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A interação entre elites, midia e público

Estou pensando em voz alta, ok?

Stephen Walt nos fez um resumo do livro War Stories: The Causes and Consequences of Public Views of War, de Matthew Baum e Tim Groeling, e eu lhes forneço a glosa da glosa. Para quem quiser, a Princeton University Press disponibiliza para download gratuito o capítulo 1. Trecho central do texto de Walt no seu blog na revista Foreign Policy:
[...] the interaction between elites, media, and public opinion is a three-way process in which each group’s behavior is essentially strategic. Politicians try to use media to advance their aims; the media picks stories in order to maximize audience (or in some cases, to advance an ideological agenda), and therefore tend to favor stories that are novel or surprising (like when a prominent senator criticizes a president from his own party). Similarly, the public does not just consume the news passively; readers and viewers use various cues to gauge the credibility of different sources.
Ou seja, separe três grupos: mídia, elites (políticos, confederações, ordens, ONGs, celebridades etc.) e opinião pública. Tome cada grupo como interagindo com o outro de maneira estratégica. As elites tentam usar a mídia para alcançar seus objetivos, a mídia seleciona material que maximiza a audiência e faz alcançar seus próprios objetivos, e o público usa várias pistas para avaliar a credibilidade da fonte de notícia.

Nada disso é novo, mas é bom ver que estudos empíricos colocam o público como um ator ativo e avaliador. Isso dá a nós da blogosfera um papel claro: fornecer ao público em geral dicas e pistas para a avaliação da mídia, pois o público fará isso de qualquer modo, visto que tem papel ativo no processo.

Mas, é claro, tudo isso é muito complicado. Outro trecho interessante da postagem de Walt diz respeito à voz das elites na mídia:
[...] coverage of conflicts and wars “tends to track elite rhetoric more closely in the relatively early stages of a conflict, while tracking reality more closely if a conflict persists," but "consumers become relatively less susceptible to the influence of elite rhetoric regarding a conflict ... as they gather more information ... [and] grow less responsive to new information, particularly when it conflicts with their prior beliefs.
Aqui temos três coisas relacionadas, mas distintas. Primeiro, o dado empírico que, nos estágios iniciais de um conflito, a mídia inicia a cobertura veiculando a retórica da elite, mas tende a veicular a realidade mais de perto, à medida que o conflito se estende. Segundo, novas informações tornam o público menos propenso a aceitar a retórica da elite. Terceiro, o público tende a ser indiferente a novas informações que se chocam com suas crenças prévias.

Juntas essas três coisas e mais o que foi dito acima nos dão um quadro bastante rico e articulado, pois dizem que a elite usa a mídia, mas a dinâmica da mídia ao longo de uma cobertura a afasta da retórica da mídia, sem no entanto separar a mídia da sua própria agenda, e com o público desequilibrado para o lado daquilo que já aceitava.

Só por dar esse quadro rico, a coisa toda já vale bastante para nós, pois as dicotomias que empobreciam o debate público gaúcho têm empobrecido o debate público nacional. Só pensar em um quadro sobre mídia e política com três elementos já é ganho. Mas também há o ganho de pensar com um quadro dinâmico. Nossas discussões costumam ser estáticas, imutáveis: meu lado é mocinho e é bonito, teu lado é bandido e é feio. No esquema acima, isso some da discussão.

Volto aos três pontos listados acima.

O primeiro ponto é simplesmente o dado empírico que a mídia parte de uma retórica que está vinculada a interesses muito claros, e busca fazer a opinião pública colaborar com os mesmos. É o famoso viés em favor de certos grupos privilegiados. Ok, isso não é novidade.

A cobertura de conflitos inicia da retórica da elite, mas tende a se aproximar da realidade, à medida que o conflito se estende. Esse é um dado empírico importante. O segundo ponto diz que essa dinâmica elite-mídia tem um reflexo na dinâmica mídia-público, pois o público tende a se afastar da retórica da elite, ao que parece por causa das novas informações. Ao que parece, isso quer dizer que é possível fazer o público abandonar a retórica da elite a partir de novas informações, e também que fornecer novas informações é uma maneira de conduzir o público a outro ponto de vista.

No entanto, o público não pode ser conduzido a qualquer lado a qualquer momento, pois seu modo ativo presente de aceitar novas informações está condicionado pelas opiniões que aceitou no passado. Esse é o terceiro ponto, e quer dizer que o público é ativo, mas conservador, no sentido de se prender mais ao que aceitava no passado do que ao que é novo, quando o novo entra em conflito com a crença passada. Isso quer dizer que um elemento fundamental para a formação de opinião pública é estar de acordo com as opiniões aceitas pela opinião pública, ou modificá-las lentamente.
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A mídia

"A Mídia" não é irresponsável, mas jornalistas individuais podem ser.
Victoria Fine, no Huffington Post
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O discurso de Lula

Do Blog do Luís Nassif

Por Ricardo Amaral

O problema com Lula não é falar demais; é ser ouvido por milhões

Como se esperava, a boa entrevista do Lula ao Kennedy Alencar repercute na imprensa por causa de duas irrelevâncias, destacadas pela edição da Folha: uma frase descontextualizada sobre jornalismo e uma comparação exagerada com Jesus Cristo. É mais do mesmo. Esse pessoal acha que Lula fala demais e fala bobagem. Só este ano já foram 220 entrevistas e outros tantos discursos nas mais diversas circunstâncias. É natural que deixe escapar frases infelizes, comparações inadequadas, exageros e injustiças. E daí? O dado objetivo é outro: Lula fala para dezenas de milhões, com objetividade e clareza; é ouvido e assimilado como nenhum outro presidente foi antes dele. Por isso incomoda tanto; por isso tentam repercutir o acessório e escamotear o conteúdo.

Lula é um tipo raro de político, especialmente para o convencionalíssimo padrão retórico brasileiro. Ele se expressa com sinceridade, em público e no particular. Seu discurso é uma poderosa arma política, porque costuma dizer não só o que as pessoas comuns querem, mas o que elas precisam ouvir. Para arriscar uma comparação: o Winston Churchill da Batalha da Inglaterra (já ouço o espocar dos ovos). Grandes líderes percebem que a palavra sincera pode ser mobilizadora.

O comum na política é a frase evasiva; é contornar o conflito para não agravar a realidade. Só raramente grandes políticos brasileiros usaram a retórica de forma eficaz. Leonel Brizola, depois do exílio, teve grandes momentos, mas o exemplo que me vem agora é Ulysses Guimarães, na promulgação da Carta de 1988. “Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo”, ele disse, na cara dos generais, lembrando ao país que a obra da redemocratização ainda não estava completa.

Fernando Collor estava certíssimo quando disse que nossa indústria automobilística só produzia “carroças”. De maneira conseqüente, lancetou uma ferida do orgulho nacional e obrigou a indústria a avançar. Também estava sendo sincero quando comparou a inflação a “um tigre que se abate com um tiro só”. O problema aí é que ele estava redondamente enganado, e quem pagou pelo erro foi o país.

Ser sincero não é para qualquer um. Fernando Henrique se arriscou duas vezes nesse terreno e saiu-se mal nas duas. No caso dos “caipiras”, ele se referia a uma parcela de críticos provincianos ou com uma visão colonizada do mundo. Não estava errado, mas tentou ser coloquial e pareceu preconceituoso. No caso dos “vagabundos” detentores de aposentadorias precoces, indignas e injustas, tinha toda razão, mas tropeçou na péssima retórica (FHC é um conversador cativante de inteligência excepcional, mas um orador confuso e péssimo escritor). Nos dois casos, os demagogos fizeram a festa.

Por experiência própria, Lula já deveria ter aprendido a evitar comparações de inspiração religiosa. A impressão que elas deixam costuma oscilar entre o messianismo e a blasfêmia. Futebol, agricultura e família sempre serão territórios mais seguros para a metáfora política.

Lula disse que, para governar o Brasil, Jesus Cristo teria de entrar em acordo com o partido de Judas. A comparação é de mau gosto, mas está bem próxima da realidade política e institucional do país. Não dá para esperar que esse sistema (do qual Lula é parte necessária) se transforme por dentro. É mais conseqüente expor o problema como ele é (como Lula fez) e discutir como superá-lo (de fora para dentro), do que pedir a opinião do bispo. Se for pra discutir no campo, digamos, moral, que tal perguntar aos chefes do PMDB como eles se sentem no papel de Judas? E o pessoal do DEM?

Lula disse também que, para ele, o papel da imprensa é dar notícias, sejam denúncias, sejam elogios, e não misturar preferência partidária com texto informativo. Resumiu parte desse pensamento numa frase infeliz: “Não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. É informar.” O mancheteiro devia ser condecorado com a Ordem da Jarreteira, aquela que tem como dístico “Honni soit qui mal y pense” (numa tradução livre: a maldade está na cabeça de quem a aponta).

Desde o impeachment de Collor, faz-se praça de que a imprensa investiga, denuncia, julga, condena e pune todos os poderes instituídos, sem perder o equilíbrio, a objetividade, a imparcialidade e o senso de justiça. Ufa! Mesmo quando se presta a manipulações políticas rasteiras, a imprensa precisa acreditar que está fiscalizando a República. Podia ser apenas uma ilusão, mas virou vício. Nossa imprensa quer ser protagonista da política sem ter de pagar o preço da definição partidária. Muito a favorece, nesse desvio, a mediocridade dos atores políticos, oposição e governo. A maioria compactua com essa visão distorcida da imprensa, por oportunismo, ou se rende a ela por covardia.

Lula pode ter errado na forma, quando incorporou o autoconceito da imprensa “fiscal da República”, antes de negá-lo. Mas acertou de novo no conteúdo: nossos jornais estão misturando posição partidária com notícia, o que é notório pela pauta e pela hierarquização dos conteúdos. A demonstração cabal do que Lula diz é a repercussão da entrevista ã Folha. Ele falou sobre câmbio, juros, previsão de crescimento do PIB, os caso Vale e Oi, as relações com outros partidos, política externa, Dilma, Serra e um vasto etcétera. Mas nossa imprensa só fala de si. E de Judas. Dá mesmo a impressão de que não querem que Lula seja ouvido.

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para ler a íntegra da entrevista à Kennedy Alencar, da Folha de São Paulo.

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PIB: Números para todos os gostos

Do Blog Logística e Transportes, de José Augusto Valente

A divulgação da expansão do PIB brasileiro, relativa a 2008, especialmente ao seu quarto trimestre, apresenta números para todos os gostos. Inclusive números bastante favoráveis ao governo federal. Apesar disso, o governo brasileiro se colocou no “corner” do ringue, para receber pancada de todo lado, acusando os golpes recebidos, quando poderia fazer uma outra leitura, com base nos números do IBGE.
O que dizem os números relativos ao PIB, levantados pelo IBGE?
1. Apesar da crise financeira dos EUA, com fortes repercussões na Europa e na Ásia, a economia brasileira cresceu 5,1% em 2008
2. No ranking das economias que tiveram as maiores taxas de crescimento do PIB (2007/2006), o Brasil subiu do 16° para o 11° lugar (ver gráfico na página 22, do jornal O Globo de hoje – 11 de março de 2009)
3. Ainda nesse ranking, o Brasil foi o país que teve a menor redução da taxa de crescimento do PIB (2008/2007). É esse percentual e não o de redução do quarto em relação ao terceiro trimestre, que mostra o nível de desaceleração da economia. Para a China cair de 11,9% para 9,0%, a queda entre o quarto e o terceiro trimestre de 2008 deve ter sido, no mínimo, o dobro do que os números do Brasil:
a. O Brasil reduziu 10,5% (caindo de 5,7% para 5,1%)
b. A China reduziu 24% (caindo de 11,9% para 9,0%)
c. A Rússia reduziu 23,5% (caindo de 8,1 para 6,2%)
d. A Índia reduziu 21,5% (caindo de 9,3% para 7,3%)
e. Nessa lista, somente a Malásia e a Indonésia tiveram uma redução do PIB menor que o Brasil, com 7,9% e 3,2%, respectivamente
4. Ou seja, a redução da taxa de crescimento do PIB de 3,6%, do quarto em relação ao terceiro trimestre mostra o óbvio: todas as economias foram afetadas pela crise financeira dos EUA. A redução da taxa de expansão do PIB em apenas 10,5%, quando a maioria dos países desenvolvidos tiveram essas taxas superiores a 20%, mostra que a economia brasileira foi bem menos afetada pela crise, seja pela sua solidez, seja pelas medidas do governo federal e de alguns governos estaduais para mitigar os seus efeitos.
5. Essa redução pode ser explicada, em parte, pelo clima de pânico criado pela imprensa, que contribuiu para levar a 2% a redução do consumo e à redução da produção industrial – principal exemplo, a automobilística – com demissões prematuras, como ficou claro quando a partir de janeiro a indústria automobilistica convocou seus trabalhadores para a retomada que vem mantendo níveis crescentes, como temos publicado aqui neste blog.
Se tivéssemos uma imprensa minimamente isenta, as matérias de hoje seriam do tipo “Economias mundiais desabam. Entre os países desenvolvidos e emergentes, o Brasil cai muito menos que todos os demais!”.
No corpo da matérias, a imprensa buscaria explicar porque o Brasil caiu tão pouco e os países ricos e os demais do BRIC tiveram uma queda tão violenta.
Sorte? Economia sólida e menos dependente do comércio exterior? Governo eficaz?
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Gasto público do governo federal em queda com relação ao PIB

Esqueçam aquelas matérias que saíram nos grandes jornais a respeito de um suposto descontrole do governo nos gastos públicos como resultado do ano eleitoral. O governo teria aberto as torneiras dos gastos públicos para beneficiar seus aliados nas campanhas eleitorais deste ano. Aquilo tudo era policatigem. Obviamente, em ano eleitoral, e nesse não poderia ser diferente, há uma maior execução nos primeiros meses do ano, tendo em vista a antecipação de gastos para cumprimento do calendário eleitoral. Mas disso não se pode concluir que os gastos estão descontrolados, ou entraram em rota de crescimento, como apregou nossa imprensa.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getúlio Vargas, uma das instituições mais críticas do governo, as despesas primárias cresceram menos que o PIB no primeiro semestre do ano. As despesas do governo tiveram crescimento real de 4,4%, ao passo que o PIB cresceu de 5,5% a 6% nesse primeiro semestre. Ainda é preciso lembrar que o calendário eleitoral provoca antecipação dos gastos, o que se deduz que a queda pode ser ainda maior para o segundo semestre. Clique aqui para ler a matéria publicada no Estado de São Paulo.
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