PT e PSDB: O debate em torno da convergência política

Na política, o mercado de opinião é vasto. Em certos momentos, a convergência de idéias e opiniões torna-se a regra. Mas é preciso tomar cuidado com os reducionismos. Atualmente virou moda entre os analistas políticos dizerem que não há qualquer diferença significativa entre PT e PSDB. Os dois partidos adotaram políticas de responsabilidade fiscal e avanços no campo social. Seriam irmãos gêmeos, separados no nascimento, mas pronto para se juntarem em algum momento. A política monetária bastante rígida dos governos Lula e FHC seria a simbologia da submissão deles ao capital financeiro, o que seria prova da convergência de idéias dos dois partidos. Também tenho divergências fortes com relação à política monetária praticada nos dois governos, porém o mundo é um pouco mais complexo. Nada é tão simples.

A maneira com que os partidos disputam espaços de poder relaciona-se com o chamado “mercado político”. A teoria do mercado político nos leva a questionar as teses reducionistas que classificam os partidos políticos. O sonho do PSDB é jogar o PT para bem à esquerda do espectro político, porque o partido sabe que a maioria do eleitorado está um pouco mais ao centro. O PT também acalenta o sonho de levar o PSDB para bem à direita, disputando espaços de poder com o DEM, por que assim pode formar um governo de maioria de centro esquerda e reinar sozinho. Nem o PT quer ir mais para a esquerda (embora alguns partidários desejam), nem o PSDB quer ser apenas um partido de direita (embora seja o desejo de alguns filiados). Os dois partidos resistem bravamente na disputa do centro do espectro político. É assim mesmo, na tentativa e erro que se consegue chegar ao famoso (e desejado) “eleitor mediano”, vencedor de todas as eleições.

O sonho que alimenta os dois partidos é ainda maior. Conquistar uma maioria formando um governo com o apoio do partido derrotado. Os métodos da política paulista não permitem a reconciliação política. Os políticos paulistas não contentam em vencer o outro lado, mas querem eliminar o adversário da cena política. Vencer torna-se uma questão de sobrevivência política. É só ver a disputa travada nos bastidores entre Serra x Alckmin em São Paulo. Os políticos mineiros por outro lado sempre deixam espaço para a negociação e, dessa maneira, curar as cicatrizes que as disputas eleitorais produzem no caminho. O objetivo é enfraquecer o adversário para negociar com ele numa posição de desvantagem no futuro. E assim construir o propalado “entendimento” à moda mineira. A convergência foi obtida por meio do “convencimento”, ou melhor, da vitória definitiva de um dos lados outrora opostos.

Quem um dia freqüentou aulas de estratégia sabe que nessa história há sempre um lado perdedor (e um vencedor). Imaginar um jogo em que os dois lados saem vitoriosos é mera ilusão. E o pior, se houve uma convergência entre os principais políticos (e um partido perdedor), o mercado político tornou-se menos competitivo. Menos competição no mercado político, maior estabilidade do centro do espectro político, menos alternativas reais de poder. A não ser que alguém me convença que bipartidarismo é bom (o que não acredito), não há porque festejar o resultado possível. Pode ser bom para os políticos, pode haver mais estabilidade política, menos escândalos, mas não quer dizer que é bom para a população em geral, principalmente para as classes sociais menos favorecidas. São elas que deverão experimentar o déficit de representação política provocado pela redução das alternativas políticas (no limite, o bipartidarismo). O melhor exemplo é os EUA de hoje, em que negros e latino-americanos são enormemente sub-representados na política. Imagem não é tudo. A Itália de Sílvio Berlusconni é uma evidência clara do paradoxo entre maior estabilidade política e poucos avanços nos campo social e econômico.

Mas será que a chamada convergência política entre PT e PSDB não aconteceu? A resposta correta é não. Se houvesse a tal convergência, a população teria escolhido o vencedor. E o perdedor por definição. Políticas públicas parecidas ou iguais não eliminam as diferenças desses partidos (e seus respectivos governos). Da mesma forma que há similaridades, existem também diferenças significativas no campo social e econômico. São essas diferenças que refletem os perfis distintos do eleitorado desses partidos. Os dois partidos tentam conquistar aquele “eleitor mediano”, mas este ainda não foi totalmente encontrado.

As diferenças não se restringem ao programa Bolsa Família, mas um conjunto maior de políticas públicas que influenciam o social e o econômico. As políticas de inclusão social do governo do PT são apenas a ponta do iceberg. Pode-se dizer que boa parte delas já existia, mas a concepção era bem diferente. O PRONAF é talvez o maior exemplo. Em vez de criar condições e oportunidades, o PRONAF da “era FHC” era apenas mais um produto bancário. Por esse motivo, nunca chegava aos pequenos agricultores de fato. Da mesma forma era o crédito educativo. É o “Deus Mercado”. O PSDB sempre acusa o governo do PT de um Estado gigantesco. Mas o problema não é apenas do tamanho do Estado, é também de forma. É preciso lembrar que até na política educacional o governo do PSDB estava retirando o Estado para dar lugar à iniciativa privada. A solução do PSDB para a educação brasileira consistiria em mais Mercado e menos Estado.

Nem precisa lembrar das diferenças na condução da política externa, pois já foram exaustivamente debatidas. O PSDB constantemente diz que o governo petista quer fazer grandes empresas nacionais, em sacrifício da competição (e do consumidor, por conseqüência). A solução para a melhoria da competição e do ambiente de negócios na visão do partido é maior presença de capital externo nas empresas brasileiras. A internacionalização da economia brasileira não se daria por meio das empresas nacionais, mas nas mãos do capital estrangeiro. É uma diferença significativa de concepção de país, a despeito de similaridades em determinadas políticas. Diferenças programáticas entre os dois partidos existem, e não são pequenas. A agenda política do PT e PSDB não é a mesma em definitivo. Se a agenda política é distinta, então não há o que se falar em convergência política. E também não haveria um único centro do espectro político.

A melhor definição de política que ouvi foi de um político mineiro, o ex-governador Magalhães Pinto: “a política é como as nuvens, muda o tempo todo”. A convergência entre os partidos PT e PSDB é um resultado que pode vir a acontecer. Porém, trata-se de futuridade. E quando acontecer significa que o eleitorado escolheu um vencedor (e um perdedor). Caso prevaleça à moda mineira de fazer política, a convergência deverá produzir a união das forças do PT e PSDB. Mas nunca nas mesmas condições de igualdade. O poder político precisa de lideranças. E, conseqüentemente, de liderados.
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Xenofobia fascista nos EUA


Com a crise americana algumas conseqüências já são esperadas, entre elas o aumento da xenofobia fascista contra os imigrantes nos EUA. Uma prova disso é a atuação de grupos organizados que atuam contra a imigração ilegal, como o CCFILE, de dois irmãos em Boston, Jim e Joe Rizoli, que têm programas semanais na TV. É impressionante a linguagem xenófoba. No vídeo acima, cena de rua com brasileiros que comemoravam vitória da seleção brasileira na última Copa. A frase “nós perdemos o controle da cidade, temos que retomá-la” é usada nos créditos finais.
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Quem é Fernando Globeira?



Depois de um longo e estável matrimônio, o PSDB concorre às prefeituras de várias capitais sem ter o DEM como seu fiel consorte. O projeto atual é vender sua imagem de centro-esquerda, desgastada ao longo dos anos de casamento. No Rio de Janeiro, seu nome é Fernando Gabeira. Um mito da esquerda, mais pelo passado do que pela prática política recente, onde sempre esteve afinado à nata do conservadorismo político. Para esta empreitada, as organizações Globo já reservam sua melhor munição, tendo lhe dado nos últimos dias vasto espaço na TV e no seu jornal.

Mas há motivos para existir um mito sobre este passado? Uma coisa é certa, Gabeira sempre foi excelente homem de mídia. Soube como poucos aproveitar os holofotes que lhe iluminaram na volta do exílio. E criou sobre si a imagem e uma história que o bem vende, porém contestada por antigos companheiros.

Esta outra versão de Gabeira está registrada no excelente documentário “Hércules 56”, de Silvio da-Rin, de 2006, onde 5 membros das duas organizações responsáveis pelo seqüestro do embaixador americano, Charles Elbrick, rememoram aquela ação. Suas falas são misturadas aos depoimentos de vários dos 15 presos políticos que foram trocados pelo embaixador, incluindo documentos de época, como a chegada do avião Hércules 56 ao México, onde um batalhão de repórteres de todo o planeta os esperavam. O resultado é brilhante.

Mas ao final fica uma pergunta, e o Gabeira? Ela só é respondida nos extras do DVD, em um pequeno documentário sobre várias apresentações do filme seguidas de debates, com a presença de alguns protagonistas. À pergunta feita, o diretor justifica que foi escolha sua, baseado na real importância de Fernando Gabeira no episódio, o que é confirmado por outros ex-guerrilheiros presentes, que estranharam o que foi relatado em “O que é isso, companheiro?”, o horrendo filme de Bruno Barreto, baseado no livro do jornalista-deputado, que a mídia sempre louvou a importância.
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Mais selos

Mais quatro idéias para o selinho contra a Veja, feitas com meus conhecimentos avançados de PaintBrush, proposta do Idelber lá no Biscoito Fino.

A idéia da frase é sugestão dos comentários de lá. Há uma comunidade do Orkut com este slogan. Fiz apenas uma pequena adaptação gráfica.


Outra boa idéia dos comentários.


Idéia minha de slogan.


Outra idéia. Confesso que por enquanto é a que mais gosto. Remete à campanha contra as drogas.

Apareçam por lá, contribuam e comentem.
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Do Bolsa Família à inclusão social

Ignacy Sachs*

O semanário britânico "The Economist", de 9 de fevereiro, publicou um artigo altamente elogioso do Bolsa Família, apresentado como o maior programa no mundo de luta contra a pobreza, através da transferência da renda a onze milhões de famílias carentes, condicionada pela presença regular dos filhos na escola e pela participação nas campanhas de vacinação. Segundo uma funcionária do Banco Mundial trabalhando no Brasil, vários países se preparam para reproduzir esse esquema. Tanto mais que os recursos comprometidos são de ordem de apenas meio por cento do PIB.

Um estudo recente do Centro Internacional de Pobreza (uma parceria entre o Pnud e o Ipea) mostrou que o Bolsa Família contribuiu para uma queda no Brasil de três pontos no Índice de Gini - o indicador mais usado de disparidade de renda. Esse ritmo de queda é igual ou maior ao ritmo registrado em países como a Inglaterra e a França, quando esses países estavam instalando políticas de proteção social.

Por positivos que sejam esses resultados, a mera transferência de renda não deixa de ser um projeto assistencial que deve ser reconduzido ano após ano. Daí a necessidade de pensar em saídas do Bolsa Família que permitam às famílias beneficiadas possam se emancipar desse programa ao encontrarem oportunidades de trabalho decente, geradores de uma renda suficiente para sair da pobreza. A saída do Bolsa Família passa por inclusão social pelo trabalho.

O programa Territórios da Cidadania constitui um passo importante nessa direção, marcando uma virada nas políticas públicas de combate à pobreza e à desigualdade.

Trata-se de um programa de desenvolvimento regional voltado às regiões mais pobres do Brasil, dispondo para o ano em curso de R$11,3 bilhões para financiar 135 ações de 15 ministérios nas áreas de apoio às atividades produtivas, acesso a direitos e ações de infra-estrutura. Foram identificados sessenta territórios que incluem 958 municípios com uma população total de 24 milhões de pessoas, e uma população rural de 7,8 milhões com um milhão de famílias de agricultores familiares, 320 mil famílias de assentados de reforma agrária, sendo que 2,3 milhões de famílias recebem atualmente o Bolsa Família. Os sessenta territórios compreendem 350 comunidades quilombolas e 149 terras indígenas, e se caracterizam por baixos Índices de Desenvolvimento Humano.

Assim, o Territórios da Cidadania reflete a determinação do Estado desenvolvimentista de pôr em marcha a economia dos territórios mais atrasados, onde se concentram os bolsões de miséria mais recalcitrantes. Ao mesmo tempo, o programa se propõe a despertar todas as forças vivas da sociedade local através da criação de conselhos de desenvolvimento territorial, partindo da premissa de que o desenvolvimento há de ser pactuado entre todos os seus protagonistas - a sociedade, os empreendedores, as autoridades municipais, estaduais e federais.

Para tanto, a primeira tarefa deverá consistir na elaboração de forma participativa de um duplo diagnóstico: a lista das mazelas e dos obstáculos a serem superados e a identificação dos recursos naturais latentes, presentes em cada território, a serem combinados com a força de trabalho ociosa num amplo leque de projetos, os mais variados. As trajetórias de desenvolvimento socialmente includentes e ambientalmente sustentável são plurais.

Por sua escala e pelo volume dos recursos comprometidos, Territórios da Cidadania nasce como um programa pioneiro em nível mundial de planejamento participativo do desenvolvimento territorial, destinado a propulsar um novo ciclo de desenvolvimento rural com agricultores familiares como atores principais. A caminhada será difícil, mas o projeto é empolgante.

IGNACY SACHS é professor honorário da Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais de Paris e co-diretor do seu Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo.

Publicado originalmente no O Globo em 13/03/2008.
Comentário do blogueiro: Enquanto a oposição política brasileira, setores da mídia e um magistrado-oposicionista torcem o nariz contra o programa governamental Territórios da Cidadania, estudiosos e autoridades do mundo inteiro elogiam as ações do governo nesse sentido. Nesta semana, o Bolsa Família recebeu elogios da Secretária de Estado dos EUA, Condoleeza Rice e também da pré-candidata democrata Hillary Clinton. O programa Territórios da Cidadania visa integrar ações do governo para reduzir a pobreza nas regiões de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Trata-se de dar maior efetividade às ações do governo e também constitui num programa que visa desenvolver as regiões mais pobres do país, inserindo milhões de pessoas no mercado. Nesse sentido, é uma inovação gerencial importante, que eleva o patamar das políticas públicas. É uma pena que o "olho de retrovisor" - focados no passado - de nossa oposição política e de parte significativa da mídia brasileira não enxergam que o país está melhorando, desenvolvendo, gerando emprego e renda e incluindo milhões de pessoas ao mercado de consumo de massa. São conquistas do povo brasileiro. Eles só pensam naquilo.
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