Ibope: 2+2 = 3; e a rejeição de Serra

Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:

O primeiro dado a se ressaltar na pesquisa Ibope (que o JN escondeu e o “Estadão” publicou de forma discreta) é esse que está no título: em política, não faz sentido a soma aritmética. Juntos, Marina e Eduardo valem menos do que valiam quando estavam separados. A união significou um passo atrás para os dois. 2+2=3.


Na simulações em que é a candidata pelo PSB, Marina despenca de 21% para 16%. Isso em um mês. Queda de cinco pontos, pra quem tinha 21%, significa que Marina perdeu um em cada cinco eleitores. Qual a leitura? Parte dos apoiadores de Marina ficou decepcionada com a atitude personalista de decidir tudo sem consultar as bases, apenas de acordo com os interesses eleitorais dela. Desmanchou-se (em parte) a lenda da Marina “diferente dos outros políticos”. O que tem um lado positivo: Marina deixa de falar com aquele tom messiânico agora incorporado por Joaquim Barbosa.

O curioso é que Eduardo também caiu – de 10% em outubro, para 7% em novembro. O apoio de Marina não significou nada pra ele. Mas no caso de Eduardo a queda pode ter outra explicação: internautas do Nordeste dizem que cresce na região, no boca-a-boca, a imagem de um Eduardo “ingrato”, que “traiu” a confiança de Lula. E traiu em nome do que? Ninguém entendeu bem até agora. Mas, humildemente, eu diria que Eduardo ainda tem chance de construir uma candidatura forte, que lhe dê algo perto de 15% dos votos e o transforme num nome nacional para 2018.

De resto, é impressionante o campeonato de rejeição entre os oposicionistas: Serra bateu em 49%! Nem o calor em Bangu chegará nesse patamar no verão. Cresce também a rejeição de Marina, Eduardo e Aécio. Incrível: Dilma, sob fogo cerrado da mídia velhaca, é a menos rejeitada. Humoristas mirins, colunistas rotweiller e roqueiros aposentados vão cortar os pulsos nas próximas horas.

José Roberto Toledo (excelente analista do “Estadão”, que não briga com os fatos, nem faz coro com os velhacos) destacou um fato importante: a oposição não consegue vocalizar o desejo de mudança que aparece na pesquisa. O subtexto nos títulos do “Estadão” é de que alguém ainda aparecerá para recolher esses votos mudancistas. Daí o Barbosismo, com sua operação 15 de novembro. Ali Kamel (antes de se dedicar a processar blogueiros) já havia nos ensinado: o importante é “testar hipóteses”. Agora, teste-se o barbosismo – essa espécie de subjanismo de ocasião.

Mas atenção: uma leitura mais atenta do IBOPE revela, também nesse quesito, números trágicos para a oposição. Vamos lá… 24% querem mudar “totalmente” governo do país, 38% acham que é preciso mudar “muita coisa”, 23% querem “pouca mudança”, e 12% “nenhuma mudança”.

Para Toledo, é sinal de que 62% (dois terços dos eleitores) apostam em mudança e poderiam ir para oposição. Mas quem diz que o povão não enxerga em Dilma a capacidade e a vontade de mudar “muita coisa”? Lembrem que Dilma teve a coragem de ir pra TV após as jornadas de junho, e propôs mudanças drásticas (inclusive no sistema político). Está claro para o povão que PMDB e seus aliados na mídia velhaca barraram as mudanças.

Se Dilma ajustar o discurso, e fizer uma pequena inflexão para a esquerda, pode sim conquistar parte desses 38% que pedem “muita” mudança. Dilma já tem os 35%/40% que estão felizes com a situação. A oposição, a rigor, hoje dispõem apenas dos 24% que gostariam de virar o país do avesso.

A pesquisa, por isso, é trágica para a oposição. E indica que gestos ainda mais desesperados virão, daqui para a frente: o denuncismo, a velhacaria e o cinismo vão ocupar manchetes e comentários. O barbosismo pode ser a única aposta de uma oposição desesperada daqui pra frente. Isso não é bom para uma Demcracia em que empresas de comunicação endividadas (e com dívidas no fisco) acham que podem pautar o país.

A Operação Barbosa, no 15 denovembro, indica-nos que dias tumultuados virão pela frente. Imagine na Copa!
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A sombra da capa preta

Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:

Os jornais de terça-feira (19/11) publicam resultado de nova pesquisa de intenção de voto feita pelo Ibope, registrando que a presidente Dilma Rousseff ampliou a vantagem sobre seus prováveis adversários, e seria reeleita no primeiro turno contra qualquer outro candidato entre aqueles que a imprensa considera como tais. Mas a consulta não leva em conta a eventual entrada do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, na disputa.


Pelo menos para um dos articulistas que acompanham os aspectos políticos, e não apenas jurídicos, do julgamento da Ação Penal 470, há sinais de que Barbosa está administrando cuidadosamente a reputação que lhe tem proporcionado o papel de condutor do processo. Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo, interpreta o ataque de Barbosa, durante a sessão do STF na quarta-feira (13/11), ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, como uma defesa da primazia de capitalizar a iniciativa de mandar para a cadeia personagens importantes da política.

Janot havia encaminhado na véspera uma recomendação de prisão imediata de doze dos condenados. Barbosa não gostou da concorrência. O presidente do STF despachou a petição do procurador sem ter lido, porque já tinha preparado os mandados de prisão para o feriado de 15 de novembro, data da Proclamação da República. Pretendeu reservar para si o crédito pela prisão dos condenados, mesmo daqueles que tinham direito ao regime semiaberto, para aproveitar a data histórica e oferecer à imprensa um valor simbólico adicional ao seu ato.

Mas, como observa o articulista, ao atacar o procurador-geral por haver apanhado uma carona no fato histórico, Barbosa deixou clara a estratégia de se manter em evidência, o que só se explica se ele estiver acalentando sonhos grandiosos para 2014.

O episódio não interfere nos aspectos jurídicos da decisão de enviar alguns dos mais importantes protagonistas do escândalo para uma prisão em Brasília, aspecto bastante discutido por especialistas, a não ser pelo fato de o presidente da Corte ter despachado um documento que não havia lido.

Observamos, aqui, como os acontecimentos são trabalhados pela imprensa e analisamos as simbologias presentes no processo comunicacional.

Estritamente nesse sentido, pode-se afirmar que todas as atitudes do presidente do Supremo Tribunal Federal apontam para a hipótese de Joaquim Barbosa estar cultivando um espaço no eleitorado para disputar a presidência da República no ano que vem.

Em busca de um candidato

Sabemos que não há inocentes na política nem na imprensa. Também não é recomendável que o leitor ou leitora compre pelo valor de face tudo que é apresentado como resultado de pesquisa eleitoral: sempre há mais de uma maneira de interpretar os dados estatísticos. Nessa última versão do Ibope, por exemplo, observe-se o título na primeira página do Estado de S.Paulo, que encomendou a consulta em parceria com o Globo: “Dilma amplia vantagem, mas brasileiro fala em mudança”.

Ora, nenhum dos candidatos da oposição já colocados, nem mesmo a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva, personifica esse desejo captado pela pesquisa. Fica, então, implantada no subconsciente do cidadão a possibilidade implícita no noticiário: o eleitorado aprova o governo da presidente Dilma Rousseff, a maioria votaria nela, mas dois a cada três brasileiros gostariam de uma mudança no governo. A análise que acompanha a reportagem no jornal paulista afirma que nenhum dos candidatos de oposição personifica esse desejo de mudar.

Com seu intempestivo protagonismo ao longo do julgamento da Ação Penal 470, que a imprensa utiliza para construir sua imagem de super-herói, o ministro Joaquim Barbosa se apresenta mais como candidato a um cargo político do que como jurista. Seu perfil se assemelha progressivamente ao do falecido ex-presidente Jânio Quadros, cuja renúncia abriu caminho para a ditadura militar.

Como se diz das oportunidades, o cavalo passa diante dele, devidamente encilhado, e a imprensa precisa cultivar rapidamente a figura do agente de mudanças que a oposição não foi capaz de criar.

No atual cenário, só o presidente da Suprema Corte teria esse perfil. Mas o temperamento de Barbosa não aconselha grandes apostas. Sua capa preta apenas aumenta a zona de sombra no cenário político.
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Consciência negra e o racismo na mídia

Imagem extraída do sítio: http://www.geledes.org.br
Por Cecília Bizerra Sousa, na revista CartaCapital:

Hoje é véspera do 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra. Dia em que Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, foi perseguido e morto, no ano de 1695. Embora a data venha sendo lembrada há tempos pelo Movimento Negro, apenas em 2003 foi reconhecida oficialmente pelo Estado brasileiro, por meio da Lei n°10.639, que inclui a data no calendário escolar nacional. E só em 2011 a presidenta Dilma Rousseff sancionou a Lei n° 12.519, que cria oficialmente a data, sem obrigatoriedade de feriado. Mesmo assim, um total de 1.047 municípios já decretou feriado para o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.


Para além da reflexão sobre a contribuição que a população negra teve e tem na construção da sociedade, da economia e da cultura brasileiras, a data serve também para lembrar que a desigualdade racial é estruturante na formação da nossa sociedade, e que o desenvolvimento de políticas de enfrentamento ao racismo e de promoção da igualdade racial são primordiais.

E o que isso tem a ver com comunicação? Muita coisa. Porque, se consciência negra tem a ver com enfrentamento ao racismo, e o racismo é frequentemente produzido e reproduzido pelos discursos midiáticos, não há como enfrentá-lo sem também reconhecer a necessidade de mudanças na comunicação de massa no Brasil, tradicionalmente branca, concentrada, de natureza familiar e elitista.

Como se não bastasse o histórico de escravização, que tem notórios reflexos sobre a situação de inferioridade socioeconômica e cultural em que a população negra brasileira se encontra hoje, esta população ainda luta, em pleno século XXI, contra o racismo midiático, que elabora e reforça os preconceitos. Este racismo velado (ou não) atua com primazia para reforçar a invisibilidade, a inferiorização e a estigmatização da população negra brasileira nos meios de comunicação. A negação da existência do racismo, que contribui para a sua reprodução, também faz parte da forma de atuação desta grande mídia.

Em sua história de lutas, o Movimento Negro Brasileiro conquistou grandes avanços institucionais, como as políticas de ação afirmativa para a inclusão de negros e negras nas universidades e a criação Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, um órgão com status de ministério que, entre outras coisas, atua na formulação, coordenação e articulação de políticas e diretrizes para a promoção da igualdade racial.

Por outro lado, não é fácil esses avanços e políticas se consolidarem se, no cenário midiático, o racismo é negado; negros e negras representam papéis subalternos nos enredos; programas evangélicos demonizam as religiões de matriz africana; a publicidade vende como nunca a mulher negra; revistas e comerciais exaltam o padrão de beleza eurocêntrico e vendem a família branca, urbana e de classe média como ideal de felicidade.

Não à toa, diversas propostas de legislação e políticas públicas vêm surgindo como fruto do aprofundamento dos debates envolvendo a questão racial e a comunicação. O Estatuto da Igualdade Racial conta com um capítulo sobre Comunicação Social. As três edições da Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir) e a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) aprovaram resoluções que recomendam políticas públicas de comunicação voltadas para o combate ao racismo e a promoção da igualdade racial. Destaca-se também a presença de artigos contemplando a questão racial no Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Mídia Democrática, formulado pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação em conjunto com diversas outras entidades da sociedade civil, diversas diretamente ligadas à pauta racial.

A democratização da comunicação é, portanto, questão estratégica e fundamental para o enfrentamento ao racismo e a consolidação das políticas de promoção da igualdade racial no Brasil. Continua urgente uma regulação que coíba o racismo de fato na mídia, que reavalie a manutenção de concessões de rádio e TV que praticam o racismo em sua programação, que garanta o direito à diversidade étnica na mídia e a uma formação que incorpore o debate sobre a questão racial nos cursos de Comunicação Social.

Sem uma mídia que se comprometa com a afirmação da diversidade da população brasileira e com o caráter público da comunicação, a negação do racismo, a inferiorização, estigmatização e invisibilidade da população negra continuarão presentes na pauta, nas linhas, imagens e discursos da mídia brasileira.

* Cecília Bizerra Sousa é jornalista, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, militante do Movimento Negro e integrante do Intervozes.

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FHC perdeu chance de ficar quieto

Imagem extraída do blog: http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br/
Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

Em pronunciamento, ontem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso empregou termos duros. Referindo-se às denuncias dos prisioneiros do mensalão e seus advogados, que têm críticas consistentes ao julgamento, como tantos juristas admitem, chegou a dizer: “Temos de dar um basta nisso. Chega de desfaçatez.”


“Desfaçatez?”

“ Basta?”

O retrospecto do PSDB e de seu governo não autorizam um discurso nestes termos.

FHC só manteve-se no Planalto por oito anos depois de conquistar o direito de disputar a reeleição, num esquema de compra de votos em que se demonstrou aquilo que apenas se disse sobre o mensalão de Delúbio e Valério.

O repórter Fernando Rodrigues publicou, já naquela época, o depoimento de um certo senhor X, que organizou os pagamentos de parlamentares. Trouxe o depoimento, gravado, de um parlamentar que assumia ter embolsado o dinheiro. No livro Príncipe da Privataria, Palmério Doria completou o serviço. Entrevistou o próprio senhor X, revelou sua identidade verdadeira e explicou que ele comprou 150 parlamentares.

Outro dia, conversei com um deputado do PP que assistiu ao mercado da reeleição e me disse o seguinte: “O pessoal votava a favor e na saída do plenário já tinha gente esperando para acertar o pagamento em dinheiro junto a doleiros. Não tinha erro.”

FHC falou em tom crítico sobre adversários políticos que se tornaram prisioneiros, enfrentando medidas duras e espetaculares de Joaquim Barbosa que receberam críticas até de outros ministros do STF. A verdade é que muitos prisioneiros da ação penal 470 foram mais próximos de seu governo do que se imagina.

Marcos Valério começou a se aproximar das verbas do Visanet a partir dos diretores que o PSDB instalou no Banco do Brasil durante o governo de Fernando Henrique. Foram eles, no segundo mandato de FHC, que assinaram os primeiros contratos com a agência DNA, que seriam apenas renovados depois da posse de Lula.

O diretor responsável pelos pagamentos à DNA – aqueles que Joaquim Barbosa diz que foram desviados para subornar políticos – era um homem de confiança do governo Fernando Henrique, um diretor chamado Leo Batista.

Ele tinha esse papel no governo FHC. Seguiu na função depois de 2003. Se alguém foi tão decisivo para o esquema, seu nome não é Henrique Pizzolato, hoje foragido na Itália, mas Leo Batista. Estava acima de Pizzolato e tinha a prerrogativa de assinar os cheques.

FHC fez elogios às prisões ao lado de estrelas graúdas do PSDB. Uma delas era Geraldo Alckmin, cujo governo afunda-se em três gerações de governadores denunciados no propinoduto Alston-Siemens. Outro era o presidenciável Aécio Neves. Conforme a CPMI dos Correios, durante seu governo estatais mineiras fizeram dezenas de milhões de reais em depósitos nas contas da DNA. Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, sócios de Valério na agência, eram publicitários de reputação firmada no Estado. As relações de Cristiano Paz com Aécio se assemelham às relações de Nizan Guanaes com Fernando Henrique. Hollerbach integrou a coordenação da campanha de Aécio em 2002.

Um ditado popular ensina que não se deve falar de corda em casa de enforcado, mas o retrospecto mostra que há fundamento para FHC portar-se como se nada tivesse a ver com estes fatos e pessoas. Em 1997, o procurador Geraldo Brindeiro encarregou-se de enterrar a denúncia da compra de votos e a maioria tucana impediu que se fizesse uma CPI. Embora um homem de confiança do PSDB tenha sido o responsável final pelos pagamentos para a agência de publicidade do mensalão, nenhum deles foi investigado na ação penal 470. Por uma questão de hierarquia, deveria ter sido mais investigado do que Pizzolato. Pela proximidade, era um caso típico de coautoria. Sua investigação ocorreu em segredo, num inquérito paralelo, cuja existência só veio a público durante o próprio julgamento.

O propinoduto paulista foi investigado até na Suíça, mas é alvo permanente de um esforço para arquivar qualquer indicio e toda denúncia que possa envolver os tucanos e seus amigos. O procurador Rodrigo de Grandis recebeu oito solicitações do Ministério da Justiça para prestar esclarecimentos e não atendeu a nenhuma. O mensalão PSDB-MG está sendo investigado na primeira instância, em Belo Horizonte, com vagarosidade espantosa e metodologia diversa. Enquanto os réus da ação penal 470 não tiveram direito ao duplo grau de jurisdição, o STF autorizou que os mineiros tivessem um julgamento na primeira instância e, mais tarde, um segundo julgamento. Entre os petistas, viveu um clima de guerra civil para um pequeno grupo de condenados conseguir, após diversos lances de chantagem dos meios de comunicação contra Celso de Mello, o direito de apresentar embargos infringentes sobre uma das penas recebidas.

Como parece difícil de negar, a principal diferença entre escândalos tucanos e ação penal 470 é a blindagem.

Esse acesso assegurado à impunidade – 100% garantida até aqui na maioria dos casos – mostra que o PSDB não apenas dedicou-se às mesmas práticas que condena nos adversários, como tantos indícios confirmam, mas construiu um impenetrável muro de proteção sobre seus atos, situação que apenas eleva a gravidade do atos que cometeu.

Vamos combinar que não é um motivo honroso para FHC falar contra a “ desfaçatez” dos adversários.

Derrotado por Jânio Quadros na disputa pela prefeitura em 1985, quase ministro de Fernando Collor em 1990, Fernando Henrique pode sentir de perto os efeitos nocivos do nosso moralismo. Tem experiência demais para dedicar-se a ele.
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As prisões e a luta política atual

Editorial do sítio Vermelho:

Há duas posturas possíveis ante a determinação, pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, da prisão imediata (antes do término formal do julgamento) dos condenados na Ação Penal nº 470, o chamado “mensalão”, entre eles José Genoino e José Dirceu.


Uma postura é a da direita conservadora e raivosa, que aplaude a atitude inédita e antidemocrática do presidente do STF de determinar urgência no cumprimento de penas num julgamento que ainda não terminou.

A outra é a dos democratas que exigem o respeito à lei e não aceitam (como não aceitaram as condições em que o julgamento se deu) decisões judiciais de fundo político e eleitoreiro, tomadas para terem consequências na eleição de 2014. Não aceitam o julgamento político que marcou todo o processo da Ação Penal nº 470 e exigem o cumprimento da lei e da Constituição pela mais alta Corte de Justiça do país.

Estas posturas perante a decisão do ministro Joaquim Barbosa reproduzem os mesmos campos políticos que se confrontam no Brasil desde o final da ditadura militar, em 1985.

O campo conservador e neoliberal prevaleceu na década de 1990, com Fernando Collor de Mello e, depois, com Fernando Henrique Cardoso, cujos governos foram marcados por ataques à democracia, aos direitos sociais, à economia nacional (que naqueles anos andou para trás) e à soberania de nosso país, vilipendiada e subordinada pelos governos neoliberais às imposições dos Estados Unidos, das agências econômicas internacionais (como o FMI e o Banco Mundial) e do imperialismo.

O campo democrático, progressista e patriótico prevaleceu depois da experiência nefasta dos dois Fernandos. Coube aos governos Lula e Dilma, expressão do mesmo projeto de recuperação nacional, avanço democrático, retomada do desenvolvimento e recomposição da renda dos brasileiros, a tarefa difícil de resgatar o Brasil do atoleiro em que foi metido pela experiência neoliberal capitaneada pelo PSDB e seus aliados conservadores.

Estes dois campos se enfrentaram nas urnas, nos embates da mídia conservadora e, também, nos tribunais – enfrentamento do qual a Ação Penal nº 470 foi, até agora, a expressão mais alta e penosa.

São dois campos que resumem a contradição principal que o Brasil vive. O campo progressista, patriótico e democrata agrega as forças de defesa da nação, da democracia e do desenvolvimento, e reúne um amplo espectro de forças políticas.

O PCdoB nunca vacilou em perfilar este campo, desde os momentos iniciais da Frente Brasil Popular que apresentou a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva em 1989.

Os comunistas se pronunciaram clara e abertamente, pela voz do presidente nacional Renato Rabelo, contra a insólita decisão do ministro Joaquim Barbosa na última sexta-feira (dia 15), durante o Ato Político do 13º Congresso do Partido. Naquele ato, o presidente nacional do PCdoB manifestou, perante a presidenta Dilma Rousseff, a forte condenação, pelos comunistas, da atitude antidemocrática do presidente do STF.

No polo oposto estão a direita, a mídia conservadora e os políticos saudosos do neoliberalismo. O presidente do PSDB, Aécio Neves, deixou isso claro ao declarar nesta segunda-feira (18), num ato político de seu partido em Poços de Caldas (MG), que o julgamento da Ação nº 470 não foi político, e que a defesa dessa tese "não contribui para a democracia".

A opinião de Aécio Neves é insólita e interessada. Ela faz parte do mesmo movimento político que levou ao julgamento nas condições antidemocráticas em que ele se deu, do circo jurídico e midiático armado para tentar comover a população (sem êxito, aliás...) completado agora pela decisão de natureza política do presidente do STF. Afrontando a história jurídica do país e, inclusive, a opinião de juristas, alguns conservadores, ele decidiu pela prisão imediata dos condenados, antes da decisão final do processo.

Sua decisão ampara-se, tudo indica, na ideia de que aquela é a mais alta corte de justiça do país. Mas há uma corte ainda mais alta, e definitiva – o julgamento do povo brasileiro e o veredicto da história.

O julgamento dos brasileiros poderá se traduzir na manifestação de repúdio à decisão do STF. E outro que virá no resultado das urnas em 2014, quando, tudo indica, políticos conservadores e neoliberais, com o PSDB à frente, poderão amargar uma contundente derrota.

Já o julgamento da história será, com certeza, implacável e vai indicar para as gerações futuras quem, no Brasil de hoje, defendeu o progresso, a democracia e a soberania brasileiros. E vai relegar ao lixo da história o PSDB, os conservadores que giram a seu redor, todos aqueles que insistem na defesa de privilégios, do atraso e da subordinação do país aos interesses externos.
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