POLÊMICA: PARA COMPREENDER A FORÇA DE LULA

Está na PNAD a explicação para a popularidade do presidente, que intriga mídia, direita e parte da esquerda. País tornou-se menos desigual, em múltiplos sentidos. Chamar os avanços alcançados de "assistencialismo" não ajuda a entender a realidade, nem a reivindicar mudanças mais profundas.

Publicado originalmente no Le Monde Diplomatique

Ladislau Dowbor*

É tempo de fazer as contas. Com a deformação geral dos dados pelo prisma ideológico da grande mídia, torna-se necessário buscar nas fontes primárias de informação, nos dados do IBGE, como andam as coisas. A reeleição mostrou forte aprovação por parte dos segmentos mais pobres do país a Lula, mas os números reais sobre a evolução das condições de vida do brasileiro surgem com o atraso natural dos processos de elaboração de pesquisas. O IBGE publicou a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio de 2006, e também os Indicadores Sociais dos últimos 10 Anos. Vale a pena olhar a imagem que emerge: ela explica não só os votos, como o caminho que temos pela frente.


O principal número é, evidentemente, o aumento de 8,7 milhões de postos de trabalho no país durante o último governo. Isto representa um imenso avanço, pois se trata aqui de uma das principais raízes da desigualdade: grande parte dos brasileiros se vê excluída do direito de contribuir para a própria sobrevivência e para o desenvolvimento em geral. Entre 2005 e 2006 o avanço foi particularmente forte, com um aumento de 2,4%, resultado da entrada no mercado de trabalho de 2,1 milhões de pessoas. A expansão do emprego feminino é particularmente forte (3,3,%), enquanto o dos homens atingiu 1,8%. A formalização do emprego é muito significativa: 3 em cada 5 empregos criados são com carteira assinada. Atingimos assim, em 2006, 30,1 milhões de trabalhadores com carteira assinada, um aumento de 4,7% em um ano. O avanço é pois muito positivo, mas num quadro de herança dramático, que o próprio IBGE aponta: “mais da metade da população ocupada (49,1 milhões de pessoas) continuava formada por trabalhadores sem carteira assinada, por conta-própria ou sem remuneração [1]

O segundo número, que ocupou as manchetes de todos os jornais, é a elevação dos rendimentos dos trabalhadores em 7,2%, entre 2005 e 2006. É um número extremamente forte, e coerente com os anos anteriores: a remuneração dos trabalhadores vinha caindo desde o final dos anos 1990, e começou a se elevar em 2003, desenhando desde então uma curva ascendente. Este é um número de grande importância, pois a desigualdade é, de longe, o nosso problema número um. É um número que reflete os avanços na criação de postos de trabalho vistos acima, e também os avanços no salário mínimo.

O salário mínimo teve um ganho real de 13,3% em 2006 relativamente a 2005, o que representa um salto fortíssimo para os trabalhadores que estão no que se chama hoje de “base da pirâmide” econômica. Consultas com pessoas que trabalham com as estatísticas da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) do Dieese/Seade sugerem que 26 milhões de trabalhadores foram abrangidos por este aumento. Além disto, como o salário mínimo é referência para o reajuste das aposentadorias, outras 16 milhões de pessoas teriam sido beneficiadas.

Aumento consistente nos salários e avanços no combate à desigualdade – inclusive entre as regiões

Um comentário é necessário aqui: um aumento de cem reais para uma família que tem um rendimento de, por exemplo, 4 mil reais não é significativo. No entanto, cem reais representam, para pessoas que têm de sobreviver com algumas centenas de reais por mês, um imenso alívio, a diferença entre poder ou não poder comprar melhor alimento ou um medicamento para a criança. A utilidade marginal da renda, em termos de impacto para o conforto das famílias, vai diminuindo conforme a renda aumenta. Do ponto de vista econômico, maximizar a utilidade dos recursos do país envolve o aumento da renda dos mais pobres. Isto vale tanto no aspecto social, em termos de satisfação gerada, como em termos de geração de demanda e conseqüente dinamização das atividades econômicas. O pobre não faz especulação financeira, compra bens e serviços. Tirar as pessoas da pobreza não é caridade, é bom senso social, e bom senso econômico.
Outra forma de a PNAD avaliar a evolução dos rendimentos já não é por trabalhador, na fonte de remuneração, e sim por domícilio, no ponto de chegada. Isso permite agregar as várias formas de remuneração na família. O rendimento médio domiciliar aumentou em 5,0% em 2005, e em 7,6% em 2006, o que é coerente com os dados de rendimento de trabalho, e torna os dados muito confiáveis, porque convergem. É bom lembrar, para quem tem menos familiaridade com este tipo de números, que um aumento de 7% ao ano significa que o rendimento dobra a cada 10 anos.
Detalhando as cifras acima, vemos outras coisas interessantes. O rendimento no trabalho das pessoas ocupadas, que na média nacional cresceu 7,2%, subiu 6,6% no Sudeste, mas avançou 12,1% no Nordeste. No caso do rendimento dos domicílios, o aumento médio nacional, conforme vimos, foi de 7,6%. Mas no Sul e no Sudeste, foi de 7%, enquanto no Nordeste foi de 11,7%. Ou seja, não só tivemos um forte avanço do conjunto, como a região mais atrasada, cujo avanço é mais importante para o reequilibramento nacional, teve o avanço mais acelerado. Em outros termos, a desigualdade regional está, pela primeira vez, sendo corrigida, e com números muito significativos. Relevantes, sem dúvida, mas ainda muito insuficientes: O rendimento médio domiciliar nordestino representava, em 2005, 52,8% do rendimento do Sudeste, passando para 57,8% em 2006. Um grande avanço, mas um imenso caminho pela frente.
Outro eixo importante de desigualdade está ligado à diferença de nível de remuneração entre o homem e a mulher. Os dados mostram a evolução seguinte: a remuneração da mulher, que equivalia a 58,7% da do homem, em 1996, pulou para 63,5% em 2004; 64,4% em 2005 e 65,6% em 2006. Nota-se uma lenta progressão, partindo de um nível que já é em si extremamente desigual. Ou seja, aqui também a direção é positiva, mas precisamos de muito mais.
Mulher é quase 50% da força de trabalho e estuda mais – porém, arca com afazeres domésticos
A situação da mulher é particularmente afetada pela desagregação da família. Estas cifras extremamente duras aparecem no documento do IBGE sobre Indicadores Sociais 1996-2006. O número de famílias caracterizadas como “mulher sem cônjuge com filhos” passou de 15,8 milhões em 1996 para 18,1 milhões, em 2006. Como há um pouco menos de 60 milhões de famílias no país, isto significa que quase um terço das famílias são carregadas pelas mães — que se não trabalham, não têm renda, e se trabalham, não têm como cuidar os filhos. Trata-se aqui evidentemente de uma situação dramática quando associada à pobreza, e constitui um alvo central do programa Bolsa-Família, cujo sucesso se deve em grande parte também ao fato de as mulheres gerirem melhor os recursos obtidos. Aos que criticam os programas redistributivos, é bom lembrar um outro dado da PNAD, apontando que “cerca de 31% das famílias em que a mulher era a pessoa de referência viviam com rendimento mensal até meio salário mínimo per capita.” [2] Do lado positivo, é importante o dado que a PNAD nos traz, de que as mulheres estão progredindo rapidamente em termos de nível de estudos: 43,5% delas concluíram o ensino médio (11 anos ou mais de estudos), enquanto apenas um terço dos homens possuía este grau de instrução. As mulheres investem mais também no estudo superior, onde 55,3% eram mulheres em 1996, e 57,5% em 2006. Numa sociedade onde o conteúdo de conhecimentos nos processos produtivos se eleva rapidamente, isto é fortemente promissor.
A presença feminina na força de trabalho continua crescendo: são 43 milhões, num total de cerca de 90 milhões de pessoas ocupadas. No entanto, entre trabalho, estudo e cuidados com a família, além de estar freqüentemente sozinhas na chefia da família, a sobrecarga está evidentemente no limite do suportável. A Síntese de Indicadores Sociais 1996-2006 comenta que “com relação à jornada média semanal despendida em fazeres domésticos, verifica-se que as mulheres trabalham mais que o dobro dos homens nessas atividades (24,8 horas).”
Ou seja, nesta outra dimensão tão importante da desigualdade, a que se materializa na desigualdade de gênero, constatamos avanços na remuneração relativa, avanços nos estudos, avanços na força de trabalho, mas tudo ainda enormemente injusto para uma visão de conjunto que temos caracterizado, em outros trabalhos, de “reprodução social” no sentido amplo. Os desequilíbrios estruturais herdados são simplesmente muito grandes.
Educação: um mundo à parte, marcado pelo avanço nos anos de estudo e por... analfabetismo alarmante

Outra dimensão que vale a pena comentar é que tanto a PNAD 2006 como a Síntese de Indicadores Sociais 1996-2006 documentam amplamente, são os avanços no nível da educação. Para já, é um mundo: no Brasil, são 55 milhões de estudantes, 43,7 milhões na rede pública, e 11,2 milhões na rede privada. Se incluirmos professores e sistema de apoio administrativo, temos aqui quase um terço da população do país. A expansão quantitativa maior deu-se na gestão anterior à do presidente Lula, mas os avanços continuam fortes.
Em particular, com a lei 11.274 de 6 de fevereiro de 2006, o ensino fundamental expande-se para 9 anos, com início aos 6 anos de idade. A taxa de escolarização no grupo de 5 e 6 anos aumentou em 3% em um ano. O número dos que não freqüentavam a escola nesta idade caiu de 35,8% em 1996, para 23,8% em 2001, e para 14,7% em 2006. Na classe de 7 a 14 anos, a queda dos que não freqüentavam a escola foi de 8,7% para 3,5% e 2,3% respectivamente. Para a classe de 15 e 17 anos, foi de 30,5%, 18,9% e 17,5% respectivamente. O número médio de anos de estudo completos das pessoas de 10 anos ou mais de idade foi de 6,8 anos em 2006, um aumento de 3% relativamente ao ano anterior.
No ensino superior, houve um aumento muito forte, de 13,2%, entre 2005 e 2006. Ele deve-se dominantemente à expansão do ensino superior privado, e o papel público de redução das desigualdades aparece claramente na distribuição entre os dois sistemas: “Enquanto nas Regiões Norte e Nordeste 41,9% e 36,6% dos estudantes de nível superior freqüentavam a rede pública, nas Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, estes percentuais eram de 18,2%, 22,1% e 26,5%, respectivamente” [3].
Aqui ainda, a direção é correta, mas o atraso a recuperar é imenso. Ao analisar a escolaridade da população ocupada, a PNAD constata que as pessoas com 11 anos ou mais de estudo, eram apenas 22,0% em 1996, 28,9% em 2001 e 38,1% em 2006. A progressão é forte, e se deve particularmente ao esforço educacional das mulheres ocupadas, entre as quais 44,2% tinham escolaridade de 11 anos ou mais, em 2006. Na outra ponta, temos 15 milhões de analfabetos de mais de 10 anos (redução de 10,2% para 9,6%). O analfabetismo funcional atingia 23,6% das pessoas com mais de 10 anos (redução de 1,3% ponto percentual), sendo que no Nordeste atingia 35,5%. Evidentemente, está entre as duas pontas a imensa massa dos sub-qualificados do país.
Um caminho: reivindicar a ampliação das políticas sociais — ao invés de tentar desmoralizá-las
Se resumirmos um pouco a evolução, constatamos uma forte expansão do emprego (particularmente do emprego formal), um aumento da renda do trabalho em geral (e em particular no Nordeste), uma progressão significativa da escolaridade e da remuneração feminina, um forte aumento da população ocupada com 11 ou mais anos de estudo, além da redução do trabalho infantil e outras tendências que não temos espaço para comentar aqui. Estes números são coerentes entre si e convergem para uma conclusão evidente: está se fazendo muito, os resultados estão aparecendo.
A apresentação destas políticas como “assistencialistas” não tem muito sentido: os 12,5 bilhões de reais para a agricultura familiar constituem um apoio à capacidade produtiva. Os R$ 8,5 bilhões do Bolsa-Família constituem um excelente investimento na próxima geração que será melhor alimentada – além do impacto essencial de inserção deste nosso quarto-mundo nas políticas públicas organizadas do país. O aumento do salário mínimo, junto com os outros programas mencionados, começa a dinamizar a demanda popular e a estimular pequenas atividades produtivas locais [4].
Ou seja, estaremos talvez atingindo um limiar a partir do qual a renda gerada na base da sociedade começa a se transformar num mecanismo auto-propulsor. Para isto, teremos de avançar muito mais. O que está em jogo aqui não é apenas ajudar a massa de excluídos deste país. É gerar uma dinâmica em que renda, educação, apoio tecnológico, crédito e outras iniciativas organizadas de apoio permitam realmente romper as estruturas que geraram e reproduzem a desigualdade. A pressão sobre este governo é positiva, quando se leva em consideração os avanços realizados, e se reivindica a ampliação das políticas, não a sua desmoralização [5].
O que se torna evidente, ao analisarmos estes dados, é que a população mais desfavorecida do país votou no segundo turno não por desinformação, mas por sentir que a sua situação está melhorando. Falar mal do governo, entre nós, é quase um reflexo, acompanha a cerveja como o amendoim. Falar bem dele parece até suspeito, como se fosse menos “objetivo”. Mas falar mal pode ser igualmente suspeito. Muito mais importante é entender o que está acontecendo. Por trás do palco da política oficial que a imprensa nos apresenta a cada dia, e que é o lado mais visível dos grandes discursos, há o imenso trabalho organizado de milhares de pessoas que estão tocando programas, literalmente tirando leite de pedra numa máquina de governo que, por herança histórica, foi estruturada para administrar privilégios, e não para prestar serviços.
Ladislau Dowbor é economista político graduado na Universidade de Lausanne, Suiça; doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, Polônia (1976). Atualmente, é professor titular da pós-graduação da PUC-SP e presta consultoria para agências da ONU, governos e instituições.
Mais
IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Síntese de Indicadores 2006: Comentários
IBGE — Síntese de Indicadores Sociais 2007 – Uma análise das condições de vida da população brasileira 2007 – está disponível aqui

[1] IBGE, PNAD 2006. A Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio, para quem não está familiarizado, constitui o principal instrumento de avaliação de como anda a situação das familias no país. A PNAD 2006 entrevistou 410.241 pessoas, em 145.547 domicílios, e representa a situação real de maneira confiável, ainda que desagregável apenas ao nível de Grandes Regiões ou de Estados, o que encobre desigualdades locais, perdidas nas médias. Os dados estão disponíveis online, nos “Comentários 2006”
[2] Ver os dados na Sintese de Indicadores Sociais 1996-2006 do IBGE, gráfico 4.1, e páginas seguintes, doc. s.p. – O documento completo, Síntese de Indicadores Sociais 2007 – Uma análise das condições de vida da população brasileira 2007 – está disponível aqui. Sobre as tendências de desagregação da família, ver o nosso artigo “Economia da Família”, sob a rubrica Artigos Online no site http://www.dowbor.org/
[3] IBGE, PNAD 2006, Comentários, p. 7
[4] Vale a pena consultar o sistema de seguimento dos 149 programas sociais distribuídos entre vários ministérios, disponível sob “Geração de Emprego e Renda”, em http://www.mds.gov.br/: cada programa é apresentado com os seus objetivos e custos, além de contato para quem precisar de mais informação
[5] Para o conjunto de propostas relativas á dinamização do “andar de baixo” da economia, ver Política Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Local, http://www.dowbor.org/ sob Artigos Online.
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Aliança PT-PSDB tem apoio de 84% da população em Belo Horizonte

Neste último domingo, o PT de Belo Horizonte realizou votação para escolher os delegados que votarão no próximo dia 06 sobre a aliança idealizada pelo governador mineiro Aécio Neves e o prefeito Fernando Pimentel, do PT. A chapa “PT Pelo Entendimento” - que representa a aliança entre PT-PSDB obteve cerca de 85%. Os partidários ligados aos ministros Patrus Ananias e Luiz Dulci e também ao deputado estadual André Quintão, pré-candidato à prefeitura de BH, não apresentaram chapa para a votação neste domingo. O boicote é uma maneira de mostrar a insatisfação do grupo com relação à forma que a aliança está sendo conduzida. A despeito disso, uma pesquisa do Vox Populi mostrou que a aliança PT-PSDB tem amplo apoio na população belorinzontina. Resta saber se esta mesma população estaria disposta a eleger um candidato sem história com a cidade, escolhido para ser filiado a um partido da base do governo federal simplesmente para a continuidade do projeto político do prefeito petista e governador tucano. Veja a matéria abaixo:

A julgar pela opinião da grande maioria dos belo-horizontinos, os delegados do PT devem aprovar na votação que ocorrerá domingo que vem a aliança com o PSDB em torno da sucessão da prefeitura da capital mineira. Pesquisa Vox Populi realizada para a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) entre os dias 7 e 11 revela que 84% dos eleitores de Belo Horizonte aprovam a parceria entre o governador Aécio Neves (PSDB) e o prefeito Fernando Pimentel (PT) – os dois principais articuladores da dobradinha em torno de um candidato único filiado a um partido neutro.

Questionados sobre notícias veiculadas na imprensa apontando o bom relacionamento administrativo e entendimento político entre os governos estadual e municipal, apesar de pertencerem a partidos diferentes, apenas 7% dos entrevistados reprovaram a relação entre ambos, enquanto outros 7% não souberam ou não responderam à pergunta feita pelos pesquisadores. Na capital mineira foram ouvidos 500 eleitores com mais de 16 anos, em pesquisa que tem margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Na avaliação do sociólogo Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi, os números revelam que os eleitores estão muito mais atentos à gestão de um administrador e aos candidatos que disputam as eleições do que aos partidos políticos aos quais eles são filiados. “Os partidos nunca tiveram muita importância para a maioria das pessoas. Apenas 30% das pessoas se identificam com algum partido. Por isso as questões de conflitos partidários parecem conversa remota, pois para eles pouco contribui para a solução de problemas de sua cidade, estado ou país”, diz.

E essa percepção de administração tem se mantido estável quando questionados sobre o desempenho tanto do governo estadual quanto federal – levando-se em conta a margem de erro das pesquisas. A nova rodada da pesquisa Vox Populi revela que há um ano e três meses a avaliação do governo Aécio Neves se mantém estável, acima dos 70%. Entre os 2.261 mineiros entrevistados em 99 municípios, a gestão do Palácio da Liberdade é boa ou ótima para 74% deles, regular para 18% e ruim ou péssima para 5% deles. Outros 2% não souberam ou não responderam à questão.

Essa mesma estabilidade é verificada na percepção do desempenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cuja administração foi considerada ótima ou boa para 61% dos mineiros, regular para 26% e ruim ou péssimo para 12%, enquanto 1% não opinou. O fenômeno semelhante, verificado em relação aos palácios da Liberdade e Planalto, é avaliado como natural pelo diretor do Vox Populi, uma vez que tanto Aécio Neves quanto Lula gozam há mais de um ano de um alto índice de aprovação em Minas.

“Quando se tem um elevado nível de avaliação, as mudanças possíveis são sempre para baixo, já que seria difícil ultrapassar os números atuais. Como não houve nenhuma razão para que piorasse a avaliação sobre eles, o resultado é a estabilidade”, explica Marcos Coimbra. Aprovação que coincide com as avaliações e expectativas sobre a economia brasileira e mineira. Para 63% dos entrevistados, a situação do estado é boa ou ótima, enquanto 31% consideram regular e 5% ruim ou péssima. Em relação ao país, 47% dos mineiros avaliam que a situação é ótima ou boa, enquanto 39% apontam regularidade e 14% não estão satisfeitos, pois consideram o país ruim ou péssimo.

Desempenho

O governo Aécio Neves é melhor avaliado do que a gestão do prefeito Fernando Pimentel pelos belo-horizontinos. Segundo a pesquisa Vox Populi realizada para a Fiemg, 85% dos 500 entrevistados classificam de positiva a administração tucana e 12 como regular. O petista tem gestão positiva para 73% e regular para 21%. Na avaliação negativa houve empate técnico: 2% e 3%, respectivamente.
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Pega na mentira

Sorte que os blogs têm leitores. E eles trabalham, fazendo o que os jornalistas não conseguem, não podem ou não desejam fazer. Um leitor anônimo do blog Coleguinhas, do Ivson Alves, pegou o Josias de Souza, da Folha, em um estranho engano, ao dizer que Dilma Roussef mentiu ao citar um documento que diz que o TCU pediu informações sobre gastos do governo FHC. Só que o link do jornalista aponta para outro documento, o verdadeiro é esse, o que confirma as declarações da ministra. Leia o comentário do leitor:


No documento correto aparecem muitas menções às prestações de contas retroativas ao governo anterior. O TCU pede para o atual governo prestação de contas do cartão corporativo da época do governo anterior, isso está claro. E como fazer isso sem informatizar criando o SUPRIM? Você somaria as despesas na mão, Josias? Há até elogios do TCU quanto ao aprimoramento da prestação de contas através da criação do banco de dados SUPRIM tais como no capítulo "Voto do Ministro Relator", item 12 parte I, que abrange 2002.

Quem ler o documento correto vai perceber que você está manipulando e "escandalizando o nada".

Banco de dados oficial reconhecido e elogiado pelo TCU não é dossiê.

"
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“Jornalismo” é a alma do negócio


Está no Globo Online. Fica alguma dúvida sobre a torcida da mídia? E a informação? Dane-se. O fato de Serra liderar uma pesquisa de intenção de votos, para eleição só em 2010, é mais importante que o presidente obter agora uma aprovação recorde. Muito maior do que a de FHC quando fez o Plano Real. O jornalismo e os coloridos anúncios que emolduram as notícias estão a cada dia mais parecidos...
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DATAFOLHA: SERRA lidera disputa por 2010 com 38%

Do Portal do IG

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), lidera a disputa pela Presidência da República em 2010 com 38% das preferências em uma pesquisa estimulada, com 18 pontos de vantagem sobre o principal adversário, o deputado federal Ciro Gomes (PSB), que ficou com 20% das intenções de voto, aponta pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira.

O levantamento foi feito entre os dias 25 e 27 de março, com 4.044 pessoas nas principais cidades do País. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos para cima ou para baixo.

A dois anos e meio da eleição, Serra aparece como favorito nos cenários em que é apresentado como o candidato do PSDB - com taxas que variam de 36% a 38% de preferência. De acordo com a pesquisa, Ciro Gomes é hoje o mais competitivo da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Neste cenário, estariam ainda, além de Serra e Ciro, Heloísa Helena, do PSOL, com 12% das preferências, e Marta Suplicy com 8%. Os votos em branco, nulo ou nenhum corresponderam a 16% e 9% dos entrevistados afirmaram não saber em quem votar. Serra teria o melhor desempenho no Sul do País, com uma votação que pode variar entre 43% a 45% dos eleitores.

Em um cenário em que Serra não aparece, a pesquisa mostra que Ciro teria a preferência de 31% das pessoas consultadas; Heloísa Helena, do PSOL, viria em segundo lugar, com 19% dos votos, seguida do governador Aécio Neves (PSDB-MG), com 15%. Dilma Roussef, a ministra da Casa Civil da Presidência da República, viria em quarto lugar, com 4%.

Dilma, neste cenário, alcançaria maior votação, de 8%, entre os eleitores com renda familiar mensal superior a 10 salários mínimos.

No terceiro cenário, Serra teria 38% dos votos, contra Ciro Gomes com 21%, vindo a seguir Heloísa Helena, com 15%, e Patrus Ananias, com 1%.

Em outro cenário em que Serra não participa e disputariam a corrida eleitoral Ciro Gomes, Heloísa Helena e Aécio Neves, Ciro ficaria com 28% dos votos, Heloísa Helena com 17%, Aécio Neves com 14% e Marta Suplicy, 11%.

Em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outro levantamento já apontou que ele alcançou a maior popularidade em seus cinco anos e três meses de governo, com aprovação de 55% dos consultados. A aprovação de 55% é para ótimo e bom, 33% para regular e 11% para péssimo.

Comentário do blogueiro:

Ainda é muito cedo para um prognóstico mais realista para 2010. Serra ainda não obteve sua candidatura dentro do PSDB, mas a percepção da maioria é de que é candidato. Aécio Neves tem atuado com desenvoltura nos bastidores, podendo atrapalhar os planos do governador paulista. Mas não é percebido pela maioria como candidato. E o nível de desconhecimento do eleitorado é bem maior.

Além disso, o PT não tem candidatura percebida pelo eleitor, mas certamente terá candidato e chegará a um patamar que, na pior hipótese, estará acima dos níveis de Heloisa Helena, do PSOL. Além disso, os nomes de Dilma, Patrus e mesmo Tarso Genro, são poucos conhecidos do eleitorado. Marta Suplicy é mais conhecida, mas ainda tem grande espaço para crescer nas regiões norte e nordeste. Nada impede que surjam outros nomes – Fernando Pimentel (prefeito de BH), Fernando Haddad (ministro da Educação) e Jacques Wagner (governador da Bahia) não podem ser totalmente descartados. Tudo isso complica a análise dos cenários colocados.

Ciro Gomes (PSB) é o que melhor aparece nas pesquisas no campo governista. É hoje o político mais popular do nordeste depois de Lula. Enfrenta uma resistência em São Paulo e no sul do país, mas tem boa aceitação em Minas e Rio de Janeiro. Seu principal obstáculo é o tempo de televisão menor e a estrutura partidária pequena e fragmentada. O chamado bloquinho – PSB, PDT e PC do B – é instável e tem pouca unidade. E o PT deverá tentar cooptar para sua candidatura integrantes do PC do B e do PDT. Não há garantia de que bancarão sua candidatura. Além disso, dentro do PSB, Ciro não é unanimidade e enfrenta a ambição do presidente da legenda e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que busca se credenciar para uma candidatura de vice-presidente. Existem pedras no seu caminho rumo à presidência.

Há um detalhe consistente nas últimas pesquisas: a estabilidade dos números atribuídos a José Serra (PSDB). O governador paulista tem aparecido variando entre 36% e 38%, dentro da margem de erro, com apoio mais forte na região sul do país. Se a região sul e São Paulo são seus pontos fortes, Minas Gerais e nordeste podem representar seus pontos fracos. Se vingar sua vitória dentro do PSDB, tirando Aécio do páreo, este deverá contentar-se com a candidatura para o Senado. Uma candidatura que apresente um nome mineiro (seja na cabeça de chapa ou na vice) pode criar uma linha de resistência de Minas e Rio de Janeiro subindo para o nordeste. E Serra poderá ter dificuldade em superar o obstáculo.
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DATAFOLHA: Jandira Feghalli sobe e se aproxima de Marcelo Crivella

Pesquisa Datafolha publicada na edição deste domingo da “Folha de São Paulo”, mostra que o senador Marcelo Crivella (PRB) lidera a corrida para a prefeitura do Rio, seguido de perto pela ex-deputada Jandira Feghalli (PC do B). O senador Crivella tem 20% das intenções de voto, contra 18% de Jandira. Em seguida, aparece o deputado Fernando Gabeira (PV), com 9%, a deputada Solange Amaral (DEM), com 8%, o mesmo percentual do deputado Chico Alencar (PSOL). O deputado estadual Alessandro Molon (PT) aparece com apenas 1%, candidato que tem o apoio do governador Sérgio Cabral (PMDB).

Em outro cenário, com o secretário estadual de Esportes e Lazer, Eduardo Paes, a disputa ficaria da seguinte forma: Crivella (18%), Jandira (16%), Paes (10%), Gabeira (9%), Solange Amaral (9%), Chico Alencar (6%), e Molon (1%).

Apesar de liderança na disputa, Crivella é o candidato com maior índice de rejeição (28%), seguido por Solange (18%), Gabeira (16%), Jandira (13%), Chico Alencar (11%) e Molon (6%).

O Datafolha ainda mostra que Crivella tem preferência do eleitorado com baixa escolaridade (29% dos votos), dos mais pobres (23%). Já entre a população com curso superior, Gabeira e Jandira se destacam, com 25% e 21%, respectivamente. O mesmo acontece entre os mais ricos. Gabeira tem 30% dos votos daqueles que recebem mais de 10 salários-mínimos, enquanto Jandira tem 28% dos que ganham de 5 a 10 salários-mínimos.

Comentário do blogueiro: A eleição do Rio certamente terá segundo turno. Mas ainda há muita indefinição. Apesar de aparecer na lanterninha, Alessandro Molon (PT) é o que maiores chances de crescimento, pois contará com o maior tempo de horário gratuito, a máquina política do Cabral e a possibilidade de melhor identificação da candidatura às obras do PAC no município. Além disso, é um candidato com rejeição pequena. Resta saber se os atributos são suficientes para levá-lo ao segundo turno. Em um embate contra Crivella ou Jandira, é grande a chance dele sair vitorioso. Os candidatos Gabeira, Solange e Chico Alencar têm dificuldade de expandir o eleitorado. O Chico Alencar sofrerá com a baixa estrutura do partido, além do pequeno horário de televisão. Já a candidatura de Solange Amaral será atingida pela avalanche de notícias negativas da administração César Maia. A candidatura de Gabeira eu analisei no post “Fernando Gabeira: De ex-guerrilheiro de esquerda a candidato das elites”.
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Marta lidera corrida pela prefeitura paulistana

Pesquisa do Datafolha publicada na Folha de São Paulo neste domingo, 30 de março de 2008, realizada pelo Datafolha, aponta que a ministra do Turismo Marta Suplicy (PT) subiu 4 pontos, chegando a 29%, contra 28% de Geraldo Alckmin (PSDB) e 13% do prefeito Gilberto Kassab (DEM). A pesquisa é a primeira realizada após a definição da candidatura da ministra do Turismo, contando com o apoio do presidente Lula.

O Datafolha também apontou que o deputado federal Paulo Maluf (PP) teria 8% dos votos e deputada federal Luiza Erundina (PSB), 7%. Na pesquisa, Paulinho da Força (PDT) aparece com 3%, enquanto a vereadora Soninha (PPS) e o deputado federal Aldo Rebelo (PC do B) aparecem com 1% dos votos. Os postulantes Ivan Valente (Psol) e Zulaiê Cobra (PHS) ficaram abaixo de 1% das intenções de voto. Os votos brancos e nulos ficaram em 7% e 2% dos eleitores não souberam opinar.

Outros Cenários
A pesquisa Datafolha também apontou outros cenários. Sem a participação de Paulo Maluf (PP), Alckmin lidera com 30%, contra 29% de Marta Suplicy (PT). Kassab sobe para 15% e Erundina aparece com 9% das intenções de voto. Sem Luiza Erundina, Marta Suplicy sobe a 30%, Alckmin fica com 29% e Kassab aparece com15%, Maluf fica com 9%. Num cenário sem Maluf e Erundina, Marta e Alckmin aparecem com 32% das intenções de voto e Kassab fica com 17%. Na pesquisa espontânea, 15% dos eleitores escolheram Marta, 11% votariam em Kassab e 8% em Alckmin, 3% em Maluf e 1% em Erundina.

Segundo Turno

Segundo a pesquisa Datafolha, no segundo turno Alckmin derrotaria Marta por 53% a 41%. Kassab também seria derrota por Alckmin por 59% a 27%. Marta venceria Kassab por 53% a 37%. Marta Suplicy é a que apresenta maior índice de rejeição, 29%. Alckmin tem rejeição de 15%, e Kassab ficou com 27%. O maior índice de rejeição é Paulo Maluf, 51%. Erundina aparece com 23% de rejeição.

Aprovação do prefeito

Sobre a aprovação do prefeito Gilberto Kassab (DEM), a taxa de ótimo/bom ficou em 38%, contra 35% de 14 de fevereiro. É o melhor índice desde o início do seu governo. A porcentagem dos que avaliam seu governo como ruim/péssimo também cresceu, passando de 23% para 27%. Outros 31% consideram seu governo regular, ante 38% da última pesquisa.

A pesquisa entrevistou 1.089 eleitores nos dias 25 e 26 de março e a margem de erro é 3%, para mais ou para menos.

Avaliação da Pesquisa Datafolha

Segundo o diretor-geral do Instituto Datafolha, Mauro Paulino, “há um rigoroso empate entre os dois” (Marta e Alckmin). “Nas pesquisas anteriores, não era tão claro. Havia uma leve vantagem de Alckmin. Hoje, não existe mais”, completou Paulino, acrescentando em seguida que, “se a eleição fosse hoje, não seria possível fazer um prognóstico”.

Segundo Paulino, a tendência de crescimento de Marta pode ser expressa na evolução da pesquisa espontânea (sem apresentação dos nomes dos potenciais candidatos).

Em novembro, ela aparecia com 7% da preferência, enquanto Kassab contava com 10%. Agora, quatro meses depois, ela tem 15% contra 11% do prefeito. Em comparação com fevereiro, ela passou de 10% para 15%. De novembro para cá, Alckmin passou de 4% para 8%.“Esse crescimento revela que a exposição que a ministra teve no intervalo de duas pesquisas deu resultado”, avalia Paulino.
O Datafolha também apontou que Marta teve uma variação positiva em todos os segmentos de eleitores em comparação a fevereiro. O crescimento mais significativo aconteceu entre os eleitores com renda familiar mensal superior a dez salários mínimos. Marta passou de 15% para 24%, um aumento de nove pontos percentuais.
Também com 24%, Kassab teve a mesma variação (de nove pontos) entre esse eleitorado. Foi nesse estrato que Alckmin registrou sua maior queda: 12 pontos. Em fevereiro, o tucano tinha 40% entre os eleitores com renda familiar superior a dez mínimos. Agora, tem 28%. Marta teve uma variação positiva de quatro pontos entre os entrevistados com renda de cinco a dez mínimos. Alckmin, uma oscilação negativa de três pontos percentuais.

A pesquisa também registra um aumento significativo de Marta entre os eleitores com nível médio de escolaridade. Nesse segmento, ela passou de 26% para 34%. Alckmin, por sua vez, sofreu uma queda de cinco pontos, de 32% para 27%. Em comparação a fevereiro, a petista também apresenta um crescimento de seis pontos entre os eleitores de 16 a 24 anos, faixa em que tanto Kassab como Alckmin tiveram uma queda de cinco pontos.

Comentário do blogueiro: A melhora na avaliação da ministra Marta Suplicy era aguardada. O caos no trânsito de São Paulo é apenas o reflexo do abandono de políticas públicas de transporte público de massa – para os pobres e a baixa classe média – iniciadas na gestão de Marta Suplicy. A gestão Serra-Kassab (PSDB-DEM), ao abortar a política martista sem colocar outra no lugar, combinada com a ausência de investimentos nos corredores de transporte, é o principal responsável pelos congestionamentos gigantescos que assistimos nos últimos dias. Enfim, a Marta Suplicy não era tão ruim assim. A desastrada administração dos governos do PSDB e DEM a nível municipal e estadual, por mais que a imprensa tenta esconder e proteger, está cada dia mais evidente. Além da agenda negativa que assombrou as candidaturas de Alckmin (só falta fazer a conexão entre as obras apressadas do metrô de Alckmin e o caos no trânsito) e Kassab, o aumento da exposição da ex-prefeita funcionou. Dias atrás vazou que pesquisas qualitativas feitas sobre a candidatura Marta Suplicy mostram que ela venceria em qualquer cenário. Isso ainda não está refletido nas pesquisas. Mas o fato é que o desgaste administrativo do prefeito e as brigas internas no PSDB devem ajudar a candidatura de Marta.
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Jornalismo de mentirinha

A primeira página do jornal O Globo de hoje, dia 28/3/2008, traz uma informação que é desmentida pela próprio jornal em seu interior, na página 33. O incauto leitor que apenas leu a capa, pendurada nas bancas, foi engabelado na informação. Vejam só:



O que está claramente dito? Que Lula tem agora orgulho do Proer. E que isto é uma contradição com o período em que PT criticava o plano.

Nem vamos já analisar, melhor ler antes o que o mesmo jornal diz na página 33:




Está claríssimo que Lula usava de ironia, fazendo inclusive uma provocação com os tucanos e seus aliados que em 1995 inventaram o Proer, uma solução para salvar os banqueiros do resultado de suas próprias falcatruas. Diz ele inclusive: “Eu não vou ensinar, mas tem gente que pode ensinar...”.

A dose de maldade é enorme, uma traição com seus leitores. Será que imaginam que este exemplo, como tantos outros, não será registrado na história do jornalismo brasileiro? Que moral tem os jornalistas do Globo para ensinar em faculdade como fazer jornal? O que diriam? Que os jovens estão iludidos, jornalismo é isso mesmo, pura propaganda. Ou teriam que recorrer ao Ali Kamel para uma mirabolante explicação técnica, que justificaria o injustificável da primeira página dizer o que internamente não está dito?
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Gente fina

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O cinema reflexivo de João Batista de Andrade

Charge de Henfil (presente de Carlito Maia para JBA), 1978


O cineasta João Batista de Andrade dispensa apresentações. Sua intensa atividade e sua dedicação ao cinema são largamente conhecidas. Muitos de seus 17longas-metragens são referências na história do cinema nacional, como é o caso de "Doramundo" (1977), "O Homem que Virou Suco" (1979), "A Próxima Vítima" (1983), "O País dos Tenentes" (1987) e "O Cego que Gritava Luz" (1996). João Batista também é importante como documentarista e escritor, além de ser autor de dezenas de curtas e médias-metragens empolgantes, refinados, reflexivos. Vale a pena visitar seu site oficial (http://www2.uol.com.br/joaobatistadeandrade/home.htm).

O que pouca gente sabe, ou sabia, é que João Batista dirigiu um dos primeiros filmes de embate direto com a ditadura militar de 1964, o documentário Liberdade de Imprensa. Agora, 40 anos depois de ter sido realizado, o filme – apreendido pelo exército em 68 – foi restaurado pela Cinemateca Brasileira e está finalmente chegando ao público, em dois lançamentos quase simultâneos realizados no Rio de Janeiro e em São Paulo. Trata-se de um evento para ser comemorado e divulgado aos quatro ventos, pois não somente resgata um pedaço decisivo da história brasileira, como especialmente possibilita que a obra de um de nossos maiores cineastas venha à luz de modo integral.

Reproduzo abaixo o convite com os detalhes do evento:

Quero convidar a todos vocês para o lançamento de meu primeiro filme, “Liberdade de Imprensa”, documentário de 1967, média metragem (25min/16mm), produzido pelo movimento universitário e apreendido pelo Exército no Congresso da UNE, em Ibiúna/1968, onde estaríamos acertando a distribuição nacional do filme.

"Liberdade de Imprensa" foi agora restaurado pela Cinemateca Brasileira sob patrocínio da Petrobrás. Considero que só agora estamos fazendo o verdadeiro lançamento deste filme, 40 anos depois, como parte da programação oficial do "É tudo verdade - Festival Internacional de Documentários".

Na ocasião será também lançado o livro Cinema de Intervenção, 40 anos do documentário inaugural da obra de João Batista de Andrade, de Renata Fortes e JBA, editado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, dentro da “Coleção Aplauso”.

Na mesma sessão teremos ainda a exibição do segundo filme que realizei, o curta “Portinari, um pintor de Brodósqui”, de 1968, único filme sobre Portinari (10 min/35mm).


SÃO PAULO

Data: 01/Abril/2008 – 19h

Local: Cinemateca Brasileira

Lgo. Senador Raul Cardos0, 207 - Vila Mariana


RIO

Data: 28/março/2008 – 20h

Local: Instituto Moreira Salles

Rua Marquês de São Vicente, 476 - Gávea




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Governo Lula: O país avança e melhora a vida de milhões de brasileiros

Vinte milhões de pessoas alcançaram renda familiar de R$ 1,1 mil, nos últimos dois anos, elevando a população nessa faixa de rendimento. Número de pobres caiu de 93 milhões para 73 milhões.

Os economistas adoram discutir os grandes números da economia, o PIB, o nível de emprego e de investimento, juros, dívida, o sobe e desce das bolsas. Mas a melhor tradução para o especial momento da economia brasileira pode muito bem vir de uma pesquisa divulgada ontem pela Cetelem, financeira do banco francês BNP Paribas. Ela sugere que, em dois anos, 20 milhões de pessoas deixaram os estratos mais pobres e passaram para a classe média. Classe média brasileira, com renda familiar ao redor dos R$ 1,1 mil mensal, mas ainda assim um impulso que praticamente dobrou o rendimento disponível.

“Pode-se afirmar que o bem-estar da sociedade brasileira passa por uma pequena revolução”, diz o estudo encomendado pela Cetelem. Entre 2005 e 2007, a população aumentou de 184 milhões para 187,2 milhões. Mas o ritmo de crescimento da classe C foi bem maior, de 62,7 milhões para 86,2 milhões no mesmo período — passou de 34% para 46% dos brasileiros. Enquanto isso, a classe D/E encolheu de quase 93 milhões de pessoas para 73 milhões.

Mobilidade

“O outro lado da moeda é o decréscimo de também 12 pontos percentuais da proporção de pessoas que formam as classes D/E: era de 51%, em 2005, e atingiu 39%, em 2007. É importante ressaltar que o número de pessoas que passou de D/E para C teve um aumento de renda média mensal de R$ 580 para R$ 1,1 mil”, diz a pesquisa Observador 2008, que traça o perfil do consumidor e dos lares do país.“A migração entre as classes significa um aumento na qualidade de vida e a análise dos últimos anos mostra a consolidação de uma tendência. Em 2006, tínhamos medo de que o crescimento fosse apenas pontual, por conta das eleições, mas agora vimos que é contínuo”, avalia o diretor-executivo de Marketing, Parcerias e Novos Negócios da Cetelem Brasil, Franck Vignard-Rosez.

Na prática, vários sinais indicam a emergência da classe média no Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas (Abep), a classe C é o segmento que mais cresce e já representa 43% da renda disponível para consumo no país. “As pessoas estão migrando da classe D para a C e aí há uma demanda crescente”, disse, no final de fevereiro, o diretor-presidente da Natura, Alessandro Carlucci, ao justificar as mudanças na empresa para focar os segmentos de menor renda.A Positivo, líder do comércio de computadores no país, comemorou 1,38 milhão de máquinas vendidas no ano passado apontando para a classe C como responsável pelo boom no consumo. Ainda em 2007, 37% dos internautas brasileiros estavam nessa faixa de renda, mas devem chegar a 40% este ano e são os principais responsáveis pelo aumento de vendas na rede — relatório recente da consultoria E-bit mostrou que a maior parte dos 2,5 milhões de novos compradores pela internet são da classe C. E 70% dessa faixa de rendimentos já possui pelo menos um celular (eram 59% em 2006).

Consumidores mais exigentes

Renda e crédito em alta aguçam o desejo de consumo. A pesquisa Observador 2008, encomendada pela financeira Cetelem ao instituto Ipsos, sugere que a classe média quer adquirir produtos semelhantes àqueles listados pelos mais ricos.Para o diretor-executivo de Marketing, Parcerias e Novos Negócios da Cetelem Brasil, Franck Vignard-Rosez, ao entrar na classe C o consumidor passa a ser mais exigente na hora de comprar produtos e serviços. “Vemos um aumento da exigência do consumidor em termos de produtos e serviços. Antes, a pessoa queria apenas uma TV. Hoje, ela quer uma TV de tela plana”, explica.

Segundo a pesquisa do ano passado, os maiores crescimentos na intenção de compra de bens foram para móveis, eletrodomésticos, lazer/viagem, TV, Hi-fi e vídeo, telefone celular e computador para casa। Foram sete de 12 itens analisados. Em 2007, desses seis itens, três mantiveram-se em trajetória de crescimento: passou de 19% para 24% a intenção de compra de telefone celular; computador para casa subiu de 17% para 20% no último ano; e decoração foi de 16% para 18%. A intenção de adquirir uma propriedade também continua em uma trajetória de alta, saindo de 10% para 11% e agora em 2007, 13%.

Mas se esse é o cenário geral, a pesquisa mostra que a intenção de compra da classe C cresceu por dois anos consecutivos de forma semelhante às classes A/B, com o desejo concentrado em eletrodomésticos, telefone celular, computador para casa, decoração e propriedades. “Destaca-se a intenção de consumo de propriedades, que saiu de 10% em 2005, pulou para 14% em 2006 e agora atinge o recorde de 16% com acesso ao crédito facilitado. Nunca a classe C quis adquirir tanto um imóvel como hoje”, diz o estudo.
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Serra em transe



Ontem fui aos chopes e encontro a dupla de quem ouvi a conversa sobre a demissão de Paulo Henrique Amorim. Desta vez, desavergonhadamente, me convido a sentar na mesa. E logo puxo o assunto:

− PHA também suspeita de Serra, faz sentido?

− Serra? Bom, é certo que ele abriu uma garrafa de champanhe quando soube. Mas, sinceramente, ele ali só manda mesmo é no Caio Túlio.

− Mas não tinha margem para nenhuma manobra dele pela demissão?

− Bom, aí é outro papo. Vou te dizer uma coisa: a demissão do PHA me lembra o filme Gosford Park, você viu?

− Acho que sim, mas não lembro.

− Em um final de semana numa mansão aristocrática do interior da Inglaterra o patriarca reúne a família e amigos. É assassinado e todos têm motivos para matá-lo, é o que vamos descobrindo ao longo da história..

− Bem, motivo Serra tem para querer a cabeça do PHA.

− Claro. E ele adora pedir a cabeça de jornalistas. Do PHA já pediu duas vezes na Record. Serra é o presidente do PIG. Ele é amigo de vários jornalistas conhecidos. Janta, toma café, conversa diariamente com todos os que mandam em redação, de colunistas a donos de jornais. Ele fornece pautas, ajuda na apuração. Há uma troca de favores, com interesses ideológicos e por amizade. Serra odeia engenheiros, economistas. Gosta de jornalistas. É o político com o maior trânsito nas redações. Se não fosse isso, Serra já estaria de pijamas.

− Se assim, manda demitir com facilidade.

− Claro. O Caio é seu empregado, como o irmão, Bob Costa, que o ajudou na campanha em 2002 e hoje cuida da publicidade do governo de São Paulo. Mas Caio não podia demitir PHA. Outras partes decidiram, e Caio e Serra colocaram pra fora toda a raiva contida. Foi uma decisão passional, e burra. PHA não morreu, ficou ainda mais em evidência, vai continuar a bater no Serra, acho que até mais forte.

− E ele tem onde bater, né?

− Só tem. Seu telhado de vidro é imenso. Mas vive cercado da proteção do PIG. Está vivendo hoje um inferno astral. O processo eleitoral para a prefeitura saiu diferente do que desejava, rachando a sua sonhada aliança DEM-PSDB. Perdeu a liderança da Câmara dos Deputados para o candidato apoiado por Aécio. Veio o Apagão. Agora ficou na mão com a privatização da Cesp. Mas a mídia ajuda. No apagão chegou a ser infame. A mesma mídia que batia diariamente em Lula sobre um possível apagão do governo federal, calou-se no apagão concretizado de Serra.

− E tem as notas frias de campanha, ambulâncias, os cartões corporativos com altas despesas em boates...

− A lista é grande, mas nada se compara ao passado recente, suas campanhas. Veja suas ligações com Daniel Dantas, Márcio Fortes, Ricardo Sérgio de Oliveira. Este último, se seu nome for pronunciado na frente de um tucano, ele gela.

− E teve o caso Roseana...

− Este é um dos melhores exemplos de como Serra trabalha, e junto da mídia. A operação da PF na Lunus, os dólares filmados, é Hollywood puro. Nada ali teria impacto se não fossem as imagens. Tudo tramóia de Serra e seus arapongas da Fence Consultoria, empresa de espionagem que era paga pelo Ministério da Saúde.

− É muita coisa, até onde ele consegue chegar?

− Ele se imagina em Brasília, mesmo vivendo a atual agonia. Mas acho que não vai muito longe, ainda que com toda a ajuda do PIG.
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E aí?

A mídia americana e as indigentes editorias de internacional dos jornalões brasileiros não deram importância às declarações de Dick Cheney dadas a repórter Martha Raddatz, da ABC. No programa Good Morning America, dia 19 último, o vice-presidente justificava o sucesso da invasão do Iraque, em seu quinto ano de ocupação:

RADDATZ: Dois terços dos americanos dizem que não é uma
batalha digna.

CHENEY: E aí?

RADDATZ: E aí? O senhor não se importa com o que os americanos pensam?

CHENEY: Não. Penso que não podemos ficar atrelados às flutuações das pesquisas de opinião pública.

Nossa mídia e a deles acharam pouco importante tais palavras. Melhor publicar notícias com títulos sobre Cheney falando do perigo que é o Irã. A próxima vítima. Morreram 4 mil soldados americanos? 100 mil foram feridos? Um milhão de iraquianos foram mortos? Democracia? E aí? Os gráficos da Halliburton apontam para cima, é o que importa.
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Edson Luiz, presente!


Dia 28 de março, sexta-feira, ao meio dia, na Candelária, os estudantes cariocas têm um encontro com o passado e o seu presente. É a data da morte de Edson Luiz, o estudante assassinado pela ditadura militar na mesma data, em 1968, no restaurante Calabouço, palco da resistência estudantil.

Tomei conhecimento lendo a Agência Petroleira de Notícias, ótimo site da mídia alternativa, que descobri agora, e que já faz parte de minhas leituras diárias.

Eu, como ex-estudante carioca, que lutou contra a ditadura, presto aqui todas as homenagens ao fato histórico e dou meu apoio a esta nova geração, que tem o compromisso de honrar com seu passado.
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Miriam, A Suína, desta vez se superou

Na "defesa" da Vale..

O Globo já virou assessoria da mineradora faz tempo, mas assim já está ficando ridículo...
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MAIS DIFERENÇAS QUE SEMELHANÇAS ENTRE LULA E FHC NA ECONOMIA

Um artigo interessante do jornalista José Paulo Kupfer porque coloca outras linhas de análise na política econômica do governo atual. Em termos políticos, o governo atual não é visto como igual ou parecido para a maioria da população com relação à sua política econômica. É melhor, simplesmente. É um engano acreditar nisso, mesmo para aqueles que não encontram diferenças entre as políticas praticadas. O que importa é o resultado e, nesse quesito, tirando o ano de 2003, o resultado é bem melhor. Segue o artigo abaixo:
Do Blog do José Paulo Kupfer

Enquanto o fracasso é órfão de pai e mãe, o sucesso costuma dar briga de tapa pela paternidade. Nem se sabe ao certo quanto pode durar o êxito da política econômica do governo Lula, mas é recorrente a disputa pela autoria do feito. Num certo tipo de ambiente, o mote de que a única coisa boa da economia de Lula é a continuidade do que foi feito no governo Fernando Henrique pipoca mais do que catapora.

De tão repetido, já parece um daqueles lugares-comuns* que acabam soando falsos ou como solução de estilo preguiçosa. Assim como toda desculpa é esfarrapada, toda dúvida é atroz, toda ascensão é meteórica, e toda mentira é deslavada, há quem não consiga mencionar o sucesso da economia de Lula sem a fatal ressalva de que isso não passa de continuidade do governo FHC. Percebe-se, facilmente, até pela especialidade profissional dos falantes e escreventes, muitas vezes longe da economia, que a maioria não sabe bem onde está metendo a colher. Mas isso não tem importância, não é mesmo?

O governo Lula seguiu o padrão do anterior – prioridade com a estabilidade da moeda, ênfase em reformas microeconômicas – em parte de seu primeiro mandato, com Antonio Palocci à frente da economia. Mesmo ainda com Palocci e, depois, mais francamente com Guido Mantega, a política econômica descolou da anterior de tal forma que só mesmo uma miopia ideológica para explicar a insistência na visão distorcida.

Pode-se até discordar do que passou a dar dinâmica à economia, mas nunca enfiar as políticas adotadas no governo atual no mesmo saco das implantadas ou, pelo menos desenhadas, na quadra anterior. Não há comparação, por exemplo, na política de valorização real do salário mínimo, adotada contra muitos bem pensantes de luvas de pelica. Muito menos na expansão do crédito – com destaque, para o bem e para o mal, da modalidade de crédito consignado – e, por fim, mas não por último, a maneira de encarar a previdência social. Onde dá mais para comparar, o setor fiscal, os nostálgicos de FHC preferem não bater o bumbo. De fato, carga tributária e endividamento, que explodiram com FHC, ainda não desinflaram com Lula.

Nem mesmo os programas de transferência condicionada de renda, tão invocados como prova de continuidade, se sustentam como tal. Há nítidas diferenças – no foco, na abrangência, no acompanhamento e até nas falhas – entre as bolsas-escola de origem e o bolsa-família de hoje. Sem falar em outros programas menos votados, como o “Luz para todos”, e no famoso PAC, de que muitos duvidam e malham por antecipação, embora fosse mais prudente aguardar um pouco mais antes de cair de pau.

Até a política monetária, que se concentra no cumprimento das metas de inflação, adotadas em 1999 – e, essa sim, mantém desde então o mesmo curso –, começa a se ver diante de novidades. Há, mais recentemente, fora do Banco Central, uma escalada no governo em busca de saídas não monetárias, na tentativa de desviar o rumo de elementos macroeconômicos centrais, como os juros e o câmbio, do inglório destino determinado por uma ortodoxia já fora de moda
– ver, a propósito, a atuação do BC americano.

Além de medidas já adotadas – IOF em aplicações financeiras de estrangeiros e fim da cobertura cambial para exportadores –, está previsto para logo um pacote de benefícios tributários de estímulo às exportações de manufaturados e à inovação tecnológica, que o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, chama de política industrial. Se essas medidas vão funcionar – ou mesmo se serão implantadas por completo – também ainda é cedo para garantir. Mas a direção, que conta com o apoio aberto do presidente Lula, é clara. E não tem muito a ver com o que se procurou implantar no governo de FHC.

(*) Os lugares-comuns citados na sentença seguinte fazem parte de uma longa lista coligida pelo jornalista Sérgio Rodrigues, do blog Todoprosa (www.todoprosa.com.br), a quem o autor agradece a cessão.

Comentário do blogueiro: Salvo a política monetária, não há quase nada de parecido, como querem sugerir alguns. Não há dúvidas da preponderância da política monetária, mas é preciso sair do debate unicamente centrado nela. Além disso, como o governo atual tem uma política fiscal mais rígida (para o bem e para o mal), cada vez mais a participação dos juros no total de gastos do governo se reduz. Mas o país cresce pouco. Será? Se tirarmos o resultado pífio de 2003, os anos seguintes foram satisfatórios (não bons). É claro que se compararmos com Argentina, Venezuela, China, Índia e Rússia, o crescimento brasileiro é baixo. Mas comparar com os dois primeiros não vale. O primeiro além de ter tido forte recessão no início da década, vive uma escalada inflacionária. O segundo foi amplamente beneficiado pela disparada dos preços do petróleo, ou seja, não dá para avaliar a qualidade do governo pelo seu crescimento. Já os três últimos é pedir demais na conjuntura atual. Tenho impressão de que a maioria da população não enxerga a política econômica de Lula como parecida (nem igual) à de FHC. É um bom sinal. Não adianta repetir o discurso tosco.

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PHA e a fábrica de salsichas


Matutava com chopinhos na véspera do feriadão o que dizer sobre a trama da demissão do nosso PHA, quando ouvi este diálogo na mesa ao lado. Pronto, era tudo o que eu queria:

− E afinal, quem demitiu o Paulo Henrique Amorim?

− Ele diz que foi o Citibank. Mas há outras versões.

− Quais?

− Bom, todos concordam que o motivo foram as críticas no Conversa Afiada à criação da BrOi, a mega telefônica que surgiria da fusão da Oi com a Brasil Telecom. Certamente ele estava incomodando o negócio. Uns dizem que foram os tucanos da Oi, estes que foi o governo, via os fundos de pensão, na Brasil Telecom, dona do IG. O Citi? Se, não estava sozinho. Ainda ninguém sabe, apenas existem palpites. Palpite por palpite eu tenho os meus.

− O IG disse que foi reestruturação do negócio, ele não tinha audiência. Cascata, né? O cara lidera o Prêmio IBest, do próprio IG.

− A forma da demissão diz muito sobre o autor. Ele foi demitido com raiva, para ficar apagado. Quiseram sua morte e a ocultação do cadáver. Algo ingenuamente estúpido, resultado da forma passional da decisão. Dos possíveis suspeitos, quem poderia ter tanta ira?

− Certamente não os fundos de pensão.

− Óbvio. Estes até poderiam ter acatado a demissão, mas não agiriam com aquela cólera boçal.

− Mas o que esta raiva diz?

− A demissão do PHA foi executada pela diretoria do IG, que pertence a Brt, comandada pelo Caio Túlio Costa, ex-ombudsman da Folha, tucano de carteirinha. A raiva tem a assinatura do pássaro bicudo.

− E os fundos se omitiram ou votaram pela cabeça do PHA?

− Pode ser uma versão, eles querem muito fechar o negócio. Você vê alguma reação deles contra a demissão? Os caras são mais de 40% da Brt.

− E o negócio é bom mesmo pra eles e pro governo, tal como o PIG diz?

− Talvez, se não forem mais uma vez engabelados. O que parece mesmo é que a idéia da nova empresa foi bem vendida. Imagino que usaram uma boa apresentação em PowerPoint, mostrando que os espanhóis e os mexicanos vão tomar conta da telefonia brasileira. Seriam todos devorados pela concorrência internacional em xis tempo. Imagine gráficos bem montados, cheios de dados, aquelas animações bregas, com a assinatura de uma consultoria de grife...

− Imagino, faz sempre sucesso. Não faz sentido então a versão do PHA que foi o Citi?

− Até faz, mas explica pouco. O Citi está doido para passar a mão na grana e sair do jogo. O banco está na frente da fila para ser o próximo a cair no precipício da crise americana. O FED já tirou o corpo fora, enquanto os caras fazem um papelão em mendigar dinheiro pelo mundo afora. Já pegaram de chineses e árabes. Mas a coisa tá braba. A ajuda do BNDES aqui é tudo o que eles estão querendo, e com urgência.

− Do BNDES?! Limpinho?

− Não diretamente. O BNDES daria a grana do investimento da Oi na nova empresa, que compraria a parte do Citi na Brasil Telecom. O PHA vinha martelando isso, realmente é insólito...

− ... um banco de um governo dito de esquerda salvar um banco americano da falência, o que nem o tal FED vem fazendo...

− Esse é o ponto. O PHA está certíssimo em bater, inclusive no BNDES, seu presidente, que tem uma visão de fomentar uma “burguesia progressista” brasileira, como método de avançarmos em “nosso grande projeto de transformação social”. É até bonito, bem desenvolvimentista, mas aí vem o PHA e lembra sobre o caso da Ambev, que criaram com a conversa de ser uma grande empresa brasileira, rios de impostos previstos, blá blá blá e a Ambev vira belga (!!!)

− Então, o que atrasa a criação da BrOi?

− Imagina tentarem acertar todos os interesses, mudar a lei, com o Daniel Dantas na brincadeira, tentando costurar todos os seus objetivos...

− Cara, sempre ele.

− Ele tem participação pequena na Oi e na Brt, mas isso pouco significa, é assim que ele manobra. Na fusão sai o Citi do tabuleiro, um inimigo hoje do seu Opportunity. Conseqüência direta: cresce o terreno para o baiano no negócio. E sabe-se lá mais o quê ele vai abocanhar. O sujeito é o rei dos contratos de gaveta, talvez tenha acertos com o Sérgio Andrade, da Oi, sócio dele em outras empresas, ou mesmo com o Carlos Jereissati, o outro sócio...

− É o irmão do Tasso, presidente do PSDB?

− Ele mesmo. Já se desentenderam seriamente no passado. Há uma história conhecida, da formação dos consórcios para a privatização. Dantas reunido com consorciados, entra na sala de reuniões o Carlos Jereissati, na época apenas dono do grupo Lafonte. Cheio de moral, disse que tinha ordens do PSDB para entrar no negócio. Todos se olharam, alguém perguntou: “Ordens de quem exatamente, cara-pálida?”. Do meu irmão, o Tasso. Ligaram na hora para o ex-governador do Ceará, que negou a informação. Maior clima, saiu o Carlos Jereissati batendo as portas.

− Caraca! Esses caras derrubam até irmão. Ficaram inimigos fervorosos, aposto...

− Nada. Já tiveram negócios juntos depois. O Dantas não tem amigos nem inimigos, para ele todos são jogadores, como ele. E o pior é que muitos querem jogar ao seu lado. Claro, ele joga bem.

− Até o Citi que processa ele em NY, que querem seus US$ 300 milhões?

− Claro, os caras foram roubados, mas estes processos não dizem muita coisa. Os interesses na BrOi transformam tudo em moeda. Ele também processa o Citi, mesmo que de forma fajuta, com documentos fraudados. O Citi pega sua grana, sai do jogo e todas as pendengas com o Dantas ficam zeradas. O mesmo que os fundos de pensão, outros que também foram seriamente lesados pelo Dantas, cobram uma nota em 14 processos na justiça. Certamente isso tudo está na mesa, são cartas no tabuleiro.

− Afinal, como dizem por aí, será que ele é um gênio?

− Há quem diga, mas ele é um louco. Não dá para confiar num sujeito que começa a trabalhar às 7h, não almoça, mal come umas saladinhas no escritório, onde fica grudado ao telefone e enfurnado em reuniões com advogados até às 10h da noite, quando volta pra casa, sozinho, e nem janta a mulher, que mora fora do país. Não tem amigos, vida social, não confia em seus funcionários, só nos membros de sua família. Devia ser internado. Você leu a reportagem da Piauí?

− Contaram que ele negou provar um vinho de boa safra. Disse que não entendia de vinhos e desejava continuar assim, já que podia provar e gostar. Mas não entendo. Ele ganhou um bom dinheiro sabendo do Plano Collor, arrumou muito mais nas privatizações, dando golpes em meio mundo, o que faz com o dinheiro que ganha?

− Nada. Ele não trabalha pelas benesses do capital. Seu negócio é o jogo. Seu vício. Imagina viver o tempo todo em um grande game de monopólio. O que o motiva é a endorfina que o jogo libera. Isso é um perigo. Lidamos com um legítimo player, palavrinha que a nova gestão capitalista adora, no caso dele é perfeito.

− Putz, ele é do mal...

− Ele, só? Qual é? É assim que funcionam os grandes negócios, nesse nosso tosco capitalismo e nos outros. Ele é cria deste mundo de altíssimas piranhagens. E quem paga é o governador de NY que acertou uma parada com cafetina brasileira. Se fosse com um baiano proxeneta em negócios escusos, estava limpo... é hilário...

− Hahaha... Mas então foi o Daniel Dantas que demitiu o PHA?

− Cara, no mínimo tem um dedo dele nesta sacanagem. Tudo o que estou te dizendo aqui é o que PHA escrevia sobre a BrOi, e quase nada saiu na grande imprensa. É assunto melhor e mais relevante do que as baboseiras que a Míriam Leitão escreve. Mas... é a ditadura do PIG, um dos partidos das elites, que temem abrir as cortinas e mostrar como fabricam suas salsichas, ninguém comeria.

− É, bota piranhagem nisso...
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Automóveis, caminhões e votos

Por vias transversas, sem cálculo e planejamento, aos trancos e barrancos, as eleições municipais em São Paulo parecem ter ganhado um eixo de animação.

Depois de sucessivos picos de congestionamento, cada um pior que o anterior, houve como que um despertar coletivo: a cidade está parando, e do jeito que vão as coisas aquilo que se estimava como cenário futuro converteu-se em ameaça iminente. O horror ficou escancarado à luz do dia.

Como bola de neve, o tema foi se consolidando na linguagem cotidiana. Todos passaram a dele se ocupar, do usuário dos transportes coletivos aos que trafegam em automóveis particulares, dos comerciantes aos caminhoneiros e motoristas profissionais. Hoje não se fala de outra coisa.

É de se imaginar que o tema tenha sido registrado pelos homens de marketing das próximas campanhas eleitorais. A Prefeitura e a Companhia de Engenharia de Tráfego tentaram reagir, anunciando medidas concebidas para atenuar o problema. Acendeu-se uma luz de alerta para os políticos.

A imagem de uma cidade paralisada pelos automóveis deixou de ser literária para se tornar expressão de uma fatalidade, de algo que acontecerá inevitavelmente e contra o que pouco se pode fazer. Repôs-se assim um tipo específico de pessimismo paralisante, que de algum modo tem estado entranhado na experiência dos paulistanos desde que São Paulo ingressou em seu ciclo de expansão industrial, urbanização descontrolada e gigantismo. Pouco a pouco, o morador da cidade foi-se dando conta que é a cidade que o controla e o impulsiona, como uma turbina com vontade própria. Os espaços vitais – onde se pode simplesmente viver a vida, descansar, cultivar amores, prazeres, filhos e amizades – foram sendo triturados pelo mecanismo febril que faz girar a roda do progresso, do consumo, do desenvolvimento a qualquer custo. O paulistano repentinamente se viu sem uma cidade, órfão de uma polis.

Pelo menos desde os anos de 1960 há quem venha a público, periodicamente, pregar que a cidade deve “parar de crescer” se quiser de fato encontrar um padrão suportável de convivência entre vida urbana e vida econômica, entre população e espaços.

São Paulo jamais parou de crescer e não há nenhum indício concreto de que venha a fazer isso proximamente. “Parar de crescer” sugere um ato de vontade, uma decisão. Desliguemos os motores, reduzamos os investimentos produtivos, planejemos a cidade para que ele funcione com menos gente e deslocamentos. Façamos algo antes que a cidade decida, por si só, estacionar e engula seus habitantes.

Não há como imaginar, nos dias correntes, decisão semelhante. Primeiro, porque não há quem a tome ou a introduza na agenda política. Faltam estadistas para governar a cidade, faltam sujeitos coletivos organizados e capazes de ação sistemática de longo prazo. Depois, porque tudo está direcionado em sentido oposto: cresçamos mais, multipliquemos os automóveis, criemos mais empregos e interações produtivas, sejamos desenvolvimentistas. Este é o mantra do nosso tempo, e contra ele pouco podem os discursos alternativos. Até mesmo a idéia de sustentatibilidade e de um crescimento consciente, que preserve simultaneamente o meio ambiente e as pessoas, circula com dificuldade e tem pouquíssima tradução prática.

No caso específico do trânsito de São Paulo, há um agravante desesperador: a cidade nunca teve uma política inteligente e consistente de transportes. Prefeitos e governadores se sucedem sem que nada seja feito nesta direção. Já houve um tempo em que só se pensava em obras viárias: mais espaços e facilidades para a circulação. Construíram-se viadutos, túneis, minhocões, vias expressas, como se o desafogo pudesse frear, ele próprio, o desejo de cada morador de possuir o próprio veículo particular e incentivá-lo a usar o transporte público. Nos últimos anos, voltou-se a falar em melhorar os meios coletivos de deslocamento. Fala-se muito, faz-se quase nada. O metrô mal sai do papel, arrasta-se por crateras inacabadas, movido a investimentos contidos e a ações mal articuladas. De repente, as atenções se voltam para os trens metropolitanos e para a eventual cobrança de pedágios urbanos, sem que isso traga consigo qualquer inovação ou valorização dos ônibus, que continuam entregues à própria sorte: precários, sujos, lentos, barulhentos, desconfortáveis, gerenciados por empresas pouco sensíveis à coletividade e imunes ao controle social.

O fato é que nos aproximamos dramaticamente de um ponto de não-retorno. É insensato achar que nada mais pode ser feito, que tudo o que vier a ser proposto será inócuo, que a cidade segue em marcha batida para o caos. Existem técnicos competentes para projetar alternativas, nichos intelectuais capazes de reflexão crítica, núcleos associativos e pessoas dispostas a brigar pelo interesse geral. Além do mais, não é para processar demandas e interesses, construir consensos e tornar possível o impossível que existem políticos e governantes? Não é para isso que eles servem?

O processo eleitoral prestes a se abrir fornece um excelente palco para que os interessados em reinventar São Paulo se apresentem. Se os candidatos agirem segundo o padrão prevalecente nos últimos anos, dando aos eleitores tão-somente mais do mesmo – ou seja, propostas midiáticas, desconexas, carentes de um plano integrado, silentes sobre os angustiantes problemas cotidianos dos paulistanos –, daremos um passo a mais em direção ao precipício. Comportando-se como se a solução fosse eminentemente técnica e não tivesse uma dimensão ético-política incontornável, que exige a educação cívica e o envolvimento ativo das grandes maiorias, poderão até ganhar votos, mas não darão um passo sequer para mudar a cidade.

Candidatos e partidos têm uma oportunidade de ouro para fazer a diferença e plantar uma nova perspectiva para o governo da cidade. Vejamos como se sairão. (Publicado em O Estado de S. Paulo, 22/03/2008, p. A2).

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Daniel, Daniels

Assistindo Sangue Negro, vi na ganância, na falta de medidas, no testempero, no egoísmo, na falta de ética, na crueldade, na sede de jogar do personagem Daniel Plainview, semelhanças inquestionáveis com o nosso homem de negócios Daniel Dantas.

But. Não acredito em idiossincrasias.
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Sobre descontinuidades


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Permanência no IBest e outros passos

Este blog não concorre ao IBest, fiz selo contra o prêmio, mas agora, de cabeça fria e pensando politicamente, acho que os sites de esquerda que concorrem devem continuar. Até mesmo para mostrar as contradições do IG, como a do Conversa Afiada liderar em sua categoria, enquanto foi justificado que ele não dava audiência. Ou mesmo para impedir que notórios blogs de direita tenham algum motivo para comemorar. Mas continuo não dando valor ao prêmio. Não gosto da concorrência entre blogs alternativos à grande mídia. O que desejo mesmo, e gostaria de estar presente, é na criação de um grande movimento destes blogs, talvez apontados em um grande portal, com ações unitárias que ajudem a ampliar a nossa voz. Não tenho idéias prontas, mas estou disponível para trabalhar por este projeto. Quem assim também desejar, pode contar com nosso empenho.
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Em defesa dos Territórios da Cidadania

Um belo artigo de Ladislau Dowbor, cientista político e professor de pós-graduação da PUC-SP. Retoma a discussão em torno da relação entre programas sociais e votos. Programas direcionados aos pobres são eleitoreiros? A resposta a esta questão não é sim ou não. Não há nada de errado nos pobres escolherem para votar aqueles políticos ou partidos que investem em programas em que são beneficiários. São pobres, não ignorantes. Da mesma forma que não é errado os ricos e parte expressiva da classe média votarem nos candidatos que direcionam políticas e recursos públicos que os beneficiem.

Na eleição de 2004, a classe média paulistana estava pé da vida com a prefeita Marta Suplicy, justamente porque suas políticas beneficiavam majoritariamente os mais pobres. A classe média paulistana sentia-se fora da partilha do bolo. A verdade é que qualquer política pública influencia a decisão do voto. A classe média urbana brasileira em grande parte dava apoio à ditadura militar porque era beneficiária de políticas públicas como financiamento habitacional generoso. Não era eleição, mas o resultado é o mesmo. Fica difícil questionar agora as políticas públicas voltadas à redução da pobreza e da desigualdade social. É o caso dos Territórios da Cidadania.

As políticas públicas voltadas para os mais ricos, além do voto dos seus beneficiários diretos, têm potencial de elevar o financiamento eleitoral para os políticos e partidos políticos que as produzem. É fato notório que o financiamento eleitoral beneficia políticos e partidos com maior quantidade de recursos. Não quer dizer que serão eleitos, mas dinheiro não atrapalha eleição. É a maneira que os ricos compram o apoio dos políticos e partidos que defendem seus interesses. Por que ninguém vem dizer que são políticas eleitoreiras. Veja o artigo abaixo:

Em defesa dos Territórios da Cidadania

Ladislau Dowbor*

Política que favorece os pobres sempre renderá votos, pois os pobres são pobres, mas não burros. E são muitos, efeito indiscutível de séculos de políticas elitistas. Ao tentar bloquear um programa que abre portas para um processo modernizador inclusivo, a oposição a Lula dá um tiro no pé.

Às vezes a gente precisa desabafar um pouco. Escutando entrevistas na CBN, ouvi um desabafo indignado (no sentido parlamentar da palavra), de um deputado dizendo-se escandalizado com o programa Territórios da Cidadania. Como é dinheiro para as regiões mais pobres do país, evidentemente trata-se de uma medida eleitoreira, de uma autêntica compra de votos, raciocina ele. Há quem queira declarar o programa inconstitucional.

A armadilha que prende os pobres é impressionante. Eles votam. E como são muitos, o que se fizer em favor de seus direitos rende votos. Logo, raciocinam alguns, qualquer medida que favoreça os pobres constitui demagogia, autêntica compra de votos. Ah, se os pobres não pudessem votar... Considerando que a desigualdade é de longe o principal problema do país, tentar travar políticas que a reduzam não é oposição, é sabotagem.

O programa Territórios da Cidadania destina 9,3 bilhões de reais (valor próximo do valor do Bolsa-Família) a 958 municípios situados nas regiões mais pobres do país. Vem sendo preparado desde o início da primeira gestão de Lula, através de identificação de territórios a serem privilegiados, no quadro de uma metodologia desenvolvida pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA). A seleção envolveu critérios como baixo IDH, e agrupou os territórios segundo o sentimento de identidade efetivamente existente nas comunidades interessadas. Assim uma bacia hidrográfica pode, por exemplo, constituir um “território” mais significativo do que um município isolado. Isto favorece a apropriação organizada dos aportes pelas comunidades. Foram alguns anos de trabalho.

Paralelamente, e mais modestamente, desenvolveu-se uma pesquisa nacional, coordenada por Paulo Vannuchi, Pedro Paulo Martone Branco, Márcio Pochmann, Juarez de Paula, Silvio Caccia Bava e eu mesmo. Agentes econômicos e sociais locais (pequenas empresas, ONGs, sindicatos, gerentes de banco, prefeitos, pesquisadores) foram consultados, para identificar medidas capazes de gerar um ambiente de dinamização do desenvolvimento local. Partindo da diferenciação de Milton Santos entre o circuito superior e o inferior da economia, fomos perguntar ao andar de baixo o que seria bom para ele se apropriar do seu próprio desenvolvimento.

Dezenas de organizações como o Sebrae, Cepam, Ibam, Instituto Pólis etc. participaram.

O programa prevê apoio tecnológico e institucional; sistemas de informação e comunicação; geração de emprego e renda; programas ambientais. O que falta ao pobre não é iniciativa, é oportunidade.

O resultado foram 89 propostas descritas num documento-síntese, entregue ao presidente Lula e amplamente divulgado, nos principais foros de discussão sobre o desenvolvimento local. O documento, com o título “Política Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Local” está disponível, entre outros, no meu site (em formatos doc ou pdf. A linha geral do documento reflete a demanda: no plano local, além do apoio financeiro, são necessários apoio tecnológico, apoio institucional, sistemas locais de informação e de comunicação, programas de capacitação, programas de geração de emprego e renda e programas ambientais. Em outros termos, necessitamos de um programa integrado de apoio. O que falta ao pobre não é iniciativa, é oportunidade, e isto se organiza. Aliás, a pesquisa nos familiarizou com a riqueza de sistemas de apoio ao pequeno produtor e ao desenvolvimento local que existe em outros países. O MDA também participou do projeto.

É fácil dizer que se trata da compra de votos. O programa tem prioridades, em particular o saneamento básico. E a aplicação passa pela constituição de conselhos locais destinados a gerir os recursos. É um eterno problema: os municípios têm capacidade de geri-los? Trabalho há anos com o desenvolvimento local — e com pessoas e instituições que compreenderam que a pobreza não é apenas um problema de distribuição, mas sobretudo um problema mais amplo de inclusão produtiva. Já parei de me colocar a questão filosófica do ovo e da galinha. Se não houver recursos, ninguém aprenderá a administrá-los. Isto vale inclusive para as bobagens que escrevem os que se opõem ao Bolsa-Família, dilema semelhante, mas que remonta aos peixes: na realidade, ninguém aprende a pescar com a barriga vazia.

O importante é fazer os recursos chegarem. E igualmente importante, assegurar que junto com eles, cheguem políticas mais amplas de apoio. Lembro-me de ter feito muitas vezes, em outros tempos, sugestões em Brasília, para que fossem destinados recursos à base da pirâmide social, pois não só com soja e automóvel se faz desenvolvimento. Eram rechaçadas com um argumento definitivo: "eles não sabem administrar, vai haver corrupção". Eu ficava comovido com as preocupações de Brasília em impedir a corrupção dos pobres.

A oposição ao programa Territórios da Cidadania é uma besteira monumental. A pressão não deveria buscar o travamento do programa, como estão tentando pessoas que têm uma visão curiosa do que é ser “democrata”. Mas, ao contrário, a ampliação do mesmo — para assegurar que haja apoio institucional, capacitação, informação e outras medidas que permitam que o processo seja apropriado de maneira criativa em cada localidade. Esta apropriação, ou empoderamento como tem sido chamado, é essencial. Trata-se de uma mudança de cultura política, da compreensão de que o desenvolvimento não se espera, se faz.

As ONGs são fundamentais para a apropriação das políticas pelos interessados. Também aqui, ouvem-se vozes indignadas: não estaria muito melhor gerido o recurso na mão de uma empreiteira? Aprendemos penosamente, nas últimas décadas, que sem recursos não se faz nada; mas também que programas de pára-quedas, respondendo apenas à lógica da oferta e não da demanda, são insuficientes. As organizações da sociedade civil têm sido fundamentais nesta apropriação das políticas pelos próprios interessados, como se vê, por exemplo, no sucesso do programa de cisternas da ASA ou da Pastoral da Criança.

Naturalmente, também aqui ouvem-se vozes indignadas (sempre no sentido parlamentar) querendo uma CPI correspondente para investigar ONGs: não estaria muito melhor gerido o recurso na mão de uma empreiteira? É um jogo de faz-de-conta. Fiz avaliações de políticas deste tipo para numerosos países, a serviços das Nações Unidas. Aprendi a separar as contas do faz-de-conta. Não faço a minha avaliação pelo volume de discursos parlamentares, e sim por conversas com o primeiro e segundo escalão técnico, que são os que dirigem os projetos, que carregam o piano, com pouco tempo para discursos. Tiram freqüentemente leite de pedra, pois a máquina administrativa herdada não foi feita para ter agilidade na prestação de serviços, e sim para administrar privilégios. Raramente aparece na imprensa a avaliação concreta dos projetos e programas. As indignações parlamentares são muito mais coloridas, e fazer contas é mais complicado.

Por outro lado, dei-me ao trabalho de ler a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) divulgada há poucos meses. No conjunto, os resultados são extremamente, e inegavelmente, positivos. Positivos num mar de atraso; atraso que nos reduziu à situação da nação considerada modelo de desigualdade, padrão a ser evitado (avoid Brazilianization, comenta-se nos organismos internacionais). O balanço simplificado dos números pode ser num artigo anterior para Le Monde Diplomatique Brasil. Apresentar resultados positivos, segundo uma minha aluna, é suspeito: eu devo ser amigo do Lula. O argumento é curioso: apresentar números negativos é mais objetivo?
Aliás, permitam-me deixar aflorar o economista que sou: se fizermos um zoom e olharmos a grande imagem, o fato de termos 100 milhões de pessoas que mal participam da nossa economia – mais certo seria dizer que em torno dela gravitam – aponta claramente para os rumos de desenvolvimento: dinheiro no andar de baixo não é aplicado em mecanismos financeiros nem em viagens internacionais. Transforma-se em demanda de bens simples e úteis, o que estimula o mercado interno, o que por sua vez gera pequenos negócios e intensifica os grandes, promovendo emprego e gerando mais demanda. Este círculo virtuoso já começou. Pequeno, incipiente, mas já começou. Vale a pena preservá-lo, ampliá-lo. E se der certo, será bom para todos.

Política que favorece os pobres sempre renderá votos, pois os pobres são pobres, mas não burros. E são muitos, efeito indiscutível de séculos de política de direita. Uma oposição que queira travar estas políticas acaba dando um tiro no próprio pé. O país está maduro para um processo modernizador inclusivo. Tentar impedi-lo para quê? Oposição é ótimo: pressionem para que se faça mais.
Ladislau Dowbor é economista político graduado na Universidade de Lausanne, Suiça; doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, Polônia (1976). Atualmente, é professor titular da pós-graduação da PUC-SP e presta consultoria para agências da ONU, governos e instituições.
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