Marx, Hobsbawm e o capitalismo





Poucos meses antes que o capitalismo mergulhasse de vez numa crise de vastas proporções e arrastasse consigo o fundamentalismo de mercado que imperou nos últimos tempos, o historiador Eric Hobsbawm – numa entrevista a Marcello Musto, da revista eletrônica sin permiso de maio de 2008 – elaborou interessante e sugestiva análise da atualidade de Marx e do renovado interesse que vem despertando, até mesmo em círculos antes blindados contra o marxismo.

Ao reiterar a necessidade de se continuar ou de se voltar a ler Marx, o historiador inglês de 91 anos deixa claro que isso somente poderá produzir bons resultados se Marx for tratado de modo "laico", dessacralizado: "Marx não regressará como inspiração política para a esquerda até que se compreenda que seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista".

A entrevista foi traduzida para o português e reproduzida pela Agência Carta Maior. Merece ser lida e refletida. (Clique aqui.) No mínimo por parágrafos como os seguintes:

“A maioria da esquerda intelectual já não sabe o que fazer com Marx. Ela foi desmoralizada pelo colapso do projeto social-democrata na maioria dos estados do Atlântico Norte, nos anos 1980, e pela conversão massiva dos governos nacionais à ideologia do livre mercado, assim como pelo colapso dos sistemas políticos e econômicos que afirmavam ser inspirados por Marx e Lênin. Os assim chamados "novos movimentos sociais", como o feminismo, tampouco tiveram uma conexão lógica com o anticapitalismo (ainda que, individualmente, muitos de seus membros possam estar alinhados com ele) ou questionaram a crença no progresso sem fim do controle humano sobre a natureza que tanto o capitalismo quanto o socialismo tradicional compartilharam. Ao mesmo tempo, o "proletariado", dividido e diminuído, deixou de ser crível como agente histórico da transformação social preconizada por Marx”.

“Marx não regressará à esquerda até que a tendência atual entre os ativistas radicais de converter o anticapitalismo em antiglobalização seja abandonada. A globalização existe e, salvo um colapso da sociedade humana, é irreversível. Marx reconheceu isso como um fato e, como um internacionalista, deu as boas vindas, teoricamente. O que ele criticou e o que nós devemos criticar é o tipo de globalização produzida pelo capitalismo”.

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O COMÍCIO



Comício de Maria do Rosário, ontem
no Largo Glênio Perez
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Porque o Rio Grande do Sul é assim



Revolução, não, guerra civil Farroupilha

Hoje, dia 20 de setembro, é a data convencionada que marca o início da chamada “revolução” Farroupilha (a rigor, apenas uma guerra civil regional malograda), no distante ano de 1835.

Para quem não conhece o Rio Grande e Porto Alegre, essas informações soam mais distantes ainda. Mas aqui neste blog, nos próximos dez dias, vamos tentar decifrar esses códigos da cultura gaucheira, esses constructos culturais cuidadosamente recortados da história factual e montados num painel mítico que representa a apropriação do imaginário popular dos indivíduos nascidos no Estado mais meridional do Brasil e , não por acaso, o que apresenta idiossincrasias especiais e um etos social muito particular, rico, variado, objeto da contribuição de inúmeras etnias – autóctones e transplantadas.

Mirabeau, um dos teóricos da revolução Francesa de 1789, dizia que não bastava mostrar a verdade, é necessário fazer com que o povo a ame, é necessário – dizia o “Orador do Povo” – apoderar-se da imaginação do povo. Não foi de graça, então, que a seção de propaganda do Ministério do Interior, em 1792, em plena ebulição revolucionária, se denominava Escritório do Espírito.

Pois, essa apropriação da imaginação popular foi – parcialmente – exitosa por parte dos maragatos (ideologia do latifúndio) sul-rio-grandenses, especialmente a partir da segunda metade do século 20. Alguém pode perguntar o motivo de ter passado tanto tempo, de 1835-45 até meados do século passado, por que? Por que o mito levou tanto tempo para “apoderar-se da imaginação do povo”?

E outras questões: por que no RS se festeja, se comemora uma derrota, sim, porque os farroupilhas de 1835 foram derrotados durante dez longos anos pelas tropas do Império do Brasil, por quê?

Outra: por que o RS comemora o 20 de setembro e não comemora o 14 de julho? Sabendo-se que foi no 14 de julho de 1891 que a Assembléia Constituinte sul-rio-grandense deu posse a Júlio Prates de Castilhos como primeiro Presidente (hoje é governador) eleito no RS, e pode-se dizer que este é o marco da única revolução burguesa clássica havida no País.

Nenhum Estado federado e nem o próprio Brasil teve uma revolução modernizante como o Rio Grande do Sul, através dos positivistas chimangos de Castilhos, e depois através de Borges de Medeiros, pelo menos até 1930, quando se encerra o ciclo modernizante inaugural da transição para o capitalismo nesta região meridional.

Por que a burguesia gaúcha, a direita guasca, comemora uma derrota – a farroupilha – em vez de comemorar uma vitória – a da revolução cruenta de 1893? Intrigante, não?

E uma última questão, pelo menos por hoje, para iniciar esse tema tão apaixonante e que explica bastante o Rio Grande atual e o Brasil lulista (que quer copiar um pouco o ciclo desenvolvimentista de Vargas, que por sua vez bebia na fonte dos chimangos de Castilhos-Borges), por que aqueles que foram derrotados fragorosamente em 1893, na revolução burguesa gaúcha, hoje, são hegemônicos no plano político-eleitoral do Estado e logram êxito no objetivo original de Mirabeau no sentido de terem se apoderado da imaginação popular através de batalhas de símbolos, batalhas midiáticas, cevadura de ideologias, montagem de mitos, bombachinhas e tradicionalismo galponeiro, por quê?

O Rio Grande do Sul tem uma história muito expressiva, tão expressiva quanto o “riso” macabro dos degolados de 1893, dos “engravatados” de 1923 (a “gravata” era a língua exposta da vítima, por baixo e através do largo talho horizontal do corte da lâmina branca), e de uma revolução positivista-burguesa que ousou estatizar empresas estrangeiras ainda em 1920, que cobrou impostos de latifúndio em 1895 e que escolarizou todo o Estado, ainda no início do século 20.

Vamos ver tudo isso, aqui no blog, um pouco a cada dia.

Esta série foi publicada originalmente neste blog DG, ano passado, em dez pequenos artigos.

Ilustração de Eugênio Neves

Redator: Cristóvão Feil

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Repercuto estes capítulos( escritos pelo Cristóvão Feil) de nossa história para que se reflita esta simplificação e nivelamentoo de costumes, a serviço da oligarquia dominante no RS. Esta história inventada, esta cultura de costumes, chamada não por acaso de tradição, repercute incessantemente em nosso imaginário e produz malefícios incomensuraveis pelo descolamento com o real. Mérito da mídia local.

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A "mão invisível do mercado" é cleptomaníaca!

Eugênio Neves

Os bancos Morgan, Stanley Goldman e outros tantos que opinavam sistematicamente sobre o risco Brasil durante décadas, estão quebrados ou em vias de quebrar.
Que credibilidade eles tem para condenar o quintal alheio, países em desenvolvimento, enquanto o seu próprio quintal estava em ruínas? Ou seria um joguinho de cartas marcadas para privilegiar investimentos em bancos de seu interesse e que se submetem aos seus “regulamentos”?

Onde andava o “deus mercado” e a iniciativa privada, defensores do estado mínimo, sempre tão “eficientes” na a solução de problemas financeiros, que não detectaram esta esculhambação toda?

Enquanto o mercado financeiro tiver mais valor e poder do que a força do trabalho, teremos crises deste tipo. Liberalismo econômico, onde se particulariza o lucro, mas os prejuízos são socializados. Um socialismo de prejuízos. Esta é a lógica do mercado.

Esta crise financeira do mercado-futuro, nos EUA, revela a fragilidade da economia mundial. Um cenário agravado por problemas ambientais decorrentes do consumo excessivo, da produção de alimentos, combustíveis e extração de matéria-prima. Hoje é impossível viver sem provocar qualquer tipo de impacto ambiental. Teremos que rever nossa atitude em relação à economia e ao meio ambiente, que estão cada vez mais inter relacionados.

Ou mudamos, ou o planeta tomará esta decisão por nós.
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Leonard Cohen

A primeira vez que vi – e ouvi – Leonard Cohen foi no filme do Festival da Ilha de Wight (1970). Chamou-me atenção aquela figura com um visual mais para os "beatniks" da década de 1950 do que para os "hippies" da década de 1960, que começou a sua apresentação com um discurso sobre a fragilidade da nação inglesa e, a seguir, emendou com uma das canções mais bonitas que eu já tinha ouvido: "Suzanne". A sua voz levemente anasalada, porém suave, lembrava uma mistura de Bob Dylan com Paul Simon, mistura esta que também estava presente no lirismo da letra de "Suzanne". Ao começar a pesquisar a obra de Cohen, deparei-me com um poeta pop de altíssimo nível e que – apesar da associação que eu havia feito com Dylan e com Simon – desenvolveu uma obra altamente original, com algumas das mais brilhantes canções que a música pop já produziu – além de "Suzanne", destaco "So long, Marianne", "The Partisan", "Fabulous Blue Raincoat", "Chelsea Hotel", dentre outras. Sua trajetória pessoal também chamou minha atenção: em meados da década de 1960, com mais de 30 anos de idade, ele já era um escritor consagrado em seu país, o Canadá, chegando, inclusive, a ser comparado por alguns críticos literários à James Joyce. No entanto, ele largou tudo, inclusive a família (ele fala sobre o adeus à sua primeira mulher, na belíssima "So Long, Marianne") para ir para os EUA iniciar uma nova carreira de músico. No Brasil, não há muita coisa em catálogo da obra fonográfica de Cohen. Salvo engano, só é possível encontrar nas lojas brasileiras a coletânea dupla – excelente, por sinal – intitulada “The Essential Leonard Cohen”. Abaixo, reproduzo a onírica – e maravilhosa - letra de “Suzanne”.

"Suzanne"

Suzanne takes you down to her place near the river
You can hear the boats go by
You can spend the night beside her
And you know that she's half crazy
But that's why you want to be there
And she feeds you tea and oranges
That come all the way from China
And just when you mean to tell her
That you have no love to give her
Then she gets you on her wavelength
And she lets the river answer
That you've always been her lover
And you want to travel with her
And you want to travel blind
And you know that she will trust you
For you've touched her perfect body with your mind.
And Jesus was a sailor
When he walked upon the water
And he spent a long time watching
From his lonely wooden tower
And when he knew for certain
Only drowning men could see him
He said "All men will be sailors then
Until the sea shall free them"
But he himself was broken
Long before the sky would open
Forsaken, almost human
He sank beneath your wisdom like a stone
And you want to travel with him
And you want to travel blind
And you think maybe you'll trust him
For he's touched your perfect body with his mind.
Now Suzanne takes your hand
And she leads you to the river
She is wearing rags and feathers
From Salvation Army counters
And the sun pours down like honey
On our lady of the harbour
And she shows you where to look
Among the garbage and the flowers
There are heroes in the seaweed
There are children in the morning
They are leaning out for love
And they will lean that way forever
While Suzanne holds the mirror
And you want to travel with her
And you want to travel blind
And you know that you can trust her
For she's touched your perfect body with her mind
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