PT adotou práticas equivocadas, diz Falcão

Sem citar diretamente mensalão, presidente da sigla afirma ter havido erro na adoção de ações 'comuns a outros partidos'

Referência é ao caixa dois, apesar de o STF ter condenado os réus do mensalão por compra de apoio no Congresso

José Ernesto Credendio, Daniela Lima

SÃO PAULO - Sem citar diretamente o caso do mensalão, o presidente do PT, Rui Falcão, disse ontem que em alguns momentos dos últimos dez anos o partido adotou práticas que não deveria ter adotado.

Falcão, que é deputado estadual em São Paulo, participou da posse de Fernando Haddad (PT) na prefeitura da capital paulista.

A declaração foi dada em resposta à pergunta sobre quais foram os erros e acertos do PT após 10 anos no comando do Executivo federal.

"O principal [erro] foi, em alguns momentos, termos enveredado por práticas comuns a outros partidos, mas que o PT não deveria ter se enveredado por elas", disse.

Em seguida, acrescentou que o maior desafio do partido é acabar com o financiamento privado da campanha, o que, no discurso de petistas, teria levado ao escândalo do mensalão.

"Vamos fazer uma iniciativa forte, quem sabe até com a coleta de assinaturas nas ruas, para realizarmos a reforma política, principalmente com o financiamento público exclusivo das campanhas [eleitorais]", afirmou.

Essas questões, de acordo com o dirigente petista, estarão no centro dos debates do 5º congresso do PT, que vai ocorrer no segundo semestre.

O PT argumenta que o escândalo do mensalão se resumiu à movimentação de recursos eleitorais não declarados à Justiça, o chamado caixa dois.

Já o Supremo Tribunal Federal condenou 25 réus, entre eles a ex-cúpula do PT, sob o argumento de que eles participaram de esquema de desvio de recursos públicos para a compra de apoio legislativo ao governo Lula.

Revisão

Ainda fazendo um balanço dos anos no poder, quando, segundo ele, houve mais acertos do que erros, o presidente do PT afirmou que o partido "demorou" em fazer alianças com outras siglas.

No encontro partidário, a legenda fará uma revisão programática e também vai avaliar as mudanças ocorridas no país desde 2003, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o primeiro mandato.

Segundo ele, é necessário verificar quais são os novos estratos sociais do país e de onde partem as camadas que apoiam o projeto petista, além de identificar quais são os adversários do PT.

Hoje, na avaliação do deputado, mesmo os grandes grupos empresariais que vêm ganhando incentivos maciços do governo federal não se veem dentro do mesmo espectro petista.

"Ideologicamente, eles não se se sentem representados. Por isso precisamos conhecer melhor a estrutura de classes da sociedade. Vamos atualizar todo o programas desses 33 anos [que o partido completa neste ano] e abrir caminhos para o futuro."

O dirigente petista voltou a criticar o Judiciário, que estaria extrapolando seus poderes, mas não citou o Supremo Tribunal Federal.

Fonte: Folha de S. Paulo
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Operação Porto Seguro: Weber e Vieira faziam encontros mensais

Ex-adjunto da AGU recebeu 29 pedidos de audiência

Evandro Éboli

BRASÍLIA - A agenda de compromissos do ex-adjunto da Advocacia Geral da União (AGU) José Weber Holanda, divulgada agora, revela que ele recebeu pelo menos 29 pedidos de audiência do ex-diretor da Agência Nacional das Águas (ANA) Paulo Vieira. Numa análise preliminar, a AGU havia estimado 23 encontros. A agenda, corrigida pela própria AGU, demonstra que entre novembro de 2010 e novembro de 2012 esses prováveis encontros ocorreram quase que mensalmente e, às vezes, mais de uma vez por mês. Os dois foram alvos da Operação Porto Seguro da Polícia Federal.

Na relação, aparecem agendadas ainda reuniões de Weber com 16 deputados federais, nove dos quais do PT, entre eles o presidente da Câmara, Marco Maia (RS). Há até a previsão de um encontro do ex-adjunto da AGU com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 11 de abril de 2011, no hotel Sofitel, em São Paulo. A AGU informou que não tem como garantir se todos os encontros previstos na agenda de fato ocorreram.

Em nota, a AGU explicou que, como o computador funcional de Weber foi apreendido por agentes da Polícia Federal, na Operação Porto Seguro, foi preciso desenvolver um sistema para recuperar os detalhes da agenda de Weber no sistema de informação do órgão. Na agenda de Weber estão previstos ainda dois encontros dele com o ex-senador Gilberto Miranda (PMDB-AM), também indiciado pela PF.

Paulo Vieira ocupou a diretoria de Hidrologia da ANA, chegou a ser preso e foi indiciado pela PF como chefe de um esquema que cooptava servidores públicos na elaboração de pareceres favoráveis a negócios privados. Weber teria beneficiado empreendimentos de Gilberto Miranda no litoral paulista.

O nome de Paulo Vieira é o que mais aparece na agenda de Weber nesse período, que registra 593 compromissos. Em alguns meses, foi agendada mais de uma reunião. Foram três em setembro de 2011 e três em outubro do mesmo ano. Foram quatro agendas em julho de 2012.

Gilberto Miranda também foi indiciado pela Polícia Federal, acusado de corrupção. O ex-senador tem interesse em construir um empreendimento na Ilha de Bagres e teria atuado junto à AGU para obter facilitação na liberação da área.

Na agenda de Weber ainda aparece uma reunião com Glauco Moreira, ex-procurador-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), indiciado pela PF. Ele deixou o cargo na agência. Sindicância da AGU concluiu que Paulo Vieira tinha livre acesso à Procuradoria da Antaq.

Os deputados que aparecem na agenda de reuniões com Weber são de partidos da base governista no Congresso. Do PT, estão os deputados Carlos Zaratini (SP), Paulo Teixeira (SP), Vicente Cândido (SP), Dalva Figueiredo (AP), Amauri Teixeira (BA), Vander Loubert (MS), Angelo Vanhoni (PR) e Pedro Uczai (SC). Jovair Arantes (PTB-GO), Danilo Forte (PMDB-CE), Benjamin Maranhão (PMDB-MA), Alex Canziani (PTB-PR) e Ronaldo Benedet (PMDB-PR) também aparecem na lista.

Fonte:O Globo
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Talvez o jeito seja mesclar Chapolim com De Gaulle

Ao longo do ano que terminou anteontem, o de 2012, brilhou a estrela do Supremo Tribunal Federal (STF) no céu da Pátria, acostumada aos brilharecos de marketing do Poder Executivo e aos buracos negros do Legislativo, que, apesar de representar o cidadão, continua de mal com ele, segundo pesquisa do Ibope. Estreante na pesquisa, o órgão máximo da Justiça superou a própria em prestígio - o que é natural, e até óbvio, porque, enquanto a instituição absorve golpes no plexo pela lerdeza e pela parcialidade, citados pelo novo presidente, Joaquim Barbosa, na posse, a Corte maior foi festejada pela publicidade explícita de um julgamento arrasa-quarteirão, o do mensalão.

A discussão em torno de um nome, um voto - do ministro Luiz Fux -, contudo, terminou por abrir, antes das festas de Natal e da virada do ano, uma discussão sobre um flanco, se não aberto, pelo menos mal vigiado, do Supremo, o que não põe em risco sua supremacia, mas em debate sua independência. A indicação do nome dos 11 membros do STF por decisão solitária do chefe de outro Poder, o presidente da República, poderia levantar suspeitas quanto à isenção dos indicados, apesar de serem estes sempre submetidos à arguição de uma das Casas do Congresso, o Senado? A decisão do Supremo de contrariar duas vezes - ao não adiar o julgamento, que já tardava sete anos, a pretexto da iminência das eleições municipais, e condenar seus companheiros de partido e churrasco - o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a primeira resposta negativa (do ponto de vista ético, positiva) à questão. Dos 11 ministros que deram início à maratona, 7 foram indicados por Lula ou por Dilma, sua correligionária do Partido dos Trabalhadores (PT), sua aposta solitária na campanha sucessória e sua ex-chefe da Casa Civil. Como arguir qualquer suspeição se o relator do processo e o responsável pela mediação das votações, o presidente, foram indicados - de fato nomeados, porque nunca o Senado faz qualquer objeção às indicações presidenciais - por petistas de carteirinha?

A fidelidade canina com que o revisor, Ricardo Lewandowski, e outro ministro, Dias Toffoli, se opuseram aos votos da maioria é exceção que, longe de negar a regra geral do modelo traçado pelo colegiado de magistrados, a confirma. A discussão, tornada pública pelo próprio Luiz Fux, em torno de insinuações malévolas a respeito de eventual compromisso previamente assumido por ele de absolver réus petistas no processo também serve menos para fragilizar sua posição de julgador. E mais para condenar quaisquer tentativas de subordinar a decisão de um ministro à gratidão por quem o investiu no cargo. Este é vitalício e, portanto, infenso a quaisquer retaliações de outros Poderes e poderosos.

Talvez por pretender defender-se dessas maldades, Sua Excelência deu entrevista a Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, na qual narrou seu périplo por gabinetes importantes na República para obter apoio à sua indicação para o topo da carreira, primeiro pelo ex-presidente Lula, depois pela presidente Dilma. Chegou a ser publicada afirmação atribuída a Lula de que desconfiava de alguém com apoios da direita, Delfim Netto, czar da economia na ditadura, e da esquerda, João Pedro Stédile, chefão do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). A afirmação do guru petista é falaciosa, pois os extremos foram procurados pelo fato óbvio de que tinham amplo acesso a seus pavilhões auriculares. Além do mais, pouco tempo depois, ele foi fotografado beijando a mão de outro egresso da ditadura, Paulo Maluf, no jardim de sua mansão, para obter o apoio dele à campanha municipal paulistana do petista Fernando Haddad, como Dilma, uma aposta de altíssimo risco que acabou ganhando. A procura de apoio ecumênico às pretensões de alguém no Brasil remonta à época dos "pistolões", que decidiam desde a nomeação de delegados de polícia no interior até o preenchimento de vagas no ensino superior.

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, informou que Fux lhe dissera que "não havia provas" contra os réus do mensalão e que sua atuação seria "muito clara". São truísmos que nada elucidam e lembram a máxima de Chacrinha: "Eu não vim para explicar, mas para confundir". O próprio Fux já havia dito antes que se surpreendera com a quantidade de provas e nenhum brasileiro que o viu atuar no julgamento poderia acusá-lo de falta de clareza. Mas não é bem disso que estamos tratando aqui e, sim, da forma da escolha dos membros do colegiado ao qual são submetidos os julgamentos finais em casos de violação da ordem constitucional. A cândida confissão de Carvalho reforça a sensação de que os figurões federais foram surpreendidos com a aplicação pelos ministros do STF da mistura de frases de Chapolim - "eles não contavam com minha astúcia" - e de Charles de Gaulle - "a maior virtude de um estadista é a ingratidão". O PT, habituado a subordinar tudo - do Banco do Brasil ao Tribunal de Contas da União (TCU) -, dava como favas contadas o aparelhamento do topo do Judiciário pela força da gravidade. E quebrou a cara.

Agora tenta desqualificar o Supremo levantando suspeitas sobre a campanha pela indicação que os eventuais candidatos à boa vaga fazem. Trata-se de uma ignomínia! Não há alternativas à vista: indicação pelo Congresso? É brincadeira! O Senado nem dá conta da sabatina, vai dar conta da indicação? Além do mais, o Congresso nomeia os membros do TCU. Recentemente, indicou Ana Arraes e o sobrenome ilustre não a impediu de tentar ajudar a companheirada considerando lícitas manobras de Marcos Valério, réu do mensalão condenado por unanimidade! E que tal a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)? Ou as associações de juízes? Aí, meus amigos, seria o caso de seguir a receita de Dilma para apagões: gargalhar.

Talvez a saída seja deixar como está e esperar que o cargo vitalício inspire a independência do julgamento do ocupante.

José, Nêumanne, jornalista, poeta, escritor,

Fonte: O Estado de S. Paulo
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28 anos de democracia - Fernando Rodrigues

Em 15 de março próximo o Brasil completará 28 anos de democracia. É um caso clássico de copo meio cheio e meio vazio.

A parte cheia é o fato inédito de um país tão sem cultura democrática ter conseguido persistir nesse caminho por tanto tempo. Quando o civil José Sarney assumiu o Planalto, em 1985, o Brasil encerrava 21 anos de ditadura militar.

Antes do regime de arbítrio instaurado em 1964 houve um ou outro hiato democrático. Mas no passado mais remoto, embora o país tenha experimentado algum tipo de eleições diretas, seria uma licença poética classificar a República Velha de democracia plena.

Não são pouca coisa então os quase 28 anos de democracia já desfrutados pelos brasileiros. A repetição das regras de liberdade eleitoral tem sido essencial para enraizar esses valores civilizatórios no país.

O problema é que há ainda a parte meio vazia no copo quando se trata da democracia brasileira. Foram criados e fechados dezenas de partidos nas últimas décadas. Nenhum consegue ser nacional. A cada eleição, multiplicam-se os escândalos de financiamento ilegal de políticos em campanha.

A presidente atual, Dilma Rousseff, e seus dois antecessores imediatos, Lula e FHC, pouco fizeram para aperfeiçoar o modelo político-eleitoral brasileiro. Inexistem sinais de mudança à vista nessa área no restante da administração dilmista. Do Congresso nada se deve esperar.

Como é possível existir democracia verdadeira com um sistema partidário apodrecido? Ou com total falta de transparência a respeito de quem financia candidatos a cargos públicos?

No Congresso, vigora um democratismo com 24 partidos. A maioria não tem votos para estar ali. Muitos representam interesses próprios e não os dos cidadãos. Enquanto não houver correção dessa anomalia, a quase longeva democracia brasileira não estará completa.

Fonte: Folha de S. Paulo
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O PT e a superação do mensalão - Cláudio Gonçalves Couto

Há alguns dias, numa entrevista à "Folha de S. Paulo", o governador gaúcho, Tarso Genro, observava que o PT precisa superar o mensalão. Segundo ele, o partido já teria feito o que lhe caberia no caso, prestando solidariedade aos seus membros que foram réus no processo, não fazendo mais sentido continuar a remoer essa história. O problema, para os mais críticos ao PT, é que a única forma efetiva e moralmente aceitável de superação do episódio passaria não pela solidariedade aos condenados, e sim pela reiteração, nas instâncias partidárias, da condenação judicial que lhes alcançou. Haveria até mesmo uma razão formal para isso, pois o estatuto partidário prevê a exclusão dos membros que forem condenados criminalmente.

Entretanto, o PT invocou sua autonomia para determinar em que situações dá-se a aplicação da norma de exclusão, decidindo que ela não valeria para o caso dos réus do mensalão. Seria essa uma mera demonstração de incoerência, ou o partido teria boas razões para proteger seus membros condenados no julgamento que, decerto, maior atenção pública obteve em toda a história do país? Talvez nem uma coisa, nem outra - ou, ao menos, nenhuma delas por completo.

Para compreender a lógica que levou o PT a fazer sua escolha é necessário perscrutar as motivações da decisão. Analisando-se isto é possível divisar quais tendem a ser as consequências do episódio para o futuro do partido e, consequentemente, do país - já que se trata da agremiação que mais frequentemente tem figurado como ator relevante nas principais disputas nacionais, ganhando-as ou perdendo-as.

A solidariedade aos réus do mensalão é meio de proteger-se

A primeira razão para a solidariedade pode ser explicada em termos organizacionais. Os principais envolvidos faziam parte do grupo dominante do partido que, mesmo sem sua participação direta, seguiu como setor hegemônico. Assim, a solidariedade da organização seria compreensível em termos da lealdade dos seguidores a seus líderes.

Mas isto é pouco, pois apesar de vozes dissonantes como a de Tarso Genro, amplos segmentos do PT (inclusive aqueles que não compõem a coalizão dominante) mantiveram-se solidários aos réus. O segundo motivo é o reconhecimento tácito de que as práticas que se tornaram objeto de condenação (o caixa dois de campanha, pelo menos) não eram ignoradas pelo conjunto do partido - mesmo por aqueles que não envolviam com elas. De modo que seria hipócrita jogar os companheiros ao mar. Tal reconhecimento fica evidenciado na frase que um tesoureiro de campanha petista teria proferido ao aceitar a incumbência: "Eu vou cuidar do convento; não quero saber onde fica o bordel."

A terceira razão pode ser apontada como uma reação defensiva. Construiu-se a ideia de que, tendo dirigentes importantes do PT se envolvido em ilícitos, o partido todo nada mais seria que uma gangue de bandidos, bastando sua chegada ao poder em qualquer lugar para que a corrupção se alastrasse de forma incontrolável. Assim, não haveria mais petistas, apenas "petralhas". A construção desse mito foi tão longe que levou um articulista caro ao público neoconservador - Demétrio Magnoli - a publicar em "O Estado de S. Paulo" um artigo intitulado "O PT não é uma quadrilha". Não tardou a que a blogosfera direitista passasse a atacar Magnoli como um traidor, reafirmando que "sim, o PT é uma quadrilha".

O problema de uma afirmativa como essa é seu corolário. Ora, se o PT fosse uma quadrilha, ele não seria uma organização legítima e, portanto, deveria ser proscrito. Ou seja, a disseminação de tal ideia poderia comprometer o próprio projeto partidário, atingindo até mesmo os adversários internos dos réus do mensalão. Desse modo, o ataque a eles passou a ser percebido por muitos como uma invectiva à própria sobrevivência do partido, levando o conjunto da agremiação e muitos de seus simpatizantes a cerrar fileiras.

Um quarto fator potencializou os efeitos dos demais. O julgamento foi espalhafatoso, ocorreu concomitantemente às eleições, sob intensa cobertura midiática e - aos menos aos olhos dos juridicamente leigos - rebaixou o sarrafo da condenação. Num país marcado pelo garantismo, que protege os criminosos de colarinho branco que dispõem de influência e bons advogados, o rigor condenatório do STF (liderado por Joaquim Barbosa) foi realmente de causar espécie. Não é a toa que Tarso Genro alega que Dirceu e Genoíno tenham sido condenados sem provas - embora Delúbio fosse réu confesso.

As dúvidas sobre a culpabilidade aumentam ainda mais quando se considera o aspecto do processo mais atraente ao imaginário da teoria conspiratória: a compra de votos de deputados. Ora, se foi isto o que houve, por que motivo parlamentares petistas também teriam recebido dinheiro do esquema? O PT comprava gente do PT? O dinheiro de origem ilícita era repassado a parlamentares para torná-los aliados, ou porque eles já eram aliados? Diante de tais dúvidas, o partido optou por não excluir seus membros por talvez considerar que eles tenham sido vítimas de um julgamento incorreto, embora não necessariamente ilegítimo - o que levou a direção partidária a rechaçar a proposta de uma campanha de rua contra o STF feita por um membro do diretório nacional.

O PT precisa superar o mensalão para seguir em frente, evitando porém cometer os mesmos erros. A solidariedade aos réus neste momento, se por um lado parece sinalizar que as transgressões não foram tão graves, por outro talvez fosse inevitável para preservar a coesão interna da agremiação. Ao comentar sua condenação, José Genoíno alegou que nem sob tortura, durante a ditadura militar, traiu companheiros - e que não faria isto agora, como forma de minorar sua própria pena. Esse tipo de solidariedade de grupo, embora possa ser condenável pela moralidade da sociedade circundante, é crucial para a preservação do grupo. Se isto é verdadeiro até mesmo em situações prosaicas (coleguinhas de classe não dedam quem está colando), não deixaria de ser em casos mais sérios e em organizações complexas como um grande partido.

Cláudio Gonçalves Couto é cientista político, professor da FGV-SP

Fonte: Valor Econômico
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