vitória é certa: no primeiro turno Pedro Bigardi teve 49,98%, impossível perder. 
Em São Paulo só uma combinação de milagres poderia tirar a vitória de Haddad.
Em Santo André, Grana (?!) tem amplo favoritismo.
Em Campinas a virada de Marcio Pochmann é muito provável.

No resto não sei, mas diria que Alckmin vai disputar a reeleição quase que somente com a coligação PSDB/PIG. Com as sete maiores cidades administradas pelo PT, várias importantíssimas  cidades administradas por aliados naturais e com a tendência normal de fuga dos ratos durante o naufrágio do navio...
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Quem não tem voto diz que eleitor está cansado

Paulo Moreira Leite

Pergunto o que leva nossos coveiros de sorriso amarelo a produzir tantas análises e raciocínios sofisticadíssimos para esconder o dado óbvio desta eleição municipal.

Apesar do julgamento do mensalão, apesar do tratamento ora irônico, ora pedante, que a maioria dos meios de comunicação dispensa ao ex-presidente Lula, está cada vez mais difícil esconder o bom desempenho do PT neste pleito.

Quem profetizou um fiasco de Lula precisa improvisar teorias para justificar verdades óbvias.

Quem chegou ao exagero de anunciar um duelo entre Lula e Geraldo Alckmin, em São Paulo, precisa fazer um curso supletivo de liderança política.

O mais novo argumento é dizer que o eleitor está desanimado, cansou-se da polarização entre PT e PSDB.

É preocupante. Nem faz muito tempo assim que os brasileiros recuperaram o direito de votar para prefeito de capital, que fora suprimido pela ditadura, e já tem gente que acha que esse tipo de coisa é cansativa e tediosa. É a mesma turma que, em dia de eleição, só consegue olhar para os santinhos na calçada e dizer que eles emporcalham a cidade. Eu acho que nada emporcalha mais uma cidade do que o autoritarismo, a falta de eleição, os prefeitos escolhidos de forma indireta.

E eu acho que a boca-de-urna ajuda a ampliar o debate numa eleição. E quem é a favor de proibi-la poderia dar uma chance ao próprio QI e perguntar-se se ela não tem a ver com a liberdade de expressão.

Voltando ao cansaço dos eleitores.

A teoria da baixa representatividade se apoia num fato real mas interpretado de forma interesseira.

É certo que  o  número de brancos e nulos nunca foi tão alto. O problema é usar este dado como prova de que  nosso sistema político não expressa a vontade dos brasileiros e blá-blá-bla…

Nós sabemos muito bem onde esse tipo de conversa sobre falta de representatividade da democracia começa e onde costuma terminar, não é mesmo?

Estrela principal do pleito que centraliza as atenções no segundo turno, Fernando Haddad não enfrenta o menor problema com sua representatividade. Ilustre desconhecido há seis meses, já conquistou 49% das intenções de voto  e lidera a eleição com uma diferença de 17 pontos. Falta de representatividade?

Se você comparar com outras eleições, municipais, estaduais e federais, verá que a ordem de grandeza é a mesma.

E se você se interessar pela temperatura da campanha, verá que Haddad tem empolgado a juventude e mesmo antigos militantes que pareciam ter pendurado a chuteira da luta política.

Estes números ajudam a mostrar que não há crise nenhuma com o regime democrático nem com o eleitor.

A doença envolve um candidato específico, José Serra, que exibe um  desempenho muito abaixo daquilo que seus aliados prometiam no inicio da campanha.

O grande número de nulos e brancos, em São Paulo, expressa sua dificuldade para atrair apoio junto a eleitores do PSDB e mesmo adversários do PT. São estes nulos e brancos que deixaram de ir para a Serra, o que é natural num candidato com uma rejeição que chegou a 52%.

Lançado como última esperança para  salvar a pátria do PSDB, o problema real da campanha de Serra não é a perspectiva de derrota. É o tamanho da diferença a favor de Haddad. Superior a qualquer previsão de nossos sábios, a vantagem do candidato do PT mostra um adversário que sequer tem-se mostrado competitivo.

Esta é a crise, o susto de 2012.

Temos uma  oposição sem representatividade, inclusive em São Paulo, que sempre considerou como sua fortaleza.

Após a terceira derrota na sucessão presidencial, não é uma boa notícia para o PSDB.

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Serra, o grande puxador de votos

Daqui para a sucessão
Janio de Freitas

A provável vitória de Fernando Haddad, prenunciada na dianteira de 20% sobre José Serra nos votos válidos, tem vigor bastante para zerar as preocupações do PT com as possíveis e temidas repercussões, sobre o futuro petista, de condenações feitas pelo Supremo Tribunal Federal. As recentes e sigilosas reuniões de Lula com Dilma Rousseff e alguns petistas confirmam os temores e sua intensidade.

As preocupações justificavam-se já pela temeridade da escolha pessoal feita por Lula, impondo um candidato sem experiência eleitoral e pouco conhecido no eleitorado. Condições agravadas pela doença que minimizou a participação de Lula na campanha, pela agenda dada ao mensalão no STF e pela tradicional posição de grande parte dos meios de comunicação. Mas, na hora do enfrentamento, é inegável que muito desses agravantes foi compensado pelo adversário.

José Serra é o homem que não aprende. Mostrou-se, mais uma vez, nas palavras do jargão, grande puxador de votos -para o adversário. Com débito grande no eleitorado, pelo abandono da prefeitura e, ainda por cima, para o reprovado Gilberto Kassab, foi incapaz de reduzi-lo. Foi incapaz da criação de alguma ideia sedutora, de um argumento qualquer que remendasse sua imagem. Preferiu ser apenas o agressor descontrolado de sempre. Deu, porém, uma oportunidade ao eleitorado: a de dobrar-lhe a elevada rejeição e com isso desmentir que os eleitores esquecem tudo e depressa.

A propósito, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, em alta hospitalar por diabetes e problemas renais, afirmou que "o mensalão não foi bandeira de campanha do PSDB". Fica a suspeita: ou trataram a crise errada ou deixaram efeitos colaterais esquisitos.

Agora quem fará reuniões de temor e preocupação é o PSDB. Necessárias a Aécio Neves, porque a provável derrota de Serra não o beneficia, como muitos têm dito e escrito. A vitória fortaleceria o partido como a derrota o descredencia, no eleitorado e entre as forças políticas. O jogo sucessório acelera-se a partir de agora. Com José Serra no partido que fez Kassab criar para uma eventualidade? É melhor não duvidar.
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Uma mistura de Maluf e Reinaldo Azevedo

Serra está morto politicamente, mas não há razão para o PSDB morrer com ele

Serra está politicamente morto. Acabou. Mas não há razão para que o PSDB se deixe arrastar por ele para a morte.

Essa parece ser a mensagem central de FHC em suas críticas ao conservadorismo da campanha de Serra. É pouco, muito pouco. Mas pelo menos fica a impressão de que os tucanos não foram acometidos por um impulso irresistível de suicídio político.

Serra foi se encaminhando para a direita numa louca cavalgada. Apoiou-se num pastor e, com o chamado kit gay, transformou a homofobia num instrumento abjeto — e fracassado — de conquista de votos.
Pego em contradição quando a Folha mostrou que também ele quando governador patrocinara um kit gay, aspas, tergiversou cinicamente, esperneou, atacou jornalistas.

Não bastasse isso, sua campanha recebeu o endosso entusiasmado de um ex-coronel da Rota vinculado a tiros, tiros e ainda tiros. Serra acabou se transformando numa mistura bizarra de Paulo Maluf e Reinaldo Azevedo. Fernando Henrique falou em conservadorismo, mas isso é pouco. Serra parece o perfeito idiota de direita latino-americano, um anão moral que flerta com o neofascismo na ânsia de eliminar o PT.

Que ele faça isso se compreende. A ambição de Serra é inversamente proporcional a seu carisma e sua capacidade de convencer eleitores a votar nele. É provável que a presença ativa de FHC no passado tucano tenha servido de freio aos instintos mais baixos de Serra. Ele parece ser aquele tipo de homem que precisa de um chefe que o oriente e lhe ponha limites.

Mas que os tucanos deixem que ele funcione como um Jim Jones — o infame chefe de uma seita que promoveu um suicídio grupal na década de 1980 — é incompreensível. Fez bem FHC em desautorizá-lo, ainda que oblíqua e tardiamente.

Deveria ter feito antes. Na última campanha presidencial Serra já apresentara todos os defeitos que são vistos agora. Sua mulher usou a questão do aborto como ele usa agora o kit gay. Ele trapaceou ao se fingir vítima de um atentado. Ali já era o caso de receber do próprio partido um cartão vermelho válido pela eternidade.

Enterrado Serra, os tucanos vão ter que se empenhar para que a imagem do partido não seja devastada pelo absurdo comportamento dele nos últimos anos. A democracia ganha quando uma administração tem uma oposição rica em ideias alternativas. Mas o PSDB de Serra tem sido o oposto disso: o encontro da obsolescência com a desfaçatez.

Se o PSDB quer voltar ao poder, não é com golpes baixos, não é com bandeiras direitistas – é com um projeto melhor do que o do PT no que diz respeito ao combate à desigualdade social.

Uma sugestão? Mandar jovens militantes de mente aberta e alerta à Escandinávia para ver o que o partido poderia aprender com o fascinante sistema econômico, político e social nórdico.

E depois reconstruir um partido virtualmente destruído por um homem que desceu todos os degraus possíveis — e alguns mais.

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Crônica da morte anunciada do PSDB

“Os tucanos chegam a esta eleição jogando toda a sua sobrevivência em São Paulo, com o grave risco de, se perderem, ter decretada sua desaparição política”

Faltando doze dias para o 2º turno das eleições para a prefeitura de Sampa, e somente após críticas massivas pela omissão, o tucano José Serra avec correligionários (leia-se comparsas) lançou esta semana, numa livraria da cidade, seu programa de governo. Segundo editorial da Carta Maior, o evento foi na verdade uma espécie de “programa de lazer tucano”, uma encenação de seriedade para ser filmada e tapar buraco na propaganda eleitoral.

A contrapelo das pesquisas e do elevado teor de hipocrisia de um candidato que, após criticar a cartilha anti-homofóbica idealizada pelo MEC, foi obrigado a admitir que, em 2009, quando governador de SP, distribuiu material idêntico na rede estadual – ambos produzidos pela mesma ONG, a Ecos – Serra exerceu sua especialidade: a simulação.

A propósito do exercício supostamente democrático de “discutir a cidade com os cidadãos”, suas propostas mal-ajambradas – afetando um falso rigor técnico e ocultando metas, custos, recursos e a probabilidade de cumpri-las – se resumem a apenas um item, assim descrito pela insuspeita UOL: “Em um dos poucos momentos em que dedicou sua fala às suas propostas, Serra lembrou a promessa de construir 30 AMAs (Assistência Médica Ambulatorial). ‘Mas não a ponto de detalhar onde vamos fazer’ (ressalvou). ‘Isso seria impossível (sic). Mas tem o compromisso”(????????).

Planejamento incrível! Um compromisso exemplar com o eleitor!

A propósito e quase na mesma pauta, ressalto aqui o artigo dessa semana de Emir Sader, “Os tucanos do começo ao fim”, plenamente sintonizado com o que vem repisando esta colunista há séculos. Observa Emir que “os tucanos nasceram de forma contingente na política brasileira, apontaram para um potencial forte, tiveram sucesso por via que não se esperava, decaíram com grande rapidez e agora chegam a seu final”.

Mas ele mata a cobra e mostra o pau, prosseguindo com sua retrospectiva política ao relatar que os tucanos nasceram de setores descontentes do PMDB, sobretudo de Sampa, sob o domínio de Orestes Quércia (de triste memória), tentaram a eleição de Antonio Ermírio de Morais, em 1986, pelo PTB, mas Quércia os derrotou. Daí articularam-se para sair do PMDB e formar um novo partido que, apesar de contar com Franco Montoro, um democrata–cristão histórico, optou pela sigla da social- democracia e escolheu o símbolo do tucano para dar-lhe um toque de brasilidade, isto é, made in Brazil.

Assim como os macacos, as araras, as cobras, abacaxis e bananas devidamente incorporados ao nosso Inconsciente Colonial e a nunca por demais esquecida Carmem Miranda: yes, nós temos tudo isso.

O grupo, essencialmente paulista, foi incorporando alguns dirigentes nacionais como Tasso Jereissati, Álvaro Dias, Artur Virgilio, entre outros. Mas o núcleo central sempre foi paulista – Mario Covas, Franco Montoro, FHC. A candidatura de Covas à presidência foi sua primeira aparição pública nacional. Oculto atrás do perfil de candidatos como Collor, Lula, Brizola, Ulysses Guimarães, Covas tentou encontrar seu nicho com um lema que já apontava para o que definiria os tucanos – “Por um choque de capitalismo”.

A propósito de choques, não deixar de ler A doutrina do choque – a ascensão do capitalismo de desastre, de Naomi Klein, Rio, Nova Fronteira, 2008. Esgota o assunto e elucida de uma vez por todas a doutrina e a prática política do tucanato.

O segundo capítulo da sua definição ideológica inscreveu-se a partir do namoro com o governo Collor, concretizando a entrada de alguns tucanos no governo – Celso Lafer, Sergio Paulo Rouanet: revelava-se a fascinação que a “modernização neoliberal” exercia sobre os tucanos. O veto de Covas impediu que os tucanos fizessem o segundo movimento, isto é, o ingresso formal no governo Collor – o que os teria feito naufragar com o impeachment e talvez tivesse fechado seu caminho posterior para a presidência, via FHC.

Mas o modelo que definitivamente eles seguiram veio da Europa: da conversão ideológica e política dos socialistas franceses de Mitterrand e do governo de Felipe Gonzalez na Espanha. Como corrente ideológica, esta social-democracia (que já não era mais social e muito menos democracia) optava pela adesão ao neoliberalismo, lançado inicialmente pela direita tradicional européia até ser abraçado pelas elites latino-americanas. Aliás, na AL ocorreu um fenômeno similar: introduzido por Pinochet sob ditadura militar, o modelo foi recebendo adesões de correntes originariamente nacionalistas – o MNR da Bolívia, o PRI do México, o peronismo da Argentina – e de correntes social democratas – o Partido Socialista do Chile, a Ação Democrática da Venezuela, o Apra do Peru, o PSDB do Brasil.

Na década de 90, como outros governantes de correntes neoliberais – a exemplo de Menem (Argentina), Carlos Andres Peres (Venezuela), Ricardo Lagos (Chile), Salinas de Gortari (México) – no Brasil, os tucanos puderam chegar à presidência, porquanto a América Latina se transformava na região do mundo com governos neoliberais em suas modalidades mais truculentas.

O programa do FHC foi apenas uma triste adaptação ancilar do mesmo programa ao qual o FMI engessou todos os países da periferia em geral, e a América Latina em particular. Ao adotá-lo, FHC reciclava definitivamente seu partido a ocupar o lugar no centro do bloco de direita no Brasil, uma vez que os partidos de origem na ditadura – PFL, PP – tinham se esgotado. Quando Collor foi derrubado,  Roberto Marinho disse que a direita não voltaria jamais a eleger um candidato seu, dando a entender que teriam que buscar alguém fora de suas fileiras – o que ocorreu com FHC.

A princípio, sua gestão teve o mesmo “sucesso espetacular” que os demais governos neoliberais da América Latina no primeiro mandato: privatizações, corte de recursos públicos, desregulamentações, abertura acelerada do mercado interno,  flexibilização laboral. Contava com 3/5 do Congresso e com o apoio em coro da mídia. Também como outros governos, mudou a Constituição para ter um segundo mandato. E da mesma forma que outros, conseguiu se reeleger já com dificuldades,  porque seu governo havia mergulhado a economia numa profunda e prolongada recessão.

Negociou de novo com o FMI, foi se desgastando cada vez mais, uma vez que a estabilidade monetária não levou à retomada do crescimento econômico, nem à melhoria da situação da massa da população e acabou banido, sem apoio, vendo seu candidato derrotado.

Sader sentencia: “Aí os tucanos já tinham vivido e desperdiçado seu momento de glória. Estavam condenados a derrotas e à decadência. Se apegaram a São Paulo, seu núcleo original, de onde fizeram oposição, muito menos como partido – debilitado e sem filiados – e mais como apêndice pautado e conduzido pela mídia privada.

Derrotado três vezes sucessivas para a presidência, perdendo cada vez mais espaços nos estados, o PSDB chega a esta eleição aferrado à prefeitura de São Paulo, onde as brigas internas levaram à eleição dum aliado com péssimo desempenho.”

No caso, o nunca por demais rejeitadíssimo Kassab (meus sais!). Assim, os tucanos chegam a esta eleição jogando toda a sua sobrevivência em São Paulo, com o grave risco de, se perderem, ter decretada sua desaparição política. Até porque ninguém acredita em Aécio como candidato com possibilidades reais à presidência. E Alckmin, ainda menos.

Concluo, repetindo, mais uma vez, o meu “delenda Cartago”: PSDB, requiescat in pace.
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O velho está mais novo que o novo

Sebastião Bocalom Rodrigues, o Tião Bocalom (PSDB), é o candidato mais velho entre os prefeituráveis em Rio Branco. Com 58 anos, o paranaense de Bela Vista do Paraíso é apresentado por seus adversários como o velho, o arcaico e o atrasado. Do outro lado Marcus Alexandre, de 35 anos, surge como o novo, a força da juventude, a estirpe da renovação.

Mas como no mundo de hoje juventude está ligada ao mundo das redes sociais e da internet, o velho Bocalom é mais novo do que o novo. Passado um mês da campanha, o adversário petista não possui um único blog, fotolog ou qualquer que seja um instrumento de interação com os eleitores.

Resume-se aos 140 caracteres do Twitter. Nem uma página no Facebook há. Marcus Alexandre paga o preço da ojeriza histórica de seus marqueteiros da Companhia de Selva pelo mundo livre da internet. Assim foi em 2010 e outras campanhas, quando as candidaturas majoritárias do PT ficaram de costas para a rede mundial de computadores.

Desde o início de junho o tucano tem seu site no ar e mantém contas no Twitter e Facebook. Seus jovens militantes espalham pela rede jingles em MP3, banners e outros aplicativos. Inovando a eleição em Rio Branco, passa a colocar na página uma ferramenta para o eleitor-simpatizante fazer doações ao comitê da campanha. É a Obamania de 2008 incorporada no Acre pelo senhor calvo de poucos cabelos brancos. 

Já no campo do PT, a molecada teve que recorrer a um blog para mobilizar sua militância. Pobres coitados.

Com seu arcaísmo publicitário, a Companhia de Selva está fazendo do velho o novo.
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O povo merece resposta

A nota divulgada pelo Palácio Rio Branco dando conta de mais uma espionagem no Acre, desta vez praticada pelos tucanos, não pode cair no marasmo. A sociedade merece respeito. O Governo eleito de um Estado não pode ficar soltando acusações contra pessoas ou instituições sem provas, sem argumentos. Este é o atual quadro após o alarme da arapongagem realizada pelo PSDB no governador Tião Viana e seus auxiliares.

A nota emitida pela Secretaria de Segurança passa ao cidadão a insegurança em seus direitos fundamentais básicos, como o sigilo telefônico. O governo oferece a impressão de que a quebra de uma ligação telefônica pode ser feita por mim, por você e pela Dona Bentas e pela Tia Anastácia do Sítio do Pica Pau Amarelo.

Então agora qualquer entidade ou cidadão pode comprar um aparelho interceptor de ligações pela internet ou no Camelódromo do Terminal Urbano? Que fragilidade institucional é essa? Estamos num 007 à Amazônia onde tudo está livre e liberado? O governo está se desencontrando nas informações repassadas.

Uma hora se fala X, 20 minutos depois é Y. Até agora nenhuma prova foi apresentada, apenas uma nota evasiva e sem conteúdo, cheia de achismos. Um assunto grave como este não pode ser tratado como brincadeira por um governo responsável pela segurança de seus cidadãos. Para tentar se esquivar, Tião Viana rebaterá o discurso do líder do PSDB na Assembleia Legislativa, Wherles Rocha.

O tucano não mediu palavras ao bombardear a nota da arapongagem. O cidadão não quer um bate-boca entre governo e oposição, governador. Queremos as provas dos crimes imputados pelo seu secretário de Segurança a um partido político. O mínimo que a sociedade acreana quer são esclarecimentos, respostas, uma investigação livre da contaminação política.

Quem praticou o crime que pague.
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Sobre caciques e partidos

Publicado no Valor Econômico

A birra de Marta Suplicy, ausentando-se do ato de lançamento da candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo, enseja uma boa oportunidade para discutir o papel das lideranças individuais nos partidos políticos. Ela serve para mostrar que o caciquismo é um fenômeno mais complexo do que sugerem análises apressadas sobre a influência de certas lideranças na definição dos rumos das organizações partidárias. Quanto a isto, um aspecto ganha relevo: enquanto alguns líderes criam sucessores, atuando na produção ou reforço de novas lideranças (crucial para a sobrevivência organizacional), outros embotam essa criação, contribuindo para a esclerose organizacional. 

O problema é distinguir entre caciquismo - um tipo de liderança que subjuga a organização à vontade pessoal inquestionável do líder - e influência. Uma liderança influente no partido logra convencer os correligionários, sem contudo impor-lhes decisões inquestionáveis. Assim, se a persuasão é requisito para a obtenção de anuência, não há caciquismo. Trata-se de diferença de grau, que ultrapassados certos limiares se converte em distinção de natureza. 

Há situações nas quais se migra, ao longo do tempo, de um estado para outro. Assim, caciques podem converter-se apenas em lideranças influentes, seja por que se debilitam ou ajustam a conduta, seja porque um reforço organizacional do partido lhes reduz o espaço para o arbítrio. Inversamente, líderes influentes podem, em certas conjunturas, tornar-se caciques; algo mais provável em organizações partidárias frouxas ou enfraquecidas - o que não é a mesma coisa. 

Caciques são os que se colocam acima do partido 

Para existir, o cacique necessita do apoio de um subconjunto organizacional dentro do partido: sua entourage, uma facção majoritária ou posições-chave na burocracia. Assim, enquanto o partido como um todo é fraco organizacionalmente, esse subgrupo é relativamente forte, impondo a vontade de seu líder. Contudo, há uma condição principal, decisiva distinguir o caciquismo da influência: o cacique subordina os interesses da organização aos seus próprios; é o projeto pessoal do cacique que sempre prevalece sobre o do partido - e mesmo sobre o de sua claque. 

Há quem veja no patrocínio de Lula à candidatura de Fernando Haddad evidência de caciquismo, demonstrando que o PT nada mais seria do que um partido sem vontade própria, a reboque do grande líder. Será mesmo? Isto não se coaduna com características notórias do partido: organização forte, disputa intensa entre facções, espaço para contestação seguido de alinhamento a decisões tomadas pelo conjunto. Na realidade, Lula é muitíssimo influente, mas não um cacique no sentido próprio do termo. E isto não só por méritos próprios dele, mas pelas características do partido que construiu - que restringe o caciquismo. 

No caso paulistano, antes mesmo de Marta desistir da candidatura, já enfrentava - além de Fernando Haddad - a oposição interna de antigos aliados, agora pré-candidatos, os deputados Jilmar Tatto e Carlos Zarattini. Candidata duas vezes derrotada à prefeitura, a senadora já não desfrutava da condição de escolha óbvia da agremiação - como foi em 2008. A imposição de seu nome - a despeito de outras postulações, de um clamor interno por renovação e da grande rejeição aferida pelas pesquisas ¬- é que seria caciquismo. Em tal contexto, o apoio de Lula à renovação operou mais como contrapeso à tentativa de caciquismo em nível local do que se mostrou ele próprio uma imposição inconteste. 

Compare-se com a autoimposição de José Serra no PSDB, contra Aécio Neves. Verificou-se no ninho tucano uma estratégia de sufocamento da disputa interna pela interminável postergação do embate, até que o ex-governador mineiro jogou a toalha, considerando que não teria tempo hábil para se viabilizar. A solução pelo alto, dessa ardilosa vitória pelo cansaço, repetiu-se agora na escolha da candidatura tucana à prefeitura paulistana. Após meses alegando que não se candidataria, o que ensejou uma animada disputa entre quatro pré-candidatos (sugerindo renovação partidária) o ex-governador mudou de ideia, inscreveu-se na prévia após o prazo regulamentar, provocou a desistência de dois postulantes e prevaleceu. Serra obteve na prévia apenas pouco mais de 50% dos votos, num embate contra postulantes muito menos expressivos - tanto no que concerne à envergadura política quanto à história. Isto mostra o tamanho do desagrado que sua soberba causou na base tucana. 

Fosse o PSDB dotado de maior densidade organizacional, os dois episódios da imposição serrista deflagrariam uma crise interna - como a que deve se produzir no PT de Recife neste ano. O caráter elitizado da agremiação e a baixa intensidade da vida partidária (sobretudo se comparada à do PT) permitem que as manobras dos caciques e seus embates permaneçam basicamente como um problema deles mesmos. A renovação, neste caso, ocorre apenas nas franjas da disputa política (como nas eleições de deputado estadual e vereador), pelo ocaso das lideranças ou por algum acidente; raramente por uma estratégia bem definida. Em São Paulo, a oportunidade da renovação foi perdida; o risco da esclerose cresceu. 

É nisto que as atuações de Lula e Serra se distinguem como influência, no primeiro caso, e caciquismo, no segundo. Enquanto o ex-presidente interveio no processo de modo a promover uma renovação de lideranças e atuando segundo a lógica da organização partidária, o ex-governador apenas fez prevalecer seu projeto pessoal de poder, às expensas do partido, que tornou seu refém. Isto permanece, a despeito de quem venha ganhar ou perder as eleições de outubro. 

Algo que confunde a percepção de papéis tão distintos são os estilos muito diversos de um e de outro. Enquanto Lula é um líder carismático e de estilo esfuziante, Serra é um líder gerencial e de estilo soturno. Intuitivamente, o senso comum identifica o primeiro com o improviso e o personalismo, e o segundo com a racionalidade e a institucionalidade. Uma análise mais cuidadosa revela exatamente o oposto. 

Cláudio Gonçalves Couto é cientista político, professor da FGV-SP e colunista convidado do "Valor".
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Por Alberto Carlos Almeida, publicado no Valor Econômico

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acaba de ser agraciado com o prêmio John W. Kluge, conferido pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, a mais completa do mundo. A declaração do chefe da biblioteca acerca do premiado é paradigmática: "Em termos puramente científicos e acadêmicos, ele tem que ser considerado o mais notável cientista político da América Latina no fim século XX. Não só é a primeira pessoa com uma carreira política pessoal relevante a ganhar este prêmio, como é também um representante acabado do que chamamos cientista social. Se quisermos fazer uma comparação americana, ele é como Thomas Jefferson, desempenhando um papel-chave na construção de uma democracia com fundamentação acadêmica".

Isso foi suficiente para que os tucanos que desprezam o PT passassem a comparar Fernando Henrique com Lula em função do fato de o ex-presidente petista ter recebido recentemente os títulos de doutor honoris causa de várias universidades do Rio de Janeiro. O prêmio de Fernando Henrique, segundo tais críticos, revelaria claramente sua superioridade em relação a Lula e, acrescentaria eu, provavelmente do PSDB sobre o PT.

É curiosa a insistência de alguns segmentos do PSDB no desprezo em relação ao PT. Lula é um animal exclusivamente político. Ele não está preocupado sobre quem tem mais títulos de universidades ou de bibliotecas renomadas. Os títulos que Lula detém são os três mandatos presidenciais consecutivos do PT. Na política, é isso que de fato importa e deveria ser considerado pelos adversários do PT - se tiverem realmente o desejo de competir de igual para igual.

Uma das marcas mais importantes da trajetória política de Lula e do PT é a ousadia. As decisões da pessoa de Lula e da instituição por ele construída e liderada são a prova mais cabal de que, na política, ser ousado traz resultados benéficos. Os críticos deste argumento afirmam que Collor também ousou, e se deu mal. É evidente que sim: Collor não tinha com ele uma instituição sólida, um partido consolidado. Afinal, nada mais distante disso do que o PRN ao qual ele pertencia. Ousadia funciona, sim, desde que combinada com uma ideologia clara e uma instituição forte.

O primeiro grande risco tomado por Lula foi fundar um partido inteiramente novo. O PT nasceu fora da tradição política intelectual da esquerda brasileira e também fora do berço do sindicalismo ligado ao setor público. O líder principal do novo partido nunca lera Karl Marx (ainda bem) e a sua base social, diferentemente do que ocorrera nos anos 1960, eram os sindicatos do setor privado. Ele foi produto da industrialização do Brasil e, não por acaso, seu berço é a região do ABC paulista.

A história é bem conhecida e cabe aqui apenas pontuar alguns episódios de tomada de risco do novo partido e de seu principal líder: disputar uma eleição para governador em 1982 sem acesso a recursos políticos relevantes; disputar uma eleição presidencial, em 1989, nessas mesmas condições, enfrentando e derrotando líderes de renome e com grande estrutura, tal como acontecera com Brizola; entrar em confronto direto com toda a elite política brasileira, atacando de forma incessante o FMI, o pagamento da dívida externa e políticas econômicas adotadas recorrentemente no Brasil. Todas essas ações de alto risco poderiam ter resultado na extinção do PT. Foi o contrário que ocorreu: o partido cresceu na adversidade e desde que foi fundado aumenta a cada eleição o número de deputados federais, senadores, deputados estaduais e prefeitos. Atualmente, o PT tem a maior bancada de deputados federais e o maior número de deputados estaduais, quando se somam todas as unidades da Federação.

Uma das maiores ousadias do PT foi quebrar a velha tradição conciliatória da elite política tradicional brasileira. Nosso sistema político, o presidencialismo de coalizão, atua como uma força centrípeta, que leva os principais atores para o centro político, para a conciliação e para a acomodação. O PT sabe, sem sombra de dúvidas, atuar dentro de nossas instituições. Foi esse saber que permitiu que Lula e Dilma tivessem maioria parlamentar. O PT foi, porém, o partido do conflito quando esteve na oposição e hoje, no governo, é o partido com maior sede de ampliar seu espaço político. Faz alianças, sim, mas está pronto para conquistar o terreno político que pertence a alguns de seus aliados. Não há nenhum mal nisso. Da mesma maneira que os empresários de sucesso são reconhecidos porque têm a ambição de fazer suas empresas crescerem e conquistarem mais mercado, os políticos e os partidos de sucesso cultivam o desejo incessante de conquistar mais e mais poder. Ninguém está proibido de se comportar assim, nem a oposição.

Lula assumiu a Presidência em 2003 e fez uma inflexão política formidável: manteve grande parte da política econômica de Fernando Henrique, aumentou o superávit primário, de 3,75% para 4,25%, controlou o gasto social e expulsou quatro parlamentares que votaram contra a reforma da previdência aprovada pelo PT, mas sempre defendida pelo PSDB. Os expulsos foram Luciana Genro, Babá, João Fontes e a então senadora Heloísa Helena. Haja ousadia. A moderação de Lula em seu primeiro mandato foi crucial para o sucesso econômico de seu governo e, consequentemente, para sua reeleição.

Lula não parou aí. Seus principais colaboradores, José Dirceu e Antonio Pallocci, foram abatidos, respectivamente, pelos escândalos do mensalão e do caseiro. Sem eles, Lula escolheu Dilma Rousseff para disputar sua sucessão. Sua ministra da Casa Civil jamais tinha concorrido em uma eleição. Para muitos analistas políticos, não houve risco maior do que este. Lula ousou e venceu.

Dilma está seguindo os mesmos passos de seu pai político: demitiu vários ministros por conta de escândalos de corrupção, está tentando adotar uma política econômica diferente de seu antecessor, fez uma inserção inédita no Dia das Mães em cadeia de rádio e TV e passou a adotar medidas concretas para reduzir os juros. Não cabe aqui discutir se a redução de juros por meio da regulação estatal é correta ou não. Alguns dirão que sim, argumentando que a oferta de crédito no Brasil é extremamente concentrada. Outros dirão que não, porque o governo estaria agindo contra as regras da economia de mercado. Não é isso que está em discussão aqui, mas sim o caráter politicamente ousado da decisão.

O PT, guiado por seu instinto de sobrevivência, adota o método da tentativa e erro - pelo visto, menos erros do que tentativas. Eis a CPI do Cachoeira. Mais uma vez, os analistas se puseram a afirmar que se tratou de um tiro no pé dado por Lula. Será mesmo? Na política, não existe o contrafactual, não existe o "se". Ainda assim, poderíamos fazer um pequeno exercício e imaginar o que a mídia estaria falando hoje se não existisse a CPI. É óbvio que o noticiário estaria inteiramente dominado por notícias ligadas ao julgamento do mensalão. Do ponto de vista exclusivamente midiático, a CPI do Cachoeira já alcançou seu principal objetivo. O recesso parlamentar se inicia em meados de julho e, a partir daí, as eleições municipais se tornarão a principal notícia. Até lá, a eventual exposição negativa do PT e de seus políticos ao julgamento do mensalão terá sido minimizada. Por outro lado, o governo Dilma reagiu com rapidez (e ousadia) às denúncias que recaíam sobre a construtora Delta, por se tratar da principal contratada para muitas das obras do PAC.

Os adversários do PT deveriam, antes de menosprezá-lo, procurar entendê-lo melhor. Desconsiderar suas virtudes é a maneira mais fácil de continuar sofrendo derrotas eleitorais consecutivas. As forças políticas precisam ser avaliadas também em função de sua eficácia. Há razões muito claras que vêm levando o PT a ser mais eficaz do que seus adversários: a ousadia é uma delas, não a única.

Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário, é autor de "A Cabeça do Brasileiro" e "O Dedo na Ferida: Menos Imposto, Mais Consumo".


Comentário do blogueiro: O artigo do cientista político ligado aos tucanos é alerta para os integrantes do PSDB. Não basta estar certo no varejo, é preciso defender causas certas no atacado. Não basta a crítica pela crítica, é preciso apresentar o que faria diferente e melhor. O principal problema do PSDB é ficar sempre à reboque da agenda da mídia. Como a agenda midiática muda constantemente, o partido fica sem agenda, perdido, atirando para todos os lados. Ter a mídia a seu favor é vantagem, porém, é preciso saber tirar proveito disso. E o PSDB não está sabendo fazer. O que é vantagem tem se tornado em desvantagem, uma vez que eliminou a capacidade de reflexão do partido. Quando a presidenta Dilma faz um movimento contrário aos juros exorbitantes, aparecem tucanos criticando-a, dando a ideia para o eleitorado que está do outro lado do balcão, os banqueiros. Não importa se a estratégia presidencial é acertada ou errada, o que importa é o movimento, a direção. Os erros e excessos são corrigidos no meio do caminho, sem maiores consequências, desde que a direção esteja correta. E, nesse simples exemplo, evidencia-se que os tucanos teimam em permanecer na direção errada, contrária aos interesses da maioria, de trabalhadores a empresários. 
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