As hipocrisias serrosferatusianas de cada dia


O Ricardo Kotscho é um ótimo observador, lembra de uma reportagem esquecida pela mídia ao ouvir a declaração de José Serra em encontro do PPS ao lado de Roberto Freire, presidente da legenda dos neoliberais ex-comunistas. Disse o governador avampirado:

“O PT usa o governo como se fosse propriedade privada. Quando o PT foi para o governo, incorporou esse patrimonialismo do partido. Em São Paulo, não existe esse loteamento governamental, ao contrário do federal”.

Kotscho, jornalista de boa memória, fotografou a hipocrisia do candidato de dentes afiados:

Não existe? Serra esqueceu-se que estava ao lado do presidente do PPS, Roberto Freire, suplente do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), atualmente ganhando a vida como membro de dois conselhos municipais em São Paulo, embora seja do Recife e more em Brasília.

Ex-candidato a presidente da República, hoje Freire não se elege nem síndico em sua cidade, mas fatura R$ 12 mil por mes para participar de uma reunião mensal e assinar as atas da Emurb (Empresa Municipal de Urbanismo) e da SP-Turismo.

Quem lhe arrumou esta boquinha foi o próprio governador José Serra, em 2005, quando era prefeito de São Paulo. Mantida pelo seu sucessor Gilberto Kassab, a sinecura abriga hoje 58 conselheiros, que custam R$ 4 milhões por ano à Prefeitura.

Quem fez a denúncia, em janeiro deste ano, foi o repórter Fabio Leite, do Jornal da Tarde. Mas, ao contrário do que acontece no plano federal, não mereceu nenhuma repercussão na chamada grande imprensa. Em seu texto, Leite escreveu que esta “bondade administrativa visa acolher aliados e engordar os salários dos secretários municipais”.

Até hoje esta informação não foi desmentida nem se tem notícia de que Roberto Freire, fiel à sua cruzada de paladino da moralidade alheia, tenha aberto mão da bem remunerada boquinha.

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Trocando Chico Buarque por Tiririca

CREA- RS. Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Rio Grande do Sul . Entidade autárquica de fiscalização do exercício e das atividades profissionais e blá blá blá. Fiscaliza, regula e tal. Tudo bem, nada contra entidades que fiscalizam e regulam. Todo mundo é a favor delas - menos no jornalismo, porque o PIG é contrário, então todo mundo também é, até porque parece censura limitar o exercício do jornalismo a jornalistas, embora ninguém ache censura limitar o exercício do Direito a advogados, por exemplo. Mas isso é outro papo.

No momento, o assunto é o CREA- RS. Como o CREA-RS interfere na vida da maioria dos profissionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, Técnicos Agrícolas e afins? Ele fiscaliza, regula e... Cobra! No sentido financeiro mesmo. O CREA cobra anuidade e cobra por cada atividade que o profissional fizer. O cara emite um laudo, paga uma ART. Faz uma planta, paga uma ART. E, em troca, ganha o quê do CREA? Supostamente, garantias profissionais. Mas, na prática, assim de modo visível, uma revistinha.

Isso mesmo. Uma revista mensal. Antes, era um jornal. Nos últimos anos, passou a ser uma revista bonita, bem editada. De vez em quando, até com um ou outro artigo interessante. E sempre com uma charge colorida, com o traço refinado e a aquarela elegante do Santiago. Santiago desenha para a entidade desde 1986, primeiro no jornal, depois na revista.


Isso até este mês. Porque, no mês que vem, o humor elegante e multipremiado do Santiago será substituído por uma tosqueira inqualificável! Um chargista que, para dizer o mínimo, possui recursos técnicos e cognitivos muito escassos: Marco Aurélio.

Quer dizer, além de obrigar seus associados compulsórios a pagarem para trabalhar (nada contra, já disse), o CREA-RS os obrigará a verem coisas como estas (não tenho a menor idéia do que este desenho signifique. Por favor, não me expliquem).




O motivo? Ao que parece, o presidente do CREA-RS, Eng. Civil Luiz Alcides Capoani, acredita que assim sua entidade terá mais espaço na Zero Hora. A vantagem de se ter mais espaço no dito jornal, não se sabe...

Quem quiser manifestar sua opinião, sobretudo os leitores do Conselho em Revista - profissionais com “o CREA em dia” - podem fazê-lo por meio da ouvidoria do conselho ou pelo e-mail revista@crea-rs.org.br.
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Não ao golpe de estado em Honduras


O presidente Manuel Zelaya de Honduras foi afastado hoje de seu cargo em um golpe de estado. O motivo alegado foi a sua proposta de um plebiscito no país sobre mudanças na constituição, que permitiriam a reeleição presidencial. Quer dizer, a proposta, que tem amplo apoio popular, foi impedida de ser levada democraticamente à nação, e o presidente punido, levado para fora do seu país. É apenas mais um golpe de estado durante governo democrático americano.

Zelaya fez o caminho certo, acreditou nos valores democráticos, que seus inimigos fingiam acreditar. Se estivesse do outro lado, compraria deputados, o judiciário, teria a mídia em seu bolso, e teria mudado a lei apenas com o Congresso, tal como feito no Brasil por Fernando Henrique Cardoso.

Segue texto de Laerte Braga:

Golpe é inaceitável – como fica o Brasil?

Laerte Braga


O golpe de estado em Honduras é inaceitável em todos os sentidos. A diplomacia brasileira e o presidente Lula, mais que ninguém, têm que tomar posição dura e clara, inclusive não reconhecimento da barbárie militar, rompendo relações com aquele país até que seja restabelecida a vontade popular.

Não é hora de notas de condenação. É hora de atitudes concretas e efetivas. Não existe conversa de acordo nesses momentos. Existe um presidente eleito seqüestrado por militares encapuzados – típico dos golpistas em qualquer lugar do mundo, inclusive aqui no Brasil – momentos antes do início de uma consulta popular.
Os fóruns internacionais clássicos, Nações Unidas e OEA – Organização dos Estados Americanos – têm a obrigação de reagir e impedir que se consuma um atentado ao processo democrático em Honduras.

Está evidente a intervenção do embaixador dos EUA no processo golpista, denunciada desde quarta-feira quando um general, desses com medalhas de bom comportamento e por saber comer de boca fechada e com garfo e faca, se opôs a uma decisão presidencial, com largo apoio popular, insurgindo-se em nome dos interesses de elites nacionais subordinadas, lógico, como as daqui, aos grandes grupos econômicos e bancos no perverso modelo de globalização segundo a ótica exclusiva dos donos do mundo.

A posição do governo brasileiro não pode limitar-se a uma condenação oficial do golpe. O tamanho, o peso, a importância do Brasil o tornam parte ativa do processo político latino-americano e não se pode permitir que essa região volte a ser palco de golpes de estado desfechado por elites e militares quando têm seus interesses contrariados.

Elites, em qualquer lugar do mundo, são apátridas. Regem-se por lucros e escoram-se na hipocrisia – demonstrada agora – da farsa democrática.

Não têm escrúpulos quando seus “negócios” são contrariados e quase sempre têm os militares como parceiros. Militares se arrogam o privilégio do patriotismo doentio e fanático que na verdade disfarça características de forças da barbárie a serviço dos grandes grupos.

É recente e Lula tem que se lembrar, a defesa que o ex-comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno fez de empresas estrangeiras que atuam ali, criticando índios, trabalhadores sem terra com o pretexto que estavam sendo manipulados por organizações internacionais. Como se a VALE, que patrocina o general, hoje na reserva, em conferências Brasil afora defendendo o “patriotismo” e a Amazônia, fosse nacional.

O discurso é igual em qualquer lugar do mundo entre golpistas.

Não há o que contemporizar. É restabelecer a vontade popular e pronto. Isolar Honduras enquanto estiver submetida a militares golpistas e elites pútridas – como as nossas –. Não há que se falar em congresso e corte suprema, basta tomarmos como exemplo o nosso congresso, a nossa corte suprema. Lembrarmo-nos de Gilmar Mendes. De José Sarney.

E nem há que se falar em “gorilas”. Os gorilas não merecem. São generais golpistas a soldo de empresas, bancos e latifúndios. Consideram o país, nesse arremedo de patriotismo canalha, como propriedade privada.

A ação diplomática, até para evitar que a moda volte a imperar, são várias as tentativas contra os governos de Chávez e Evo Morales. Se prestarmos atenção a cada proposta ou cada decisão do presidente do Paraguai que contraria essas elites aparece alguma figura a dizer-se estuprada ou forçada a sexo com o presidente. Lula deve lembrar-se da campanha de 1989 contra Collor quando foi vítima da mesma prática de chantagem e mentira.

Nem é hora de acreditar na grande mídia – aliás hora nenhuma pode-se acreditar –. Os próprios militares golpistas mostram isso quando cortam os sinais de tevê e rádio das emissoras oficiais e mantêm os sinais da emissoras privadas. São cúmplices.
Há um golpe e repressão brutal e violenta como em todos os golpes.

Não é um golpe só contra o povo hondurenho. É contra todos os povos da América Latina. E a despeito do show do presidente dos EUA, com interferência do embaixador norte-americano em Tegucigalpa. Escorados na representação diplomática dos EUA.
O desafio do governo Lula é mostrar agora que essa época de golpes é coisa do passado e tem que ser sepultada.

Não cabe a militares e nem a banqueiros, empresários e latifundiários decidir os destinos de um povo. Cabe ao próprio povo. E era isso que Zelaya pretendia com o referendo. Ouvir o povo sobre as reformas na constituição de Honduras.

E nem cabe analisar o governo de Zelaya. Essa é uma prerrogativa do povo hondurenho.
É isso que deve ser considerado, nada mais. Esse tem que ser o norte da diplomacia brasileira, do governo brasileiro, do contrário num futuro próximo podemos ser novamente vítimas de “trogloditas” como disse Chávez.

E não vale culpar o presidente do Irã, ou a revolução islâmica e popular naquele país. Os velhos pretextos de golpistas.
“Ou é democracia ou não é”, como dizia Sobral Pinto. “Não existe democracia a brasileira, ou a francesa, democracia não é como peru”.

E quem enche a boca para falar em democracia são eles.

Lula tem o dever de bater de frente com essa corja que mantém intocados privilégios de elites e dos EUA. O chanceler Celso Amorim é um dos maiores da nossa História exatamente por ter a percepção da importância do processo político em curso na América Latina. Tem consciência que o seqüestro do presidente, dos embaixadores de países como a Venezuela, Cuba e Nicarágua por militares/bandidos em Honduras é um crime sem tamanho.

Não se pode deixar esse tipo de criminoso impune de forma alguma. Não importa que Obama seja só um show e que os EUA continuem o mesmo.

O golpe é inaceitável e o Brasil tem o dever, por seu governo, de não aceitar esse tipo de prática dos que se acham donos da vontade popular.


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A sociedade como sacrifício

Basta passar os olhos pelo noticiário ou observar a vida cotidiana para notar que algo desafina no plano das instituições. A insatisfação com elas é difusa. O mal-estar dentro delas, indisfarçável. Elas nos desagradam, aborrecem-nos ou não nos inspiram confiança, seja na política (partidos, casas legislativas), na educação (escolas, universidades) e na segurança pública (polícia, presídios), seja na economia (empresas, mercados) e na vida associativa primária, na família.

Precisamos de sociologia para discutir o ponto. Não dá para achar que as instituições falham porque são defeituosas, mal dirigidas ou mal organizadas.

Nossa época está atravessada por três processos que se superpõem, potencializando a globalização, a conectividade geral e o ritmo veloz que imperam por toda parte. As sociedades modernas estão sendo gradativamente reconfiguradas, antes de tudo, pela individualização: os indivíduos se “soltam” dos grupos, que sobre eles exercem cada vez menos poder e controle. Soltando-se dos grupos, soltam-se também das instituições. A individualidade se tornou um valor inestimável, tanto no sentido da privacidade, quanto no sentido da “autonomia moral”, do pensar e decidir com a própria cabeça. E muitos destes indivíduos individualizados se tornam individualistas, egoístas, indiferentes aos demais.

Individualização, individualidade e individualismo tornaram-se assim condições estruturais. Combinados com os demais traços da época, explicam muitos dos dilemas associativos atuais, que refletem um quadro de “dessolidarização”. As instituições não funcionam bem porque não conseguem incluir, congregar e coordenar os indivíduos, que delas escapam ou a elas se tornam indiferentes. Os indivíduos necessitam delas, mas são levados a viver como se seguissem uma carreira-solo, alheios a vínculos e compromissos coletivos.

Nem sequer na dimensão privada da vida as coisas estão ajustadas. O alto índice de divórcios, os crimes passionais hediondos e os novos formatos de família e relacionamento revelam que certos equilíbrios foram perdidos, mas também sugerem a presença de um maior desejo de liberdade. Conservadores e tradicionalistas, com maior ou menor dose de ingenuidade, acreditam que tudo se deve à degradação dos costumes, que se recuperariam caso a ordem e o rigor moral voltassem a prevalecer no seio das famílias. Para eles, o desejo de liberdade é subversivo e precisa ser contido.

Devemos pensar com cuidado. A vida coletiva não se esgotou, nem as pessoas e os grupos andam às tontas pelo mundo. Todos sabem que uns precisam dos outros e que todos precisam de limites e coordenação, mas a tendência prevalecente indica que o poder das instâncias coletivas se reduziu. Ele continua a existir, evidentemente, mas não porque o coletivo forneça direção e identidade para seus integrantes ou aumente a potência deles como sujeitos, e sim porque lhes possibilita reforçar demandas e posições.

Ao perderem o hábito de valorizar o coletivo, as pessoas tendem a se ver mais como “vítimas” do que como beneficiárias da vida em sociedade. Elas estão de fato sobrecarregadas de pressões e de problemas, e não têm muito com quem dividir isso. Sequer o trabalho e o emprego – esses trunfos categóricos do gênero humano – conseguem hoje organizar as pessoas. É compreensível que sintam o coletivo como um fardo, que se deve suportar com abnegação ou asco.

A vontade de ser livre e independente, de pensar com autonomia e criar as próprias regras, introjetou-se na consciência social. Ganhou impulso com as transformações que vêm atingindo as sociedades contemporâneas. Animada e embaralhada pela possibilidade que se tem hoje de se fazer tudo, ou quase, acabou por dissolver a percepção do social.

Mas a vida coletiva continua a existir e, nessa medida, continua a exigir que se aceitem regras e se coopere. Isso implica ao menos duas coisas.

Numa dinâmica tradicional, ou estruturalmente autoritária, implica o sacrifício do indivíduo e de seus desejos, o silêncio e o bloqueio de sua mobilidade. O grupo prevalece unilateralmente sobre as pessoas, monitorando-as sem apelação. É um sacrifício imperceptível, mas nem por isso menos real, já que o indivíduo sequer imagina a possibilidade de escapar à regra e sofre as limitações como um “fato natural”.

Numa dinâmica social moderna, diferenciada e democratizada, como a nossa, implica o sacrifício do individualismo, a capacidade de compreender o todo, assumir as próprias responsabilidades e contribuir para a organização justa do coletivo. Os indivíduos prevalecem sobre os grupos, porque podem fazer escolhas sem consultá-los ou pedir licença. É um sacrifício complexo, consciente e responsável, que exige altas doses de reflexividade, espírito cooperativo e disposição para o diálogo, sob pena de projetar a comunidade para o caos ou a impotência.

Aceitar a presença de minorias ideológicas ou corporativas, por exemplo, exige o sacrifício da vontade de potência das maiorias, silenciosas ou não, do mesmo modo que a liberdade de ação das minorias exige, da parte delas, o respeito às regras básicas de convivência e aos direitos dos indivíduos. O reconhecimento do direito de uns pressupõe o igual reconhecimento do direito de outros.

Encontrar um ponto de equilíbrio entre essas dimensões – o coletivo e o individual, as regras e a liberdade – é um desafio permanente, que se mostra tanto mais complicado quanto mais as sociedades se diferenciam e se individualizam. Em sociedades desse tipo, não se pode vencer categoricamente, com a marginalização dos dissidentes, e nenhuma conquista pode ser obtida à base da força ou da violência (física ou verbal). A argumentação persuasiva, a tolerância e a ação política inteligente são os únicos recursos dos sujeitos políticos. Nelas, a ordem silenciosa e o ruído caótico bloqueiam a democracia e funcionam como empecilhos igualmente perversos para a mudança. [Publicado em O Estado de S. Paulo, 27/06/2009, p. A2]

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Michael Jackson

E morreu o Michael Jackson. O mais esquisito personagem do mundo pop. Um Elvis de sua época - tanto pela mudança de ícone da música jovem para uma caricatura degradada de si mesmo quanto pela forma como morreram. Aliás, uma das muitas esquisitices de "Wacko Jacko" foi casar-se com a filha de Elvis. Em novembro de 2003, Jackson foi preso por um curto período, acusado de molestar sexualmente várias crianças. A charge abaixo é sobre a liberação do cantor e foi publicada n'O Pasquim 21 e no Jornal do Comércio.


Nunca fui fã do cantor, mas tenho boas lembranças dele por causa dos Jackson Five. Principalmente o desenho animado, que era muito legal! Michael era o personagem preferido. O garotinho esperto que conversava com os ratinhos e com a cobra. O caçula, com o qual os espectadores se identificavam.

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