À Mercedes Sosa.
Gracias a la vida.
(Violeta Parra)
Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me dio dos luceros, que cuando los abro,
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en el alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo.
Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado el oído que en todo su ancho
Graba noche y día, grillos y canarios,
Martillos, turbinas, ladridos, chubascos,
Y la voz tan tierna de mi bien amado.
Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado el sonido y el abecedario;
Con el las palabras que pienso y declaro:
Madre, amigo, hermano, y luz alumbrando
La ruta del alma del que estoy amando.
Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado la marcha de mis pies cansados;
Con ellos anduve ciudades y charcos,
Playas y desiertos, montañas y llanos,
Y la casa tuya, tu calle y tu patio.
Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me dio el corazón que agita su marco
Cuando miro el fruto del cerebro humano,
Cuando miro al bueno tan lejos del malo,
Cuando miro al fondo de tus ojos claros.
Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto.
Así yo distingo dicha de quebranto,
Los dos materiales que forman mi canto,
Y el canto de ustedes que es mi mismo canto,
Y el canto de todos que es mi propio canto.
Gracias a la vida, gracias a la vida.
Em caso de crise...

Angela Merkel: livre da incômoda associação com os socialistas
...chame a direita. A reeleição de Angela Merkel mostra
que os europeus não confiam nas propostas da esquerda
para recuperar a economia do continente
Eleita em 2005, a chanceler Angela Merkel chegou a ser saudada como a nova dama de ferro por suas propostas liberais para a economia da Alemanha. Presa a um incômodo governo de coalizão com seu principal adversário, o Partido Social-Democrata (SPD), Merkel nem de longe lembrou a inglesa Margaret Thatcher, a verdadeira dama de ferro. Agora, ela tem uma segunda chance. Nas eleições parlamentares da semana passada, Merkel ganhou um duplo voto de confiança dos alemães: foi reeleita e os sociais-democratas, que tiveram o pior desempenho nas urnas desde os anos 40, vão deixar o governo. "Sem os socialistas, o governo poderá acelerar a implementação de reformas liberais, como a flexibilização das leis trabalhistas", disse a VEJA o historiador Samuel Moyn, da Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos.
O resultado eleitoral na Alemanha é reflexo de uma tendência em todo o continente: na hora da crise, os europeus preferem entregar aos políticos de direita a árdua tarefa de conduzir a recuperação econômica. Nos países em que está no poder, como na Espanha e na Inglaterra, a esquerda social-democrata encontra-se sob fogo cruzado. Em Portugal, o primeiro-ministro socialista José Sócrates conseguiu manter-se no cargo nas eleições da semana passada, mas perdeu a maioria absoluta que tinha no Parlamento. Agora, terá de barganhar o apoio de outros partidos, conforme a ocasião, para conseguir governar.
A direita vem colhendo os frutos de governos pragmáticos. O presidente francês Nicolas Sarkozy não mediu palavras para denunciar a falta de regulamentação do mercado financeiro e defender a adoção de medidas drásticas, como a nacionalização de bancos. Na Alemanha, onde o PIB encolheu 6% devido à crise, o governo criou um programa de estímulo fiscal sob medida e a economia já apresenta os primeiros sinais de recuperação – cresceu no segundo trimestre do ano. A esquerda tampouco apresentou propostas convincentes para manter o estado de bem-estar social sem tirar o dinamismo da economia. Na França, o debate dentro do Partido Socialista limita-se a disputas fratricidas – a ponto de Sarkozy agradecer ao PS em público pela "ajuda". Mesmo com a enxurrada de escândalos envolvendo a vida privada do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, o Partido Democrata italiano, de oposição, soma apenas 26% das intenções de voto. Os esquerdistas também são os que mais sofrem com a ascensão dos chamados partidos verdes. É sobretudo nas fileiras da esquerda que os ambientalistas recrutam seus partidários – fenômeno que, como os petistas bem sabem, já começou a aportar nas praias brasileiras.
Reeleição em Portugal
José Sócrates: venceu, mas perdeu a maioria
A ideologização da diplomacia

O governo ainda não fez sua auto-crítica com relação à crise de Honduras, apontada como a maior trapalhada da história diplomática do país.
A inesperada crítica do embaixador norte-americano, Lewis Amselem, na reunião desta semana na Organização dos Estados Americanos (OEA), considerando irresponsável a volta do presidente deposto, Manuel Zelaya, expôs interna e externamente a estratégia apoiada pelo Itamaraty.
Deixou-o isolado.
Ficou claro que o governo Obama, que havia inicialmente condenado a deposição de Zelaya, desembarcou da questão. Não ainda ao ponto de apoiar o novo governo, mas ao menos no de não se envolver com os desdobramentos da situação.
O desafio brasileiro agora é o de encontrar uma saída que o poupe de um mea culpa. O apoio norte-americano era decisivo na sustentação dos acontecimentos, na medida em que chancelava a versão de que houvera um clássico golpe de Estado em Honduras, que justificaria a ação intervencionista. Essa versão está sendo revista, à luz da Constituição hondurenha.
Ela, em seu artigo 239, cláusula pétrea constitucional – isto é, não suscetível de emenda –, estabelece que perde o mandato e os direitos políticos por dez anos quem postular a reeleição.
Cabe à Suprema Corte manifestar-se a respeito. O presidente do Congresso assume e convoca eleições.
Esse rito foi rigorosamente cumprido, na sequência de tentativa de Zelaya de convocar plebiscito pró-reeleição. Nesses termos, não houve golpe.
Houve ação constitucional antigolpe. Essa contra-argumentação, inicialmente ignorada, tanto pela OEA quanto pela ONU, está sendo reavaliada nos mesmos fóruns.
O Itamaraty está sendo criticado por ter ido longe demais, ao participar da logística que levou Zelaya a voltar ao país e ao ceder suas instalações para abrigá-lo, sem conceder-lhe o status de asilado ou mesmo qualquer outro. A embaixada do Brasil, onde não há embaixador, tornou-se escritório político do ex-presidente e passou a centralizar as manifestações de seus aliados e adversários.
A tradição diplomática brasileira é a de não intervenção em assuntos internos de outros países. Independentemente de afinidades ideológicas, esse princípio jamais foi profanado.
O mais grave é que o país está sendo visto como caudatário da política intervencionista do presidente da Venezuela, Hugo Chavez, que proclama a necessidade de levar a causa bolivariana a todos os países do continente.
Não há sinais de que o Itamaraty reveja e assuma o seu equívoco, mas o desgaste, interno e externo, é evidente. Prevaleceu não o pragmatismo, que caracteriza historicamente a política externa do Brasil, mas a afinidade ideológica com o chavismo, que tem no assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, e no chanceler Celso Amorim dois sustentáculos.
A tentativa de emocionalizar a questão, expondo a embaixada brasileira como vítima de ataques dos golpistas, já não encontra ressonância no Congresso brasileiro, sobretudo porque o Brasil não concedeu qualquer status a seu hóspede.
Mesmo lideranças políticas que não pretendiam manifestar-se sobre o episódio, como o governador paulista José Serra, já admitiram que houve uma trapalhada, da qual é preciso desembarcar logo.
Lula está sendo pressionado a conceder status de asilado a Zelaya, o que implicaria obtenção de salvo conduto junto ao governo hondurenho para que ele deixe o país e se instale no Brasil.
É a solução mais sensata, num mar de insensatez, que encerra a participação brasileira no episódio, mas não o livra do desgaste intervencionista.
A crítica maior que se faz ao Itamaraty, independentemente do mérito do episódio, é o de ter criado para si um problema desnecessário. Honduras não tem qualquer relevância para o Brasil, que se mostra tolerante – e mesmo amistoso – com outros países não democráticos, sob o argumento, agora desprezado, de que não cabe ingerência em questões internas de outras nações.
Foi o argumento invocado por Lula quando, por exemplo, a lisura das recentes eleições do Irã foi questionada. Funciona para Cuba, Líbia, China, Coréia do Norte e outros aliados próximos. Não funcionou para Honduras.
Ruy Fabiano