RELATÓRIO DA OCDE É AMPLAMENTE FAVORÁVEL AO BRASIL

UM RELATÓRIO (DA OCDE), DIFERENTES PESOS E MANCHETES

“O relatório da ‘Organização para o Crescimento Econômico e Desenvolvimento’ (OCDE) sobre a situação econômica mundial é amplamente favorável ao Brasil e sua política, ainda que [tendenciosamente] peça o que se poderia chamar de “correção de rumos” na direção do "liberalismo econômico".

A boa posição do Brasil fica mais evidente levando em conta fatores comparativos com outras economias também abordadas no relatório. Para o mundo, prevê-se crescimento econômico de 1,4% em 2013 e 2,3% em 2014.

Por Flávio Aguiar, direto de Berlim

A referência deste artigo está nas manchetes citadas no “Blog das frases” do companheiro e amigo Saul Leblon, da “Carta Maior”. Três manchetes, três realidade distintas sobre o relatório da “Organização para o Crescimento Econômico e o Desenvolvimento”, sobre o estado da arte no mundo e no Brasil.

Não esqueçamos que o relatório segue, como seria óbvio esperar, um “design” completamente liberal para discutir a economia mundial – e a nossa brasileira também. Apesar disso, ele é amplamente favorável ao Brasil e sua política, ainda que peça o que se poderia chamar de “correção de rumos” naquela direção do liberalismo econômico. Deixei o texto original em inglês, devido à complexidade da terminologia técnica, e ofereço abaixo uma tentativa de tradução. Cito também, no original, a tabela de indicadores econômicos oferecida pelo relatório, em que se prevê uma retomada do crescimento numa taixa de 4 % ao ano, a partir do ano que vem.

The effects of strong monetary and fiscal stimulus are gradually lifting the economy out of below-trend growth. Forward-looking confidence indicators look promising and unemployment is low. Inflation has declined and stabilized, albeit somewhat above the midpoint of the target range.

Growth is projected to pick up to about potential rates as stronger global growth, the depreciated real and recent measures to address the supply-side factors behind weak performance benefit investment and exports. Growth would be supported by further reducing the tax burden and tax complexity, containing labor costs, deepening long-term financial markets and improving infrastructure. The recently adopted trade protection measures, in contrast, could slow down productivity growth."

[Os efeitos de estímulos monetários e fiscais robustos estão levantando gradualmente a economia de uma tendência a ficar num nível abaixo do esperado. Os indicadores de uma confiança quando se foca o futuro parecem promissores e o desemprego é baixo. A inflação caiu e se estabilizou, embora um pouco acima da média almejada.

Projeta-se uma elevação do crescimento até uma taxa potencialmente tão robusta quanto a do crescimento global, o real desvalorizado e medidas recentes dirigidas a fatores de insumo que estão por trás de um desempenho fraco beneficiam o investimento e a exportação. O crescimento seria favorecido por uma maior redução do peso e da complexidade dos impostos, da contenção do custo do trabalho, do aprofundamento dos mercados financeiros de longo prazo e da melhora na infra-estrutura. As recentes medidas de proteção comercial, no entanto, podem retardar o crescimento da produtividade].

A boa posição do Brasil fica mais evidente levando em conta fatores comparativos com outras economias também abordadas no relatório. Para o mundo, prevê-se crescimento econômico de 1,4% em 2013 e 2,3% em 2014. Os respectivos números para esses anos são, conforme o país abordado:

Japão, 0,7% e 0,8%; Zona do Euro, - 0,1% e + 1,3%; Alemanha, 0,5% e 2%, mas com crescimento do desemprego em 2013; Reino Unido, 1,1% e 1,8%; Estados Unidos, em que o relatório afirma estar a economia e a taxa de emprego em recuperação lenta, 2,2% e 3,2%; França, 0,3% e 1,3%.

Enfim, os dados completos do relatório podem ser consultados em:  http://www.oecd.org/eco/economicoutlook.htm (lembrando que em inglês a sigla da OCDE é OECD).

A posição favorável do Brasil fica mais evidente ainda levando-se em conta o comentário do Secretário Geral da Organização, Ángel Gurría: “Os governos devem atuar decisivamente, usando todos os meios à sua disposição para reerguer a confiança e dar impulso ao crescimento nos Estados Unidos, na Europa e em toda a parte” (“Governments must act decisively using all the tools at their disposal to turn confidence around and boost growth and jobs in the USA, in Europe and elsewhere”), frase que não deixa de conter um “granum salis” de crítica à obsessão com a “austeridade” que assola a Europa.

De resto, o relatório aponta com fatores mais preocupantes e ameaçadores, nessa ordem, a recessão Européia e o “despenhadeiro” (ou, “paredão de rocha”, “cliff”) fiscal norte-americano, embora ressalte que, nesse último caso, se deva evitar um corte exagerado, precipitado ou indiscriminado nas despesas públicas para não comprometer aquela lenta recuperação.

Como se vê, SMJ, não há razão para se privilegiar apenas um ponto negativo em relação ao Brasil. Durma-se com uma mídia dessas!”

FONTE: escrito por Flávio Aguiar, direto de Berlim, e publicado no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21325 ). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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Frei Betto: "É PREFERÍVEL MORRER QUE FICAR PRESO"

Frei Betto

“Dá título a este artigo afirmação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, proferida a 13 de novembro. O ministro sabe o que diz. O Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo. Perde apenas para EUA, China e Rússia.

Por Frei Betto, em “Adital”

Hoje, nossas cadeias abrigam 515 mil pessoas em 1.312 unidades prisionais com capacidade máxima para acolher 306.500 detentos. Se o sistema judiciário brasileiro fosse menos lento e mais humanitário, 36 mil detentos já deveriam ter sido soltos ou beneficiados com a progressão de penas.

A Lei de Execução Penal assegura a cada preso seis metros quadrados de espaço na cela. Hoje, a maioria se espreme entre 70 centímetros e um metro quadrado. Daí as frequentes rebeliões.

O Brasil não tem política prisional e muito menos de reintegração social dos detentos. Diante da violência urbana, muitos clamam, ingenuamente, por mais cadeias. Pressionados pelo clamor popular, governos federal e estaduais investem em prisões o que deveriam destinar a escolas.

Nossas cadeias são verdadeiros queijos suíços, com multiplicidade de buracos. De dentro das celas, bandidos usam celulares para extorquir incautos (o golpe do sequestro de parentes) e comandar o crime organizado. Drogam-se com cocaína, maconha, crack, e recebem bebida alcoólica.

Privatizar presídios é a solução? Sim, para enriquecer empresários. Esse sistema estadunidense já é adotado nos estados de Pernambuco, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo e Santa Catarina. A empresa dona do presídio cobra do Estado o que ele gasta, em média, com cada detento: R$ 1.500. E mais R$ 1 mil por cabeça. Ao todo, R$ 2.500 por prisioneiro. Ora, quanto mais tempo o preso permanecer ali dentro, tanto mais lucro. Sem que haja preocupação de reintegração social.

Nossas unidades prisionais estão sucateadas e abandonadas. Pela LOA (Lei Orçamentária Anual), elas deveriam ter recebido do governo federal, este ano, R$ 277,5 milhões. Mereceram apenas R$ 2.579,776,61 – menos de 1% do previsto!

Apenas no Piauí não há superlotação de cadeias. País afora, os presos são confinados em espaços exíguos, promíscuos, sem acesso a atividades esportivas, artísticas, escolares e profissionais.

O que fazer diante da falta de vagas em nossas unidades prisionais? Adotar a pena de morte? Multiplicar o número de penitenciárias?

Estive preso quatro anos (1969-1973). Dois, entre presos comuns de São Paulo – Penitenciária do Estado, Carandiru e Penitenciária de Segurança Máxima de Presidente Venceslau.

Nessa última, na qual fiquei mais de um ano, foi possível recuperar alguns detentos através de grupos bíblicos, teatro, desenho e pintura e, sobretudo, pela instalação de um curso supletivo de ensino médio, que interessou 80 dos 400 presos.

Nos dois anos em que trabalhei no Palácio do Planalto (2003-2004), tentei ressaltar a urgência de reforma em nosso sistema prisional. Em vão.

As delegacias e os estabelecimentos de apreensão de menores funcionam como ensino fundamental do crime. Os presídios, como ensino médio. As penitenciárias, como ensino superior.

Como é possível que o Estado não consiga algo tão simples quanto evitar a entrada de celulares na cadeia? Alguém consegue passar com celular escondido no controle dos aeroportos? Isto sim, merece ser imitado dos EUA: detentos usam orelhões para se comunicar com seus familiares e todas as ligações são grampeadas.

Nossos policiais são, em geral, despreparados, a ponto de considerarem direitos humanos como alforria de bandidos; alguns carcereiros dificilmente resistem à corrupção e tratam o preso como inimigo, e não como reeducando; o sistema prisional não é pensado tendo em vista a reinserção do preso como cidadão na sociedade.

A educação é a solução, fora e dentro das prisões. Como evitar a criminalidade se 5,3 milhões de jovens brasileiros, com idade entre 18 e 25 anos, estão fora da escola e sem trabalho?

Nossas penitenciárias poderiam funcionar como escolas profissionalizantes. Aulas de mecânica, alfaiataria, computação e culinária, associadas ao aprendizado de idiomas e à dedicação a práticas esportivas e artísticas (teatro, música, literatura), certamente esvaziariam as nossas cadeias. O progresso no curso equivaleria a retrocesso na pena.

Se o Estado e a sociedade não cuidam dos presos, eles mesmos tratam de buscar o que mais lhes convém: auto-organização em comandos; rede de informantes entre carcereiros e policiais; vínculos com os bandos que atuam em liberdade. E nós, cidadãos, pagamos duplamente: por sustentar um sistema inoperante e ser vítimas da recorrente espiral da violência.”

FONTE: escrito por Frei Betto, em “Adital”. Transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=199584&id_secao=10). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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O CAPITALISMO FELIZ

Por José Luís Fiori


“A história do desenvolvimento capitalista dos séculos XIX e XX registra a existência de alguns países com altos níveis de desenvolvimento, riqueza e qualidade de vida, e com baixa propensão nacional expansiva ou imperialista. Como é o caso das ex-colônias britânicas, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, e dos países nórdicos, Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia. Todos apresentam taxas de crescimento alta, constante e convergente, desde 1870, só inferior a da Argentina até a 1º Guerra Mundial. Hoje, são economias industrializadas, especializadas e sofisticadas; a Noruega tem a 3ª maior renda per capita, e o maior índice IDH (0,943), do mundo; a Austrália tem a 5ª renda per capita, e o 2º melhor IDH do mundo (0,929); e quase todos têm renda média per capita entre 50 e 60 mil dólares anuais. A Noruega é considerada, hoje, o país mais rico do mundo, em “reservas per capita”, e foi considerada pela ONU, em 2009, como “o melhor país do mundo para se viver”. E a Dinamarca já foi classificada – entre 2006 e 2008 - como “o lugar mais feliz do mundo”, e o segundo país mais pacífico da terra, depois da Nova Zelândia, e ao lado da Noruega.

Canadá, Austrália e Nova Zelândia foram colônias de povoamento da Inglaterra durante o século XIX, e depois se transformaram em Domínios da Coroa Britânica, até depois da 2º Guerra Mundial. Mas, até hoje, são nações ou reinos independentes que fazem parte “Commonwealth”, e mantêm o monarca inglês como seu chefe de estado. Como colônias e domínios funcionaram sempre como periferia da economia inglesa, mesmo depois de iniciado seu processo de industrialização, mantendo-se – em média - a participação do capital inglês, em até 2/3 da formação bruta de capita desses três países. E todos eles estabeleceram relações análogas com a economia norte-americana, depois do fim da Segunda Guerra. Neste século e meio de história, o Canadá – como caso exemplar – esteve ao lado da GB e dos EUA na 1ª e 2ª Guerras Mundiais, além de participar da Guerra dos Boers e da Guerra da Coréia e de ser um dos membros fundadores da OTAN em 1949. Participou das Guerras do Golfo, do Iraque, do Afeganistão e da Líbia, e participa diretamente do sistema de defesa aeroespacial norte-americano. E o mesmo aconteceu, em quase todos os casos, com a Austrália e a Nova Zelândia.

Por outro lado, os países nórdicos foram expansivos, e a Suécia em particular, foi um grande império dominante, dentro da Europa, até o Século XVIII. Mas depois de sua derrota para a Rússia, em 1720, e depois da sua submissão dentro da hierarquia de poder europeia, os estados nórdicos se transformaram em pequenos países, com baixa densidade demográfica e alta dotação de recursos naturais, funcionando como pedaços especializados e cada vez mais sofisticados do sistema produtivo europeu. A Suécia ficou famosa pelo “sucesso” de sua política econômica anticíclica ou “keynesianas”, depois da crise de 1929, mas de fato logrou superar os efeitos da crise graças à sua condição de sócia econômica, e fornecedora de aço e equipamentos para a máquina de guerra nazista, que também ocupou a Dinamarca e exerceu grande influência sobre a região, durante toda a Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, a Dinamarca e a Noruega se tornaram membros da OTAN, e a Dinamarca segue sendo uma passagem estratégica para o controle do mar Báltico.

Por sua vez, a Suécia participou das Guerras do Kosovo e do Afeganistão, e foi fornecedora de armamentos para as forças anglo-saxônicas na Guerra do Iraque. Por último, a Finlândia, que fez parte da Suécia, até 1808, e da Rússia, até 1917, acabou ocupando lugar fundamental dentro da Guerra Fria, até 1991, e ainda ocupa posição estratégica até hoje, no controle da Bahia da Finlândia e da própria Rússia.

Por tudo isto, apesar de que esses países tenham origens e trajetórias diferentes, é possível identificar algumas coisas que eles têm em comum:

i. São pequenos ou têm densidade demográfica muito baixa;
ii. Têm excelente dotação de recursos, alimentares, minerais ou energéticos;
iii. Todos ocupam posições decisivas no tabuleiro geopolítico mundial;
iv. E todos se especializaram em serviços ou setores industriais de alta tecnologia, e em alguns casos, dentro da indústria militar.

Alguns diriam que se trata de um caso típico de “desenvolvimento a convite”, mas isso quer dizer tudo e nada ao mesmo tempo. O fundamental é que o sucesso econômico desses países não se explica por si mesmo, porque, desde o século XIX, os “domínios” operaram como “fronteiras de expansão’ do “território econômico” inglês, e como bases militares e navais do Império Britânico. E os países nórdicos, depois que foram submetidos, se transformaram em satélites especializados do sistema de produção, e do poder expansivo europeu. E hoje, finalmente, todos esses sete países operam como pequenas “dobradiças felizes” da estrutura militar e do poder global dos Estados Unidos.”

FONTE: escrito por José Luis Fiori, professor titular de Economia Política Internacional da UFRJ e coordenador do Grupo de Pesquisa do CNPQ/UFRJ "O Poder Global e a Geopolítica do Capitalismo".  (www.poderglobal.net). Artigo publicado no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5882). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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SEM O FIM DA OCUPAÇÃO, OS PALESTINOS FARÃO UMA 3ª INTIFADA

Jamal Juma e Ronnie Kasrils

"O problema é a ocupação, esse é o maior dos problemas. A aprovação na ONU não vai mudar isso. A ONU fracassou, a comunidade internacional fracassou conosco”. Para ativista palestino, a continuação da ocupação e do expansionismo israelense está tornando uma terceira "intifada" inevitável.

Por Katarina Peixoto

Porto Alegre - Jamal Juma é um ativista que todos os que fazem parte do mundo do “Fórum Social Mundial”, em todos os continentes, conhecem. E admiram. Ele é coordenador de um movimento social de resistência não violenta à ocupação israelense, materializada no “Muro de Anexação de territórios palestinos”, o que começou a ser erguido há pouco mais de dez anos, na Cisjordânia. Sujeito tranquilo, pacifista intransigente, foi preso em fins de 2009 sob a acusação (ou seja, a falta dela) de que estaria plantando oliveiras e liderando marchas de protesto contra o Muro. Se tem alguma evidência do quanto a democracia israelense está corroída, é a prisão de Jamal: mais de dez dias numa sela com vômito e fezes, sem acusação formal, sem processo, pelo fato de ser um pacifista, isto mesmo, de resistir sem violência. A sua libertação se deu graças à pressão internacional mobilizada por Maren Mantovani, ativista italiana e coordenadora de relações internacionais do “Stop The Wall”, que mora em Ramalah há dez anos. Foi preciso que sete embaixadores interviessem no “Knesset”, o parlamento israelense, para obrigar Israel a libertar o ativista.

Em janeiro de 2010, num vídeo, Jamal cumprimentou os participantes de uma das edições do FSM, em Porto Alegre . Ele tinha, então, acabado de sair da prisão. Estava abatido, mas sorridente. Nos Fóruns anteriores, ele parecia ainda mais otimista. Defendia que a única saída para os problemas oriundos do expansionismo sionista era a retomada da solução de um estado para dois povos, uma bandeira pacifista originária dos partidos comunistas europeus, na década de sessenta.

Ontem, aqui em Porto Alegre, Jamal parecia mudado. Ele chegou depois de nossa longa conversa com Ronnie Kasrils, sentou-se à mesa e começou imediatamente a falar. Disse que as coisas estavam muito piores, na região, que tinha havido recrudescimento, que Israel seguia de maneira incontrolada com os assentamentos, que a população estava sem esperanças. Perguntei-lhe sobre as expectativas para quando a Autoridade Nacional Palestina apresentasse o projeto de reconhecimento da Palestina como "Estado observador", na Assembleia Geral das Nações Unidas [Foi reconhecida como tal].

Não tenho expectativas. Não vai mudar nada. Não significa coisa alguma em relação à ocupação e ao muro. E o problema é a ocupação, esse é o maior dos problemas. A aprovação na ONU não vai mudar isso. A ONU fracassou, a comunidade internacional fracassou conosco”. Perguntei-lhe o que pensava sobre as declarações dos membros da diplomacia do Fatah, de que esse reconhecimento seria um primeiro passo para que Israel recue para as fronteiras da linha verde (1967), e ele foi enfático: disse que não acreditava nisso, que uma solução diplomática a partir da comunidade internacional, e não a partir da sociedade civil palestina, não iria demover Israel de sua política expansionista.

Não fiz a pergunta que gostaria de ter feito: a sua posição sobre a solução de dois estados mudou? Agora você defende dois estados, e não mais um só estado? Jamal tem razão em não responder a essas perguntas. “Eu estou aqui para discutir as condições de qualquer debate sobre estado, diplomacia, ONU, Lei Internacional, que Israel não cumpre, mesmo. Estou aqui para falar do que há de mais fundamental, que é o reconhecimento dos direitos do povo palestino”, disse Jamal, em tom grave.

FRACASSOS DA DIPLOMACIA, INTIFADAS E EXPANSIONISMO ISRAELENSE

Se o movimento diplomático não trará frutos quanto à ocupação e se a população está sem esperanças, sobretudo depois desse último ataque israelense a Gaza, não estaríamos diante de uma terceira intifada? Qual o risco de uma terceira intifada e qual seria a diferença dessa intifada em relação às outras? A resposta veio na hora:

Já estamos caminhando para a terceira intifada, é inevitável isso. A população não aguenta mais. Pagamos duas vezes o preço da água, que nos é racionada, de uma água que é nossa, de nosso território, que foi usurpado, enquanto os judeus assentados vivem em abundância, alguns com piscina em casa, jogando água fora, pagando menos”. Ronnie Kasrils, que estava sentado ao lado de Jamal, olha para mim e diz: “Isto é muito pior do que o ‘apartheid’. E repete: é inacreditável, mas é verdade. Eu vi com meus olhos, quando estive lá, como ministro”. Por que a proposta palestina na ONU é inútil? Jamal responde que o muro separou vilas, cidades, famílias, que desagregou comunidades inteiras, que recortou populações e que não é uma votação na ONU que vai desfazer o dano causado.

Comentei que a segunda intifada ocorreu há pouco mais de dez anos, quando também começou a instalação do muro de concreto em territórios ocupados. Observei a diferença fundamental entre a primeira e a segunda intifada e perguntei qual seria a característica dessa terceira intifada, que ele aponta como provável e de certa forma já em curso. “A primeira intifada foi um levante popular, e as crianças e adolescentes começaram a jogar pedras após a operação ‘quebra ossos’, comandada, preste atenção nisso, por Yitzhak Rabin. Os militares israelenses chegavam perto dos adolescentes e batiam em seus braços, quebrando os seus ossos, com o objetivo único de amedrontar, calar as bocas e aterrorizá-los. Estávamos em 1987 e a resposta não tardou, eclodiu a primeira intifada, que foi um levante sobretudo contra as lideranças locais, palestinas, que nada faziam diante dessa humilhação. A resposta israelense foi brutal: ataques aéreos sobre ruas cheias de gente, indiscriminadamente. Foi uma repressão tão violenta que sufocou o caráter popular das manifestações”.

Daí vieram os “Acordos de Oslo”, eu disse. Que Israel não cumpriu, porque não desocupou nada e, numa operação deliberada de provocação, Ariel Sharon deu início à segunda intifada, retrucou Jamal, mais ou menos com essas palavras. A segunda intifada foi caracterizada, do lado palestino, pela figura do homem bomba palestino, pelo fortalecimento do Hamás, sobretudo na Faixa de Gaza e pelo consequente enfraquecimento político do Fatah. Do lado israelense, a resposta à segunda intifada foi especialmente brutal: ataques aéreos em resposta às explosões dos homens bomba, sistematização da demolição de casas e da intensificação das construções nos assentamentos e a precarização e discriminação da cidadania dos árabes israelenses, sobretudo os moradores de Jerusalém. Mas o seu aspecto mais duradouro e medonho foi, e segue sendo, o erguimento do muro do ‘apartheid’, como os movimentos sociais palestinos e de solidariedade à resistência palestina passaram a chamar, e que Israel chama de “Muro de contenção de terroristas”.

São mais de 700 quilômetros de extensão, ladeados por uma faixa de 60 metros de largura, denominada unilateralmente de “zona de exclusão” e incorpora territórios palestinos. Vai sem dizer que, se os governos de Israel dizem a verdade, isto é, que o Muro é uma medida para contenção da infiltração de terroristas e homens-bomba, e não uma medida para anexar à força mais territórios palestinos, não tem justificativa moral para seguir nas construções ilegais, comportando-se como um estado pária em relação à comunidade internacional.

Segundo Jamal, de 2002 para cá, após a construção do “muro de anexação”, o que houve foi a intensificação dos assentamentos e das construções. Além do incentivo à imigração, do subsídio às construções de condomínios novos em territórios palestinos, um novo elemento foi introduzido, como que para dar suporte ideológico ao expansionismo: líderes, a maior parte rabinos, cujo papel é incentivar a crença teocrática no destino daqueles territórios. “Um dos rabinos, mostrando-se bastante compreensivo, chegou a dizer que os palestinos tinham feito um grande favor ao povo judeu, de cultivar aquelas terras e de prepará-las, para que, quando nós chegássemos, pudéssemos desfrutá-la. Isso foi obra de Deus, disse ele”, ironizou o ativista palestino. Perguntei se a percepção de que Israel estaria fomentando uma espécie de “cinturão” de assentados fundamentalistas procedia. “Não”, respondeu. Segundo Jamal, apenas 20% dos assentados são ortodoxos ou fundamentalistas. “O resto são imigrantes do Leste Europeu e da Rússia, que chegaram mais recentemente, empobrecidos e que se tornam cativos do discurso fundamentalista no mais das vezes para manter as suas casas, mas não significa que sejam religiosos. São trabalhadores, que foram incentivados a vir para Israel, a viver em nosso território como se fosse deles”.

O IMPACTO DA "PRIMAVERA ÁRABE" SOBRE A "TERCEIRA INTIFADA"

E se a terceira intifada está por vir, se é inevitável que ecloda, qual seria a sua característica, em comparação com as outras duas? Fiz essa pergunta porque, entre a explosão da segunda intifada e a véspera da votação do reconhecimento da palestina como estado observador, na ONU, passaram-se mais de dez anos de Fóruns Sociais mundo afora e isso fortaleceu e disseminou a questão palestina , mobilizando organizações em todos os continentes, o que deu outra dimensão ao drama palestino e arregimentou muito mais apoio e solidariedade internacional. Eu perguntei mais ou menos isto: na segunda intifada, os palestinos não tinham vocês. Será que agora, dez anos depois, com a dimensão internacional que a questão palestina ganhou, não mudou nada? “Sim”, respondeu.

Mudou muita coisa. Mas nós somos um povo que vive sob ocupação há cem anos”, respondeu, altivo. Nós aprendemos muito com a ocupação britânica, com as políticas colonialistas de dividir para conquistar, dos ingleses e, de sessenta anos para cá, com a brutalidade sionista, acrescentou Jamal. Foi como se tivesse me dito que não dá para olhar o drama dos palestinos com base nos últimos dez anos, que não é o movimento por ele também criado, não é a resistência pacífica e não violenta que explicariam, isoladamente, um processo de opressão, renegação e exclusão territorial de um século.

Ronnie Kasrils interrompe Jamal e pede que ele volte a falar do que seria a terceira intifada, de quais seriam, na sua opinião, as suas características. “Acredito que a terceira intifada, sobretudo após esse último ataque de Israel a Gaza, será mais parecida com a primeira, terá um caráter mais popular”. Marco Weissheimer, então, perguntou se a “Primavera Árabe”, que resultou na mudança de poder no Egito e na Tunísia, explicaria essa característica, de um levante mais popular, socialmente enraizado. Jamal responde que sim, a mudança no Egito e na Tunísia, que enviaram ministros a Gaza, logo que começou o último ataque israelense à região e ofereceram ajuda aos palestinos que vivem encarcerados a céu aberto, como lembrou, estabeleceu uma mudança importante no estado das coisas.

Os palestinos saíram do isolamento a que o próprio mundo árabe parece tê-los condenado, e isso implica mudanças nas ações políticas e de resistência não violenta, mas Jamal também mudou. Em contraste com o otimismo de Kasrils, o ativista palestino não demonstra otimismo com o dia de amanhã, para os palestinos.”

FONTE: escrito por Katarina Peixoto no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21334).
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FHC imita ditador e fica angustiado: 'o povo vai bem, mas os investidores vão mal'

Acostumando a quebrar o Brasil e deixar os brasileiros numa pindaíba danada, quando havia alguma crise internacional (em qualquer canto do mundo), o ex-presidente FHC escreveu um artigo angustiado porque o povo vai bem, mesmo diante da crise internacional, e tem votado pela continuidade dos governos petistas de Lula e Dilma.

O tucano reclama das políticas nacionalistas sobre o petróleo do pré-sal, reclama das políticas anti-cíclicas e, pasmem, depois de seu governo produzir o racionamento elétrico do apagão, tem a cara de pau de reclamar da queda na conta de luz proposta por Dilma, porque "prejudica" investidores privados do setor elétrico, segundo o tucano. Certamente está dizendo isso de comum acordo com o senador Aécio Neves (PSDB), o mais ferrenho opositor da queda no valor da conta de luz para o brasileiro.

Por fim o ex-presidente tucano recorre ao "udenismo" que tem marcado o discurso fajuto do PSDB, porém o povo, que não é bobo, sabe que o partido campeão de fichas sujas é o PSDB, e que as riquezas nacionais foram vergonhosamente saqueadas no governo tucano vendilhão da Pátria. 

FHC ainda teve a cara de pau de criticar o nepotismo, "se esquecendo" que empregou sua filha no Palácio do Planalto durante 8 anos de presidência, e depois a colocou como funcionária "fantasma" no gabinete do ex-senador Heráclito Fortes (DEM-PI). Só faltou reclamar da queda de juros. Deve ter sentido que pegaria mal.

FHC só elogiou a mídia.

A moral da história do artigo de FHC lembra o ditador Médici, só que adaptado à realidade atual. Médici disse durante o chamado "milagre brasileiro" no início dos anos 70: "O Brasil vai bem, mas o povo vai mal". Só faltou FHC escrever "O povo vai bem, mas o neoliberalismo demotucano vai mal".
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