POLÍTICA - José Genoíno.





JOSÉ GENOINO VIVE “GENI”


José Genoino, preso e torturado após a guerrilha do Araguaia

É este ser humano que, para gáudio de seus torturadores, sofre o mais escandaloso linchamento moral a que um homem público brasileiro jamais foi submetido.

Por Roberto Amaral, na “Carta Capital”


De sua vida conheço pouco. O suficiente, porém, para respeitá-lo e nutrir profundo desprezo pelos que tentam depredar sua história e sua honra.

Filho de camponês no interior do interior do Ceará, em pleno semiárido nordestino, conheceu na carne, cedo, as forças telúricas que o sertanejo pobre precisa arregimentar para sobreviver. Menino ainda, trabalharia com o pai como “cassaco” nas frentes de trabalho do DNOCS, carregando pedra e abrindo à força da enxada estradas de terra, pretexto para dar sobrevida aos flagelados da seca de 1958.

O salário era pago em alimentos e querosene para o lampião.

Pelas mãos de um pároco entusiasmado pela “Teoria da Libertação” (por onde andará o Padre Salmito?), do qual fora coroinha, deixa a roça para lutar na cidade grande por melhores oportunidades de sobrevivência digna. Refaz a trajetória atávica de tantos antepassados.

Em Fortaleza, trabalha e estuda à noite em colégios públicos, ingressa na Faculdade de Direito (quando seria aluno de Paulo Bonavides) e é conquistado pelo movimento estudantil, pelo qual se destaca para conhecer a primeira prisão de sua vida severina (severíssima, saberia anos depois): na primeira incursão em defesa da democracia, em uma passeata contra o golpe de 1964 – golpe, relembre-se, maquinado nos quartéis e nos altos círculos do empresariado com papel destacado dos grandes capitães da grande imprensa brasileira, daquele então e de hoje.

Golpe que, não sabia, naquela altura, o perseguiria até hoje. Quatro anos passados, ainda universitário, é preso no Congresso da UNE em Ibiúna (1968), no interior de São Paulo. Solto, tem a prisão preventiva decretada; sem alternativa, ingressa na clandestinidade e vai travar, como lhe permitem as circunstâncias, sua luta na resistência à ditadura.

Não sei o que, naquela altura, faziam seus algozes de hoje.

Da luta de massa, ele transita para a resistência armada. Em junho de 1970, filiado ao PCdoB, ingressa na guerrilha do Araguaia. Conhece o inferno e descobrirá que sua vida severina era uma quase-morte. Preso em 1972 pelo Exército Brasileiro, vê-se, clandestino, incógnito, à mercê da humilhação, da ofensa, da degradação física e moral, a ignomínia da tortura, a mais insidiosa, implacável, fria, bestial e científica, na qual o pau-de-arara, a “cadeira do dragão” (choques elétricos), o sufocamento, os “telefones” (pancadas nos ouvidos) e os pontapés eram o vestibular do inimaginável em termos de perversão e perversidade.

Foi torturado ainda no Araguaia (e como o foi!), em Brasília e em São Paulo. Preso clandestino, incógnito, verdadeiro sequestrado, sem conhecimento da autoridade judiciária, inteiramente à disposição de seus algozes, sem o amparo sequer da lei de proteção aos animais, invocada nos idos do Estado Novo pelo apóstolo Sobral Pinto na defesa de Prestes. Só não padeceu onde não esteve.

Conheci-o no final dos anos 80 (só em 1977 ele recobraria a liberdade), chefiando eu a assessoria da bancada do PSB na Constituinte liderada pelo inesquecível e saudoso Jamil Haddad, ele um dos mais destacados deputados do PT.

Ex-guerrilheiro, líder radical do Partido Revolucionário Comunista (então uma fração dentro do PT), revela-se conciliador e articulador habilidoso, um dos costuradores de muitas das conquistas que a esquerda brasileira logrou trazer para a “Constituição cidadã”. Torturado por militares, poucos como ele, porém, tanto lutariam pela aproximação entre civis e militares.

Eu o reveria, corajoso, dedicado, na jornada do ‘impeachment’ contra o ex-presidente Collor, e continuaria acompanhando sua vida parlamentar, voltada à liberdade, à democracia e à defesa da soberania nacional. Distanciava-se do marxismo-leninismo, mas permanecia obcecado pela justiça social, caminhando do esquerdismo para concepções socialdemocratas avançadas. Para o bem das esquerdas em geral, cultivava a crítica de nossas organizações.

No primeiro governo Lula, é eleito presidente do PT, em substituição a José Dirceu e, por artes e maquinações que desconheço, termina envolvido no chamado escândalo do “mensalão”. Sempre alegando inocência, foi acusado, julgado, condenado e apresentou-se à execução da pena.

É esse ser humano (sim, ser humano!) que, para gáudio de seus torturadores impunes, sofre o mais escandaloso, brutal, injusto linchamento moral a que um homem público brasileiro jamais foi submetido.

Não discuto sua culpa nem o mérito da pena após tão longo e tumultuado julgamento, e sei que sua biografia não absolve os erros do presente. Digo que o linchamento não é pena capitulada em nosso Código Penal. Mais do que o justo clamor da opinião pública ferida em seus brios, cansada de tanta impunidade selecionada, e sedenta de punição, vejo, na sua execração, uma difusa “vendetta”. Mais que os erros que lhe são imputados (dessa, a ainda não suficientemente [provada e] esclarecida aventura do “mensalão”), pesa sobre sua imagem de hoje a sombra do guerrilheiro do passado. É a esse que se pune. A biografia agrava a pena.

Os que não puderam matá-lo (como fizeram com Rubens Paiva, Stuart Angel, Mário Alves, Manoel Alves Filho, Pedro Pomar, Bérgson Gurjão, Joaquim Câmara, Marighela, Herzog e tantos e tantos herois), os que foram derrotados com a redemocratização, os que perderam todas as eleições, querem a revanche e avançam covardemente sobre o carcará sem asas, já sem garras, já sem fôlego.

No momento em que escrevo, a presa é um homem abatido, um cardiopata com uma aorta artificial, lutando contra crises de pressão arterial. É o cadáver atrasado que, impacientes, reclamam. É nesse homem que batem, um prisioneiro da Justiça, cumprindo pena como devem cumprir todos os condenados. Quem ganha com isso? Que benefícios aufere nossa sociedade com a prática de tratar o oponente político como inimigo, e inimigo a ser abatido, destruído, dilacerado?

Estranhos tempos. Estranha história.

Maluf caminha lampeiro pelos gabinetes da Corte e o torturador Brilhante Ustra saboreia a aposentadoria que a impunidade lhe facultou. Mas José Genoino Neto, um homem pobre após quase sete mandatos de deputado federal, cumpre pena “por corrupção”...

Estranhos tempos. Estranha história.

Nesta hora sombria, estendo a mão ao homem José Genoino Neto e nego-a aos que lhe jogam pedras, como na Geni de Chico Buarque. Desprezo os linchadores, como desprezo os que se omitem diante de sua dor.

Nenhuma boa ideia merece um cadáver’ (Héctor Erazo, escritor colombiano)”

FONTE: escrito por Roberto Amaral, na revista “Carta Capital”. O autor é cientista político e ex-ministro da Ciência e Tecnologia entre 2003 e 2004. Título original: "Geni". Artigo transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=230165&id_secao=1).
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“Lulu”, machismo invertido?

Por Marília Moschklovich, no sítio Outras Palavras:

Certo dia, pula pra mim um anúncio no Facebook: “Avalie os garotos de sua cidade”, ou qualquer coisa do tipo. A identidade visual é toda trabalhada em roxo (cor-de-rosa não cola mais entre jovens e adolescentes, pelo jeito) e preto, com uma pegada moderninha. . O nome do aplicativo anunciado (vale um prêmio para a equipe de marketing) é “Lulu“.



“Lulu” evoca ela, aquela mesma, Luluzinha. Lembram dela? A personagem foi criada em 1935 por uma cartunista chamada Marjorie Buell, que continuou a comandar o Lulu-business mesmo depois de 1945, quando John Stanley assumiu roteiros e desenhos dos gibis individuais. Ao contrário do que possa parecer, contrariando a trajetória comum de tantas personagens femininas, Luluzinha não nasceu como coadjuvante de seu “oposto-semelhante” Bolinha. Lulu foi protagonista desde sempre.

“Luluzinha”, assim como o “Clube da Luluzinha” são sinônimos de grupos exclusivamente femininos, que em geral têm um tom forte de empoderamento numa sociedade machista. Não seria, então, uma contradição, que o aplicativo chamado Lulu reproduzisse justamente um comportamento tão criticado pelas feministas em grupos de homens – avaliar e rankear as mulheres segundo critérios autoritários do grupo? As mulheres no Lulu não estariam fazendo o mesmo que reclamam que os homens fazem com elas todos os dias? Me parece que não.

Em primeiro lugar, é preciso lembrar, de novo, que o machismo e a opressão de gênero são estruturais em nossa sociedade (escrevi sobre isso aqui, de levinho). Isso significa que não dependem de ações individuais isoladas para existir. Somos todos socializados com uma maneira de pensar e ver o mundo que reproduz um esquema de dominação. Nenhum homem é isoladamente responsável pelo machismo estrutural, nem nenhuma mulher. Por isso é tão complicado combatê-lo.

Em segundo lugar, devemos ter em mente sempre, quando se trata de qualquer tipo de opressão, o conceito de “falsa simetria”. A falsa simetria é quando, querendo tratar tudo com “igualdade”, nós fingimos que a desigualdade de poder não existe. Por exemplo, a ideia de que precisaríamos ter um “Dia Internacional do Homem” porque existe o 8 de Março, é uma falsa simetria (assim como a falácia de que deveríamos ter “dia da consciência branca” e outras barbaridades e bobagens que escutamos e lemos por aí). Especialmente quando se trata de opressões estruturais, as desigualdades não podem ser ignoradas. Uma pergunta clássica e boba para ilustrar esse conceito, de falsa simetria: você avaliaria, numa prova de português, da mesma maneira uma criança japonesa que acaba de chegar ao Brasil e uma criança que já nasceu falando e ouvindo português como língua materna? Então! Avaliá-las da mesma maneira seria estabelecer uma falsa simetria. Quem sabe um dia eu escrevo um textão só sobre isso. Mas não agora.

Pois então, dado o machismo estrutural, é uma falsa simetria equiparar um aplicativo como o Lulu com as avaliações e rankeamentos constantes feitos sobre mulheres dentro e fora de redes sociais e gadgets. Nós, mulheres, somos avaliadas pela maneira como nos comportamos (sobretudo sexualmente) o tempo todo. Inclusive em questões como nossas carreiras. Somos avaliadas pela nossa aparência, inclusive como forma de medirem nossa competência. Esses são dois dos muitos critérios pelos quais somos constantemente julgadas – e não só em relacionamentos, ficadas e afins.

Ao que tudo indica, o tal Lulu é um espaço em que mulheres podem, se assim desejarem, compartilhar umas com as outras suas impressões sobre ficadas e rolos com certos caras. Podem também comentar sobre amigos. O algoritmo do aplicativo atribui, ele mesmo, as notas com base em perguntas (veja aqui como funciona). Isso não é, nem de longe, mais machista ou tão problemático quanto o julgamento ferrenho, constante e ostensivo que se faz sobre as mulheres todas, todos os dias (e que inclusive faz com que muitas tirem a própria vida, sofram violências diversas, etc).

O principal problema do aplicativo, ninguém parece ter notado: ele atrela, à identidade de gênero “mulher” a atração sexual por “homens”. Sem nem entrar na questão sobre identidades que fogem a esse binarismo, não parece a vocês um tanto quanto heteronormativo? Não invisibiliza as lésbicas e bissexuais, essa categoria tão numerosa de mulheres que todos os dias fingimos não existirem? Outro ponto questionável do Lulu, indo ainda mais longe: não seria também um machismo pressupor, como as perguntas do aplicativo pressupõem, que as mulheres heterossexuais se interessam apenas por questões emocionais, relações e coisas do tipo, em vez de falar direta e claramente em compatibilidade e desempenho sexual? Me parece que sim.

De qualquer maneira, há clubes e clubes de luluzinhas, com ou sem a existência do aplicativo, que compartilhavam, compartilham e compartilharão impressões sobre rolos, trepadas, ficadas e flertes, de maneira mais ou menos sexualmente explícita. A diferença é que esses clubes simplesmente não têm o poder de impedir que os homens cheguem a posições de poder político, ganhem os melhores salários, concentrem poder econômico, sejam assediados nas ruas, troquem de roupa ao saírem de casa com receio do que possam dizer (ou do que possa acontecer, assumindo que a culpa de qualquer coisa seja mesmo sua). Avaliar e rankear os homens com quem ficamos não faz com que 15 deles sejam assassinados por dia, nem com que 5 homens sejam estuprados a cada hora.

Então, não. Não é a mesma coisa!
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PETROBRAS - Como foi desmontada a Petrobras.

Como foi desmontada a Petrobrás



por Wladmir Coelho
   
Em 1995, a emenda constitucional número nove retirou da Petrobrás a condição de operadora do monopólio estatal do petróleo. A manobra apresentou como fundamento o discurso ideológico neoliberal, incorporado, naquele momento, nos atos e ações do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC).


A tática utilizada foi alterar o texto do parágrafo primeiro do artigo 177 da Constituição, cujo teor determinava: “o monopólio previsto neste artigo inclui os riscos e resultados decorrentes das atividades nele mencionadas, sendo vedado à União ceder ou conceder qualquer tipo de participação, em espécie ou em valor, na exploração de jazidas de petróleo ou gás natural, ressalvado o disposto no art. 20, § 1º”.
Observe: a redação original, votada e aprovada em 1988 por uma Assembleia Constituinte, garantia ao povo brasileiro a propriedade não somente do bem natural petróleo, mas somava a este o bem econômico. A emenda número nove retirou do povo, na prática, a propriedade do bem econômico, determinando que “a União poderá contratar com empresas estatais ou privadas a realização das atividades previstas nos incisos I a IV deste artigo, observadas as condições estabelecidas em lei”.
Esta alteração no texto constitucional – conforme é possível observar – determinou a criação de uma nova lei para o petróleo, aprovada em 1997, recebendo o número 9478. O novo texto legal tornou sem efeito a lei 2004, de 1953, cujo teor garantia à Petrobras o monopólio da exploração petrolífera.
Verifica-se no texto da lei 9478, quanto à propriedade do bem econômico petróleo, a seguinte redação: “Art. 26. A concessão implica, para o concessionário, a obrigação de explorar, por sua conta e risco e, em caso de êxito, produzir petróleo ou gás natural em determinado bloco, conferindo-lhe a propriedade desses bens, após extraídos, com os encargos relativos ao pagamento dos tributos incidentes e das participações legais ou contratuais correspondentes”.
Observe-se a inexistência de qualquer limitação à propriedade do petróleo, após sua extração, bastando a empresa concessionária pagar as compensações, dentre elas os famosos royalties.
O caráter neoliberal da lei 9478 impediu até mesmo a criação de um planejamento econômico voltado para a autossuficiência. Em seu texto fica determinada a necessidade de autorização para exportação de petróleo condicionada ao previsto na lei 8137, de 1990, assinada pelo presidente Fernando Collor, ficando como único limite à exportação pelo "proprietário" do petróleo a necessidade de manutenção de uma reserva estratégica.
Esta reserva seria o mínimo necessário – caso seguisse o modelo dos Estados Unidos – para a manutenção do abastecimento de combustíveis por aproximadamente 60 dias. Não verificamos na legislação brasileira qualquer menção à forma ou método para atingir a autossuficiência.
Desta forma, os "proprietários" do petróleo ficam livres para exportar a quantidade que entenderem as respectivas políticas econômicas de suas empresas, cujo centro de decisões, via de regra, encontra-se no hemisfério norte. Não temos no Brasil, mais uma vez, uma política econômica para o petróleo, voltada a satisfazer um plano de desenvolvimento.
Como agravante, verifica-se a inexistência até mesmo da chamada reserva estratégica, aspecto que não passou em branco nas ressalvas do Tribunal de Contas da União, em 2012, quanto às contas do governo federal, recomendando ao Conselho Nacional de Política Energética: “Assegure o adequado funcionamento do Sistema Nacional de Estoques Estratégicos de Combustíveis e o cumprimento do Plano Anual de Estoques Estratégicos de Combustíveis, e tome providências no sentido de que o Poder Executivo encaminhe, anualmente, o Plano Anual de Estoques Estratégicos de Combustíveis, como parte integrante do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, conforme previsão insculpida no art. 4º, § 1º, da Lei 8.176/1991”.
Assim observado, seria exagero afirmar que o governo Dilma Rousseff é negligente quanto à segurança energética nacional?
A entrega do patrimônio nacional foi festejada como a entrada do Brasil na modernidade. Traduzindo, seria a quebra de um monopólio em favor da “livre concorrência”, resultando para a economia nacional avanços, como a diminuição no preço dos combustíveis.
Ocultavam, os opositores do monopólio da Petrobrás, alguns fatos de grande importância, como a inexistência de concorrência no setor petrolífero, considerando-se a tradicional concentração do setor somada ao risco para a segurança energética, tendo em vista os objetivos voltados para a exportação das empresas estrangeiras.
Mentiam, os defensores da entrega do petróleo, apontando como prova da concorrência o surgimento de empresas nacionais de petróleo. Hoje não constitui segredo a vinculação destas aos clubes de investimentos internacionais, ficando a elaboração de suas políticas econômicas submetida aos interesses dos controladores, via de regra, associados aos oligopólios petrolíferos internacionais.
Neste ponto, das chamadas empresas privadas nacionais de petróleo, o caso de maior destaque coube ao grupo OGX. Atualmente apontado como causa de prejuízos mundo afora, todavia esquecem o quanto rendeu aos clubes de investimentos internacionais.
O seu supremo dirigente, elevado ao posto de Midas brasileiro, dava a impressão de possuir as chaves dos cofres do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e deste retirava as quantias necessárias para inflar o valor de suas ações, prazerosamente negociadas nas bolsas de valores internacionais. O dinheiro do povo garantia a farra do capital especulativo.
Somente para lembrar: um fato semelhante ocorreu na Rússia quando um "jovem talentoso" chamado Mikhail Khodorkovski iniciou uma aventura, rumo ao posto de maior fortuna do mundo, utilizando dos recursos públicos para assumir o controle da produção petrolífera em seu país. O tempo mostrou a fraude, resultando ao “gênio” empresarial a condenação e prisão. Este também figurou nas listas dos mais ricos.
Wladmir Coelho é mestre em Direito, historiador e membro do Conselho Curador da Fundação Brasileira de Direito Econômico.
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Joaquim Barbosa e o viés autoritário

Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:


A figura de Joaquim Barbosa faz mal à cultura política brasileira. Muito já se falou a respeito de como o atual presidente do Supremo conduziu o julgamento da Ação Penal 470, a que trata do “mensalão”. Salvo os antipetistas radicais, que ficaram encantados com seu comportamento e o endeusaram, a maioria dos comentaristas o criticou.

Ao longo do processo, Barbosa nunca foi julgador, mas acusador. Desde a fase inicial, parecia considerar-se imbuído da missão de condenar e castigar os envolvidos a penas “exemplares”, como se estivesse no cumprimento de um desígnio de Deus. Nunca mostrou ter a dúvida necessária à aplicação equilibrada da lei. Ao contrário, revelou-se um homem de certezas inabaláveis, o pior tipo de magistrado.

Passou dos limites em seu desejo de vingança. Legitimou evidências tênues e admitiu provas amplamente questionáveis contra os acusados, inovou em matéria jurídica para prejudicá-los, foi criativo no estabelecimento de uma processualística que inibisse a defesa, usou as prerrogativas de relator do processo para constranger seus pares, aproveitou-se dos vínculos com grande parte da mídia para acuar quem o confrontasse.

Agora, depois da prisão dos condenados, foi ao extremo de destituir o juiz responsável pela execução das penas: parece achá-lo leniente. Queria dureza.

Barbosa é exemplo de algo inaceitável na democracia: o juiz que acha suficientes suas convicções. Que justifica sua ação por pretensa superioridade moral em relação aos outros. E que, ao se comportar dessa forma, autoriza qualquer um a pegar o porrete (desde que se acredite “certo”).

Sua figura é negativa, também por um segundo motivo.

Pense em ser candidato a presidente da República ou não, Barbosa é um autêntico expoente de algo que cresceu nos últimos anos que pode se tornar um grave problema em nossa sociedade, o sentimento de ódio na política.

Quem lida com pesquisas de opinião, particularmente as qualitativas, vê avolumar-se o contingente de eleitores que mostram odiar alguma coisa ou tudo na política. Não a simples desaprovação ou rejeição, o desgostar de alguém ou de um partido. Mas o ódio.

É fácil constatar a difusão do fenômeno na internet, particularmente nas redes sociais. Nas postagens a respeito do cotidiano da política, por exemplo sobre a prisão dos condenados no “mensalão”, a linguagem de muitos expressa intenso rancor: vontade de matar, destruir, exterminar. E o mais extraordinário é que esses indivíduos não estranham suas emoções, acham normal a violência.
Não se espantam, pois veem sentimentos iguais na televisão, leem editorialistas e comentaristas que se orgulham da boçalidade. Os odientos na sociedade reproduzem o ódio que consomem.

Isso não fazia parte relevante de nossa cultura política até outro dia. Certamente houve, mas não foi típico o ódio contra os militares na ditadura. Havia rejeição a José Sarney, mas ninguém queria matá-lo. Fernando Collor subiu e caiu sem ser odiado (talvez, apenas no confisco da poupança). Fernando Henrique Cardoso terminou seu governo reprovado por nove entre dez brasileiros, enfrentou oposição, mas não a cólera de hoje.

O ódio que um pedaço da oposição sente atualmente nasce de onde? Da aversão (irracional) às mudanças que nossa sociedade experimentou de Lula para cá? Do temor (racional) que Dilma Rousseff vença a eleição de 2014? Da estupidez de acreditar que nasceram agora problemas (como a corrupção) que inexistiam (ou eram “pequenos”)? Da necessidade de macaquear os porta-vozes do conservadorismo (como acontece com qualquer modismo)?

Barbosa é um dos principais responsáveis por essa onda que só faz crescer. Consolidou-se nesse posto nada honroso ao oferecer ao País o espetáculo do avião com os condenados do “mensalão” rumo a Brasília no dia 15 de novembro. Exibiu-o apenas para alimentar o ódio de alguns.

A terceira razão é que inventou para si uma imagem nociva à democracia. O papel que encena, de justiceiro implacável e ferrabrás dos corruptos, é profundamente antipedagógico.

Em um país tão marcado pelo personalismo, Barbosa apresenta-se como “encarnação do bem”, mais um santarrão que vem de fora da política para limpá-la. Serve apenas para confirmar equívocos autoritários e deseducar a respeito da vida democrática.
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Futuro da Abril e dos impérios da mídia

Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

O futuro da Abril, como o de todas as grandes empresas de mídia, é mais ou menos como o de uma fábrica de carruagem quando surgiram os automóveis.

Não sobrou nenhum fabricante de carruagem.

A Abril, para ficar na imagem, sabe que carro não vai produzir, porque sua competência está toda voltada para as carruagens.



Mas está tentando achar outro espaço para evitar o cemitério.

É o que todos já sabemos, e é o que disseram esta semana ao jornal Valor Giancarlo Civita, primogênito de Roberto Civita, e o executivo Fábio Barbosa, presidente executivo da empresa.

Este espaço se chama educação. Mais que livros, que como as revistas estão sumindo por força da internet, a aposta se concentra em escolas.

Outras grandes empresas de mídia do mundo já disseram o que pensam a respeito do futuro da mídia impressa.

A News Corp, de Murdoch, separou seus negócios em dois. A área de entretenimento, à frente da qual está a Fox, ficou num lado. A de mídia – jornais como os britânicos Times e Sun e o americano Wall St Journal – foi para o outro.

A Time Warner fez o mesmo movimento. Separou as revistas e a área de entretenimento.

Em ambos os casos, o objetivo da separação foi evitar que o colapso de jornais e revistas afete os outros negócios.

A Abril não tem nem a Fox e nem a Warner para se agarrar. Daí a esperança depositada na educação.

Na transição, serão certamente desacelerados, ou simplesmente eliminados, os investimentos em revistas. Em pouco tempo, é difícil imaginar que sobrevivam, na Abril, mais revistas que Veja, Exame, 4 Rodas e Claudia.

Mesmo elas estarão menores e menos influentes a cada dia, pela excelente razão de que ninguém mais dá bola para revistas de papel.

O refúgio na educação, ainda que funcione, marcará uma nova etapa na vida da Abril. Educação está longe de dar o poder de influência que a mídia dá, e a rentabilidade é muito menor.

Os filhos de Roberto Civita provavelmente gostariam de vender a divisão de revistas, da qual só virão más notícias daqui por diante. Ao contrário do pai, eles não gostam de revistas. Jamais foram postos para trabalhar nelas, ao contrário do que o patriarca Victor Civita fez com os filhos Roberto e Richard.

Uma vez, no período em que respondi a Gianca na Abril, ele me contou que detestava revistas porque, criança, via o pai gastar o final de semana na leitura delas e não com os filhos.

Querer vender é uma coisa. Poder vender, outra.

Mas aí entra um paradoxo, uma espécie de ajuste de contas da história com gente que mamou no Estado.

Vigora na mídia uma inacreditável reserva de mercado. O Brasil se abriu à competição estrangeira nos últimos vinte anos, mas a mídia – por seu poder de intimidação – continuou protegida.

Estrangeiros podem comprar apenas 30% das ações das empresas. No caso da Abril, isso já foi feito.

Durante muitos anos, a reserva ajudou. Você ficava livre de competidores temíveis de mercados mais avançados.

Mas agora veio a ressaca. A reserva limita severamente as possibilidades de vender uma empresa. Quem, no Brasil, teria dinheiro para comprar uma grande empresa de mídia?

Não será surpresa se as empresas se juntarem, em algum momento, para reverem uma legislação que as favoreceu absurdamente. Se você quer vender e cair fora do negócio, a reserva já não significa nada senão um obstáculo à venda.

Com o mesmo entusiasmo cínico usado para defender a reserva – a Globo chegou a falar no risco de propaganda comunista se uma emissora chinesa se instalasse no Brasil – as companhias de mídia defenderão o oposto.

Vai ser interessante acompanhar os próximos anos na mídia.
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