POLÍTICA - A guinada à direita do PT, vista por Luiza Erundina.





A governabilidade acima de tudo


Erundina: “PT nunca incorporou à sua história a experiência da minha prefeitura”

Caio Sarack e Rodrigo Giordano, na Carta Maior
O discurso da deputada federal e ex-prefeita paulistana Luiza Erundina ainda hoje reverbera e se atualiza nas ruas.
Especialmente o plano de gratuidade do transporte público de sua gestão de 89-93, que este ano tomou corpo com mais de 2 milhões de pessoas nas ruas brasileiras, manifestações que compilaram bandeiras, mas a permanência no centro da tarifa zero foi resistindo até a revogação do aumento da passagem em cidades espalhadas pelo Brasil.
A deputada foi responsável,  junto com Olívio Dutra em Porto Alegre (RS) e Vitor Buaiz em Vitória (ES), pela nomenclatura e prática do famigerado “modo petista de governar”, democrático-popular.
Orçamento participativo, consulta e transparência da máquina pública. Na palavra da ex-prefeita: “uma inversão de prioridade”.
A gestão tinha pretensões e conformação locais, isto é, na conjuntura de sua fundação até os anos 90 a atividade e intenção do PT se concentrava na conquista municipal.
As cidades, com problemas particulares, demandam escolhas distintas de um presidente da república.
O modo petista de governar dos idos 80/90 parece ter perdido força e caduca como historieta eventual.
Segundo Erundina, uma história que o próprio partido esquece de dar a devida importância.
A mudança de paradigma por que passou o Brasil nos últimos 10 anos no plano federal (des)caracterizou os outros níveis de poder, estadual e municipal?
É uma hipótese.
A inclusão pelo consumo, a saída de 40 milhões de pessoas da miséria, um derramamento de crédito para consumo interno, desoneração etc.
O país – e o Partido dos Trabalhadores — muda sua relação com as classes, concilia interesses extremamente antagônicos.
Tais configurações sociais, é claro, mudam o comportamento eleitoral, político e individual do brasileiro abrindo um novo cenário em que o partido retira suas condições e meios para ocupar o lugar do poder.
Na entrevista com o prefeito de São José dos Campos, historicamente conservadora e hoje com gestão petista, pudemos ver como a gestão municipal lida com as mudanças do plano federal: a constante referência ao governo Lula e agora ao de Dilma, o consumo sempre crescente, as condições para esse crescimento pautam a gestão municipal de maneira explícita.
A gestão de Erundina, antes do paradigma de coalizão e dos avanços sociais de redistribuição, fazem, hoje, contraste com as gestões municipais petistas.
Carta Maior entrevistou Luiza Erundina, hoje deputada federal pelo PSB, ex-prefeita de São Paulo pelo PT que despontou como opção quase unânime do progressismo na disputa eleitoral de 89.
Carta Maior: Como a senhora definiria o modo petista de governar que marcou sua gestão em 80 e 90?
 

O que caracteriza um governo democrático e popular, que era a marca dos governos petistas da época, é serem governos com efetiva participação popular, organizando os movimentos sociais e o próprio governo estimulando e criando condições para que os setores populares se organizem e se fortaleçam em suas organizações que já existem e estabeleçam uma relação autônoma e independente do governo.
Não queríamos que governo e movimentos sociais ou sindicais se confundissem, não é bom nem pra um nem pro outro.
E quanto mais independência e autonomia tanto melhor pra ambos.
Então, a participação popular nas decisões estratégicas, como definição das prioridades orçamentárias, o controle público e social sobre a execução orçamentaria, sobre as obras e ações do governo, define um governo democrático e popular.
Os governos tradicionais, conservadores, que é o que a gente sempre viu na história do país, particularmente de São Paulo, são governos que investem mais em setores da cidade nas políticas públicas que favorecem uma minoria.
Governos que ampliam os privilégios ao invés de inverter prioridades que sejam de interesse da maioria da população, que são as politicas públicas sociais: em nossa gestão, mais da metade do orçamento foi destinada a saúde, cultura, educação, habitação popular, áreas em que há um déficit e uma dívida social da cidade com os setores mais excluídos, mais pobres da sociedade.
Então o que define um governo petista, democrático e popular é transparência, controle público, preocupação ética e o pressuposto da nossa presença nas instâncias de governo. Espero que essa ainda seja a marca e a identidade do modo petista de governar.
CM: A senhora falou sobre a questão de maioria na Câmara e os problemas que você enfrentou na gestão municipal: quais foram as barreiras colocadas para que você exercesse sua forma de governar? Elas ainda permanecem na gestão atual?
 

Primeiro eu tive dificuldade na relação com o próprio PT, sobretudo com a direção municipal do partido, porque foi o primeiro governo petista numa cidade do porte de São Paulo.
O PT vinha de uma história de lutas por mudanças e participação da sociedade, essa era a marca do partido e nós como militantes exigíamos dos governos medidas nesse sentido.
Vínhamos inclusive com pretensões acima daquilo que é possível num governo de uma cidade, mesmo uma cidade como São Paulo.
As propostas do PT como partido e nossas quando militávamos, antes de sermos governo, era promover mudanças estruturais.
Por exemplo, do ponto de vista da moradia na cidade: garantir a regularização dos terrenos que existiam ocupados por favelas para garantir a estabilidade da posse, das ocupações, pelo reconhecimento da moradia como um direito fundamental, a melhoria das favelas, reurbanizando-as, destinando os equipamentos públicos para as áreas mais carentes e menos providas desses serviços.
Fizemos mais de 40.000 unidades habitacionais, além de escolas e hospitais, instalamos dezenas de unidades básicas de saúde.
Nós pretendíamos, e o partido esperava, a implementação das propostas de mudanças estruturais, como a estatização do transporte público.
Ao invés de contrato com empresas, que fosse operado diretamente pela prefeitura (30% era CMTC).
O partido ficou descontente ao chegarmos no governo e não conseguirmos implementar as bandeiras de luta. Se você tem um partido socialista, ou pelo menos com uma proposta socialista, e que luta por justiça social, por igualdade de direitos, é evidente que sua plataforma de lutas deve ser composta de bandeiras e de compromissos que pautem na direção de resolver essas questões de ordem estrutural.
O fato de não termos conseguido implementar essas mudanças que constavam no nosso plano de lutas frustrou o partido e gerou tensão permanente em sua relação com o governo.
Até porque o partido esperava governar junto, e embora eu fosse daquele partido, o governo era da cidade como um todo e eu tinha que governar pra todos, evidente que com prioridades, atendendo a maioria e procurando investir naquelas políticas que atingiriam o maior número de pessoas.
Mas eu não poderia descuidar de determinados serviços da cidade ou de certas ações de governo que também contemplavam todos os habitantes, do patrão ao trabalhador. Mas o partido não entendia assim.
E essa relação foi um dos maiores problemas que tive que enfrentar, e acredito que outros governos petistas na época também passaram por isso.
Os trabalhadores também tinham grandes expectativas, principalmente aqueles ligados à CUT e ao PT. Queriam do governo demandas acumuladas há décadas: condição salarial, condições de trabalho.
Nós estávamos no começo de um governo de 4 anos, não tínhamos maioria na Câmara.
Não tendo a maioria, nós tínhamos que estabelecer relações com cada vereador, atendendo interesses, fisiologismo, clientelismo, e nós nos recusamos a manter essa cultura da relação Executivo-Legislativo, que faria com que atendêssemos a certas demandas que não correspondiam com nossos compromissos.
Isso foi uma crise permanente, já que a Câmara se recusava a aprovar nossos projetos, a partir do próprio orçamento.
Foram 4 anos de muita luta e o Tribunal de Contas, que é um órgão auxiliar do poder Legislativo, era um órgão politico a serviço dessa relação contraditória do Legislativo com o Executivo.
Todo ano minhas contas eram recusadas. E o Tribunal de Contas era composto em sua maioria por conselheiros indicados ainda da época do Maluf.
A relação com os governos estaduais e federais também fez diferença. Quércia, Fleury, Sarney, Collor.
Todos governos de oposição ao nosso. Logo que entramos a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil cobraram dívidas da prefeitura de São Paulo que estavam acumuladas há décadas, obrigando nosso governo a pagar dívidas que não eram nossas. E eles bloquearam as contas da prefeitura.
Eu fui pra rua, chamei o povo para denunciar essa situação. O presidente da Caixa não me recebia. Foi a pressão popular e a mobilização do governo que me impediram de ser cassada.
CM: Esses problemas mudaram ou se mantêm na prefeitura do Haddad?
Eles [o PT] passaram a adotar, até mesmo antes do governo Lula, uma política de privatização, uma relação diferente com o capital, com os empresários e com os partidos, que serviu de base para a construção do governo de coalizão, sendo assim condicionados por uma base congressual, que evidentemente só possui interesses individuais e clientelísticos para se reelegerem.
É importante se preocupar com a governabilidade, mas não a qualquer preço. Ela pode ser conquistada não só com a base congressual, é possível mediar essa relação Executivo-Legislativo com a participação da sociedade civil organizada.
Eu não tinha maioria na Câmara, por exemplo.
Os casos de Lula, Dilma e outros governos petistas são baseados em compromissos de governabilidade com a base de apoio e com participação de partidos de seus governos que tiram deles as condições de autonomia e independência, pelo menos em relação a algumas questões.
E o Lula fez isso ao assinar à Carta aos Brasileiros, comprometendo-se com o FMI, compromissos que tinham sido firmados com o FHC.
Os governos do PT, a partir do próprio Lula, passaram a fazer acordos principalmente para se viabilizarem eleitoralmente.
CM: Como funciona o paradigma Lula-Dilma nas gestões municipais para responder a serviços mais diretos?

Eu acho que reproduz nos níveis estaduais e municipais a política que é adotada no plano federal.
Porque o partido que faz acordo no plano federal torna-se um potencial aliado nas bases estaduais e municipais, sendo um eventual aliado eleitoral. E a lógica eleitoral se impõe.
As alianças partidárias, inclusive o partido do governo, se reproduzem em todas as escalas.
A cada eleição os governantes pretendem manter esses aliados, muito em razão do tempo de televisão também.
A forma como se deu o apoio do Maluf à candidatura do Haddad, a ponto de eu ter que tomar aquela posição dura, difícil, constrangedora pra mim…
Mas eu precisava mostrar coerência e mostrar que eu me diferenciava dos políticos tradicionais, convencionais.
Daí porque a minha luta é pela reforma política, mas não remendos, uma reforma profunda, que mexa no sistema eleitoral e partidário, nas relações entre os poderes do Estado, no pacto federativo.
Essa cultura de governabilidade, da preocupação com a eleição seguinte, mantém e aprofunda essas alianças, distanciando esses governos e partidos de suas bases sociais, de suas origens, de seus compromissos históricos, que lamentavelmente é o que acontece com o PT.
O PT nasceu com uma promessa, uma esperança, por isso atraia tantos jovens quando surgiu, acreditando nessa proposta de transformação.
CM: Nas manifestações de junho nós tivemos o Movimento Passe Livre pautando projetos característicos da sua gestão. O que vimos foi um descompasso absoluto entre o “novo modo petista de governar”, se é que se pode dizer assim, e projetos marcantes de sua trajetória política. Como você avalia isso?

Primeiro é preciso levar em conta que o PT nunca incorporou à sua história e ao seu projeto político a experiência da minha prefeitura em São Paulo.
Esse momento fundamental da história do partido, em que a esquerda conquista o governo da maior cidade do país num período em que acabávamos de sair da ditadura, não consta nos documentários, nos documentos históricos.
Era um momento especial da vida política do país. E o nosso governo deixou uma marca, a ponto de termos nos tornado uma referência, não só em relação aos transportes, mas para muitas prefeituras (o orçamento participativo começou no nosso governo, por exemplo).
O nosso governo não foi para o PT uma conquista própria. Eu não era a candidata do Lula, do Zé Dirceu, do Rui Falcão.
Eles apoiavam o Plínio Sampaio. Mas eu tive apoio de grupos mais à esquerda de dentro do PT, de Florestan Fernandes, José Genoíno, além dos movimentos populares.
Houve gente de dentro do partido dizendo que eu havia comprometido o projeto das esquerdas, que seria o Plínio como prefeito de São Paulo.
Essa foi a forma que o PT me recebeu depois que eu ganhei as prévias do partido. Algumas pessoas ficaram incomodadas quando no meu discurso eu disse que “sou prefeita da cidade, não sou prefeita do PT”.
Sendo assim, o PT nunca valorizou essa conquista que tivemos na cidade de são Paulo; a Marta não aproveitou ninguém do meu governo durante a gestão dela, por exemplo.
O resultado é que mais de 20 anos depois, as referências que existem para os governos municipais minimamente modernos, democráticos e avançados são as nossas propostas, mesmo aquelas que não conseguimos implementar, como a tarifa zero.
E acho que esta tem mais viabilidade de acontecer agora, pois está vindo de baixo e não de um determinado governo.
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POLÍTICA - Aliança PSB-Rede.

Na aliança PSB-Rede, um comportamento um tanto hipócrita e cínico

Marina e Campos
Pela primeira vez desde que anunciaram a aliança PSB-Rede Sustentabilidade sábado pp., a dupla parceira Eduardo Campos-Marina Silva esteve junta em São Paulo. Os dois almoçaram – nos Jardins -, visitaram o governador tucano Geraldo Alckmin, concederam entrevistas e reiteraram que só vão definir candidatura ao Planalto em 2014.
Agora, apertados pelos jornalistas, afinaram os discursos, responderam de forma idêntica e evitaram adiantar qual dos dois disputará o pleito no ano que vem. Reiteraram que estão em busca de “nova política”. Não é a primeira e nem a última vez que Eduardo Campos e Marina Silva afirmam que a aliança deles é programática.
Nesta semana de vigência do pacto deles, só houve um momento em que Marina se traiu: foi quando anunciou sábado passado, em Brasília, o acerto entre os dois, como uma “aliança pragmática”, para corrigir-se em seguida dizendo que é uma “aliança programática”.
Se o dizem, deve ser mesmo aliança programática…
Programática começando pela Código Florestal, alma e coração da Rede Sustentabilidade de Marina e dos ambientalistas, no qual o PSB de Eduardo Campos votou com a bancada ruralista do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), da senadora Kátia Abreu (ex-PSD, agora PMDB-TO); e o PT, com os ambientalistas. Eles podem, Eduardo, Marina, e seus partidos, evidentemente mudar e se associar em torno de um programa básico.
Isso é possível. Todos nós evoluímos e mudamos. Basta ver o governador e mesmo a ex-senadora com suas alianças esdrúxulas, agora com um discurso de nova política, contra o fisiologismo e as raposas da política. Só que, na prática, estão repetindo tudo o que condenam. O que eles não podem é dizer que as alianças dos outros não eram e não são programáticas.
Então o PSB, que até menos de um mês atrás estava no governo – onde ficou anos e anos -, não participou da construção do programa da Frente Brasil Popular em 1989? Seus dirigentes, que participaram daquela construção, eram clones e/ou fantasmas? O PSB não participou da construção do programa de governo do presidente Lula em 2006 e do da presidenta Dilma Rousseff em 2010?
Eduardo e Marina, ministros da administração Lula, sim…
Então, estes dois novos parceiros não governaram e participaram como ministros dos governos Lula, ele como titular do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, ela como ministra do Meio Ambiente? Então, Marina Silva esteve no PT durante 25 anos (filiada e cumprindo mandatos pelo partido) com base em programas publicamente construídos com sua participação e da sociedade organizada?
Claro que participaram. Eduardo e Marina, ministros da administração Lula, sim… Suas atuais declarações simplesmente só comprovam como estão agindo no vale tudo da política, que chancelam com um comportamento um tanto hipócrita e cínico.
(Foto: João Cruz/ABr)
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Quando Dólares Falam Mais Alto




O Instituto Presidente João Goulart, através de João Vicente Goulart, recebe a denúncia do então Major do Exército Erimá Pinheiro Moreira, esclarecendo em detalhes os motivos que levaram o general Kruel, que era amigo do Presidente João Goulart, mudar de posição em menos de 12h.

Mineiro de Alvinópolis, Erimá Pinheiro Moreira, hoje com 94 anos e anistiado como Tenente Coronel Farmacêutico, servia no Hospital Geral de São Paulo em 31 de março de 1964 sob as ordens do então comandante do II Exército, General Amaury Kruel. Paralelamente, Erimá era proprietário de um laboratório farmacêutico particular, próximo ao hospital e a sede da FIESP. 

Para aqueles que ainda imaginam terem os golpistas civis e militares agido por idealismo, este corajoso depoimento revela em detalhes o que aconteceu naquele dia trágico para a democracia brasileira.
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Entregando a Rede Liberdade


Estimados amigos e companheiros:

durante estes anos, desde a campanha presidencial de 2010 mantive p o site da Rede Liberdade, e outros companheiros mantiveram um blog, e outras mídias com o título de rede Liberdade.

A Rede Liberdade foi criada para apoiar a candidatura de Dilma e toda a aliança em torno dela para a governabilidade.

Foi criada e depois foi mantida pós eleição a partir de uma sugestão do Zé de Abreu, e serviu-nos em todos os momentos.

Poderia citar uma centena dos fundadores, aqueles que primeiro estiveram conosco.

Fato é que desta centena, ou mais,  muitos deles afastaram-se por questões diversas, desde passados os momentos emocionais imediatos da luta até mesmo à luta diária pela sobrevivência que nos rouba o tempo.

Nunca me interessou que a Rede fosse chapa branca de governo, ou linha auxiliar de qualquer partido. O único quesito era ser de esquerda, não ser reacionário.

Este ano o quadro político mudou muito. A diversidade de posições é imensa. Um gigantesca salada de posições e partidos cada vez mais aguerridos.

Assim, não me sinto em condições, e nem tenho mais desejo de manter a Rede com a unidade de discussões na diversidade.

E outras ferramentas surgiram , como a Mídia Ninja por exemplo.

Não gostaria de ver a Rede Liberdade acabar, mas não desejo mais mantê-la sob meu nome e comando.

O site está registrado em meu nome e estou repassando a qualquer companheiro credenciado na luta para tal.

Assim, faço este chamamento público oferecendo ao coletivo a chance de continuar mantendo a Rede.

Se em certo espaço de tempo nenhum amigo, grupo, ou companheiro não se credenciar para isto eu desativarei o site. Considerarei que o não desejante em mante-la é mais forte e que ela já teria cumprido seu papel.

O que não impede o surgimento de outras redes liberdades nos momentos históricos das nossas lutas vindouras.

Ao tempo em que reafirmo os ideais democráticos e socialistas, libertários e  populares que nos levaram a criá-la, aguardo quem lhe dê seguimento.
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CAPITALISMO - 147 empresas concentram 40% das receitas corporativas mundiais.

A rede do controle corporativo do capitalismo global


Por Marcelo Justo

No final de 2011, um estudo da Escola Politécnica Federal de Zurique sacudiu o debate sobre a concentração do poder em nível mundial. A base de dados do estudo chegava até 2007, ou seja, até a fronteira da grande crise que sobreveio com a queda do Lehman Brothers, e quantificava pela primeira vez a ideia generalizada de que um punhado de empresas dominava a economia mundial.

A investigação de Stefania Vitali, James B, Glattfeldes e Stefano Battiston, “The network of global corporate control” (A rede do controle corporativo global), não se baseava em teorias econômicas ou políticas, mas sim no desenho de sistemas e demonstrava que 1318 empresas transnacionais possuíam direta ou indiretamente ações de sociedades que representavam 60% das receitas mundiais. Mostrava ainda que o núcleo duro desse grupo era formado por 147 empresas que concentravam 40% das receitas corporativas mundiais.
Hoje, Stefania Vitali está pesquisando o que ocorreu de 2008 até nossos dias e maneja como hipótese provisória que essa concentração se intensificou ainda mais. Em entrevista á Carta Maior, Vitali fala de seu estudo e de seu impacto econômico e político.
 
CM: Como avalia que evoluiu esta rede de 147 companhias?
 
Stefania Vitali: Estas redes costumam ser estáveis, ou seja, não apresentam mudanças drásticas de um ano para o outro. Mas como desta vez temos a crise de 2008, calculamos que haverá mudanças. Sabemos já que vários bancos foram nacionalizados ou desapareceram ou enfrentam sérios problemas. Também calculamos que haverá uma maior presença da Ásia. Minha hipótese é que a concentração se aprofundará, mas até que não tenhamos os dados concretos não podemos corroborar tal ideia. Há uma coisa que está clara, porém. Os dois principais resultados de nosso trabalho anterior serão mantidos. O primeiro se refere ao nível de conectividade que há entre as grandes empresas e o segundo é o nível de concentração. Ou seja, as empresas estão muito mais conectadas do que se pode imaginar. Em particular, encontramos um centro, muito pequeno, composto por 1400 empresas que estão conectadas direta ou indiretamente.

A outra face disso é a concentração. Descobrimos que 80% das ações dessa rede interconectada estavam em mãos de 0,6% dos acionistas. Assim, chegamos ao núcleo duro desta concentração e interatividade quando vimos que 147 empresas controlavam 40% do valor das multinacionais. De modo que, quanto mais nos aproximamos do centro da estrutura, mais aumenta a concentração.
CM: Uma das críticas feitas ao seu estudo foi que as empresas financeiras estavam excessivamente representadas. Isso se deve ao que se passou a chamar de financeirização da economia, ou seja, que o setor financeiro tem uma importância cada vez maior na economia mundial, o que relegou a produção a um segundo plano na geração de lucros?
 
Stefania Vitali: Os resultados sempre dependem dos dados. Nós dependemos do que nos forneceu Orbis que tem uma base de dados de cerca de 37 milhões de empresas e investidores de todo o mundo. Com base nesta fonte, fizemos uma primeira depuração e ficamos com umas 43 mil transnacionais vinculadas por participações acionárias. É possível que seja mais fácil recolher dados sobre as instituições financeiras e que isso tenham aumentado o seu peso. Também é possível que estas instituições tenham muita mais conectividade. As empresas do setor da manufatura costumam conectar-se mais com suas subsidiárias em uma estrutura piramidal enquanto que o setor financeiro tem uma estrutura muito mais complexa.

CM: Que consequências têm na economia mundial este nível de concentração e conectividade?
Stefania Vitali: Não investigamos isso diretamente, é algo que estamos fazendo agora, mas temos algumas hipóteses. Primeiro que isso gera um grande risco adicional de instabilidade no conjunto do sistema porque quando as empresas se diversificam muito aumentando enormemente sua interconectividade, é benéfico para as empresas, mas ao mesmo tempo as expõe a um impacto negativo sistêmico. Neste sentido, a crise de 2008 pode ser o resultado deste alto nível de conectividade. A segunda consequência é uma redução da competição no mercado.
Se empresas que pertencem ao mesmo setor do mercado estão em mãos de um mesmo grupo de acionistas, elas não têm nenhum interesse em competir. Ao invés disso, têm uma tendência de se colocar em acordo para fixar preços ou lucros.
CM: Outra das críticas feitas ao estudo é que ele confundia a propriedade e o controle de uma empresa. Segundo seus críticos, defensores do capitalismo, os donos das ações eram em muitos casos fundos de pensão que administravam a aposentadoria da população. Ou seja, o dono, segundo essa crítica, era o cidadão comum que coloca suas poupanças em mãos de fundos financeiros administradores.
Stefania Vitali: Nós nunca falamos de controle, mas sim de controle potencial. Sempre se distingue entre o acionista e o que tem direito a tomar decisões nas reuniões de direção de uma empresa. Pode ter ações, mas não ter direito de voto nas decisões das empresas. Usamos três modelos distintos para unir a propriedade das ações e o controle concreto da conduta de uma companhia. Um modelo estabelece que aquele que detém mais de 20% do controle do pacote acionário de uma empresa tem um controle de 100%. Cabe dizer que, dada a amplitude da nossa base de dados – cerca de 37 milhões de empresas – não pudemos fazer uma análise específica de cada caso, mas a base de dados com a qual trabalhamos confirmava este vínculo entre propriedade e controle.
 
CM: Com empresas tão fortes, qual o impacto disso sobre os governos e a democracia?
 
Stefania Vitali: Quando há empresas tão grandes elas podem criar blocos de ação. Se não há uma regulação forte, é muito difícil proteger a democracia. No mínimo temos um problema de regulação.

CM: Mas quando falamos da conectividade destas empresas, temos companhias do setor financeiro vinculadas ao setor industrial e também ao controle midiático. Quando há uma incidência direta sobre o setor midiático, o perigo é maior, algo sobre o que uma italiana como você deve ter muita experiência.
Stefania Vitali: (…risos…) O perigo é real. É necessário ter regras que eliminem a possibilidade desse tipo de conectividade. Com o governo de Mario Monti se introduziram certas regras para reduzir essa interconectividade, por exemplo, para que uma pessoa tenha limites a respeito de quantas diretorias pode fazer parte porque, se está em diferentes setores estratégicos, pode terminar distorcendo a economia para adequá-la aos seus próprios interesses. O mercado busca o lucro.
Esse é o seu interesse. De modo que o Estado é o único fator que pode exercer um contraponto. Muitas vezes, um Estado não pode fazer isso sozinho. É necessária uma ação combinada como a que podem exercer os estados da União Europeia. Isso é importante porque as multinacionais têm o poder para colonizar estados, em particular nos países mais pobres. Estão buscando seu próprio benefício, não o benefício social, coletivo.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Fonte: Blog Cidadão do Mundo.
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