De olho em 2014 e ancorada nos 611 mil votos recebidos no DF quando concorreu ao Planalto, ex-senadora corre para formar novo partido, que hoje já teria adesão de 14 parlamentares.
Marina estuda disputar o GDF
Ex-presidenciável corre para criar uma legenda e apoiadores admitem que uma das possibilidades é concorrer no Distrito Federal, onde superou Dilma e Serra em 2010
Karla Correia
Ainda amparada pelo capital político dos quase 20 milhões de votos obtidos na disputa presidencial de 2010, Marina Silva passará janeiro e parte de fevereiro empenhada em engrossar as fileiras do partido que pretende lançar com foco nas eleições de 2014. Ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, ela espera consolidar uma bancada de 14 parlamentares que, segundo "marineiros", já teriam se mostrado alinhados com os planos de criação da sigla. Marina trabalha com um calendário apertado para a oficialização do partido, que terá de sair do papel até outubro para poder disputar cargos no próximo ano. Entre as possibilidades, discute-se até uma eventual candidatura ao Governo do Distrito Federal (GDF).
Na mira de Marina estão nomes como os dos deputados Alessandro Molon (PT-RJ), Reguffe (PDT-DF) e Walter Feldman (PSDB-SP). "Até fevereiro, nós devemos ter uma conversa definitiva sobre esse tema", diz o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), um dos parlamentares sondados pela ex-ministra. Os senadores Randolfe Rodrigues (PSol-AP) e Cristovam Buarque (PDT-DF) também são citados por apoiadores de Marina como quadros desejados pela cúpula da futura legenda. Apesar de ainda não ter nome, o partido será pautado por temáticas ambientais e voltadas para a ética.
O projeto é acalentado por Marina desde meados de 2011, quando se desfiliou do PV em meio a uma série de desavenças com caciques da legenda pela qual se lançou candidata a presidente da República. O Movimento por uma Nova Política, lançado na sequência de sua saída do PV, agremia os simpatizantes do ideário da ex-ministra. "Existem muitos militantes descontentes com a estrutura de seus respectivos partidos e buscando algo novo. É em cima desse clima de descontentamento, dessa necessidade de uma nova proposta na política, que nós estamos trabalhando", diz Pedro Ivo Batista, um dos principais apoiadores de Marina e assessor do instituto que leva o nome da ex-ministra.
Uma das alternativas no caminho do novo partido seria uma fusão com o oposicionista PPS, que deve reafirmar sua proposta a Marina na próxima semana, durante a primeira reunião da sigla neste ano. A princípio, a ideia é descartada pela ex-ministra. "A posição da maioria dos marineiros é que as estruturas partidárias que existem hoje não contemplam as nossas propostas, não nos sentimos representados pelo formato atual dos partidos", explica Pedro Ivo.
A criação de mecanismos permitindo o lançamento de candidaturas apartidárias está entre as bandeiras acalentadas pela futura legenda. A participação de cidadãos não filiados na definição dos rumos do partido é outra inovação discutida entre os elaboradores do programa da sigla. Mas, apesar das discussões adiantadas sobre a estrutura partidária, candidaturas para 2014 ainda são um assunto delicado. A começar, por causa da própria Marina.
Cenários
A ex-ministra hesita em declarar qualquer intenção sobre a corrida presidencial de 2014 e, internamente, afirma que não quer ser vista pelo eleitorado como uma "política profissional", que dependeria de um cargo eletivo para expor suas propostas. Uma das possibilidades aventadas seria o lançamento de Heloisa Helena para disputar a presidência no próximo ano. Hoje vereadora de Maceió pelo PSol, Heloisa Helena já declarou a intenção de abandonar o partido que ajudou a fundar para aderir ao projeto de Marina Silva.
Segundo interlocutores, uma das propostas em estudo por Marina é disputar o GDF em 2014 — na disputa presidencial de 2010, ela foi a mais votada no Distrito Federal. Com 611.362 votos (41,96% dos votos válidos), ficou à frente de Dilma Rousseff e de José Serra. "Apesar de toda a resistência, ela sabe que não vai poder se manter afastada da primeira linha da política sem que isso afete a força do partido que pretende criar", diz um apoiador.
"Existem muitos militantes descontentes com a estrutura de seus respectivos partidos e buscando algo novo. É em cima desse clima de descontentamento, dessa necessidade de uma nova proposta na política, que nós estamos trabalhando" Pedro Ivo Batista, assessor do Instituto Marina Silva
Memória
Conflitos partidários
Elemento surpresa das eleições de 2010, quando se candidatou ao Planalto pelo PV, Marina deixou o partido em julho de 2011, apenas dois anos depois de se filiar à legenda já com a vaga garantida para a corrida presidencial. Outros 15 membros da sigla assinaram a carta de desfiliação com Marina. "A direção do partido, em sua maioria, disse não à democratização de suas estruturas institucionais, ao diálogo com a sociedade e a um projeto autônomo de construção partidária", dizia o documento.
A formalização da saída de Marina do PV foi a plataforma de lançamento do Movimento por uma Nova Política, apresentado como o embrião da legenda que a ex-ministra pretende consolidar neste ano. Essa será a quarta agremiação de Marina. Além do PV, ela já integrou o extinto Partido Revolucionário Comunista (PRC) e foi filiada ao PT entre 1986 e 2009.
Fonte: Correio Braziliense