Por que o Rio Grande do Sul é assim – parte VII

O castilhismo e a chamada “liberdade de imprensa”
Se um dos aferidores da democracia formal é de fato a liberdade de imprensa, então, o RS tinha mais democracia no final do século 19 do que na presente conjuntura. No final do Império acontecia um vivo e candente debate democrático entre os órgãos de imprensa local, divididos entre publicações religiosas e não-religiosas, e estas subdivididas entre republicanos radicais, liberais monarquistas, liberais republicanos, e conservadores.

Hoje, este debate está morto. Não temos mais pluralidade nos órgãos de comunicação. Atualmente existe uma única linguagem político-ideológica. A pluralidade é apenas numérica e segundo a modalidade da mídia. De resto, temos uma mídia de pensamento único e inquestionável, a mídia do partido único da mercadoria. Que confunde deliberadamente (ideologicamente) cidadão com consumidor. A democracia que apregoa fica reduzida à miséria espiritual de se escolher entre um celular A, B ou C, uma bugiganga ruim ou uma bugiganga péssima. Os consumidores são laureados “vencedores”, os nãoconsumidores são indexados como “perdedores”.
A velha bandeira liberalburguesa da cidadania é substituída pelo audór colorido e iluminado do consumidor unidimensional. A proclamada “liberdade de imprensa” é a liberdade embrutecida do consumidor, não do cidadão esclarecido e autônomo. O jornal mais exaltado na propaganda republicana no Rio Grande do Sul sem dúvida foi o diário A Federação. Foi fundado praticamente junto com o Partido Republicano Rio-grandense (PRR) no início da década de 1880. Chama a atenção, pois, o relêvo que era dado pelos positivistas à questão de uma imprensa partidária atuante e combativa. Seu redator, Júlio de Castilhos,
compreendia essa importância estratégica desde os tempos de estudante, quando já mantinha uma pequena publicação de divulgação e debate político.

Antes disso, ainda, os estudantes Castilhos e Assis Brasil, então aliados e íntimos companheiros de ideais republicanos, haviam fundado o “Clube 20 de Setembro” com a intenção de criarem um círculo de estudos dos ideais Farroupilhas. Destes estudos coletivos resultaram dois trabalhos publicados em 1882: História popular do Rio Grande do Sul, de Alcides Lima (já uma preocupação com a categoria popular), e História da República Rio-Grandense, de Assis Brasil.

Castilhos se dedicou integralmente ao jornal A Federação, fazendo deste diário um instrumento forte de combate à monarquia. Em janeiro de 1885, ano que seria marcado por “sensacionais combates de Imprensa”, segundo um autor, chegam a Porto Alegre, o Conde D`Eu e a princesa Isabel, sua esposa. Castilhos mostra toda a convicção política e a sua “audácia irreverente em face de membros da família imperial, tanto mais grave por deflagrar num ambiente de província, em meio à aura de bajulação que envolvia o passeio propagandístico dos sucessores do trono” de Pedro 2º.

Júlio de Castilhos escreveu em A Federação: “O 1º Reinado foi a violência. O 2º é a corrupção. Que será o 3º ? O 3º não constituirá mais do que uma esperança dos príncipes que atualmente nos visitam, esperança que há de ser infalivelmente malograda”.

E prossegue nas suas acertadas previsões:
“A Monarquia há de baquear. O Brasil pertence à América e a América pertence à República. O sr. Conde D`Eu , em vez de fazer tentativas contra a solução republicana, e a bem do 3º Reinado, devia ter presente sempre ao seu espírito estas palavras que o Rei Luís Felipe, seu avô, disse ao Ministro Guizot: ‘Não consolidaremos jamais a monarquia na França, e um dia virá em que meus filhos não terão pão’.

Que fecunda lição para um príncipe! Medite sobre ela o sr. Conde D`Eu. A experiência ensina!” – advertiu o jovem e corajoso militante republicano. Menos de quatro anos depois suas palavras tornaram-se realidade e abria-se um largo caminho de conquistas para o PRR que, a rigor, permaneceria no poder
até a década de 30.

A Federação não seria um diário singular na luta política do PRR, inúmeros outros jornais e publicações republicano-positivistas seriam criadas nos quase setenta municípios do Rio Grande do Sul e se constituiram em instrumentos estratégicos de criação e consolidação do poder castilhista-borgista por quase quatro décadas. De outro lado, os opositores do castilhismo, do Partido Federalista, também tinham suas inúmeras publicações de propaganda política, fazendo do Rio Grande do Sul um território de intenso debate e livre
manifestação pela cidadania.

Já se vê que no quesito “liberdade de imprensa” o Rio Grande do Sul anda mais atrasado que no fim do século 19. 
Foto: a família imperial brasileira, Conde D'Eu, Dom Pedro 2o, Teresa Cristina e a Princesa Isabel no final do Segundo Reinado – objeto de duras críticas de Júlio de Castilhos em A Federação.

Texto de Cristóvão Feil (http://www.diariogauche.blogspot.com/) 
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Caminhada da Unidade Popular arrasa no Brique

 
A adesão à caminhada do candidato Tarso Genro [PT] da Unidade Popular pelo Riogrande apavorou os demais partidos de oposição, que também se encontravam no Brique na manhã de domingo. Estes fecharam parte da José Bonifácio, postando-se no meio da rua, impedindo o percurso completo da caminhada e a visualização dos participantes, pelo público que visitava a feira, na sua inteireza.

Apesar do gesto indelicado de quem não sabe perder, foi impossível esconder as bandeiras, adesivos e a voz de quem cantava "Tarso aqui/Dilma lá" nesta manhã nublada de domingo.

Para quem não via tamanha mobilização política partidária deste quilate, por parte do Partido dos Trabalhadores, sexta-feira e domingo, em Porto Alegre, foi de lavar a alma.

Foto: Cristhine Genro da página Tarso13.
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A política em estado de sofrimento


A poucos dias da ida de milhões de brasileiros às cabines de votação, não há festa cívica no país. Nunca antes tivemos um processo eleitoral tão insosso e despolitizado, tão vazio de elementos para que se entendam o mundo em que vivemos e o ciclo em que ingressaremos, seja quem forem os próximos governantes.

Não vale a pena investir contra os políticos, ainda que a responsabilidade deles deva ser apontada. Talvez eles estejam sem forças, não tenham sabido reagir e se deixaram engolir pela pasmaceira geral. Pode ser que somente sejam o produto da prevalência de um modo de fazer política que se deleita em disputar a atenção dos mais pobres em troca de promessas ilimitadas de abrigo e proteção – um populismo atualizado e matreiro, mas nem por isso menos deletério. Embalado pela adesão generalizada das massas e das elites do país, esse modo de fazer política encurralou a oposição democrática, fazendo dela uma caricatura, um corpo sem pernas e sem cabeça, erraticamente em busca do tempo perdido.

O mal-estar que acompanhou a campanha não é um produto mecânico da má qualidade dos políticos, nem uma falha das instituições. Tem dimensão universal, pode ser sentido em outras partes do mundo. A perda de confiança na política, o desinteresse da opinião pública pelos políticos, a sensação generalizada de que trabalham mal, que mais criam do que resolvem problemas – tudo isso parece entranhado na cultura da época. Estamos perante um problema que está além de responsabilidades pessoais ou institucionais.

Há vida aqui fora. Os problemas e dificuldades se repõem sem cessar, agravando desníveis e desigualdades. A sociedade manifesta sua insatisfação e suas contradições de diferentes maneiras, mas sua voz não assume forma política, não consegue se unir nem definir com clareza o alvo a atingir. Faltam-lhe operadores e recursos organizacionais. A política entrou em estado de sofrimento, a representação parece levitar, como se não tivesse bases de sustentação.

É o preço que se está pagando pelo ingresso da humanidade numa nova fase do capitalismo, movida a velocidade, tecnologia, consumo, fluxos ininterruptos de informação, conectividade permanente.

No caso brasileiro, para complicar, o Estado e a política estão confundidos pelo cruzamento de modernidade tardia e condição periférica: ficamos excessivamente modernos sem deixarmos de ser pobres, desiguais e atrasados. A mistura desses dois universos é terrível. Embaça tudo. As instituições políticas se mantêm, mas perdem eficácia e qualidade. Soltam-se da sociedade e passam a afastar os cidadãos das decisões referentes à coletividade. Os eleitores flutuam, sem saber ao certo o destino real de seu voto e sem compreender a lógica do sistema eleitoral.

Os políticos, por sua vez, não se mostram à altura dos tempos. Estão sem estatura técnica e intelectual, lealdade ao povo e uma idéia de país. Vítimas não inocentes desse sistema, os partidos sobrevivem, mas não participam das eleições como forças ideológicas ou programáticas coesas, não se comportam como expressão de movimentos orgânicos de opinião. Reduziram-se à luta pelo poder.

Os bons parlamentares – sim, eles existem – não parecem possuir peso e articulação suficientes para dar às casas legislativas a expressão que precisam ter, nem para desfazer a imagem negativa que as cercam. Com isso, os cidadãos ficam despojados de uma instância confiável de representação política e de processamento democrático de demandas e reivindicações.

A propaganda eleitoral acentuou a gravidade da situação. Mais uma vez, foi marcada pelo mais puro bestialógico. Teve alguma serventia na parte dedicada aos cargos executivos, mas foi patética no caso dos candidatos às Assembléias Legislativas e ao Congresso Nacional. Apresentou-os a contragosto, como personagens secundários, aprisionados em camisas-de-força que os transformaram em marionetes e ventríloquos. Não deram espaço para debates que valorizassem o trabalho legislativo e explicassem sua importância para a população, ou que ao menos indicassem ao eleitor a relevância que esse ou aquele candidato tem no partido a que está vinculado.

Vista como medida de alto impacto democrático por facilitar a comunicação dos políticos com os cidadãos e abrir espaços para todos os candidatos, a propaganda eleitoral gratuita sofre as consequencias de um efeito não-desejado: quanto mais é controlada e formatada pelo marketing, mais escapa do discernimento dos políticos, mais os degrada e mais rebaixa o discurso político. Apequena a política, entregando-a a jogos de cena histriônicos, acusações bombásticas, revelações sensacionalistas, traições inusitadas.

A política, no fundo, ajustou-se às exigências da época: também ela se tornou “visual” e “imagética”, repleta de luzes e mercadorias. Ao fazer isso, passou a correr o risco de deixar de ser exatamente aquilo que mais se espera dela: um espaço de reflexão crítica sobre o Estado, de agregação cívica de interesses e expectativas, de firme confronto de idéias. Se a política não puder ser isso, se não privilegiar o debate público e não for uma espécie de viga que não se dobra nem à vontade dos poderosos nem aos hábitos passivos dos cidadãos, então se converte em mera luta pelo voto e em “gestão”. Ou seja, vira quase nada.

Para descobrir porque as atuais eleições foram tão sem graça, podemos ponderar que, diante de propostas que não lhe falaram à razão, que oscilaram entre a autoglorificação, o radicalismo verbal abstrato e o tecnicismo gerencial, que exibiram candidatos desencarnados de partidos ou correntes de idéias, o eleitor optou pela acomodação. Em vez de terem criado condições para uma reflexão coletiva sobre o país e o mundo, as eleições empurraram o cidadão para um conservadorismo defensivo e meio alienado. Talvez isso nos ajude a entender o que sairá das urnas. [Publicado em O Estado de S. Paulo, 25/09/2010, p. A2.]
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Marido Biônico 2

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A Folha e sua linha de editores imbecis

Caro Aluizio, a Folha tenta mas nao consegue falar duro com o PT. Ao mesmo tempo em que produz esse editorial mediocre, abre espaco para alguem falar sobre as virtudes de Dilma. A folha desde que passou a ter malditos vermelhos, jovens da PUC/USPe outros imbecis na sua linha de editores, nunca mais foi a mesma. Esta tentando dissimular pelo risco de uma vitoria de Serra mas nao consegue disfarcar
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