Indiferentes - Antonio Gramsci
Depois de ter noticiado aqui (22/2) que Luca & Paolo, dois conhecidos humoristas da televisão italiana, leram no Festival de San Remo um longo trecho do artigo“Indifferenti”, que Gramsci escreveu em 1917, algumas pessoas me perguntaram como fazer para achar o texto. Em vez de somente passar a referência, pensei que seria melhor reproduzir o texto todo, que é belíssimo.Segue abaixo, com o adendo de que a versão original dele pode ser acessada emIndiferentesAntonio GramsciLa Città futura, 11/02/1917, pp. 1.Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel, acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e de tomar partido. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.A indiferença é o peso morto da história. É a bola de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam frequentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor que as mais sólidas muralhas, melhor que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes os leva a desistir de gesta heroica.A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói até mesmo os planos mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. Aquilo que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heroico (de valor universal) pode gerar, não se deve tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa que se faça, deixa que se enrolem os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa que se promulguem leis que depois só a revolta fará anular, deixa que subam ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar.A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absenteísmo. Os fatos amadurecem na sombra, poucas mãos, não submetidas a qualquer controle, tecem a teia da vida coletiva, e a massa ignora, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens ignora, porque não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; a teia tecida na sombra chega a seu fim, e então parece que é a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um enorme fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que todos se tornam vítimas, os que quiseram e os que não quiseram, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então se zangam, gostariam de eximir-se às consequências, gostariam que ficasse claro que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos se perguntam: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos se culpam pela sua indiferença, pelo seu ceticismo, por não terem dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitar aquele mal, combatiam com o propósito de procurar o tal bem que pretendiam.A maior parte deles, porém, perante fatos consumados, prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não porque não vejam as coisas com clareza, e às vezes não sejam capazes de projetar belas soluções para os problemas mais urgentes ou para os problemas que, embora requerendo ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções permanecem belissimamente infecundas, mas essa contribuição para a vida coletiva não é animada por nenhuma luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente senso de responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.Odeio os indiferentes também porque suas lamúrias de eternos inocentes me dão tédio. Peço contas a cada um deles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe cotidianamente, pelo que fizeram e sobretudo pelo que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou partidário, vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre poucos, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à obra inteligente dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto os poucos se sacrificam, se acabam no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela, emboscado, com a pretensão de usufruir do pouco bem que a atividade de poucos tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado porque não ter conseguido seu intento.Vivo, sou partidário. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.
VERGONHA!!! CONCESSIONÁRIA GAÚCHA IGNORA TRAGÉDIA E COBRA PEDÁGIO DUPLO EM RODOVIA INTERROMPIDA POR ENCHENTE
Em entrevista concedida à RadioCom, emissora comunitária de Pelotas, a deputada estadual Miriam Marroni (PT), líder do governo na Assembleia gaúcha, denunciou a postura imoral e criminosa da concessionária de rodovias Ecosul. No apogeu da tragédia que arrasou o município de São Lourenço do Sul nesta quinta-feira, a empresa cobrou pedágio duas vezes de motoristas que rumavam pela BR 116, rumo a Porto Alegre, mesmo com o trânsito já interrompido logo à frente, na altura de Turuçu, por causa do desmoronamento de um trecho da estrada.
Centenas de motoristas de carros e caminhões tiveram que retornar a Pelotas e, na volta, foram obrigados a pagar novamente pelo pedágio de uma via que não puderam utilizar.
"A PRF deu o alerta às 2h da manhã do mesmo dia, depois que um caminhão caiu no vão da estrada; todos estavam informados da interrupção da rodovia. Mesmo assim, a Ecosul continuou deixando veículos passarem, cobrando pedágio de ida e volta", disse Miriam. "Saí às 6h, passei pelo pedágio. Em Turuçu, com a queda da ponte, havia filas e filas de motoristas dando volta. A empresa sabia desde a madrugada e não colocou nenhuma barreira esclarecendo os motoristas, como está agora. Foi uma grande irresponsabilidade da Ecosul saber desde o início da madrugada que não havia passagem pela rodovia e não avisar seus usuários”, continuou a deputada.
A indignação era grande. Centenas de pessoas que passaram pela praça, pagaram o pedágio, percorreram cerca de 30 quilômetros para esperar na fila, retornar e novamente pagar o pedágio. “É um grande absurdo, é caso de denúncia para o Ministério Público e Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). É revoltante observar que numa situação como essa, em que a interrupção da rodovia foi informada pela Polícia Rodoviária Federal nas primeiras horas da madrugada, a Ecosul não tenha orientado os operadores das cancelas a informar e orientar os usuários”, afirmou Miriam.
Foto: Nauro Júnior
.
Ouça a íntegra da entrevista:
.
Assinar:
Postagens (Atom)