Política de Extermínio da Polícia - RJ



Edição de outubro de 2009 da Caros Amigos



Uma política de extermínio levada a cabo pela polícia carioca, com apoio de setores da mídia e a omissão do Ministério Público e do Judiciário, vem provocando um verdadeiro genocídio no Rio de Janeiro. Nesta década já foram eliminadas quase 10 mil pessoas, a maioria delas nas favelas da capital
Por Marcelo Salles

Hanry Silva voltava da casa de uma colega, numa favela chamada Boca do Mato, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O nome tem sua razão de ser. O lugar dá para uma montanha, no bairro Lins de Vasconcelos, onde a vegetação nativa ainda é preservada. Em vez de retornar pela rua, ele decidiu fazer o trajeto mais curto: pelo alto do morro. Assim, caminhando próximo aos postes de energia do topo da montanha, Hanry cruzou pouco mais que 1 Km. A vista abrevia ainda mais a viagem: com tempo bom é possível ter uma visão panorâmica da cidade, emoldurada pela Ponte Rio-Niterói e pela Baía de Guanabara. Eram cinco da tarde quando se aproximava de sua casa, no Morro do Gambá – também conhecido como Nossa Senhora da Guia.

O estudante já estava bem perto, nem 100m faltavam. Ao chegar, tomar banho, trocar de roupa e seguir para o colégio. Estava de bermuda preta e sem camisa. Vinha balançando a chave de casa, despreocupado, fazendo um caminho ao qual já se habituara. No entanto, aquele 21 de novembro de 2002 seria diferente. Hanry foi surpreendido por policiais do 3º Batalhão de Polícia Militar e arrastado uns 20m abaixo. Foi posicionado entre uma pedra de 2m x 1,5m e um arbusto com folhagem densa e suficientemente grande para encobrir o resto de visão que alguém poderia ter do lugar. A casa mais próxima dali fica a uns dez minutos de caminhada, em mata semifechada.

Por volta de 17h40, um estampido ecoou no Morro do Gambá. Aos dezesseis anos de idade, Hanry foi assassinado com um tiro certeiro no coração. Tinha 1,65m, era mulato, corpo seco. Cursava o primeiro ano do ensino médio – nunca repetiu – e sonhava ser jogador de futebol, como tantos outros garotos.

No dia seguinte sua mãe acordou preocupada. O filho não havia dormido em casa. Márcia Jacintho percorreu a favela toda atrás de notícias, quando teve a ideia de ir ao hospital mais próximo. No Salgado Filho ficou momentaneamente aliviada: apenas dois jovens haviam sido encaminhados pela polícia na noite anterior, ambos descritos como traficantes que já chegaram mortos. Márcia continuava a busca quando alguém ligou do IML: “Vem pra cá porque acho que mataram seu filho”.

Chegando lá, Márcia começou a morrer em vida. A dor é tanta que hoje, quase sete anos depois, ela ainda chora quando recorda a cena: “Meu filho não teve velório. Tava inchado, um cheiro muito forte, muito escuro, ninguém o reconheceu”. Márcia começou a morrer por um lado, mas de outro nasceu uma guerreira que iria lutar com unhas e dentes para fazer justiça. Suas razões de viver passaram a ser basicamente essas: provar que seu filho não era traficante, como acusara a polícia, e responsabilizar os assassinos.

Inicialmente, Márcia fez o trabalho de investigação sozinha, pois a autoridade competente alegava não dispor dos recursos necessários. Então ela voltou ao local do crime, fez a primeira reconstituição com as próprias sandálias, fotografou, encontrou testemunhas. Até o boletim ambulatorial do hospital ela foi pegar, já que a Delegacia de Polícia não se mexia.
Essa história ela me conta enquanto vasculhamos os arredores de onde Hanry foi assassinado. Do pé ao topo, demoramos quase uma hora de subida bastante puxada. O Morro do Gambá tem centenas, talvez milhares de casas, de todos os tipos: alvenaria, madeira, compensado ou tudo misturado. Aqui, a maior parte da população é negra. E pobre. Serviços públicos como coleta de lixo demoram a chegar, deixando o chão imundo, sobretudo nas partes mais altas. Ao lado da pequena quadra de futebol, de terra batida, há um barranco imenso, uns cem metros quadrados de sacos plásticos, restos de comida e sujeira de todo tipo.

Conforme subimos, percebo que o adensamento populacional vai se reduzindo, até que cruzamos a última casa – um compensado de madeira de uns 20m quadrados, no máximo, de onde saem seis pessoas. Uma mulher idosa, uma criança bem pequena e os demais, adolescentes. Márcia arrisca o caminho da esquerda, mas o mato está muito fechado. “Tem certeza que é aí?”, pergunto. “É sim, é que não venho aqui faz tempo”. Continuo seguindo, meu receio em franco contraste com o seu destemor. Até que um dos adolescentes da última casa, um negro bem preto, se aproxima e fala: “Tia, não é por aí, não. É pelo outro lado”. E nos mostra o caminho.

Passaram-se dois anos e nove meses até que a perícia oficial agisse. A partir daí, apareceram várias contradições na versão dos policiais, que alegaram, por exemplo, troca de tiro com bandidos que estariam em cima de uma pedra, levando a crer que o disparo teria vindo de baixo para cima (e não o contrário, como foi comprovado pelo laudo cadavérico). O horário alegado pelos policiais também não batia. Como poderia haver uma troca de tiros às 19h40 no alto do morro se a entrada do garoto no hospital teria sido às 20h08? Seria como enfrentar seis ou sete bandidos fortemente armados, como argumentaram os policiais, recolher o corpo baleado, descer o morro inteiro carregando o fardo, colocá-lo na viatura e deixá-lo no hospital, que fica a vinte minutos dali. Nem o The Flash

Seis anos depois, Márcia conseguiu levar a julgamento dois dos onze policiais militares que havia acusado. Marcos Alves da Silva foi condenado a nove anos de prisão por homicídio doloso e fraude processual (simulou apreensão de arma e droga com Hanry) e Paulo Roberto Paschuini a três anos pelo último crime. Os dois vão recorrer, sendo que o segundo em liberdade.

O caso de Hanry foi um dos 9.179 óbitos registrados como “autos de resistência” – quando a polícia mata um opositor em legítima defesa – entre 2000 e 2009 (até maio), de acordo com o Instituto de Segurança Pública, órgão vinculado ao Executivo Estadual. Uma média de 2,67 mortes por dia. É como se em dez anos toda a população do bairro da Glória sumisse do mapa. Por outro lado, foram registrados 59.949 homicídios dolosos, no mesmo período; crimes que o Estado não foi capaz de evitar.

O número de “autos de resistência” dá à polícia do Rio o título de campeã de letalidade. Entre todas as outras corporações similares no mundo, é a que mais mata – e também a que mais morre (dado que, por si só, evidencia uma política de segurança equivocada). Até o relator da ONU para execuções sumárias e extrajudiciais, Philip Alston, declarou, após recente visita ao Rio de Janeiro: “no Brasil os policiais matam tanto em serviço como fora de serviço e nenhuma investigação é feita já que todos os índices se justificam a partir de ‘autos de resistência’ ou ‘mortes em confronto’”.

A origem da ferramenta jurídica “auto de resistência” está na Ordem de Serviço “N”, nº 803, de 2/10/1969, da Superintendência da Polícia Judiciária, do antigo estado da Guanabara. O dispositivo afirma que “em caso de resistência, [os policiais] poderão usar dos meios necessários para defender-se e/ou vencê-la” e dispensa a lavratura do auto de prisão em flagrante ou a instauração de inquérito policial nesses casos.

Registre-se: não são raras as situações em que os policiais necessitam usar a força como resposta a ações hostis de traficantes varejistas. É como explica o delegado Marcus Nunes, coordenador da CORE, unidade de elite da Polícia Civil: “Somos muitas vezes recebidos a tiros. Geralmente o policial entra numa comunidade em tese hostil porque é controlada por um grupo fortemente armado, querendo fazer de tudo pra não ser preso, usando todos os esforços necessários, às vezes com equipamentos de primeira geração, munição em fartura, granadas”. No entanto, como reconhece o delegado, essa situação de extrema pressão sobre o policial, aliada a outros fatores, pode levar a execuções registradas como autos de resistência.

“Me chamava a atenção a diferença no preenchimento dos ROs [Registros de Ocorrência]”, comenta a antropóloga Ana Paula Miranda, que foi diretora-presidente do Instituto de Segurança Pública. Por um lado, havia falta de cuidado nos registros em geral, mas aqueles referentes aos autos de resistência “vinham bem montados, com informações padronizadas e a falta de testemunhas que não fossem policiais”, diz a pesquisadora da Universidade Federal Fluminense. Ana Paula chama a atenção para a escalada da violência da polícia, que cada vez mata mais e prende menos.

A polícia do Rio de Janeiro atua com muito pouco controle, interno ou externo. A Corregedoria nem sempre atua com a isenção desejada, as armas utilizadas em operações dificilmente são identificadas e os policiais que se envolvem em troca de tiros não recebem atenção especial do governo – em outros Estados, como São Paulo, já existe uma política assistencial voltada para esses profissionais da segurança, como auxílio psicológico. No entanto, engana-se quem acredita que a polícia é a única responsável pelo atual estado de coisas. Quando se registra uma ocorrência como “auto de resistência”, o delegado tem trinta dias para investigar e, então, deve enviar suas conclusões para o Ministério Público Estadual.

O MP é o titular da Ação Penal e, diante do relatório, o promotor deve decidir se retorna o material para a delegacia solicitando novas apurações, se oferece denúncia contra o policial ou se encaminha o processo com pedido de arquivamento para o juiz. Neste caso, se o magistrado concordar, o processo é arquivado. Se discordar, a decisão final passa à Procuradoria Geral de Justiça, cujo titular é indicado pelo governador do Estado.

Para esclarecer os dados, procurei o Ministério Público. Fiz o primeiro contato no dia 17 de agosto. Na assessoria de imprensa, fui atendido por Paolla Serra, depois por Lívia Monteiro. Não me deram retorno. No dia 14 de setembro, voltei a insistir. Dessa vez falei com Leonardo, que também não me respondeu. Alguns dias antes eu havia ido ao Tribunal de Justiça, onde conversei com três defensores públicos. Eles disseram que recebem pouquíssimos inquéritos em casos de autos de resistência, às vezes nem um por mês, o que indica poucas denúncias do MP contra policiais.
O pioneiro a analisar os pareceres do Ministério Público sobre os autos de resistência foi o desembargador Sérgio Verani, no livro “Assassinatos em nome da lei” (entrevista à página 31). Na apresentação da obra, o jurista Evandro Lins e Silva anota: “Examinando dezenas de inquéritos, alguns deles em que funcionou como juiz, Sérgio Verani pôde identificar uma uniformidade ideológica que conduziu ao arquivamento ou à absolvição, em todos eles, dos policiais acusados do assassinato de 42 pessoas”. Nesta cesta ideológica encontra-se o pedido de arquivamento, assinado por um promotor, que classifica a vítima da ação policial como “micróbio social”. O caso é de 1982, mas permanece atual. Vinte e dois anos depois, a 21a Promotoria de Investigação Penal de Bangu acusou os bandidos que teriam enfrentado a polícia de “verdadeiros soldados do mal”.

“No ano passado aquele comandante [coronel Marcos Jardim] de certa forma repetiu isso: ‘[a PM é o melhor] inseticida social’. Inseticida social!”, recorda Sérgio Verani: “Como também uma expressão usada quando foi preso o Elias [Maluco, acusado de matar o jornalista Tim Lopes]. E aí foram expedidos mandados de busca e apreensão e o juiz escreveu na decisão dele que o Grupo do Elias era um ‘lixo genético’. O juiz escreveu isso: ‘lixo genético’! Que é a mesma coisa de ‘micróbio social’, ‘inseticida’. O desprezo com a vida. Uns podem viver, mas esses desclassificados não”.

“Quem mata é a Polícia, mas quem enterra é o Judiciário”
Outro indicativo de descaso do Poder Judiciário é que em muitas sentenças o magistrado abre mão do despacho fundamentado e passa a usar uma mera etiqueta adesiva, tipo essas da marca Pimaco, para determinar o encerramento do processo investigatório. Como consta da decisão assinada em 10 de janeiro de 2005, a respeito de três mortes causadas por policiais na favela do Rebu, em Senador Camará: “Na forma de promoção do MP de folhas retro, determino o arquivamento do presente feito. Dê-se baixa e arquive-se”.

Por essas razões, o delegado de Polícia Civil Orlando Zaccone, mestre em Ciências Penais, não tem dúvidas em afirmar: “Quem mata é a polícia, mas quem enterra é o Judiciário”. Profundo conhecedor da Criminologia Crítica, Zaccone alia a teoria à prática. Foi ele quem conduziu as investigações que solucionaram a Chacina do Borel, em 2003, em que os crimes foram inicialmente registrados como autos de resistência. É com essa autoridade que ele analisa: “O que vai definir o arquivamento dos autos ou o processo dos policiais pela morte da vítima é se a vítima está ou não definida como ‘inimigo’, traficante, gerando uma ‘legitimidade’ na ação da polícia”.

Marcelo Salles é jornalista e coordenador da Caros Amigos no Rio de Janeiro
salles@carosamigos.com.br
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Thriller, de José Arbex Jr.

 O que eu vi de mais interessante sobre a morte do Michael Jackson saiu na edição de agosto de 2009 da Caros Amigos, por José Arbex Jr.



A morte de Michael Jackson, anunciada em 25 de junho, criou uma histeria planetária que, entre outras coisas, mobilizou manifestações de rua nas mais importantes cidades e capitais do mundo e “derrubou” mega sites e portais como o Google, Twitter, YouTube e Orkut, pelo excesso de pessoas em busca de informação, imagens, vídeos. Em 3 de julho, só na primeira hora e meia de operação, um site colocado no ar pela família do cantor, com o objetivo de sortear ingressos para o velório (celebrado no dia 7, no Staples Center, Los Angeles) registrou mais de 500 milhões de acessos (120 mil visitas por segundo). Apenas a cerimônia de posse do presidente estadunidense Barack Obama, em 20 de janeiro – um evento político e histórico extraordinário, dadas as circunstâncias e personagens envolvidos -, conseguiu atrair um número de internautas e de acessos equiparável ao verificado durante o velório do cantor. A morte de Michael Jackson galvanizou um bom pedaço do planeta.

Por que?
Claro: trata-se, em parte, da identificação entre fãs e ídolo, relação que está muito longe de constituir novidade. Obama, com certa razão, equiparou Jackson a Elvis Presley, Marilyn Monroe e Frank Sinatra, algumas das celebridades estadunidenses que, em seu próprio tempo, mobilizaram legiões. Faltou Obama esclarecer que, como Jackson, mas em circunstâncias completamente distintas, Presley e Marilyn também foram esmagados pelos mitos que personificavam e tiveram um final de vida trágico, emoldurado pela absoluta solidão e por uma angústia existencial apenas mitigada por doses cavalares de drogas (calmantes, analgésicos, álcool, maconha, não importa). Sinatra, treinado nas fileiras da máfia ítalo-irlandesa-estadunidense, aparentemente suportou com maior equilíbrio e cinismo o preço cobrado pela indústria criada em seu nome.

Também é claro que a grande mídia jogou todo o seu peso na realização de uma cobertura sensacionalista da telenovela Michael Jackson, certamente lucrativa e, no fim das contas, coerente com o seu papel de motor da “indústria cultural”. Raras vezes ficou tão óbvio o fato de que não há mais fronteira entre jornalismo, entretenimento, publicidade e propaganda: tudo vira show e telenovela, tudo está à venda - até mesmo ingressos para um velório. No Brasil, em particular, a audiência mal tinha recuperado o fôlego após o desastre do voo 477, quando estourou a “bomba Jackson”. No meio do caminho havia a crise no Senado, talvez a mais séria de sua história. Diante da imensa gravidade que foi a morte de Michael Jackson, a mera falência do senado brasileiro tornou-se um evento ameno, sem grande importância, quase tão pálido quanto o era a face do defunto “rei do pop” (assim como, durante o “show do voo 477” quase não se notou o massacre de povos originários do Peru que lutavam contra a privatização de seus territórios, na Amazônia).

Ora, precisamente em momentos de grande crise política e social, uma boa história emanada da esfera da vida privada (melhor ainda se for escandalosa e envolver “celebridades”) serve para desviar as atenções das articulações e tramóias palacianas. Panis et circensis. Sociedade do espetáculo. Qual a novidade?

A novidade não está no espetáculo em si, mas sim na proporção, no extraordinário poder por ele assumido no mundo contemporâneo. Os tais 500 milhões de acessos em 90 minutos não aconteceram numa conjuntura qualquer, mas numa situação extrema de instabilidade mundial, configurada pela crise do sistema financeiro global, pelas incertezas quanto ao futuro das economias de países capitalistas centrais (incluindo Estados Unidos, Alemanha e França), pela multiplicação de focos de tensões regionais latentes (no Oriente Médio, na América Latina, na Ásia) e pela sombra ameaçadora da catástrofe ambiental, entre outros. É a morte de Michael Jackson, não a desordem do sistema capitalista, que tem o poder de mobilizar a imaginação e as energias de centenas de milhões de jovens e trabalhadores em todo o mundo.

Algo da mesma ordem, mas com  intensidade distinta, acontece todos os anos, durante a cerimônia de entrega do Oscar, em Hollywood, quando pelo menos 2 bilhões de telespectadores ficam prostrados diante da TV para assistir ao desfile de artistas milionários. Em escala local, foi precisamente o que aconteceu no começo de julho, por exemplo, na Espanha: numa mesma semana, 50 mil torcedores comparecem ao estádio Santiago Bernabéu apenas para saudar o jogador brasileiro Kaká e outros 80 mil para receber o português Cristiano Ronaldo, ambos contratados pelo Real Madrid por valores que atingem, somados, a cifra de quase 500 milhões de reais, num momento em que há recorde histórico de desemprego no país (4 milhões de trabalhadores) e em que forças da extrema direita obtiveram avanços extraordinários na disputa pelo Parlamento Europeu. No caso de Cristiano Ronaldo, a histeria foi tamanha que o clube contratou uma equipe permanente de segurança privada para proteger o jogador do assédio de fãs.

A magnitude das cifras envolvidas em todos esses episódios, a quantidade de energia mobilizada pela “gente comum” em adoração aos seus ídolos, a abrangência planetária das redes sintonizadas num único ponto – não importa se é o palco do Oscar, o Staples Center ou um estádio de futebol – são manifestações sintomáticas de um mundo cada vez mais padronizado pelas  tecnologias do espetáculo e, inversamente, por um abismo cada vez maior de perspectivas. Os ídolos, fabricados e projetados por diabólicas máquinas caleidoscópicas, hipnotizam o público e anestesiam o sentimento de angústia de bilhões de seres humanos internados no infame planeta Auschwitz construído pelo capital, cada vez mais solitários, isolados, fragmentados e destituídos de alternativas transformadoras do mundo (como Jackson, aliás, procurava, em vão, no consumo desenfreado de objetos e no anestésico químico o alívio de sua própria dor).

A “novidade”, definitivamente, não está em Michael Jackson – nem nas Madonnas, nos Kakás ou nos Ronaldos -, mas no grau de demência a que o neoliberalismo conduziu a humanidade em seu conjunto. Deuses planetários vazios são ícones adorados por uma multidão planetária de fantasmas.

O bizarro balé do clip Thriller, quem diria, é a própria metáfora do nosso mundo.

José Arbex Jr. é jornalista.
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Crowd Bites Wolf (...e lá se vai uma década)

 

Já se vão dez anos desde que o movimento anticapitalista (sim, o "antiglobalização") ganhava mais força pelo mundo começando a se estruturar inclusive em São Paulo. A oposição direta era aos agentes do capitalismo, sobretudo as grandes empresas transnacionais e as organizações multilaterais de comércio regendo o mundo pelos princípios do neoliberalismo.

Não! Relaxe! Estou longe de ficar fazendo uma análise sobre o que aconteceu de lá pra cá e nem os porquês. Há alguns links aqui do lado que você pode encontrar o que as pessoas daquela época estão fazendo agora. Vale a pena olhar.

Posto aqui apenas um vídeo que na época inspirou muita gente, justamente por captar a essência de união de militantes políticos do mundo todo com uma pauta imediata em comum: impedir a reunião do FMI e do Banco Mundial, em 26 de setembro de 2000, em Praga, República Tcheca, por meio tanto de manifestações pacíficas quanto de ações mais radicais e enfrentamentos com a polícia local.

Não! Também estou muito longe de ficar debatendo se aquilo tudo foi válido ou não. Já disse: se quiser ver o que as pessoas daquela época estão fazendo hoje, acesse os links ao lado.

Em todo caso, se quiser entender o que era o “zeitgeist” daqueles dias esperançosos onde achávamos realmente que estávamos vencendo, veja por inteiro esse vídeo do S26 em Praga.
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Ambulantes




Da década de 90 para cá, o chamado “circuito reggae”, ou seja, o lado mainstream focado meramente no lucro do reggae brasileiro já repetiu sua fórmula-pronta até a saturação. Bandas e mais bandas que não apenas se inspiram, mas literalmente imitam (sem sequer pensar a respeito) o cenário do reggae jamaicano da década de 70, momento em que o reggae explodiu para o mundo de gerou os seus maiores nomes até hoje.

Infelizmente, o que se vê é uma maioria de grupos sem nenhuma originalidade. Você não sabe direito quem é quem, pois é tudo muito igual. A receita é simples: arranje uma galera que cultive dreadlocks e defenda a utilização da ganja como forma meditativa e religiosa. Assegure-se que eles mais ou menos tentem levar um estilo de vida rastafari, não se importando muito com o fato de estar em plena Babilônia falando de I-tal food. Em suas músicas, no meio de “iô-iô-iôs” e “jahs”, a mistura entre Haile Selassie I e Jesus será tamanha que você não sabe exatamente se é, ou se não é, uma banda gospel... Pronto! Seja amigo da Johnny Be Good e logo mais já tem clip na MTV.



Nesse caminho, uma postura de contestação, de denuncia, e até mesmo uma militância política lá na comunidade (que está tanto no skinhead reggae quanto reggae roots original) vai pouco a pouco sendo deixada de lado em nome de uma estética. Letras, enfim, que falam mais de um estilo de vida “rebelde” dentro da Babilônia do que a subversão da mesma.

Bom, fique tranqüilo! Justamente por conta dos Ambulantes não caírem nessa arapuca estou recomendando o som desses vagabundos! O reggae que dá a linha, mas no meio de todo aquele som forte também há muita experimentação com dub, ska e até baião. Além da qualidade sonora, letras falando da realidade brasileira, dos excluídos e da necessidade de equilíbrio e resistência.


Quando você for prestigiar o som dos caras ao vivo, tente aparecer em alguma das várias ocupações do espaço público que eles promovem (som na rua mesmo) com mais um caminhão de outras atividades. Aí você vai entender pq eu sou fã desses vagabundos imprestáveis!

E se tiver curtido a idéia, informe-se e participe do projeto SOM MOZUM!!
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Memória da Guerra do Paraguai

O canhão "cristão", feito a partir de sinos de igreja, símbolo da vitória brasileira na Guerra do Paraguai, vai ser devolvido ao país vizinho. O presidente Lula anunciou a decisão depois de um pedido emocionado do vice-presidente paraguaio, Federico Franco, feito durante seu discurso comemorativo aos 140 anos do fim da Guerra do Paraguai, no início da semana.

"O país nunca vai cicatrizar a ferida se o Brasil não devolver o arquivo militar e o canhão cristão, que devem retornar ao Paraguai para que se inicie a cicatrização do povo paraguaio", discursou ele, na cidade de Cerro Corá, onde o ditador Solano López foi morto pelas tropas brasileiras em 1870.

Retirado da Fortaleza do Humaitá, no Rio Paraguai, o canhão está no Museu Histórico Nacional, na Praça XV, no Rio. A direção do museu não quis comentar a decisão. Quem vai cuidar da transferência para Assunção, sem data definida, é o Ministério da Cultura.
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