MÍDIA - Força-tarefa para investigar tuicanos.

Imprensa vai fazer força-tarefa para investigar tucanos


 Imprensa vai fazer força tarefa para investigar tucanos
Peço licença ao colega Antônio Prata, legítimo herdeiro do Mário Prata, para usar de sua fina ironia neste artigo sobre a "isenção" e a "independência" da mídia brasileira no caso do julgamento e da condenação dos dirigentes do PT, mas já vou logo avisando, para evitar mal entendidos, que se trata de um texto de ficção.
Assim que foram proclamadas as sentenças do STF na quarta-feira, os altos dirigentes do instituto Os Milenares, que reúne a nata da imprensa brasileira, fizeram uma reunião de emergência destinada a formar uma força-tarefa com representantes de todos os veículos para investigar os malfeitos tucanos, do mensalão mineiro ao trensalão paulista, passando pela compra de votos e as privatizações no governo FHC, assuntos que nem foram lembrados nestes dias pelos colunistas e editorialistas da confraria.
Pega mal, lembrou alguém, não utilizar os mesmos perdigueiros do "jornalismo investigativo" para descobrir o que acontece, afinal, com os processos envolvendo o PSDB _ eles sempre surgem e desaparecem da mídia como num passe de mágica, sem que nunca se tenha notícia sobre a que conclusões chegaram e quem foram os agentes públicos punidos por ações não republicanas.
Basta dizer que o mensalão tucano, criado em 1998, é sete anos mais velho do que o do PT, denunciado em 2005. Alguém sabe que fim levou? Até onde sei o processo encontrava-se sob os cuidados do mesmo ministro Joaquim Barbosa que comandou com mãos de ferro o julgamento dos petistas. Uma vez perguntaram a ele, coisa rara, porque ele nunca falava sobre o mensalão tucano. A resposta não poderia ser mais singela: "Porque vocês nunca me perguntam...".
Ou seja, a parceria da imprensa com o Judiciário sempre depende...  _ depende de quem são os réus. Cabe agora à força-tarefa, que deverá entrar em ação imediatamente, procurar equilibrar novamente a balança, fuçando nos papéis do Judiciário, da Procuradoria Geral, das Promotorias Públicas e onde mais for necessário tudo o que já foi ou deixou de ser investigado.
Vale a pena até fazer um esforço extra e mandar enviados especiais à França e à Suíça, que já estão muito mais adiantados em alguns casos, como os da Siemens (ré confessa) e da Alstom, empresas envolvidas da formação de cartéis que fizeram a festa no trensalão paulista ao longo de três governos tucanos.  Mais difícil, ao que parece, é chegar aos nativos que participaram do esquema em variados escalões. Aí é que a porca torce o rabo e entra em cena o procurador Roberto de Grandis, que há quase três anos não consegue colocar os processos na pasta certa para atender às demandas dos investigadores suíços.
Para quem diz que o Brasil agora é outro e nunca mais será o mesmo, trata-se de um bom começo: fazer com que as leis valham para todos da mesma forma, com a inestimável e prestimosa ajuda da nossa grande imprensa. Manchetes, primeiras páginas, fotos rasgadas, colunas, blogs, telejornais, programas de rádio, portais, quantas páginas e espaços forem necessários, tudo será disponibilizado imediatamente para que a força-tarefa possa apresentar seus primeiros resultados já nos próximos dias.
Só assim os possíveis crimes cometidos não prescreverão e os responsáveis serão devidamente punidos com o rigor da lei. Quem sabe estas reportagens inéditas sobre o PSDB poderão até render grandes prêmios jornalísticos aos veículos e aos seus profissionais, agora liberados para investigar tudo que encontrarem pela frente, não importa a cor do rato, como diziam os chineses. O último de que me lembro nesta área foi o de Fernando Rodrigues, que ganhou o Esso com a reportagem sobre a compra de votos, nos anos 1990 do século passado.
Mãos à obra, rapazes. Os poderosos chefes do Instituto Os Milenares darão toda a retaguarda e todos os meios para que vocês façam um belo trabalho e acabem de vez com estes mistérios tucanos, que nunca chegam ao plenário do Supremo Tribunal Federal e geram tantas desconfianças.
Vamos mostrar o valor da nossa imprensa que não tem rabo preso, muito menos candidatos ou partidos de sua predileção. Se nenhum deles vingar, pode-se fazer uma pesquisa nos nossos tribunais superiores para ver se há entre os togados algum salvador da pátria bom de votos.

Assunto não falta. É só recuperar os próprios arquivos e dar sequência aos trabalhos, indo fundo na apuração até chegar ao ouro. Quem vos fala não tem nome nem cargo, é apenas a voz da consciência que deve estar pesando ao ver que José Genoíno está preso e dar uma olhada em volta para ver quem está solto.
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POLÍTICA - Mensalão tucano.

Até que enfim: em 2014, STF verá mensalão tucano


Título do Balaio de segunda-feira, 18/11/2013:
"Imprensa vai fazer força-tarefa para investigar tucanos".
Título da Folha (página A10) desta terça-feira, 19/11/2013:
"Mensalão tucano fica para início de 2014".
Para quem já tinha perdido as esperanças de que um dia este caso chegasse ao plenário do STF, trata-se de uma boa notícia, mas não tem nada a ver com o que escrevi na segunda-feira, um texto irônico sobre o diferente tratamento dado pela grande mídia nacional ao PT e ao PSDB. Tive mais sorte que o Antônio Prata: ninguém levou meu artigo a sério.
Nem teria dado tempo para a imprensa mobilizar seus esquadrões investigativos para desenterrar os processos que envolvem tucanos. Segundo o jornal, julgar o mensalão tucano ainda no primeiro semestre de 2014 "é a expectativa no gabinete do ministro Luís Roberto Barroso, atual relator do processo no STF". Barroso, o ministro mais novo do tribunal, herdou o processo que estava com Joaquim Barbosa, hoje presidente do STF, e que nunca deu maior importância ao assunto, embora o mensalão tucano, chamado na imprensa de "mensalão mineiro" ou de "valerioduto", fosse sete anos mais velho do que o petista.
Pode ser que agora o país fique sabendo o que aconteceu realmente com o uso de dinheiro público para a compra de apoio político na eleição para governador de Eduardo Azeredo, quando Fernando Henrique Cardoso era candidato à reeleição em 1998 _ ou seja, o caso já se arrasta há 15 anos.
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Azeredo perdeu a eleição, hoje é deputado federal pelo PSDB de Minas  e tem prazo até o próximo dia 22 para pedir providências do relator. O revisor é o ministro Celso de Mello. Ao final da tramitação, o revisor encaminha o processo ao presidente do STF, que definirá a data para levá-lo ao plenário.
***
Título do Balaio de quinta-feira passada, 14/11/2013, no dia seguinte à decisão do STF de mandar os condenados do mensalão imediatamente para a cadeia:
"Prisões do mensalão não deverão influir nas eleições de 2014".
Título da Folha desta terça-feira (página A10) sobre a nova pesquisa Ibope divulgada ontem:
"Dilma seria eleita ainda no 1º turno, diz Ibope".
De vez em quando a gente acerta.
Registre-se que a pesquisa do Ibope foi a campo entre os dias 7 e 11 de novembro, antes, portanto, da decisão do STF, mas nada indica que os números seriam muito diferentes caso o levantamento tivesse sido feito depois.
No caso da previsão de que o mensalão não deve ter maior influência nas eleições do ano que vem, baseei-me, sem nenhuma ironia, no que aconteceu nas eleições presidenciais de 2006, no auge dos ataques contra o governo, quando Lula foi reeleito por larga margem, e em 2010, em que o ex-presidente mais bem avaliado da história fez de Dilma Rousseff a sua sucessora.
Ao contrário do que poderiam esperar a oposição e a mídia aliada, todo o noticiário sobre o mensalão com críticas ao PT em nada abalou o favoritismo de Dilma em 2014: até aumentou a diferença da presidente em relação aos seus mais prováveis concorrentes, Aécio Neves e Eduardo Campos.
Dilma tinha 41% e foi para 43%, enquanto Aécio permanecia empacado em 14% e Eduardo Campos istrava uma queda de 10% para 7%, voltando a um dígito.
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Só Dilma sobe e aumenta a diferença / Foto: Montagem/R7
O que mais me chamou a atenção nesta pesquisa _ e por isso me referia Aécio e Eduardo como de adversários mais prováveis _ é que ambos ficam com índices bem abaixo das suas sombras, José Serra e Marina Silva, respectivamente. A grande disputa, pelo menos até março, abril, não vai se dar entre governo e oposição, mas dentro do PSDB e do PSB para ver quem será o cabeça de chapa.
Ontem, por exemplo, em nova pajelança tucana, desta vez em Poços de Caldas, Minas, com a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador paulista Geraldo Alckmin, José Serra simplesmente fez questão de não aparecer, fato da maior relevância que a imprensa procurou esconder. E a palavra que mais se ouviu nos discursos foi "unidade". Enquanto isso, Eduardo Campos continuava sua romaria para criticar o governo em encontros com empresários e financistas de São Paulo, que têm muitos recursos, mas escassos votos.
Apesar de todo o barulho, os ventos continuam soprando a favor da presidente Dilma Rousseff, que procura manter seu governo o mais distante possível das discussões sobre o mensalão. Os números do Ibope apenas confirmam o acerto da estratégia. Resta saber como reagirão setores do PT, que vêm cobrando uma posição mais afirmativa de Dilma na defesa dos companheiros presos.
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POLÍTICA - A gaiola das loucas.

MENSALÃO, ÚLTIMOS CAPÍTULOS

A gaiola das loucas

Por Luciano Martins Costa

A apresentação dos condenados na Ação Penal 470, ocorrida na sexta-feira (15/11), destampou a caixa de Pandora da imprensa e produz uma catarse que avança até esta segunda-feira (18/11) nas páginas dos jornais e nos campos de comentários de suas versões digitais.
Petistas e antipetistas chegam ao paroxismo nas redes sociais, enquanto alguns colunistas e blogueiros que se notabilizaram nos últimos anos pelo uso indiscriminado de adjetivos celebravam como se a decisão do Supremo Tribunal Federal fosse uma vitória definitiva do bem contra o mal.
As reportagens dos jornais e a versão resumida das revistas semanais de informação representam uma espécie de capítulo final de uma novela da televisão, com as costumeiras lições de moral e a repetição do olhar parcial que marcou a atuação da imprensa hegemônica durante todo o processo. O resultado é apenas muita histeria.
Isolada em sua opção centrista, Carta Capital tende a considerar a prisão dos condenados uma precipitação do STF, e levanta a hipótese de uma candidatura do presidente do Supremo, ministro Joaquim Barbosa, à presidência da República.
A revista Época, dada ultimamente a brados retumbantes, sai-se com a afirmação de que a decisão judicial “inaugura uma nova era na democracia brasileira – a Era dos Corruptos na Cadeia”.
IstoÉ dá uma no cravo e outra na ferradura, acompanhando o vozerio geral mas lembrando que há muito mais a ser apurado e punido para que se possa celebrar alguma mudança nos hábitos da política – cita o caso da máfia dos fiscais na capital paulista e vasculha a gaveta do procurador do estado Rodrigo De Grandis, que quase anulou o esforço das autoridades da Suíça para condenar os acusados em desvios em obras do metrô e do sistema de trens, e é apanhado protegendo agentes públicos, empresários e lobistas envolvidos no escândalo.
A revista Veja, que há muito trocou o jornalismo pela panfletagem, faz o que se espera dela: transformou a expedição dos mandados de prisão de doze dos condenados em tema de comício para o que há de mais conservador entre seus leitores, com sua peculiar interpretação da história recente.
A Folha de S. Paulo, que nas últimas semanas faz um esforço por dividir a clientela de Veja, tem abrigado alguns dos textos mais destemperados que o público pode apreciar.
Espalhados pelos principais órgãos de comunicação do país, alguns desses autores celebram os fatos como uma vitória pessoal, num despudor de jornalismo marrom.

O zoológico de Brasília

A imprensa brasileira, que nos dias anteriores parecia à beira de um ataque de nervos, inicia a nova semana com um desafio a ser observado: como qualificar o que virá depois da catarse.
Como num zoológico, os presos têm sua rotina devassada, revelando-se que comem com talheres de plástico, dormem em colchões vagabundos e não têm banho quente na prisão em Brasília.
Se, como afirma Época explicitamente, começou a era da honestidade na democracia brasileira, é de se questionar quando o leitor vai conhecer os detalhes daquela denúncia de cartel sem culpados e o caso do esquema de desvios que minou a capacidade de investimento da prefeitura de São Paulo durante quase dez anos.
Curiosamente, é na Folha, onde passaram a se abrigar alguns dos mais alucinados representantes do pensamento reacionário, que sai o artigo mais explícito em defesa dos líderes do PT enviados para a prisão. “Num país onde Paulo Maluf e Brilhante Ustra estão soltos, enquanto Dirceu e Genoíno dormem na cadeia, até um cego percebe que as coisas estão fora de lugar”, diz o texto.
Interessante observar também que tanto esse articulista, como aqueles que hoje aparecem em posições conservadoras, militaram, durante a juventude, na mesma tendência trotskista, que no movimento estudantil se chamava Liberdade e Luta.
A prisão dos antigos dirigentes do Partido dos Trabalhadores não terá, necessariamente, grande influência nas eleições do ano que vem, porque o desgaste maior ocorreu durante o longo processo, e de lá para cá a aliança governista permanece no poder. O fim do processo deve reduzir o nível de histeria geral na “gaiola das loucas” em que se transformou o noticiário político.
Daqui para a frente, o leitor atento deve caprichar em suas anotações, registrando diariamente o esforço que a imprensa hegemônica certamente vai fazer para cobrar o rigor dos “novos tempos da Justiça” também nos outros casos corrupção.
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Quando março chegar



A ida dos presos para cadeias injustificáveis em Brasília proporcionou um espetáculo de marketing

Na conturbada sessão do Supremo Tribunal Federal de quarta passada, quando decididas as prisões do mensalão sem esperar pelo fim dos recursos de defesa, um dos vários incidentes surgiu e repicou insistentemente sem sequer indício de algo que o explicasse. A ocorrência das prisões no 15 de novembro não só o explicou, como explicou muito mais. E com mais importância.

Já a antecipação das prisões entrava em discussão. Ricardo Lewandowski ponderou que, tendo o procurador-geral da República entrado com novo documento no processo, do qual o ministro recebera cópia e notara o despacho "Junte-se" assinado por Joaquim Barbosa, cabia à defesa pronunciar-se a respeito. Marco Aurélio Mello endossou de pronto a ponderação, pronunciamento de uma parte chama o da outra. O documento propunha as prisões imediatas.

Joaquim Barbosa desfechou, com raiva, um ataque súbito ao procurador-geral Rodrigo Janot, sentado à sua direita, por lhe mandar o documento na véspera, o qual nem ao menos lera antes de despachar. Do seu teor só tomava conhecimento ali, naquela hora.

Não precisaria dizer, aqui, que Marco Aurélio Mello se esbaldou em gozações ao presidente do tribunal que confessava assinar e despachar documentos sem os ler. Barbosa repetiu, e repetiu mais, o ataque à atitude de Janot, no entanto adotada com perfeita formalidade e no seu direito funcional.

Também não precisaria dizer que Joaquim Barbosa atropelou a ponderação sobre um direito de defesa e um dever de juízo, e aparentemente foi acompanhado pela maioria (com a intensidade da balbúrdia, o presidente não conseguiu formular o sentido e a forma da decisão do tribunal; adiou-a, e não a expôs na sessão seguinte).

Mas toda a crítica raivosa, que o procurador-geral Rodrigo Janot ouviu como um soldado ao tenentinho que experimenta o seu recente poder de humilhar, ficou explicada no feriado. Já em meio à exaltação com Marco Aurélio e Janot, aliás, Joaquim Barbosa dissera que já tinha preparada a medida quando o procurador-geral a pedira. Mas, na sessão, isso não pareceu importante porque nada levava a prever-se a intenção de Joaquim Barbosa de determinar as prisões para 15 de novembro.

Claro, com seu pedido, o procurador-geral pôs-se na iminência de se apropriar das prisões e dos efeitos promocionais decorrentes de providenciá-las. Mesmo não sendo esse o propósito de Rodrigo Janot, foi até manchete de primeira página com o que pedia. A intenção marqueteira pulou-lhe na garganta.

A ida dos presos de São Paulo, Belo Horizonte e Goiânia, cidades de suas residências, para cadeias injustificáveis em Brasília foi, mais do que sem sentido, por isso mesmo sem amparo legal. Mas proporcionou um espetáculo de marketing político extraordinário pelo alcance, social e geográfico, e pela concentração precisa sobre o beneficiário. Se apenas para colher palmas em lugares públicos ou para mais que isto, saberemos quando março encerrar o prazo especial de inscrições partidárias-eleitorais. Mas a convicção de que não será preciso esperar até lá, com as indicações dadas pelo espetáculo fabricado para o 15 de novembro, já supera as prisões como assunto na política. 

Janio de Freitas
No fAlha
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Gurgel e Barbosa serão condenados pela História


Pedro Maciel
PEDRO MACIEL 
A Ação Penal 470 foi um julgamento de exceção. E seus principais condutores, Gurgel e Barbosa, serão julgados e condenados pela História como carrascos e inquisitores que são
Eu considero que a AP 470 é um todo viciado. Tratou-se de um julgamento de exceção e um julgamento político e a execução parcial da sentença penal é apenas mais uma prova disso, fato do qual qualquer cidadão honesto deve envergonhar-se. E seus principais condutores, Gurgel e Joaquim Barbosa, serão julgados e condenados pela História como carrascos e inquisitores que são.
Aliás, a ação da Procuradoria Geral da República na AP 470 durante todo o processo careceu de técnica jurídica. A ponto de Luiz Moreira, membro do Conselho Nacional do Ministério Público e direito da Faculdade de Direito de Contagem, ter afirmado que a acusação da AP tem uma estrutura montada a partir de ficção literária, conforme a associação de versões verossimilhantes.
Mais uma "inovação" é colocada em prática para prender o Ministro José Dirceu. Nesse momento a PGR e a Presidência do STF iniciam execução parcial da sentença. Não há execução parcial de sentença penal porque as liberdades são indisponíveis, isto é, não há acordos que resultem em antecipação de penas, pois o regimento jurídico ainda vigente no Brasil é o dos direitos fundamentais.
"É evidente o afobamento dos inquisidores, a falta de cuidado e esse ultrapassar as barreiras civilizatórias, em que os direitos são negligenciados, fazendo-se coincidir o "fazer justiça" com justiciamento" (leia aqui).
Não podemos esquecer-nos da casuística negativa de remessa dos autos à Primeira Instância. O STF negou a remessa dos autos à primeira instância, em relação aos réus que não tinham foro privilegiado mudando, sem qualquer fundamento legal, entendimento do próprio colegiado. Só esse fato vicia a AP 470 e os Princípios do devido processo legal e a ampla defesa e afetou à morte a necessidade de aplicar-se o duplo grau de jurisdição. O Supremo julgou todos os denunciados como se estivessem incursos no único dispositivo que permite isso — o artigo 101 da Constituição o que não é verdade.
A regra dos dois graus de jurisdição é universal, por assim dizer. Os ministros do Supremo passaram por cima dessa regra, eles não quiseram nem saber sua importância. Isso é um absurdo em minha opinião. Esse é o primeiro ponto.
O segundo ponto é que os ministros do Supremo adotaram um princípio que, a meu ver, é incabível. O princípio de que as pessoas são culpadas até que se prove o contrário. A regra é outra: as pessoas são inocentes até que se prove o contrário.
E no caso de José Dirceu, a PGR partiu da tese que o Dirceu era culpado, porque ele era hierarquicamente superior às outras pessoas. E que isso bastaria para configurar a responsabilidade dele. Portanto, uma responsabilidade objetiva. Isso é outro absurdo. Isso cria uma insegurança jurídica enorme. A AP 470 contrariou a tradição jurídica ocidental, talvez "até universal", mas, "com certeza, a tradição jurídica ocidental", como disse o jurista Celso Antonio Bandeira de Mello. E o caso paradigmático disso é justamente o do José Dirceu. Esse julgamento foi levado a circunstâncias anômalas. Tanto que o ministro Luís Roberto Barroso, antes de ser empossado no Supremo, disse que aquela decisão era um ponto que ele considerava fora da curva. O que ele quis dizer com isso? Que alguma coisa estava fora da linha de julgamento do Supremo. Houve casuísmo.
O fato é que parte da mídia, a serviço de seus interesses e de seus patrocinadores, sempre pré-julga. E no caso do mensalão, pré-julgou. A pessoa que corresponde às expectativas da mídia passa a ser o herói nacional e quem não corresponde passa a ser o vilão. Esse é um problema muito sério, que se vê, sobretudo, em casos criminais. O mensalão é um caso criminal, de pressão da mídia que forma a opinião pública. Não é a pressão da opinião pública, porque a opinião pública é manejada pela mídia. Eu não estou querendo defender a posição do relator ou do revisor, porque eu não conheço o processo. Mas nos casos criminais do Brasil, o que é proibido em outros países, a mídia condena sem processo e dificilmente absolve. As interceptações telefônicas, por exemplo, devem correr em segredo de Justiça, mas sai tudo no jornal! Isso é crime. Mas quem é que forneceu a informação? Quem tem interesse em fornecer a informação? Ninguém nunca foi atrás, como afirmou a Jurista Ada Pellegrinni, professora da Faculdade de Direito da USP.
E há fatos antecedentes à própria AP 470 que merecem nossa atenção, como por exemplo, a necessidade de mudança casuísta da Jurisprudência do STF para possibilitar a cassação de Zé Dirceu pela Câmara dos Deputados. O então Deputado Federal Zé Dirceu foi cassado pela Câmara dos deputados por quebra de decoro parlamentar, em razão de supostos atos praticados enquanto estava licenciado. Até então a jurisprudência afirmava que deputado licenciado não poderia ter seus atos apurados, enquanto licenciado, mas não podemos esquecer que a cassação só foi possível porque o Supremo alterou a jurisprudência (por 7 x 4).
Alterou-se a jurisprudência especialmente para cassar Zé Dirceu?
Desde o oferecimento da denúncia, é evidente que houve pressão externa sobre o Supremo para que esse julgamento tivesse o caráter político e de exceção, tanto que se partiu da "verdade" que Zé Dirceu era culpado.
Outro fato inédito: toda vez que um partido denunciante retirava denúncia junto à Comissão de Ética a comissão arquivava o processo, o PTB retirou a representação contra Zé Dirceu, mas, pela primeira vez, não ocorreu o arquivamento. Por quê?
Não foram apresentadas provas pela PGR, o então Procurador Geral da República afirmou, em relação ao Zé Dirceu, que "as provas são tênues". Então, para condenar Zé Dirceu (essa era tarefa do isento colegiado do STF?) foi adaptada a "Teoria do Domínio do Fato" e o julgamento foi deliberadamente marcado no período eleitoral, um absurdo. Por quê? Apenas para condenar os réus do mensalão e Zé Dirceu?
Quem afirma que a aplicação da "Teoria do Domínio do Fato" deu-se erroneamente é o jurista alemão Claus Roxin, estudioso da teoria do domínio fato. Ele afirmou que a teoria foi usada casuisticamente pelos ministros do Supremo Tribunal Federal para condenar Zé Dirceu e discordou da interpretação e aplicação dada a ela. Não é demais lembrar que Roxin aprimorou a teoria, corrige a noção de que só o cargo serve para indicar a autoria do crime e condena julgamento sob publicidade opressiva, como está acontecendo no Brasil. "Quem ocupa posição de comando tem que ter, de fato, emitido a ordem. E isso deve ser provado", diz Roxin. Penso que alguns aspectos da decisão do STF em relação a AP 470, como a injustificada e equivocada aplicação da "Teoria do Domínio do Fato", nos colocam num estado de unsicherheit e de profunda tristeza.
Mas Gurgel, seu sucessor Barbosa e outros maus juízes serão condenados pela História.
E não podemos esquecer-nos da tragédia pessoal que isso causa a inocentes como Zé Dirceu. Mas o ódio, as infâmias, a calúnia não abateram o ânimo de José Dirceu de Oliveira e Silva. Ele segue sua vida militante e nos oferece como exemplo seu otimismo e confiança no povo brasileiro, na democracia e nas instituições. Parece nada recear e serenamente segue fazendo de sua vida História.
Zé Dirceu enfrenta tudo com luta e dignidade, mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, pois sabe o valor de sua obra e tem a consciência limpa. Talvez seja essa uma das razões pelas quais seus amigos estão e estarão com ele, não haverá desamparo. As aves de rapina querem sangue, querem continuar sugando o povo brasileiro, e contra isso Zé Dirceu oferece seu silencio como fortaleza e sua consciência como exemplo. E aos que o pensam derrotado ele responde com um sorriso largo e generoso e com atos que buscarão a afirmação de seus direitos pelas vias democráticas e institucionais, um exemplo.
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