Porto Velho sitiada

Prefeitura de Porto Velho sofre devassa da Polícia Federal

A prefeitura de Porto Velho, do petista Roberto Sobrinho, foi alvo de devassa pela Polícia Federal em duas operações simultâneas nesta quinta. Secretários e diretores de órgãos foram presos acusados de corrupção e o prefeito afastado do cargo. De acordo com a investigação do MP de Rondônia, o desvio de dinheiro se dava a partir de fraudes em licitações públicas.

A Operação Vórtice cumpriu 18 mandados de prisão, 31 mandados de busca e apreensão, 22 mandados de afastamento de cargo e 22 mandados de indisponibilidade de bens. Os mandados foram expedidos pelo Tribunal de Justiça de Rondônia.

As investigações começaram em 2011, gerando a instauração de inquérito policial no início de 2012. O trabalho foi realizado entre os MP do Estado e Federal, Tribunal de Contas e Polícia Federal. O esquema envolvia políticos, empresários e laranjas. Segundo a denúncia, o dinheiro era desviado por meio de contratos fraudados de prestação de serviço.

Ao todo, mais de R$ 100 milhões foram desviados da prefeitura de Porto Velho. O alvo da quadrilha eram as Secretarias Municipais da Administração (SEMAD), Serviços Básicos (SEMUSB), Obras (SEMOB), Agricultura (SEMAGRIC), Procuradoria-Geral do Município (PGM) e Controladoria-Geral do Município (CGM).

Os acusados serão denunciados por formação de quadrilha, corrupção passiva, corrupção ativa, fraude a licitação, tráfico de influência, peculato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, dentre outros.
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Mídia e crise: o garrote da história

Por Saul Leblon, no sítio Carta Maior:

Até que ponto o monopólio midiático é responsável pelo 'consenso' que jogou o mundo na pior crise do capitalismo desde 1929? A pergunta não é retórica, tampouco a resposta é desprovida de consequências políticas práticas. Imediatas, urgentes, imperativas.

Trata-se, por exemplo, de saber em que medida a formação do discernimento social, condicionado por esférica máquina de difusão de certos interesses, dificulta a própria busca de soluções para a crise.

Mais que isso. Se esse poder blindado que se avoca imune à regulação - como se constata em tintas fortes hoje na Argentina, mas não só - tornou-se um dos constrangimentos paralisantes dessa busca, um difusor de impasses e confrontos, como democratizá-lo?

É disso que trata o Especial de Carta Maior que emoldura o histórico '7 D' argentino com a amplitude e a urgência que o tema encerra em nossos dias.

Medicada com doses adicionais da poção que a originou, graças ao receituário reiterado pelo dispositivo midiático, a desordem neoliberal arrasta a humanidade para o seu quinto ano de arrocho e incerteza.

A rigor, não há qualquer sinal otimista de convalescença ou superação.

A OIT estima que o mundo cadastrável chegará ao final de 2012 com um exército de 200 milhões de desempregados.

O estoque não foi acumulado integralmente na derrocada iniciada em 2008, mas é ela que o robustece e realimenta.

Ademais de gerar sucessivas massas de demitidos, a desordem neoliberal torna irrealizável a tarefa projetada pelo organismo da ONU que inclui a criação de 600 milhões de vagas nos próximos dez anos --duzentos milhões para zerar o saldo acumulado; mais 40 milhões de novos empregos anuais para atender às gerações que chegam ao mercado de trabalho.

A colisão de longo curso que esses números condensam desvela a raiz política de um impasse que expõe a natureza imiscível da supremacia financeira com os requisitos indispensáveis à convivência compartilhada.O emprego e tudo o que ele adensa em nossa sociedade em termos de direitos e dignidade é um desses pontos de tensão inegociáveis. Inclua-se ademais o principio do escrutínio democrático dos conflitos, do qual o capital a juro se isenta, e o acervo de direitos que revestem o cristal da civilização --patrimônio humanista que o atrapalha.

Em nenhum outro lugar do planeta essa incompatibilidade revela um ambiente de conflagração tão eloquente e pedagógico quanto no cenário desconcertante da zona do euro.

Se os mercados doentes deles mesmos são capazes de reduzir o berço do Estado do Bem Estar Social a um matadouro de direitos, em que a classe média recorre a instituições de caridade para não passar fome, caso hoje da Espanha, o que pode esperar o resto do mundo premido pela mesma lógica?

A Europa paga em libras de carne humana o ajuste de competitividade entre economias pobres e ricas cobrado pelo esgotamento do ciclo de crédito barato e irresponsável.

A paridade intocável do euro revela-se assim o pelourinho de uma unificação subordinada aos desígnios dos mercados --e sobretudo da exportação e da finança germânica Em respeito a esse 'senhor' --e a sua senhora, Angela Merkel-- aciona-se o triturador de uma austeridade que reduz humanos a coisas, atribuindo-se às coisas a deferência que caberia aos humanos.

Saldo da reciclagem até o momento: mais de 19 milhões de desempregados na zona do euro; 119,6 milhões de pessoas -24,2% da população- no limiar da pobreza em toda a Europa; US$ 1,3 trilhão entregues aos bancos europeus para salvá-los deles mesmos, depois de se esponjarem em estripulias tóxicas e ativos podres.

O custo humano da inversão de papéis não sensibiliza a mídia conservadora.

Ela continua a rezar pela cartilha da autossuficiência dos mercados, mesmo depois de desautorizada nos seus próprios termos por cifras épicas como essas.

Para a lógica editorial predominante, vivemos sob a irrelevância das evidências. A narrativa hegemônica, ressalvadas as exceções de analistas honestos, não cede.

No Brasil criou-se uma fronteira sanitária esquizofrênica. O noticiário internacional da crise não dialoga com a pauta local que ainda não virou o calendário anterior a 2008. O empenho em desqualificar o ativismo estatal dos governos petistas continua intacto, auxiliado pelo radicalismo golpista das editorias de política.

Hoje, a ênfase editorial, já colada à campanha tucana de 2014, consiste em provar a ineficácia das medidas contracíclicas que redefiniram o tônus da política econômica herdada do ciclo tucano neoliberal.

Incluem-se no alvo, naturalmente, a derrubada dos juros --ainda altos para o padrão internacional, mas no menor nível da história; a intervenção estatal indireta na banca, induzindo-a a cortar spreads pela concorrência agressiva das instituições públicas; as desonerações e subsídios ao setor produtivo, da ordem de R$ 45 bi (1% do PIB); a persistência de incentivos ao investimento, ao crédito e à construção civil e, mais recentemente, uma turquesa nos lucros indevidos das concessionárias de energia elétrica --impondo-lhes um desconto tarifário proporcional ao valor das amortizações consolidadas.

Três estados da federação sabotaram a medida reivindicada,entre outros, por associações industriais, como a Fiesp, de São Paulo. Os três estão sob o comando de governadores do PSDB.

Palavras de um deles que ilustra a mórbida reafirmação de um passado posto em xeque pela crise, cuja reiteração conservadora sonega o direito ao futuro aqui e alhures:

"A presidenta Dilma Roussef está fazendo uma profunda intervenção no setor elétrico a pretexto de reduzir a conta de luz".

A sentença condenatório dá pistas da sofisticação intelectual e do arrojado arcabouço político do novo delfim a suceder Serra na preferência conservadora à presidência da República em 2014, Aécio Neves.

Recapitulemos: estamos na maior crise do capitalismo em 80 ano, produzida pelo credo do Estado mínimo associado à celebração suicida dos mercados autorreguláveis.

Por 'profunda intervenção' entenda-se a prerrogativa do poder concedente de abrir o leque de alternativas à renovação de concessões, adicionando-lhes medidas de interesse do desenvolvimento do país e de sua gente em meio à hecatombe econômica mundial.

São esses os parâmetros de um confronto mediado por um dispositivo de comunicação todo ele alinhado ao atilado equipamento analítico do senhor Neves.

Transporte-se os mesmos personagens, o mesmo iimperativo de redefinição regulatória, a mesma rebelião das naftalinas para a discussão de uma outra concessão estratégica a reclamar a atualização dos seus termos: a área das telecomunicações, cujo protocolo de funcionamento remonta a 1962.

Não se trata de um exemplo aleatório.O que está em jogo é um incontornável requisito à superação da crise, cuja origem --o corpo de interesses e idéias que a engendrou- teve no monopólio midiático um pregador de eficiência implacável.

Coube-lhe acionar a britadeira da desqualificação e disparar os mísseis do interdito contra agendas, políticas, lideranças, plataformas, governos e países recalcitrantes ou insubordinados.

Ação equivalente registra-se agora na deriva do ciclo histórico demarcada pela falência do Lehman Brothers,em 2008.

A urgência democrática é clara e corre contra o relógio da restauração em marcha.

Trata-se de afrontar a espiral descendente da recessão mundial com uma nova hegemonia de forças e políticas que afrontem e superem a desordem dos mercados desregulados em sua derradeiro cobiça: fazer do colapso o 'novo normal' sistêmico, às custas da exceção permanente de direitos e conquistas sociais.

Os interesses ameaçados por esse mutirão progressistas, do qual Brasil --com os seus limites, que não são poucos-- é um dos protagonistas de peso, jogam hoje a rodada do vale tudo.

A expressão vale tudo descreve com fidelidade o que tem sido --e será, cada vez mais-- a rotina do noticiário não apenas econômico, mas político, judicial e policial dos últimos meses.

As ideias e interesses assim veiculados amplificam a sua força material graças à abrangência de um aparato de mídia sem rival no país --assim como acontece na Argentina pautada pelos interesses do polvo difusor que atende pelo nome de 'grupo Clarín'.

A superação dessa usina de consenso asfixiante não se dará exclusivamente no plano da luta ideológica.

Os partidos e forças que evocam a democratização das comunicações tem a obrigação de dar o exemplo prático em casa.

Urge, entre outras iniciativas, materializar a democracia na vida interna das organizações e, sobretudo, na gestão participativa da sociedade sob o comando de administrações progressistas, como será a da capital paulista.

Mas o empenho beligerante com que o dispositivo midiático assumiu a defesa dos interesses associados à crise não pode ser subestimado.

Ilude-se ao ponto da irresponsabilidade suicida o governante que ainda acredita ser possível superar o círculo de ferro do colapso mundial no plano exclusivo do êxito econômico.

Política é economia concentrada.

O espessamento político da crise tem na sabotagem tucana à redução da tarifa elétrica, e na forma como ela é noticiada, uma tênue ilustração do horizonte escuro que se prenuncia.

Quem tem a responsabilidade de liderar o passo seguinte da história não pode conceder à regressividade narrativa o monopólio do diálogo político com a sociedade.

A lição é clara e vem se juntar a uma montanha desordenada de escombros históricos originários de desastres causados pela hesitação e o acanhamento político diante do dia D --como o '7D' argentino, corajosamente agendado pela democracia do país vizinho.
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Quando o jornalismo é covarde

Por Kiko Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

“Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável”. Janet Malcolm



Uma das imagens mais revoltantes da história do jornalismo foi publicada hoje na capa do tabloide New York Post. Um homem tenta voltar à plataforma da estação na rua 49, enquanto o trem do metrô vem em sua direção. Seu nome era Ki Suk Han, imigrante coreano de 58 anos, casado, uma filha. Han morreria em decorrência dos ferimentos.

A reação foi instantânea. Por que o fotógrafo freelancer R. Umar Abbasi preferiu clicar ao invés de tentar salvar seu personagem? Por que o Post publicou? Por que ninguém presente à cena fez nada?

Abbasi declarou que tentou. “Eu comecei a correr, correr, na esperança de que o condutor pudesse ver meu flash”, contou. “Estou sendo injustamente massacrado pela imprensa. Estava carregando um equipamento pesado. Quando o homem caiu, ninguém ajudou. As pessoas começaram a correr”.

Abbasi afirma que disparou o flash 49 vezes. Se tivesse chegado a tempo, teria tentado puxar a vítima. Ele crê que Han ficou de 10 a 15 segundos nos trilhos antes de ser colhido.

Essa não é a melhor maneira de chamar a atenção do condutor de um trem ou de ajudar alguém a subir de volta a uma plataforma. E nada disso impediu Abbasi de, na sequência, ir à redação do Post vender as imagens.

Naeem Davis, um homeless de 30 anos, confessou ter empurrado o imigrante. Ele disse à polícia que os dois começaram a discutir depois de se trombar e que sua reação foi jogar Han nos trilhos. Depois, ficou ali parado, olhando o atropelamento.

David Carr, colunista do NYTimes, resumiu assim: “A capa do Post simboliza tudo o que as pessoas odeiam e suspeitam sobre o negócio de mídia: não apenas que os jornalistas são espectadores, eunucos morais e éticos que não intercedem diante do perigo ou da maldade, mas que torcem secretamente para que o pior aconteça”.
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Barão de Itararé inaugura núcleo no DF

Foto: Richard Silva
Do sítio do Centro de Estudos Barão de Itararé:

Um bate-papo descontraído, acompanhado de um delicioso churrasco, ocorrido no sábado (1/12), na Associação dos Servidores da Câmara dos Deputados (Ascade), marcou o lançamento do núcleo do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé no Distrito Federal. Importantes e históricos militantes da luta pela democratização da comunicação estiveram presentes, numa comprovação da pluralidade e unidade que caracterizam a marca da entidade.

Entre as cerca de 30 presenças, destaca-se a participação de Leandro Fortes da revista Carta Capital, os jornalistas Romário Schettino e Antônio Carlos Queiroz (“ACQ”), o coordenador do curso de Comunicação Social da Unieuro; o professor Fernando Braga; as dirigentes da Secretaria de Comunicação do Governo do Distrito Federal, Débora Cruz e Flávia Azevedo; o editor do Blog Conexão Brasília Maranhão, Rogério Tomaz Jr, entre outros.

O presidente nacional da entidade, Altamiro Borges (Miro) também participou da conversa, falando sobre a função agregadora dos atores que lutam pela democratização da comunicação, independentemente dos matizes políticos, que vem sendo cumprido pelo Barão de Itararé. “Somos uma grande confusão, que reúne gente de diversos partidos políticos, diversas entidades ligadas a comunicação, ativistas digitais, blogueiros, etc, cuja coesão se manifesta pelos quatro pilares que sustentam o Barão”, disse Miro.

Ele discorreu sobre os princípios norteadores da entidade, que é a democratização da comunicação, o movimento de mídias alternativas (blogs, redes sociais, rádios e tevês comunitárias, etc), formação dos militantes de comunicação e estudos da mídia. “Quem quiser contribuir com estas questões será bem-vindo no Barão de Itararé”, disse. Ele também destacou que Brasília revelava, a partir dos presentes, ter um importante quadro de ativistas que darão grandes contribuições para a entidade, envolvendo acadêmicos, jornalistas, blogueiros progressistas e militantes da comunicação.

Os presentes também fizeram questão de falar de suas preocupações relativas ao momento tanto dos debates nacionais quanto do Distrito Federal, como Antônio Carlos Queiroz, que ponderou sobre a criação do conselho de comunicação do DF. Por sua vez, Romario Schettino trouxe o tema do relatório que investigou o escândalo de grampos ilegais da imprensa britânica, apontando a necessidade da criação de um órgão regulador da comunicação na Inglaterra. Romario propôs que o Barão encaminhasse a tradução e lançamento do relatório, do que ficou conhecido como inquérito Leveson. A proposta foi aceita e será encaminhada pelo Barão nacionalmente.

Leandro Fortes destacou a formação política dos jornalistas e manifestou grande preocupação com o conteúdo acadêmico que está sendo transmitido aos jovens comunicadores. Lembrou que a bandeira da liberdade de expressão vem sendo distorcida pela grande imprensa e isso se reflete na formação nos cursos de comunicação social. “Todo canalha da imprensa tem o escudo da liberdade de expressão para proteger sua canalhice”, diz Leandro. Para ele, o núcleo do DF precisa tratar deste tema.

A preocupação é partilhada por Débora Cruz, da Secom/DF e pelo blogueiro Rogério Tomaz Jr. Assim, eles propuseram que o Barão/DF monte um projeto de curso, em módulos, nos mesmos moldes do que foi realizado pela entidade na capital paulista, em conjunto com a Escola Livre de Jornalismo, encabeçada por Fortes. A proposta também foi acolhida.

Os participantes decidiram montar um núcleo operacional e mais um conselho. A proposta acatada foi que o núcleo fosse composto por Sônia Corrêa, Leandro Fortes, Rogério Tomaz Jr, Maria Melo, Fabiane Azevedo, João Negrão, Romário Schettino, Antônio Carlos Queiroz e Luiz Aparecido Silva. Já o Conselho será construído gradativamente, já tendo sido aprovado que os primeiros membros: Débora Cruz, Fernando Braga, Eduardo Martins e Antônia Rangel.

A primeira atividade do núcleo já está convocada: será a participação no debate “Liberdade de expressão e concentração da mídia”, em Brasília, dia 11 de dezembro, no auditório da Faculdade de Comunicação (UnB). O evento contará com a presença do Relator Especial das Nações Unidas para promoção e defesa da liberdade de expressão e opinião, Frank De La Rue, que recentemente manifestou apoio à “Lei de Medios” da Argentina.
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A ficha de 2009 e a foto de 2012

Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:

A campanha de 2014 começou. Dois anos antes. E a prova disso não é o lançamento prematuro de Aécio Neves à presidência pelo PSDB.

Toda uma rede de militantes – apócrifos, em geral - ocupou a internet nos últimos dias, para uma campanha de ataques múltiplos contra a honra de Lula. A campanha é parecida com aquela feita contra Dilma em 2009 e 2010 – apontando a então ministra como “terrorista” perigosa. Fotos, montagens, “denúncias” falsas alimentaram as redes sociais. Em 2009, Dilma chegou a aparecer ao lado de um fuzil. A “ficha” (falsa) da ministra no Dops (“capturada”) circulou em blogs de extrema-direita.

Jornalistas mais afoitos embarcam em ondas desse tipo. Foi o que fez a “Folha” em 2009. Estampou a ficha de Dilma em primeira página. Quando a patranha ficou demonstrada, o jornal deu uma explicação inesquecível: publicara a ficha porque sua autenticidade “não podia ser confirmada, mas tampouco podia ser descartada”.

Agora, em 2012, Ricardo Setti da “Veja” pelo menos pediu desculpas. O jornalista (!) publicou foto-montagem grosseira em que Lula aparece abraçado a Marisa Leticia e Rose. A foto circulava pelas redes sociais. Setti achou genial ilustrar um “post” usando a foto - que imaginava ser verdadeira.

A “Veja” é capaz de qualquer coisa. Já caiu em conto de primeiro de abril. O glorioso “boimate” (piada de uma revista estrangeira, escrita sob encomenda para o primeiro de abril) foi levado a sério na publicação da família Civita. Os editores acreditaram na mistura genética de boi e tomate. Agora, a “Veja” de Ricardo Setti acreditou na montagem para agredir Lula, assim como a “Folha” acreditara na ficha falsa de Dilma.

Tudo isso mostra a podridão da velha mídia de sempre. Mas nada disso – diga-se – serve pra ganhar eleição.

Alias, imaginava eu que os tucanos seriam mais cuidadosos com a estrategia para 2014. O PSDB tem alguma chance de ganhar se caminhar para o centro com Aécio. O figurino “pitbull” – adotado por Serra, sob inspiração de blogueiros e pastores com estranhas obsessões sexuais – não deu certo! O figurino pitbull serve só para tornar os antipetistas mais raivosos, da mesma forma que unifica os lulistas para o combate contra os tucanos e a velha mídia.

Acontece que – no meio do caminho – há um eleitorado mais “centrista” que, nas eleições desde 2002, o PT conseguiu atrair. Gente que não detesta o PT, mas também não ama o Lula. Não é com montagens grosseiras que o PSDB vai conquistar essa gente.

Mas a publicação que ganhou destaque no site da Veja é só a ponta do iceberg – se me perdoam o lugar-comum. Na rede, no submundo da política e da velha mídia, o vale-tudo corre solto.

Um amigo jornalista procurou-me ontem pra contar que passou a receber emails falsos nos últimos dias – com as denúncias mais absurdas contra Lula. Outros colegas na Redação confirmam: há em curso a tentativa de criar – nas redes sociais – uma ”onda” incontrolável, pra colar em Lula a imagem de bandido/cafajeste. O “Mensalão” não colou, a ideia de chamá-lo de “apedeuta” não havia colado, o terrorismo religioso também não. Sobraram ataques pessoais. Foi o que Collor fez em 89.

Mas, podem perguntar alguns, por que atacar Lula se o adversário de 2014 deve ser Dilma? Escrevi sobre isso aqui – Lula, Dilma e o PT: fatiados. Enfraquecer a imagem de Lula é passo fundamental para a oposição. Dilma forte, tendo apoio de um ex-presidente tão forte como Lula, tornaria a batalha perdida antes de começar. Por isso, os ataques são “fatiados”.´É preciso minar Lula, o PT e – num segundo momento – Dilma.

Suponho que a “onda” na internet não garanta coisa nenhuma aos tucanos. Imagino até que os mais refinados entre eles sequer concordem com essa “onda” moralista rastaquera. É só mais um passo rumo ao pântano, onde a oposição sem programa se deixa dominar por blogueiros enfurecidos, pastores dementes e gente do submundo da política.

Ataques exagerados contra Lula e atos como a recusa em colaborar pra redução das contas de luz (esse sim adotado sob a égide da liderança mais “orgânica” do tucanato) só ajudam a reforçar a imagem de que a oposição joga contra o Brasil – numa tentativa desesperada de voltar ao poder.

Tenho a impressão que Aécio, se assumir de fato o comando do PSDB, vai mudar essa linha de ação. Até porque, uma campanha em que se exponha a vida pessoal de políticos e candidatos não é algo que possa interessar ao senador mineiro – fustigado, dentro do próprio partido, por dossiês e histórias sobre seus hábitos pessoais.
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