GEOPOLÍTICA - Novo jogo, nova obsessão, novo inimigo – agora é a China

Novo jogo, nova obsessão, novo inimigo – agora é a China

por John Pilger
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Somalia. Países são "peças num jogo de xadrez sobre o qual está a ser efectuado um grande jogo para a dominação do mundo", escreveu Lord Curzon, vice-rei da Índia, em 1898. Nada mudou. O massacre no centro comercial em Nairobi foi uma fachada sangrenta por trás da qual uma invasão em grande escala da África e uma guerra na Ásia constituem o grande jogo.

Os assassinos do centro comercial al-Shabaab vieram da Somália. Se algum país é uma metáfora, este é a Somália. Partilhando uma língua e religião comuns, os somalis foram divididos entre os britânicos, franceses, italianos e etíopes. Dezenas de milhares de pessoas foram passadas de uma potência para outra. "Quando se faz com que se odeiem entre si", escreveu um responsável colonial britânico, "a boa governação está assegurada".

Hoje, a Somália é um parque temático (theme park) de divisões artificiais brutais, um país há muito empobrecido pelos programas de "ajustamento estrutural" do Banco Mundial e FMI e saturado de armas modernas, nomeadamente aquela da preferência pessoal do presidente Obama: o drone. O único governo estável somali, o dos Tribunais Islâmicos, era "bem aceite pelo povo nas áreas que controlava", relata o US Congressional Research Service, "[mas] recebia cobertura negativa da imprensa, especialmente no Ocidente". Obama esmagou-o e, em Janeiro, Hillary Clinton, então secretária de Estado, apresentou o seu homem ao mundo. "A Somália permanecerá grata pelo apoio resoluto do governo dos Estados Unidos", rejubilou-se o presidente Hassan Mohamud, "obrigado América".

A atrocidade do centro comercial foi uma resposta a isto – assim como o ataque às Torres Gémeas e as bombas de Londres foram reacções explícitas à invasão e injustiça [NR] . Outrora de pouca importância, agora o jihadismo marcha em uníssono com o retorno do imperialismo descarado.

Desde que em 2011 a NATO reduziu a Líbia moderna a um estado hobbesiano, os últimos obstáculos para [o avanço sobre] a África caíram. "Disputas por energia, minerais e terra fértil provavelmente ocorrerão com intensidade crescente", relatam planeadores do Ministério da Defesa. Eles prevêem "números elevados de baixas civis", portanto "percepções de legitimidade moral serão importantes para o êxito". Sensível ao problema de RP de invadir um continente, o mamute das armas, a BAE Systems, juntamente com o Barclay Capital e a BP advertem que "o governo deveria definir sua missão internacional como administradores de risco em nome dos cidadãos britânicos". O cinismo é letal. Governos britânicos são reiteradamente advertidos, nada menos que pelo comité de inteligência e segurança parlamentar, que aventuras estrangeiras chamam por retaliações em casa.

Bases dos EUA em África. Com o mínimo de interesse dos media, o US African Command (Africom) instalou tropas em 35 países africanos, estabelecendo uma rede familiar de pedintes autoritários ansiosos por subornos e armamentos. Em jogo de guerra, uma doutrina "soldado por soldado" embebe oficiais dos EUA em todos os níveis de comando, desde o general até o primeiro-sargento. Os britânicos fizeram o mesmo na Índia. É como se a orgulhosa história de libertação da África, desde Patrice Lumumba até Nelson Mandela, fosse remetida ao esquecimento pelos mestres de uma nova elite colonial negra cuja "missão histórica", advertiu Frantz Fanon meio século atrás, é a subjugação do seu próprio povo para a causa de "um capitalismo desenfreado embora camuflado". A referência também é adequada ao Filho da África na Casa Branca.

Para Obama, há uma causa mais premente – a China. A África é a história de êxito da China. Onde os americanos trazem drones, os chineses constroem estradas, pontes e barragens. O que os chineses querem é recursos, especialmente combustíveis fósseis. O bombardeamento da Líbia pela NATO expulsou 30 mil trabalhadores chineses da indústria petrolífera. Mais do que o jihadismo ou o Irão, a China é agora a obsessão de Washington na África e para além dela. Isto é uma "política" como o "eixo para a Ásia", cuja ameaça de guerra mundial pode ser tão grande como qualquer outra na era moderna.

A reunião desta semana em Tóquio do secretário de Estado John Kerry e o secretário da Defesa Chuck Hagel com os seus homólogos japoneses acelerou a perspectiva de guerra com o novo rival imperial. Sessenta por cento das forças navais dos EUA estão para serem baseadas na Ásia em 2020, tendo a China como objectivo. O Japão está a rearmar-se rapidamente sob o governo de direita do primeiro-ministro Shinzo Abe, que chegou ao poder em Dezembro com uma promessa de construir uma "nova e forte força militar" e contornar a "constituição pacífica". Um sistema de mísseis anti-balísticos dos EUA e Japão, próximo de Quioto, é dirigido à China. Utilizando drones Global Hawk de longo alcance, os EUA aumentaram drasticamente suas provocações nos mares a Leste e ao Sul da China, onde Japão e China disputam a propriedade das ilhas Senkaku/Diaoyu. Aviões avançados de descolagem vertical agora estão instalados no Japão; o seu propósito é a guerra relâmpago (blitzkrieg).

Na ilha de Guam, no Pacífico, a partir da qual os B-52s atacavam o Vietname, a maior acumulação militar desde as guerras da Indochina inclui 9.000 Fuzileiros Navais dos EUA. Na Austrália esta semana, uma feira de armas e um festival (jamboree) militar que divertiu grande parte de Sidney, está em consonância com uma campanha de propaganda do governo para justificar uma acumulação militar sem precedentes desde Perth até Darwin, destinada à China. A vasta base estado-unidense em Pine Gap, próxima de Alice Springs, é, como revelou Edward Snowden, um centro de espionagem dos EUA na região e para além dela; e também crítico para os assassinatos de Obama à escala mundial através de drones.

"Temos de informar os britânicos para mantê-los do nosso lado", disse certa vez um secretário de Estado assistente dos EUA, McGeorge Bundy, [ao passo que] "vocês na Austrália estão connosco, aconteça o que acontecer". Forças australianas desde há muito desempenham um papel mercenário para Washington. Contudo, há uma dificuldade. A China é a maior parceira comercial da Austrália e em grande parte foi graças a ela que a Austrália escapou à recessão de 2008. Sem a China, não haveria boom de minérios: nenhum rendimento mineiro de mais de mil milhões de dólares por semana.

Os perigos que isto apresenta raramente são debatidos em público na Austrália, onde o patrão do primeiro-ministro Tony Abbott, Rupert Murdoch, controla 70 por cento da imprensa. Ocasionalmente, manifesta-se ansiedade sobre a "opção" que os EUA querem que a Austrália faça. Um relatório do Australian Strategic Policy Institute adverte que quaisquer planos dos EUA para atacar a China envolveriam "cegar" a vigilância chinesa, seus sistemas de inteligência e comando. Isto "consequentemente aumentaria as possibilidade de antecipação nuclear chinesa... e uma série de erros de cálculo de ambos os lados se Pequim perceber ataques convencionais à sua terra natal como uma tentativa de desarmar sua capacidade nuclear".

No seu discurso ao país do mês passado, Obama disse: "O que torna a América diferente, o que nos torna excepcionais, é que nos dedicamos a actuar".
[NR] É altamente contestável que o ataque do 11/Set tenha sido uma reacção à "invasão e injustiça". Este ataque pode ser comparado com o incêndio do Reichstag (ateado por ordem de Göring em 1933 a fim de culpar os comunistas e justificar as medidas nazis de excepção que se seguiram). Sobre o 11/Set ver por exemplo Another Nineteen: Investigating Legitimate 9/11 Suspects , de Kevin Robert Ryan, 2013, Microbloom, 418p., ISBN 978-1489507839.

O original encontra-se em johnpilger.com/articles/old-game-new-obsession-new-enemy-now-its-china

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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PETRÓLEO - Parceria com chineses é 'jogo de xadrez', diz pesquisador


Parceria com chineses é 'jogo de xadrez', diz pesquisador

A participação de petroleiras asiáticas no leilão do campo de Libra, na Bacia de Santos, deve demandar atenção da parte do governo brasileiro. Na opinião de Alexandre Szklo, especialista em planejamento energético e doutor pela Coppe-UFRJ, centro de referência em estudos de energia, uma eventual parceria entre a Petrobras e empresas da Ásia é uma espécie de "jogo de xadrez", em que, de um lado, as petroleiras asiáticas têm a capacidade financeira necessária para investir, e, do outro, o Brasil tem o conhecimento tecnológico e o recurso energético. Segundo ele, o Brasil tem que "dormir com o inimigo, mas de olho aberto". Entre as "armadilhas" a serem evitadas estão apressar a produção e ficar à mercê da indústria chinesa, e perder o "know-how" tecnológico.
"A questão é como ter acesso a esse dinheiro, sem transferir conhecimento, sem a perda do domínio do recurso", afirmou o pesquisador, que colaborou com a Agência Internacional de Energia (AIE) em um recente estudo sobre investimentos e transferência de tecnologia entre o Brasil e a China.
A entrevista é de Cláudia Schüffner e Rodrigo Polito e publicada pelo jornal Valor, 17-10-2013.
Szklo apresentou cálculos feitos pela Coppe-UFRJ, que prevê que o pré-sal das bacias de Santos, Campos e Espírito Santo tenha reservas recuperáveis de 50 a 60 bilhões de barris de óleo e gás. Em 2012, as reservas provadas do país eram 15,3 bilhões, e o fato de o Brasil ter esse potencial, diz, não é uma "maldição". "Temos que lembrar que os EUA, no século passado, se desenvolveram economicamente como grande produtor de petróleo", diz.
A estimativa da Coppe é que Libra esteja produzindo em torno de 400 mil barris/dia em 2022, quando o Brasil alcançará cerca de 4,5 milhões de barris/dia de produção. Para isso, o país terá que contratar 34 novas plataformas de produção, quase dobrando a frota, a maior do mundo, em dez anos.
Eis a entrevista.
Qual o potencial de recursos do pré-sal das bacias de Santos, Campos e Espírito Santo?
Existem várias estimativas de potencial. Uma estimativa mediana, associada não apenas à existência do recurso, mas à possibilidade técnica e econômica de extrair esse recurso, seria na faixa de 50 a 60 bilhões de barris. O refinamento dessa informação vai vir do campo de Libra, porque é uma área com baixo risco geológico, e sobre o qual há uma boa estimativa. Já existe uma projeção de reserva com uma faixa relativamente ampla, entre 8 bilhões e 13 bilhões de barris.
Qual a previsão de barris de volume total de óleo na área?
Na faixa de 100 a 110 bilhões de barris de óleo in "place", mas são estimativas indiretas.
Em que momento, vamos exportar petróleo em volumes importantes?
O Brasil está com uma perspectiva de ampliação de seu parque de refino para algo na faixa de 3 milhões de barris/dia de capacidade operacional, não em capacidade nominal. A estimativa da Coppe para a produção de petróleo em 2020 está na faixa de 4,5 milhões a 5 milhões de barris/dia, dependendo do ritmo de incorporação de reservas. Qualquer que seja esse cenário, o mais provável é que a gente esteja falando em uma exportação de óleo na faixa de 2 milhões de barris/dia em 2022.
Isso imaginando que a Petrobras consiga financiar as novas refinarias Premium 1 e 2?
Conseguir achar recursos para financiar o refino não é trivial. Estamos falando de um país que tem um preço que não segue tanto a paridade de importação, que usa os derivados para controlar pressão inflacionária. Então, a margem de refino não é uma margem que atrai investimento privado. Por outro lado, a parte de exploração e produção é muito rentável. Temos feitos simulações de curva de produção no pré-sal e, por mais que os custos sejam mais altos que os do pós-sal, estamos falando em rentabilidade na faixa de 20% a 30% ao ano, dependendo da qualidade do óleo e da localização.
Como avalia o interesse das petroleiras na área?
O óleo do pré-sal é um recurso valioso para algumas empresas, que hoje têm capacidade de investimento e aceitam rentabilidades menores do que essa, que são as empresas asiáticas, que querem ter petróleo. A discussão pode sair um pouco do campo microeconômico, de se conseguir dinheiro e se alavancar para produzir, e ir para o campo macroeconômico e geopolítico. Pelo lado macroeconômico, existe a dificuldade da indústria brasileira de fazer esse ritmo de produção. Pelo lado geopolítico, saber se realmente interessa ter a entrada de grandes players asiáticos no mercado de petróleo brasileiro. A Sinopec tem muito recurso para entrar em parcerias em refino no Brasil, mas ela quer, em troca, também entrar no pré-sal e adquirir expertise na tecnologia offshore [marítima].
Caso os chineses entrem em Libra, terão acesso à tecnologia?
A Petrobras é a operadora e o desejo dela é não dar esse acesso. Da mesma forma, a Sinopec está tendo dificuldade em ter acesso às informações com a Repsol. Na aquisição, pela Sinopec, de parte de campos produtores da Repsol em águas ultraprofundas, a Repsol foi muito ciosa da sua tecnologia. A Petrobras é muito ciosa disso também, corretamente eu diria. As empresas chinesas estão muito agressivas nessa questão de aquisição de tecnologia. A primeira plataforma semisubmersível na China só foi lançada no fim de 2011. As chinesas ainda estão lutando por dois objetivos: ter petróleo e adquirir capacitação tecnológica.
O que acha da hipótese de a Petrobras ser financiada pela China para ir além dos 30% em Libra, pagando depois em petróleo?
A grande questão é que o petróleo tem que gerar valor. Não é verdade que o petróleo é fruto de armadilha, de falta de desenvolvimento, porque temos que lembrar sempre que os EUA, no século passado, se desenvolveram como grande produtor de petróleo. Ter um recurso não é uma maldição. Mas tem que saber usar. Fazer um acordo, receber fundos da China e entregar volumes de petróleo, mas desenvolver a indústria nacional, e manter sob o domínio de empresas brasileiras a capacidade tecnológica de extrair os recursos, não é necessariamente um problema.
Se prevê que, se os chineses entrarem em Libra, haverá pressão por encomendas de plataformas e equipamentos na China.
Sem dúvida. Essa é uma preocupação. Outra preocupação é estabelecer uma parceria e perder uma expertise em uma área onde a Petrobras é a grande detentora de know-how. É óbvio que existem essas armadilhas, mas, por outro lado, existe uma liquidez muito grande na China e uma capacidade de financiamento.
É uma questão mais geopolítica do que econômica, então?
Esse leilão corre grande risco de ser enviesado muito fortemente por questões de segurança energética de países asiáticos e, sobretudo, por uma política de investimento externo de petroleiras asiáticas, com apoio dos governos do Sudeste Asiático. É um jogo de xadrez. De um lado, eles têm o dinheiro. De outro, o Brasil tem o conhecimento e o recurso energético. A questão é como ter acesso a esse dinheiro, sem transferir conhecimento e sem ter a perda completa do domínio do recurso.
O que acha da possibilidade de se retirar a obrigação de a Petrobras ser operadora única do pré-sal na partilha?
Minha opinião, em particular, é que essa não seria uma boa estratégia.
O que a produção em Libra vai demandar em plataformas?
Nas nossas estimativas para 2022, para o Brasil inteiro atingir o nível de produção em torno de 4,5 milhões de barris/dia, precisaríamos de 32 a 34 FPSOs [sigla em inglês para plataforma flutuante de produção, armazenamento e transferência] novos. No mundo existem cerca de 160 FPSOs operando, sendo 34 no Brasil. Estamos falando em dobrar o que já temos no Brasil, em menos de dez anos. O que torna isso difícil é a questão do conteúdo local. Tenho participado muito de banca de pesquisa operacional na engenharia naval sobre montagem de navios. O que vemos nos trabalhos técnicos não é apenas o custo mais alto, mas também o tempo de construção. No Brasil, tende a ser o dobro do que no Sudeste Asiático. Mas existe capacidade ociosa em navios no mundo e há possibilidade de converter navios em FPSO.
Qual a sua previsão de produção de petróleo em Libra?
Para se ter uma ideia, boa parte da produção nova de petróleo em 2020 será da cessão onerosa, e uma produção de pré-sal que está sob concessão. A porção do modelo de partilha em 2022, de acordo com nossas estimativas, é em torno de 400 mil barris/dia.
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Classes e luta de classes: o início



Por Wladimir Pomar*

Se há algo de positivo na propaganda sobre a nova classe média, ela consiste em haver despertado muita gente para o fato de que as classes sociais existem. O longo descenso da luta de classes no Brasil, desde meados dos anos 1980, e as novas formas que ela assumiu, levaram muitos a supor que as classes haviam deixado de ser os atores principais da sociedade. E fez com que esquecessem que a sociedade se move e se transforma, fundamentalmente, em virtude da luta entre elas.

Já as manifestações de junho de 2013 tiveram o mérito de colocar em pânico os formuladores da teoria da nova classe média, ao mesmo tempo em que impuseram a necessidade de discutir a estrutura de classes da sociedade brasileira e os caminhos que a luta entre elas pode seguir. Nesse sentido, o livro A “Nova Classe Média” no Brasil como Conceito e Projeto Político, organizado por David Danilo Bartelt, da Fundação Heinrich Böll, incentiva essa discussão, trazendo à tona diferentes abordagens.

Vários de seus autores frisam que, para a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) do governo, o conceito de classe média é apenas um instrumento analítico para hierarquizar a heterogeneidade das famílias brasileiras, de forma a identificar o grupo no meio da pirâmide social. Eliana Vicente, porém, reitera que existem várias metodologias para se classificar socioeconomicamente a população de um país. No caso brasileiro, a despeito das variações metodológicas, quase todas utilizam o critério renda, diferindo apenas a maneira como essa variável será operacionalizada.

Certamente por isso, Jessé Souza reitera que o tema da produção e reprodução das classes sociais no Brasil é dominado por uma leitura economicista e redutora da realidade social, que pressupõe que as determinações econômicas são as únicas variáveis realmente importantes para o conceito de classe. Segundo ele, a tese central de Márcio Pochmann seria a de que todo o movimento positivo da pirâmide social brasileira, na primeira década do século 21, na verdade teria envolvido postos de trabalho que se encontram na base daquela pirâmide. Portanto, afora uma diferença de tom, não existiria nenhuma diferença substancial com a análise da SAE, que adotou as conclusões dos estudos desenvolvidos pelo economista Marcelo Neri.

Apesar disso, em concordância com Pochmann e em oposição a Neri, uma série de autores utiliza o conceito de renda para analisar a evolução social. Waldir José de Quadros e outros asseguram que a constituição da nova classe média no Brasil ocorreu nos anos 1970, durante omilagre econômico que promoveu o emprego urbano baseado nas novas ocupações de colarinho branco. A classe C, símbolo do crescimento recente, estaria longe dos padrões e estilo de vida que teriam caracterizado aquela nova classe média como a novidade do século 20.

Ainda de acordo com eles, a alta classe média, incluindo ocupações típicas (médicos, professores do ensino superior, engenheiros, empresários etc.), conforme Wright Mills, seria o topo da estrutura social, dado que as pesquisas não captam adequadamente a representação social dos ricos.

Sonia Fleury, por sua vez, sugere que, ao dissociar a ascensão da classe C das condições de emprego e trabalho, opera-se uma descontextualização política e ideológica que impede a tematização da superexploração e endividamento dessa população. E Eliana Vicente reitera que chamar a população emergente de nova classe média parece demonstrar que o país está fundamentado na classe média e não na imensa massa de trabalhadores manuais, trabalhadores do setor de serviços, nos pobres e excluídos.

Reiterando que todas essas visões são economicistas, Jessé Souza adota a linha do sociólogo francês Bourdier, segundo a qual o conceito de capital não seria apenas uma categoria econômica, mas incluiria tudo que assegure acesso privilegiado aos bens e recursos escassos em disputa pela competição social.

Portanto, além do capital econômico, haveria um capital cultural e um capital social. Ascender socialmente só seria possível a quem logre as pré-condições para a incorporação de distintas formas de conhecimento e de capital cultural. Este capital cultural seria a porta de entrada em qualquer dos setores competitivos do capitalismo.

Nesse contexto, a ralé formaria uma classe social específica, reduzida a energia muscular, posto que não dispõe, mesmo em medida significativa, de pré-condições para a incorporação do capital cultural, indispensável no capitalismo moderno para o trabalho no mercado competitivo. Os batalhadores, por sua vez, representariam a fração das classes populares que lograram sair do círculo vicioso da ralé, constituindo uma nova classe trabalhadora, diferente da classe trabalhadora tradicional.

Cândido Grzybowski, no entanto, considera que não estamos diante de uma mudança de classes sociais. As classes sociais não seriam uma linha ascendente, mas uma estrutura de relações que as opõem umas às outras e as diferenciam. O esforço de ver classes sociais por nível de consumo seria politicamente direcionado, para ocultar a lógica que opera numa sociedade, onde para ser rico tem que ter pobre, patrão supõe empregado, dominante implica dominado.

Bem vistas essas e outras opiniões sobre o assunto, que é estratégico para qualquer política que pretenda transformar a sociedade brasileira, podemos dizer que nos encontramos diante de um enrosco de conceituações e metodologias. O que nos obriga ao uso de uma arqueologia que demonstre o surgimento e caracterização das classes sociais como um produto histórico.

Elas não existiram nos primeiros 150 mil a 200 mil anos de história da humanidade. Até por volta dos 5 a 10 mil anos atrás, todos os seres humanos sobreviviam da coleta e da caça. Suas forças produtivas rudimentares impunham a cada grupo de humanos uma colaboração produtiva natural para realizar seu metabolismo com a natureza. Ao mesmo tempo, os subordinava a um conflito feroz com outros grupos pelos territórios ou campos de coleta e de caça.

Nos grupos humanos a divisão do trabalho se firmou apenas como uma divisão sexual, relacionada com a propriedade natural de instrumentos de trabalho. Aos homens cabia a fabricação e uso dos instrumentos de caça. Às mulheres cabia a fabricação e uso de instrumentos de coleta e da casa. Com a promiscuidade sexual, a organização familiar tinha por base a mulher geradora, prevalecendo o sistema matrilinear.

O crescimento populacional levava à formação de clãs familiares e tribos, que se dividiam em novos clãs e tribos a partir de certo número de membros. Os produtos da coleta e da caça eram repartidos de modo relativamente igualitário entre os membros da família, clã ou tribo. Ao morrerem, homens e mulheres deixavam seus bens à família da mulher. Exemplos vivos desse estágio histórico ainda podem ser observados em diversas etnias indígenas amazônicas.

A divisão social só se instaurou quando os seres humanos de algumas regiões do globo, ricas em animais e plantas, aprenderam a domesticá-los. Na Mesopotâmia, Oriente Médio, Ásia Central, e nos vales dos grandes rios da China, Índia e Egito, as tribos aprenderam, além disso, a criar os animais capazes de fornecer-lhes leite e carne, dando origem à pecuária, e a semear as sementes de cereais, dando origem às lavouras. A criação da agricultura, compreendendo a pecuária e/ou as lavouras, representou uma profunda revolução nas forças ou meios de produção.

Os seres humanos passaram a produzir seus próprios alimentos, de forma organizada e regular. Essa revolução foi seguida da criação de novos instrumentos de trabalho de bronze e ferro. Num processo natural de desdobramento da propriedade anterior dos instrumentos, coube aos homens a propriedade do gado e das ferramentas produtivas. Às mulheres continuou cabendo a propriedade dos utensílios de coleta e caseiros. Na prática, os homens ficaram com a propriedade dos novos instrumentos, capazes de gerar riquezas até então desconhecidas.

Essa mudança na propriedade dos meios de produção introduziu desigualdades profundas nas relações dos homens com as mulheres. Num processo relativamente prolongado, erigiram-se conflitos em torno do direito de herança pela linha materna, da chefia da família, da instauração da monogamia, da exclusividade masculina sobre a religião familiar e da formalização da propriedade privada como regra. Esse processo perdurou por alguns milhares de anos nas sociedades agrárias primitivas daquelas regiões, e resultou no patriarcado antigo. Este consolidou a divisão social, subordinando as mulheres aos maridos, inclusive com o direito de vida e morte sobre elas. Todos os membros da família obedeciam ao patriarca, proprietário privado, pai, chefe, sacerdote e comandante. E a herança passou a ser transmitida por linha paterna.

A agricultura e o artesanato consolidaram-se como economia. E, com esta, surgiu a necessidade da escrita e dos números, para controle da produção, do consumo, dos bens hereditários e da troca dos bens produzidos. O escambo primitivo transformou-se pouco a pouco em comércio, criando a necessidade de criação de um produto que fizesse o papel de equivalente geral. Com a cristalização da propriedade privada dos principais meios de produção, estavam dadas as condições para desdobrar a divisão social entre homens e mulheres em novas classes sociais.

Portanto, como um relâmpago destrutivo numa situação de igualdade econômica, social e cultural, as classes sociais surgiram como resultado da criação de novas forças produtivas em algumas regiões do planeta. Elas introduziram, inicialmente, desigualdades de propriedade e de riqueza, e reviraram totalmente as relações de gênero e familiares, e as relações nos clãs e nas tribos. A partir daí a divisão em classes sociais, e a luta entre elas, passou a ter presença permanente na história dos seres humanos daquelas regiões, enquanto no resto do mundo a história andou mais lenta.

* Wladimir Pomar (foto) é escritor e analista político.

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PETRÓLEO - Petroleiros em greve.

Petroleiros em greve pedem aumento salarial e suspensão do leilão de Libra

Carlos Newton
A mobilização contra o leilão do campo de Libra é impressionante. Militantes das mais diferentes organizações montaram grande número de barracas diante do prédio da Petrobras, com faixas e cartazes.
A pressão é muito forte e esta quinta-feira (17) os trabalhadores da Petrobrás e subsidiárias de todo o País entram em greve, por tempo indeterminado. Além da suspensão do leilão do campo de Libra, marcado para o dia 21, eles  também reivindicam melhorias no índice de reajuste salarial proposto pela empresa e
A greve do dia 17 já foi aprovada por ampla maioria dos petroleiros em assembleias nas bases, após a rejeição de proposta feita semana passada pela Petrobras. Além do reajuste ter sido considerado insuficiente, os petroleiros denunciam que a proposta não contempla várias reivindicações de cláusulas sociais.
“A proposta está bem aquém das expectativas”, afirma o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes.
A empresa propõe reajuste em 7,68% no salário, equivalente a um ganho real entre 1,17% a 1,5%, além de abono correspondente a um salário ou R$ 4 mil, o que for maior. A FUP reivindica 5% de ganho real, mais segurança nos locais de trabalho, fundo garantidor para os terceirizados, melhoria dos benefícios, entre outros itens.
TERCEIRIZAÇÃO
Com a paralisação, os petroleiros também pretendem reforçar a luta contra o Projeto de Lei 4.330, sobre terceirização. Os terceirizados chegam perto de 300 mil funcionários em todo o sistema Petrobras, com cerca de 80% deles em situação irregular, exercendo atividades-fim, mostrando a que ponto chegou a esculhambação na administração pública do país.
Mais informações: www.fup.org.br
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PETRÓLEO - Movimentos voltam às ruas nesta quinta-feira.


Leilão de Libra: movimentos voltam às ruas nesta quinta-feira

Em Dia Nacional de Luta contra o Leilão de Libra, na Bacia de Santos, sindicatos e movimentos sociais voltam às ruas nesta quinta-feira (17). As organizações alertam que o processo do leilão fere a soberania nacional uma vez que é vantajoso apenas para as companhias transnacionais.
O leilão está marcado para a semana que vem. Seu valor está estimado em cerca de 1,5 trilhão e, sozinho, equivale a mais de 80% de todas as reservas provadas da Petrobras descobertas ao longo dos 60 anos de atuação da empresa.
A informação é publicada pelo jornal Brasil de Fato, 16-10-2013.
Em São Paulo, os atos contra o leilão estão marcados para às 17 horas com a concentração na Praça Oswaldo Cruz, região central da capital. Em Campinas, o Comitê Regional contra o Leilão de Libra e em Defesa do Pré-sal fará uma campanha contra o leilão, no centro da cidade, durante toda a semana.
Em Recife, a manifestação será em frente à sede administrativa da Petrobrás, das 7 às 12 horas e, em Natal, os petroleiros e movimentos sociais vão se mobilizar no calçadão da Rua João Pessoa, às 16h30. Rio Grande do Norte e Pernambuco também sairão às ruas.
Além das manifestações, os petroleiros - que estão em campanha salarial - também entram em greve. A proposta foi indicada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) e aprovada pelos trabalhadores do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP), em assembleias.
Na semana
Diversas mobilizações já estão acontecendo pelo país. Nesta quarta-feira (16), os sindicatos dos petroleiros de Santa Catarina, Curitiba, Minas Gerais, Belém e os comitês em defesa do pré-sal, já realizam atos e manifestações em repúdio ao leilão.
Na região sul, um ato em conjunto com o Sindipetro-PR de Santa Catarina,  movimentos sociais e demais categorias, acontece em frente à Unidade de Operações de Exploração e Produção do Sul (UO-Sul), em Itajaí, nesta quarta-feira (16) às 16h. Em Curitiba, os sindicalistas também vão protestar em frente à Assembléia Legislativa.
Uma nova rodada de manifestações está marcada para o dia 21 com a participação de todas as centrais e movimentos sociais envolvidos na campanha nacional.
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