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A ditadura judicial e o IPTU

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
 

Muitas vezes, os golpes contra a democracia são movimentos óbvios e visíveis, ilustrados por tanques de guerra, baionetas e generais. Vivemos tempos em que a consciência democrática dos povos rejeita ataques frontais a seus direitos e é capaz de sair às ruas para defender conquistas históricas e permanentes.

São tempos de judicialização, quando forças conservadoras, sem voto, batem a porta dos tribunais para ameaçar a soberania popular, ignoram a vontade do cidadão e procuram resolver, às suas costas, o que é melhor para um país, um Estado, uma cidade.

A Constituição diz, no artigo 1, que todos os poderes emanam do povo, e são exercidos através de representantes eleitos – ou diretamente, na forma da lei.

Penso nisso diante da mais recente cena do Superior Tribunal Federal. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, eleito de forma límpida e clara em 2012, foi obrigado a apresentar recurso para Joaquim Barbosa anular uma liminar da Justiça de São Paulo que proíbe a cobrança do aumento no IPTU, principal fonte de recursos da prefeitura da maior cidade do país.

Vamos combinar: já é absurdo que um prefeito que recebeu 55% dos votos no segundo turno seja obrigado a fazer uma caravana até Brasília para fazer valer seu direito de definir como pretende governar São Paulo.

É ainda mais absurdo, no entanto, que a palavra final fique com a Justiça.

Não há nenhum aspecto, neste debate, que envolva matéria constitucional. Do ponto de vista eleitoral, Haddad pode estar até ajudando a colocar uma pedra na reeleição de Dilma Rousseff, como acreditam tantos petistas de olho em 2014, mas este é um debate entre o prefeito e seu partido.

A questão aqui envolve princípios e nunca é demais lembrar a visão que explica que os bons princípios são aqueles que podem ser defendidos inclusive quando contrariam nossos interesses.

O IPTU é um imposto tradicional das cidades brasileiras, com alíquotas que sobem e descem de acordo com as prioridades de cada prefeito. Minha opinião é que o STF tem obrigação de devolver o assunto a quem foi eleito para isso – o prefeito e a Câmara de Vereadores, que já tomou posição a favor do aumento, também.

Essa situação elimina o mais maroto dos argumentos favoráveis a judicialização, aquele que admite que é um caminho errado, mas diz que a Justiça só entra em cena por causa da omissão dos demais poderes.

Qualquer passo em falso, nessa matéria, representará um ataque à vontade popular.

O recurso alternativo, de cozinhar o assunto numa sopa de oportunidades durante meses sem fim, será, na prática, uma forma de atender a pressão contra o aumento do IPTU, privando a cidade de recursos que o prefeito julga serem necessários – foi ele o escolhido por 3,3 milhões de eleitores para resolver isso.

Ao dar a liminar contra o aumento, o Tribunal de Justiça de São Paulo alegou, como causa principal, a “falta de debate público” sobre o tema.

Desculpe mas pensei que isso tinha ocorrido na eleição. Quer dizer que tivemos o horário político, os debates eleitorais em todos os canais de TV e é possível alegar que “faltou debate?”

Depois de protestos de junho, onde a questão do transporte coletivo teve um destaque óbvio, será razoável bloquear receitas para investimentos que, por caminhos diversos, irão enfrentar este problema?

Nem nos tempos de George Bush, pai, aquele presidente dos EUA que mandou a população fixar o olho em seu lábios enquanto ele dizia vagarosamente não-haverá-mais-impostos durante a campanha, para mudar de ideia depois da posse na Casa Branca ouviu-se um argumento desses. Tão subjetivo, digamos assim.

O debate sobre impostos maiores e menores faz parte do cotidiano político das democracias e, salvo nas ditaduras, sempre foi resolvido pelo eleitor. Fernando Henrique Cardoso fez a carga tributária subir de 24% do PIB para 35%. Foi assim que seu governo conseguiu manter o célebre equilíbrio fiscal. O Supremo não deu um pio, nem poderia nem deveria.

Dilma Rousseff desonerou vários setores da economia. Nos Estados municípios, governadores e prefeitos criam e eliminam incentivos fiscais. É possível debater a oportunidade de cada uma dessas medidas. Mas seria absurdo questionar o direito de autoridades eleitas de resolver uma questão fundamental do funcionamento do Estado.

O Estado do bem-estar europeu não foi construído com recursos espirituais, mas com impostos retirados dos mais ricos – inclusive sobre grandes fortunas – para beneficiar os mais pobres. Imagine se eles fossem bater as portas dos tribunais para revogar as decisões? Como mostra o grande pensador Tony Judt, a Europa estaria nos braços negros do fascismo até hoje.

A contra revolução conservadora patrocinada por Ronald Reagan, nos EUA, tinha como base o corte de impostos da classe média alta e dos ricos. Ninguém foi à Corte Suprema por causa disso. Podemos até não gostar, mas era o voto que naquele momento dava autoridade a Reagan. O mesmo aconteceu na Inglaterra, nos anos de Margareth Thatcher. A população chegou a fazer uma revolta popular quando ela criou uma taxa que tungava fundo no orçamento da população dos bairros mais pobres – a palavra final coube ao eleitor.

A questão do IPTU paulistano foi levada ao Supremo por esses caminhos que sempre são percorridos por quem não tem respaldo na vontade popular. Não foi por acaso de Haddad mencionou a eliminação da CPMF, ocorrida no segundo mandato do governo Lula.

Naquele momento, a mesma FIESP já presidida pelo mesmo Paulo Skaf participou da operação que acabou com a CPMF através do Congresso. A ação nada teve de democrática. Os deputados tinham medo de não conseguir reeleger-se no pleito seguinte depois de apoiar uma medida tão perniciosa para a população mais pobre e queriam dinheiro para mudar de lado. Foi um escândalo, conforme apurou a Polícia Federal na Operação Castelo de Areia.

Com base na investigação do caixa 2 de uma das maiores empreiteiras do país, descobriu-se o pagamento de propinas imensas a uma larga fatia do Congresso. Feito o serviço com os parlamentares, chegou a hora de pedir ajuda a Justiça para se impedir a punição dos responsáveis.

Havia montanhas de diálogos gravados, comprometedores e vergonhosos. Mas as principais peças de acusação foram anuladas, pois haviam sido obtidas sem autorização judicial. Resultado: o STF anulou as provas e ficou tudo por isso mesmo. Está certo? Está, por mais que seja chato admitir isso. A democracia tem seus rituais, e um deles informa que os direitos dos cidadãos, mesmo aqueles acusados de crimes gravíssimos, devem ser respeitados.

E é em nome dos mesmos rituais que ( putz! ) ajudaram a salvar até aqueles tubarões que derrubaram a CPMF, mas em função de uma causa muito melhor, que se deve devolver as prerrogativas democráticas a quem tem o direito de falar pelo povo.

A alternativa é a ditadura judicial. Este é um sistema que até pode conviver com algumas franquias democráticas mas, toda vez em que os ricos e poderosos se consideram atingidos em seus direitos, oferece acesso especial e personalizado para revogar medidas que não são de seu interesse.
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Corrupção é agenda falsa

Por Mauricio Dias, na revista CartaCapital:
 

Livre da disputa interna com José Serra, o senador Aécio Neves divulgou o documento que deverá nortear os rumos da candidatura dele à Presidência da República, pelo PSDB, em 2014. Entre o discurso e o texto atacou o PT, o adversário a ser superado. Sem perder o tom mineiro, garantiu que não vai partir para o vale-tudo. Foi cuidadoso, antes de tudo. Sabe que, em jogo sem regras, a disputa entre petistas e tucanos terminaria empatada. De forma muito árdua para ele principalmente.

PT e PSDB, não necessariamente nessa ordem, já dedicaram quase duas décadas de discursos acusatórios em torno do tema corrupção. Um problema sistêmico no Brasil que deve levar o cidadão a desconfiar de candidato empunhando o estandarte com a promessa de dar um fim a esse problema sem fim.

Ninguém é a favor da corrupção, todo mundo é contra, afirmaria o vetusto Conselheiro Acácio, essa velha encarnação ficcional da obviedade, criada por Eça de Queirós.

Combate à corrupção é agenda falsa. Dispensa comprometimento por ser dever de ofício de qualquer administrador por mais que a sociedade, como parece ser a brasileira, seja permissiva com ela. Também por isso, a teatralização política do julgamento no STF da Ação 470, popularizada como “mensalão”, em 2013, terá influência mínima, ou nenhuma, nas eleições de 2014.

O eleitor não cai nessa armadilha. Vota por interesse concreto. Pode errar no voto, mas acerta na identificação dos problemas que o afligem e assim constrói a agenda verdadeira, desprezada pela demagogia política. Não há debate sério e constante em torno dos problemas reais. Falta consistência e argumento à oposição para enfrentá-los. Um conforto para o governo.

Essa agenda é visível em todas as pesquisas. Ao longo de mais de 20 anos, trimestralmente, a Confederação Nacional da Indústria e o Ibope identificam isso. A mais recente, com pequenas variações porcentuais, repete as “áreas com pior desempenho” do governo Dilma (tabela). A saúde é a pior. Quem discordaria?

A corrupção, protagonista do noticiário da imprensa conservadora e, como tal, antigovernista, aparece em quinto lugar no ranking da pesquisa. No entanto, diante da pergunta se o mal é ligado diretamente ao governo federal, o porcentual das respostas surpreende: é de zero por cento.

Segurança pública, violência e educação formam o trio de pior desempenho do governo. Em empate numérico com a educação aparece o combate às drogas.
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O senta e levanta de Joaquim Barbosa

Por Cadu Amaral, em seu blog:

Joaquim Barbosa negou a suspensão da liminar que impede a implantação do IPTU progressivo na cidade de São Paulo feita a pedido da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e do PSDB. Ela foi concedida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo e mantida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Como a decisão de manter a liminar foi monocrática, ainda poderá ser revertida em plenário.

Segundo Fernando Haddad (PT), prefeito da capital paulista, essa é a primeira vez, desde Jânio Quadros, que um prefeito é impedido de atualizar o valor do imposto municipal. Talvez por ser a primeira vez que isso é feito para beneficiar os mais pobres.

A decisão por si não é de causa surpresa visto as últimas ações de Barbosa no comando do Supremo Tribunal Federal (STF). O que chama a atenção são as fotos das reuniões com Paulo Skaf, presidente da FIESP e com o prefeito de São Paulo. Com o empresário ele se deixou fotografar sentado e com o petista em pé.

Há tempos que se sabe que Joaquim Barbosa sofre de dores na coluna e que por isso fica constantemente em pé nas sessões do STF e em reunião do seu dia a dia. Mas daí a sentir dores que o impossibilitem de sentar, mesmo por alguns minutos, já é caso de aposentadoria por invalidez.

Barbosa, com todas as personalidades com quem se reuniu em seu gabinete, sempre foi fotografado em pé enquanto seus convidados estavam sentados. Simbolicamente isso representa superioridade. No ponto mais alto fica quem é superior.

Por exemplo, nenhuma bandeira, de qualquer que seja o país, pode estar em um ponto mais alto do que a bandeira do Brasil em nosso território. Aqui a bandeira mais importante é a nossa, por isso fica no ponto mais alto.

Então por que Joaquim Barbosa se deixou fotografar sentado ao lado de Skaf? Ele considera o presidente da FIESP um igual? Ou será que deseja que o empresário paulista lhe consiga patrocinadores de campanha, caso o financiamento eleitoral ainda continue valendo para 2014? A ver!
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"Casa Grande" impede justiça tributária

Por Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual:

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), chamou a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) de “Casa Grande”, em oposição à senzala, ao comentar a derrota judicial na batalha jurídica contra a entidade em torno da planta genérica de valores. “A Casa Grande não deixa a desigualdade ser reduzida na velocidade que a gente deseja”, afirmou, na biblioteca Mário de Andrade, em discurso na cerimônia de sanção da criação da SP Cine, agência estatal de fomento ao cinema na cidade. “Sou socialista, acredito na necessidade da distribuição de renda.”


À imprensa, embora tenha afirmado que não lhe “cabe comentar decisão judicial”, disse que é preciso haver “harmonia entre as decisões”. “Por exemplo, o mesmo tribunal que impediu a atualização da planta manda matricular 150 mil crianças na educação infantil. O STF que determina o pagamento dos precatórios à vista ou em cinco anos é o mesmo que impede a atualização da planta genérica.” A posição é a mesma do líder de seu governo na Câmara Municipal, Arselino Tatto.

Hoje à tarde, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, decidiu manter liminar de primeira instância que impede a prefeitura de aplicar no IPTU os valores fixados por legislação aprovada na Câmara, que promove aumentos nos bairros de maior valorização imobiliária e reajustes mais baixos ou redução de valores em áreas com menos infraestrutura urbana.

Em sua argumentação, Barbosa alegou que não tem conhecimento integral do orçamento municipal para saber se os prejuízos apresentados pela administração municipal com a manutenção da liminar são, de fato, daquele tamanho. A contestação apresentada ao Supremo diz que os cofres vão perder R$ 800 milhões em arrecadação direta, e até R$ 4 bilhões em repasses do governo federal que podem deixar de ser feitos por compromissos não honrados.

O presidente do STF argumentou ainda que é mais fácil a administração municipal esperar que o TJ de São Paulo julgue o mérito da questão para só depois aplicar a correção do que o contrário, ou seja, que se autorize um reajuste que depois terá de ser devolvido aos contribuintes.

Haddad descartou, porém, a possibilidade de emitir novos boletos após decisão judicial, e indicou que apenas em 2015 colocará em marcha o IPTU progressivo, após nova tramitação pela Câmara Municipal.

Para ele, as decisões da justiça contrariam o conceito histórico do IPTU. “O imposto é sobre a propriedade. Em bairros em que houve uma valorização acima da inflação, tem que haver aumento proporcional; onde houve valorização abaixo, tem que haver desconto. Essa é a lógica do IPTU desde tempos imemoriais, sempre foi assim”, disse. “É a primeira vez que acontece isso, uma prefeitura ser impedida de fazer justiça tributária.”

Para o prefeito, a concessão da liminar pelo Tribunal de Justiça paulista e sua manutenção nos tribunais superiores “é um precedente que causa muita preocupação, porque se esse entendimento valer para todas as cidades brasileiras, os prefeitos vão ter muitas dificuldades de manter seus orçamentos”.

Ainda sobre o significado do precedente jurídico, apontou que as decisões anteriores não haviam chegado a comprometer a planta genérica proposta pela prefeitura. “Sempre se discutiu alíquota ou progressividade, mas a planta genérica sempre foi uma espécie de cláusula pétrea, não se discute. Agora temos uma realidade nova e podemos perder essa fonte. Desde o prefeito Jânio Quadros, é a primeira vez na história de São Paulo que um prefeito é impedido de atualizar a planta genérica de valores.”

Haddad esclareceu que para 2014 o reajuste será de forma habitual, pela inflação. “Manteremos o quadro atual.” Disse também que não haverá nenhuma nova medida quanto ao IPTU e à planta genérica. “Tudo agora depende da justiça, nada mais depende da prefeitura e nem do Legislativo.”
Ele explicou que o contingenciamento (verbas que a prefeitura não poderá usar) será de cerca de R$ 4 bilhões. “A maior parte desses R$ 800 milhões de IPTU era de contrapartida de recursos do PAC. Cada real que a gente deixa de arrecadar nós perdemos três reais do governo federal.”

Afirmou ainda que a Fiesp e seu presidente, Paulo Skaf, sabiam dessa informação, mas a omitiram. “Paulo Skaf foi avisado, mas preferiu omitir e levar à TV as inverdades que levou.” Mais cedo, o prefeito havia dito que Skaf é “demagogo”.

Apesar da contrariedade, Haddad usou de bom humor para fazer uma comparação: “Queda da Portuguesa só não é mais injusta do que isso”, disse, em referência ao rebaixamento no tapetão da Portuguesa no Campeonato Brasileiro de futebol.
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Valeu, Skaf! Haddad sinaliza mudanças

Por Renato Rovai, em seu blog:

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, é um político sem votos. Foi candidato a governador em 2010 e de um colégio de aproximadamente 24 milhões de eleitores que se dispuseram a ir às urnas, conseguiu que um milhão o escolhessem para o cargo. Ou seja, 4,5%.

Um fiasco para quem se gaba de presidir a principal entidade do capital industrial brasileiro. Um fiasco para quem liderou, como se fosse um Robin Hood, um movimento contra a CPMF, imposto vinculado à saúde e que, entre outras coisas, contribuía para diminuir a sonegação.

Joaquim Barbosa também é um político sem votos. É um dos juízes mais políticos de todos os tempos do Supremo Tribunal Federal. E tem utilizado seu cargo para fazer política contra o PT. Talvez por isso mais do que por qualquer outra coisa deu ganho de causa à Fiesp contra a Prefeitura na batalha do IPTU.

Skaf fez de novo o que dele se esperava. Agiu como um Hobin Hood da Fiesp, que historicamente defende que se tire dinheiro dos pobres para dar aos ricos.

Barbosa fez o que dele se esperava. Governou por decreto impedindo que a democracia seja exercida no plano da política. Tornou tanto a Câmara Municipal de São Paulo quanto o Executivo da cidade em meros figurantes do STF. Quem governa é a justiça, cravou o juiz sem votos.

E ambos contaram com o apoio irrestrito da mídia paulista, que Haddad imaginava que seria mais do doce com ele do que foi com Erundina e Marta Suplicy.

Mas o que parece uma derrota do prefeito, pode ser o inicio de uma grande virada a seu favor. Haddad parece que desistiu de fazer média com a mediocridade de uma São Paulo que se acha dona da cidade. Segundo reportagem da Rede Brasil Atual, o prefeito disse ao comentar a decisão do STF: “Sou socialista, acredito na necessidade da distribuição de renda”.

É este Haddad que precisa governar. O que deixa claro suas posições e que não tem medo de enfrentar o estabilishment. É este Haddad que contrariou interesses e criou o Pró-Uni, que implementou cotas nas universidades, que retomou a criação de universidades públicas que precisa vir à tona no governo de São Paulo. O Haddad que não tem receio de se afirmar socialista.

Ao fazer esta opção, Haddad vai conquistar boa parte dos 55% que lhe elegeram prefeito de São Paulo. E vai fazer valer os seus votos.

Porque Haddad teve votos. E os seus votos vieram majoritariamente de um pedaço da cidade que também acredita na necessidade de distribuição de renda. E defende a justiça social.

Aliás, o governo de Haddad já tem feito essa opção, o que precisa é assumir isso no discurso.
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Tucanos perderam o faro para 2014

Por Antonio Lassance, no sítio Carta Maior:
Começou mal, muito mal mesmo a tentativa de Aécio Neves dizer o que quer em 2014. Depois de anunciar com antecedência que lançaria seu programa e daria uma lição no atual governo, o virtual candidato fez um ato, ou melhor, um “happening”, dentro do Congresso Nacional (dia 17), que não conseguiu mobilizar nem os tucanos mais conhecidos. A desculpa oficial arranjada para as ausências é a de que era preciso deixar Aécio sozinho para “brilhar”.

Resultado: ele sequer foi capaz de confirmar se é candidato. Os 12 pontos, que devem ter sido inspirados na lenda dos 12 trabalhos de Hércules, são apenas um rascunho mal acabado do que pode vir a ser, quem sabe um dia, algo que se pareça com um programa de governo.

O evento não agradou ninguém, nem mesmo os aliados mais próximos. Foi tão ruim que talvez nem se possa dizer que esse pontapé inicial começou mal.

Simplesmente, nem começou. O pontapé inicial foi uma furada.

O elogio mais caloroso que Aécio sofreu dentro de seu partido é o de que ainda lhe “falta pegada”, um eufemismo para a sensação disseminada entre os tucanos de que eles têm, diante de si, uma pesada mala sem alça para carregar no ano que vem. Embora o senador mineiro seja a bola da vez, o problema não é isolado. O faro dos tucanos parece que anda prejudicado ultimamente, pelo menos, para gerar notícias positivas.

As manchetes da velha mídia foram todas frustradas. Aécio perdeu feio para o ato em Pernambuco que juntou Dilma e Eduardo Campos. Aécio perdeu até para a notícia de que seu marqueteiro foi afastado.

O rascunho de 12 pontos sem nó esqueceu-se de um detalhe importante em eleições: os trabalhadores. De última hora, alertado por um irritado Paulinho, da Força Sindical, o tucano foi obrigado a incluir algo sobre “mercado de trabalho com maiores salários”. Ainda bem que incluíram no meio de um dos tópicos já existentes. Do contrário, redundaria nos “13 pontos de Aécio”.

O virtual candidato usou a expressão “tolerância zero” para falar de combate à inflação. Convenhamos, um ato falho para quem, parado em uma blitz, recusou-se ao teste do bafômetro. De todo modo, o principal ponto desse rascunho de programa não está nem nas linhas, nem nas entrelinhas, mas nos encontros que Aécio tem promovido com o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central durante o governo FHC, investidor e consultor de grandes investidores e frequentador da Casa das Garças, templo do neoliberalismo no Brasil que reúne sacerdotes do Plano Real e banqueiros. Já está divulgado, a quem interesses tiver, que Fraga seria o ministro da Fazenda caso os tucanos fossem eleitos em 2014.

Para bom entendedor, basta o nome do ministro. O PSDB manteve, durante o governo FHC, o mesmo padrão de governança econômica criado pela ditadura: a de um czar da economia que faz e desfaz, e o presidente assina embaixo. O presidente da República não passa de sua guarda pretoriana, para blindá-lo de pressões políticas. É isso o que o mundo das altas finanças espera de uma gestão econômica. O resto é detalhe. Tudo em nome da responsabilidade fiscal, aquela que, no passado, levava o Brasil a pedir dólares ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e que, mais recentemente, permitiu ao governador Beto Richa (do PSDB do Paraná) quase não ter dinheiro em caixa para pagar o 13º dos funcionários públicos de seu Estado, não fosse um empréstimo recebido do Banco Mundial.

O importante é que agora ficou fácil. Quem quiser detalhes da economia em um eventual governo tucano basta marcar uma conversa com Armínio Fraga.

Vamos conversar?
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Dilma, Aécio e Eduardo: largada definida

Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

Com a desistência de José Serra, anunciada esta semana, e Marina Silva recolhida a um segundo plano como coadjuvante de Eduardo Campos, 2014 vai começar tendo a largada da corrida sucessória definida e três candidatos já em campanha, embora o início oficial, segundo o calendário do TSE, esteja marcado para o dia 6 de julho.

Em resumo: mesmo com a entrada de um ou outro figurante nanico, a disputa se dará mesmo entre a presidente Dilma Rousseff, do PT, o senador tucano Aécio Neves e o governador pernambucano Eduardo Campos, presidente do PSB.

Ainda que Marina permaneça à frente de Eduardo nas próximas pesquisas, não aposto um centavo que o governador cederá a candidatura presidencial a ela, que aparece em segundo lugar, e é a única que poderia provocar um segundo turno, pelos levantamentos divulgados até agora.

Dilma entra na corrida com larga vantagem, oscilando com 40 % das intenções de votos, o dobro de Aécio, que tem o dobro de Eduardo, ainda lutando para sair dos índices de um dígito. Na verdade, o jovem candidato do PSB entra nesta disputa de olhos voltados já para 2018, com o objetivo principal de marcar posição e tornar seu nome nacionalmente mais conhecido. Se conseguir mais do que isso, será lucro, o que, no momento, é pouco provável.

O embate principal, por tudo o que se viu e ouviu nas movimentações dos três candidatos nos últimos dias, se dará mais uma vez entre PT e PSDB. Tanto Dilma como Aécio escolheram um ao outro como o adversário principal a combater, enquanto Eduardo corre por fora, mais preocupado por enquanto na construção de palanques e alianças do que em bater no governo do qual participou até outro dia.

A esperança dos candidatos de oposição de mudar o quadro atual, favorável à reeleição de Dilma, se baseia mais em obstáculos que o governo poderá enfrentar, em ano de dificuldades econômicas e possíveis protestos durante a Copa do Mundo, do que propriamente em alguma ideia nova ou proposta viável capaz de cativar os 66% de eleitores que gostariam de ver mudanças no país.

A presidente termina este ano de baixo crescimento com muita desconfiança dos investidores e perspectivas modestas, mas apresentando indicadores positivos naqueles quesitos que falam mais de perto ao bolso e ao coração do eleitor: emprego e renda. Segundo dados divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira, o desemprego caiu para 4,6%, o menor índice da série histórica iniciada em 2002, e a renda média do trabalhador brasileiro cresceu 3% em relação a outubro do ano passado. A inflação deve fechar o ano em 5,85%, mais uma vez dentro da meta.

Em seu encontro de fim de ano com os jornalistas que fazem a cobertura do Palácio do Planalto, Dilma tocou num ponto sensível: "Há uma tendência de olhar o copo meio vazio. Isso é complicado, porque uma parte da economia é expectativa. Se você instila desconfiança isso é muito ruim".

Não foi por outro motivo que, ao apresentar seu genérico esboço de programa de governo esta semana, Aécio Neves dedicou boa parte do discurso a falar o que os empresários queriam ouvir, já que andam de bico com Dilma, por conta, segundo eles, de uma exagerada intervenção do governo na economia. O chamado mundo do trabalho só entrou no programa na última hora, por sugestão de Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, presidente do Solidariedade, provável aliado de Aécio na disputa presidencial. Até agora, o PSDB está sozinho na parada. O PPS velho de guerra aderiu ao PSB e o DEM ainda está esperando para ver o rumo dos ventos.

Diante disso, a oposição e seus parceiros na grande mídia procuraram investir em caminhos alternativos para desgastar Dilma, e o principal deles é anunciar e incentivar grandes protestos nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo, tentando repetir o que aconteceu em junho passado, quando as grandes manifestações de rua abalaram seriamente a popularidade da presidente.

Só fatos novos e muito graves poderão romper a atual hegemonia petista, que completaria 16 anos no governo central, caso se confirme a vitória de Dilma. Fora isso, a única coisa certa é que o Carnaval em 2014 cai no final de fevereiro, início de março, o que fará o ano político começar mais tarde. E aí logo vem a Copa do Mundo, depois as eleições, as festas de final de ano e, então, 2015 já estará batendo na porta.

Feliz 2015!
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Agripino Maia e o Caixa-2 do DEM

Por Altamiro Borges

Há muito tempo que os blogueiros e jornalistas independentes do Rio Grande do Norte denunciam a existência de milionário esquema de Caixa-2 do DEM no estado, liderado pelo presidente nacional da legenda Agripino Maia. As denúncias inclusive impulsionaram os protestos populares contra a ex-prefeita de Natal, uma demo-verde que foi escorraçada nas eleições municipais de 2012, e contra a atual governadora, a demo Rosalba Ciarlini, que hoje está com a sua popularidade na lama. Mesmo assim, a mídia demotucana sempre evitou investigar o caso e dar destaque ao assunto. Nesta semana, porém, a revista IstoÉ quebrou a blindagem ao publicar longa matéria sobre o "Caixa-2 democrata".

Assinada por Josie Jeronimo, a reportagem informa que o Ministério Público Federal finalmente está investigando o esquema de desvio de recursos públicos e que "escutas telefônicas revelam transações financeiras ilegais durante a campanha" dos demos no estado. Ela também revela que as denúncias contra o Caixa-2 do DEM foram encaminhadas ao ex-procurador geral da República, Roberto Gurgel, em 2009, mas que foram sinistramente engavetadas. A reportagem da IstoÉ representa um duro golpe no principal líder da sigla, o senador Agripino Maia, que adora posar de paladino da ética. Ela pode ajudar a cavar definitivamente a sepultura dos demos, que rumam para o inferno - se o diabo deixar!

Vale conferir a íntegra da matéria:

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Caixa 2 democrata

Pequenino em área territorial, o Rio Grande do Norte empata em arrecadação tributária com o Maranhão, Estado seis vezes maior. Mas, apesar da abundância de receitas vindas do turismo e da indústria, a administração do governo potiguar está em posição de xeque. Sem dinheiro para pagar nem mesmo os salários do funcionalismo, a governadora Rosalba Ciarlini (DEM) responde processo de impeachment e permanece no cargo por força de liminar. Sua situação pode se deteriorar ainda mais nos próximos dias.

O Ministério Público Federal desarquivou investigação iniciada no Rio Grande do Norte que envolve a cúpula do DEM na denúncia de um intrincado esquema de caixa 2. Todo o modus operandi das transações financeiras à margem da prestação de contas eleitorais foi registrado em escutas telefônicas feitas durante a campanha de 2006, às quais ISTOÉ teve acesso. A partir do monitoramento das conversas de Francisco Galbi Saldanha, contador da legenda, figurões da política nacional como o presidente do DEM, senador José Agripino, e Rosalba foram flagrados.

A voz inconfundível de José Agripino surge inconteste em uma das conversas interceptadas. Ele pergunta ao interlocutor se a parcela de R$ 20 mil – em um total de R$ 60 mil prometidos a determinado aliado – foi repassada. A sequência das ligações revela que não era uma transição convencional. Segundo a investigação do MP, contas pessoais de assessores da campanha eram utilizadas para receber e transferir depósitos não declarados de doadores. Uma das escutas mostra que até mesmo Galbi reclamava de ser usado para as transações. Ele se queixa:“Fizeram uma coisa que eu até não concordei, depositaram na minha conta”.

Galbi continua sendo homem de confiança do partido no Estado. Ele ocupa cargo de secretário-adjunto da Casa Civil do governo. Em 2006, o contador foi colocado sob grampo pela Polícia Civil, pois era suspeito de um crime de homicídio. O faz-tudo nunca foi processado pela morte de ninguém, mas uma série de interlocutores gravados a partir de seu telefone detalharam o esquema de caixa 2 de campanha informando número de contas bancárias de pessoas físicas e relatando formas de emitir notas frias para justificar gastos eleitorais.

Nas gravações que envolvem Rosalba, o marido da governadora, Carlos Augusto, liga para Galbi e informa que usará de outra pessoa para receber doação para a mulher, então candidata ao Senado. “Esse dinheiro é apenas para passar na conta dele. Quando entrar, aí a gente vê como é que sai para voltar para Rosalba.” O advogado da governadora, Felipe Cortez, evita entrar na discussão sobre o conteúdo das escutas e não questiona a culpa de sua cliente. Ele questiona a legalidade dos grampos. “Os grampos por si só não provam nada. O caixa 2 não existiu. As conversas tratavam de assuntos financeiros, não necessariamente de caixa 2”, diz o advogado de Rosalba.

Procurado por ISTOÉ, o senador José Agripino não nega que a voz gravada seja dele. No entanto, o presidente do DEM afirma que as conversas não provam crime eleitoral. “O único registro de conversas do senador José Agripino refere-se à concessão de doação legal do partido para a campanha de dois deputados estaduais do RN”, argumenta.

No Rio Grande do Norte, José Agripino é admirado e temido por seu talento em captar recursos eleitorais. Até mesmo os adversários pensam duas vezes antes de enfrentar o senador com palavras. Mas o poderio econômico do presidente do DEM também está na mira das investigações sobre o abastecimento das campanhas do partido. A ­Polícia Federal apura denúncia de favorecimento ao governo em contratos milionários com a Empresa Industrial Técnica (EIT), firma da qual José Agripino foi sócio cotista até agosto de 2008.


Nas eleições de 2010, o senador recebeu R$ 550 mil de doação da empreiteira. Empresa privada, a EIT é o terceiro maior destino de recursos do Estado nas mãos de Rosalba. Perde apenas para a folha de pagamento e para crédito consignado. Só este ano foram R$ 153,7 milhões em empenhos do governo, das secretarias de Infraestrutura, Estradas e Rodagem e Meio Ambiente. Na crise de pagamento de fornecedores do governo Rosalba, que atingiu o salário dos servidores e os gastos com a Saúde, a população foi às ruas questionar o porquê de o governo afirmar que não tinha dinheiro para as despesas básicas, mas gastava milhões nas obras do Contorno de Mossoró, empreendimento tocado pela EIT.

De acordo com a investigação do MPF, recursos do governo do Estado saíam dos cofres públicos para empresas que financiam campanhas do DEM por meio de um esquema de concessão de incentivos fiscais e sonegação de tributo, que contava com empresas de fachada e firmas em nome de laranjas. O esquema de caixa 2 tem, segundo o MP, seu “homem da mala”. O autor do drible ao fisco é o empresário Edvaldo Fagundes, que a partir do pequeno estabelecimento “Sucata do Edvaldo” construiu, em duas décadas, patrimônio bilionário. No rastreamento financeiro da Receita Federal, a PF identificou fraude de sonegação estimada em R$ 430 milhões.

O empresário é acusado de não pagar tributos, mas investe pesado na campanha do partido. Nas eleições de 2012, Edvaldo Fagundes não só vestiu a camisa do partido como pintou um de seus helicópteros com o número da sigla. A aeronave ficou à disposição da candidata Cláudia Regina (DEM), pupila do senador José Agripino. Empresas de Edvaldo, que a Polícia Federal descobriu serem de fachada, doaram oficialmente mais de R$ 400 mil à campanha da candidata do DEM. Mas investigação do Ministério Público apontou que pelo menos outros R$ 2 milhões deixaram as contas de Edvaldo rumo ao comitê financeiro da legenda por meio de caixa 2.
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Uma onda neonazista no Ocidente

Por Marcelo Hailer, na revista Fórum:

Nesta semana, o jogador da seleção da Croácia Josip Simunic foi banido pela Fifa e está fora da Copa do Mundo de 2014. O zagueiro, após a vitória sobre a Irlanda (em novembro), pegou o microfone e entoou cânticos nazistas com o apoio da torcida. A Fifa considerou inadequada a postura do atleta.

Porém, o caso do desportista não é um fato isolado, principalmente diante dos últimos ocorridos na Europa. No começo deste ano, Paris foi palco de uma manifestação contrária ao casamento igualitário, que reuniu cerca de 1,5 milhão de pessoas, porém, o presidente Hollande peitou os grupos conservadores e fez campanha pessoal pela aprovação do projeto, fato que ocorreu em maio.

Na Grécia, foram eleitos seis parlamentares do partido Aurora Dourada, assumidamente neonazista. Recentemente, o líder do partido, Nikos Mihaloliakos, foi preso acusado de fazer parte de um grupo clandestino neonazista envolvido em assassinatos e lavagem de dinheiro. Outros três parlamentares do Aurora Dourada foram presos sob a mesma acusação.

Mas não é apenas na Europa que os ideais eugenistas (base da ideologia nazista) ressurgem, nos EUA e Brasil também. Lá como cá, esses grupos estão organizados nos partidos políticos, nas assembleias e nos meios de comunicação. Os discursos são os mesmos: anti-políticas raciais, contrários a qualquer avanço na legislação no que diz respeito às LGBT e aborto e, principalmente, sobre políticas de drogas.

No Brasil, por exemplo, mais de uma vez, o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) declarou que a África é um “continente amaldiçoado” e que o líder Nelson Mandela implantou a “cultura de morte na África do Sul”. E os companheiros de bancada do pastor propagam a ideia de que homossexuais são doentes passíveis de cura. São pensamentos que lembram os eugenistas no século XIX. Com os ativistas do Tea Party norte-americano (ala radical do Partido Republicano) se dá o mesmo.

Com este cenário que se espalha por vários países, será possível afirmar que o Ocidente vive uma nova onda eugenista/neonazista? Para a socióloga e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Carla Cristina Garcia, não há dúvidas de que vivemos uma nova onda das teses que fundaram o nazismo. Garcia, que também coordena o núcleo de pesquisa sobre feminismo e sexualidades – Inanna – diz que é correto falar em nova onda, pois, as ideias que têm permeado o ideário conservador do Ocidente, nunca deixaram de existir, mas, neste momento, ganham nova força com a ascensão dos movimentos mais progressistas.

Nesta semana, um jogador da Croácia foi expulso da seleção por ter cantado cânticos nazistas ao fim de uma partida em novembro com o apoio da torcida; neste ano, membros do partido grego neonazista Aurora Dourada foram presos depois que investigação descobriu que eles faziam parte de uma quadrilha nazista; no Brasil setores sociais e políticos têm propagado o discurso de ódio contra LGBT, mulheres, aborto, droga… Pode-se dizer que o Ocidente vive uma nova onda eugenista?

Sem dúvida alguma vivemos uma nova onda do pensamento eugenista e é bom frisar o termo onda, pois a ideia, ou melhor, o ideal eugênico nunca desapareceu da sociedade ocidental.

Talvez seja importante lembrar que todas as teorias racistas modernas são fruto do pensamento eugenista, mais precisamente norte-americano, que desenvolveu um tipo específico de eugenia, conhecida como “eugenia negativa”: eliminação das futuras gerações de “geneticamente incapazes” – enfermos, racialmente indesejados e economicamente empobrecidos –, por meio de proibição marital, esterilização compulsória, eutanásia passiva e, em última análise, extermínio. O aumento no número de imigrantes no final do século XIX levou o grupo dominante no país, os protestantes cujos ancestrais eram oriundos do norte da Europa, a buscar motivos para exclusão. Encontraram terreno fértil na pseudociência da eugenia.

Os eugenistas usaram os últimos conhecimentos científicos para “provar” que a hereditariedade tinha papel-chave em gerar patologias sociais e doenças. Os imigrantes tornaram-se alvos fáceis de defensores dessa nova “ciência”, que empregaram os achados do movimento eugênico para construir a imagem dos imigrantes como pessoas deformadas, doentes e depravadas, encontrando eco em seus contemporâneos nas ciências sociais e na biologia, entre os quais a eugenia propagou-se como algo considerado perfeitamente lógico.

Esse retorno do discurso eugenista em vários países pode ser uma volta do discurso (se é que um dia ele já se foi) do Ocidente enquanto sujeito branco e familista?

Eu não chamaria de retorno do discurso eugenista, pois acredito que este nunca foi deixado de lado, todas as manifestações xenofóbicas por todo o mundo ocidental, o ódio ao estrangeiro propagado em muitos países europeus, além de exibir toda a questão do pensamento colonial, também demonstra claramente que xenofobia e eugenismo são frutos do mesmo tipo de pensamento eurocêntrico, branco e patriarcal.

Acompanhamos nos últimos meses o acirramento entre a bancada fundamentalista e os setores progressistas pró-LGBT, que terminou ontem com a vitória dos religiosos ao enterrarem o PLC 122 sob argumentos bíblicos. Por que é tão difícil se fazer aplicar o Estado Laico?

O problema aqui é muito mais complexo do que parece. Primeiro: há dois direitos individuais em conflito: o que assegura a liberdade religiosa e o que assegura a liberdade de consciência. As pessoas têm o direito de serem religiosas ou ateias, sem darem qualquer explicação. Acreditam ou deixam de acreditar como bem quiserem, e qualquer constrangimento a esses direitos é inconstitucional.

Segundo, o Estado é laico. Ser laico não significa ser ateu. Ser laico significa não tomar partido. Não cabe ao Estado defender essa ou aquela denominação ou agremiação religiosa, e tampouco cabe ao Estado pregar o ateísmo. Cabe ao Estado defender o direito das pessoas, individualmente, escolherem (ou não terem de escolher) se e no que acreditarem. Se alguém resolver acreditar no Coelhinho da Páscoa, cabe ao Estado laico defender tal direito.

Sobre aqueles que estão exercendo um cargo público são agentes do Estado. Logo, ele ou ela o representa perante a sociedade e, por isso, sua liberdade religiosa deve ser ainda mais resguardada enquanto estiver no exercício de sua função. Não há dúvida que ela pode rezar em casa ou no templo, independente de qual seja sua profissão. Mas, em sua vida política, ela é o Estado. E o Estado é laico. Como representante do Estado, ela não deve preferir (ou proferir) uma religião.

Além dos LGBTs, temos acompanhado o fortalecimento dos discursos contra indígenas, negros, usuários de drogas, mulheres e outros difamados. Na sua opinião, estes sujeitos, historicamente subalternizados, deixarão um dia a condição de sujeitos silenciados e difamados?

Há uma nova movimentação no mundo todo contra os abusos do capitalismo e do pensamento colonial. Acredito que a luta por direitos ainda está longe de acabar. Estas novas configurações dos movimentos sociais podem levar a um recrudescimento das forças conservadoras ou podem levar a outro tipo de organização social mais efetiva.
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Um balanço inicial de 2013

Editorial do jornal Brasil de Fato:

Somente no futuro, quando analisarmos com mais profundidade o que aconteceu no ano de 2013 poderemos ter elementos mais precisos do que ele representou para a história recente da vida do povo brasileiro e para a luta social. Porém, desde logo podemos recolher alguns sinais principais.

No quesito melhoria das condições de vida da população, tivemos poucos avanços. O nível de emprego se manteve, a inflação dos preços da cesta básica se manteve e tivemos o programa de saúde pública Mais Médicos, que se propõe a levar profissionais aos lugares desamparados pela atenção medica, às vezes, na periferia das luxuosas capitais.

Porém, tivemos retrocessos na política econômica do governo, que de certa forma o Banco Central voltou a se considerar um ente autônomo, sem legitimidade para isso, e atua a seu bel prazer, aumentando a taxa de juros selic para 10%. Isso significa que vai aumentar as transferências de recursos públicos recolhidos de nossos impostos e destiná-los para os juros dos bancos, que são, afinal, apropriados em sua maioria por não mais de 5 mil ricaços, segundo estudos de Marcio Pochamnn.

Faltam recursos para democratizar a educação superior, ainda restrita aos 12% de jovens na universidade alcançados no governo Lula. Quando o necessário seria investir 10% do PIB nacional para educação.

Os investimentos públicos – de todas as esferas – em transporte público faltaram. Com isso, locomover-se nas grandes cidades é cada mais caro e sacrificado para milhões de brasileiros, que perdem horas de suas vidas no trânsito.

O custo dos alugueis e imóveis dispararam, com aumentos médios de 180% em todo o país, fruto da especulação desenfreada do capital financeiro.

Pior. Com falsos argumentos, entregamos 40% de nossas reservas do pré-sal para exploração compartida com duas transnacionais européias e duas chinesas, quando a Petrobras poderia fazê-lo sozinha.

Resultado: os ricos aumentaram seus ganhos e os trabalhadores se mantiveram na mesma base e tiveram as condições de vida pioradas.

Na vida institucional, os conservadores, a direita e sua bancada ruralista fazem a festa impondo agendas retrógradas e de perdas de direitos dos trabalhadores, dos povos indígenas, camponeses e pobres em geral.

A conquista de uma jornada de 40 horas semanais, já em vigor na maioria dos países industrializados, aqui é banalizada e combatida pela maioria dos congressistas. Eles impediram a proposta de uma reforma política, a convocação de uma Constituinte e de um Plebiscito Popular que havia sido proposta pela própria presidenta da República no calor das mobilizações de junho.

No poder Judiciário, cada vez mais discricionário, o imperador Barbosa age à revelia de qualquer norma jurídica, com apoio da Globo e talvez, tomara, sonhando em ser candidato a alguma coisa.

Portanto, um balanço econômico-político- institucional de perdas para os interesses do povo brasileiro.

Sinal no final do túnel
Se é verdade que a burguesia aproveitou- se de sua hegemonia na política econômica, nos meios de comunicação e no poder político para aumentar seus ganhos e impor sua agenda, por outro lado, o ano de 2013 foi revelador, pois a juventude foi às ruas, durante dois meses seguidos e demonstrou que quer mudanças!

Em princípio barrou os aumentos das tarifas de transporte e impôs aos governos a necessidade de investimentos públicos. Porém, as mudanças foram insuficientes para as demandas colocadas pelas ruas. Sinal, de que certamente voltarão.

E, mais além do que obter conquistas imediatas, as mobilizações da juventude sempre são um termômetro em qualquer sociedade. Elas prenunciam períodos de maior conscientização política e mobilização social de todo o povo. Portanto, eles são apenas o prenúncio do que poderá vir com mais força se a classe trabalhadora lograr unidade e for à rua com um programa de reformas estruturais.

Por outro lado, no bojo desse clima, as forças populares de todo o país e de todos os setores voltaram a construir um impressionante processo de unidade popular em torno da necessidade de luta por uma reforma política.

A reforma política do sistema de poder nacional, que envolve judiciário, legislativo e executivo é a porta de entrada necessária para as demais reformas estruturais, para obtermos melhorias das condições de vida ao povo.

Nesse sentido, se formou no últimos meses uma ampla coalizão, com mais de 100 entidades, movimentos, grupos e setores, que vão desde a CUT e centrais sindicais até a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic). Todos se juntaram para organizar um verdadeiro mutirão nacional para debater com o povo que tipo de mudanças políticas precisamos.

A ideia é recolher as sugestões do povo em milhares de reuniões de base e depois, no dia 7 de setembro de 2014, recolher a vontade popular, no plebiscito para que votem se é necessário uma Constituinte soberana e exclusiva para a reforma política.

Portanto, se 2013 foi um ano muito contraditório, mas anunciou mudanças, certamente 2014 será um ano ainda mais intenso de mobilizações e articulações das forças populares.
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Cadê a mensagem de Aécio Neves?

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

Sem esclarecer se estava anunciando um plano de governo ou uma simples compilação de pontos programáticos, Aécio Neves lançou uma plataforma de 12 pontos, ontem, em Brasília.

Apesar da coreografia e da boa figura de Aécio nessas ocasiões, achei o conteúdo imprudente, para falar o mínimo.

Falar em ética e denunciar a corrupção para quem vai entrar na campanha de 2014 com a camisa do PSDB é um exercício arriscado.

No ano que vem o mensalão PSDB-MG irá a julgamento, com dois resultados possíveis.

Ou seus responsáveis serão condenados, o que não irá fazer bem a imagem do partido. Ou serão inocentados, o que pode dar razão a quem diz que o PSDB comete as mesmas delinquências do que seus adversários – a diferença é que tem amigos poderosos capazes de garantir sua impunidade, o que é até um agravante do ponto de vista de quem se apresenta como defensor da moralidade, vamos combinar.

Há outro caso cabeludo em pauta, também.

Até agora não se conseguiu abafar a denúncia do propinoduto tucano, que envolve pagamento de propinas volumosas, contas na Suíça e muito mais – o que pode tornar a pauta “corrupção” e “ética” uma armadilha para Aécio.

O debate não é apenas este.

Embora tenha coincidido com o anúncio de que José Serra desistiu de disputar a presidência, medida que pode contribuir para amenizar a luta interna dentro do PSDB, a cerimônia ocorreu num mau momento de sua campanha.

O PPS de Roberto Freire acaba de anunciar a adesão ao PSB de Eduardo Campos. Aécio também acaba de romper com sua equipe de marketing, o que significa que em 2014 irá começar um trabalho de conquista eleitoral que poderia ter sido iniciado em 2013. No ano que vem, terá dez meses para testar uma nova linguagem e, possivelmente, novas ideias. Não acho que marketing ganha eleição. Mas pode ajudar – e muito.

Num país onde os principais meios de comunicação estão engajados num esforço comum para impedir a reeleição de Dilma, o que inclui um tratamento amistoso a Eduardo Campos e, se for necessário, até a Randolfe Rodrigues, do PSOL. Aécio pode contar com uma ambiente midiático favorável.

Isso inclui um tratamento respeitoso, sem acidez exagerada nem questões artificialmente inconvenientes.

Ninguém lembrou que, deixando de lado detalhes de cenário e coreografia, a cerimonia de ontem foi uma nova versão de um evento já regular no cronograma do PSDB, onde periodicamente se anuncia que “agora” Aécio irá se afirmar como o candidato de oposição.

Mas o fato é que,, Aécio sequer formalizou a candidatura como um fato irreversível. Fraqueza? Astúcia? Você decide.

O certo é que Aécio passou o início de 2013 como terceiro colocado nas pesquisas e só voltou ao jogo depois que ficou claro que Marina Silva não seria capaz de transformar a Rede em partido nem aceitaria ingressar numa legenda que lhe oferecesse a cabeça de chapa. Marina, que era a principal concorrente a um segundo turno, tem mostrado até agora uma grande disciplina tática. Sua prioridade é derrotar Dilma e o PT.

Aécio não possui, até agora, uma mensagem para chegar até lá. Falta-lhe um argumento para falar com as ruas, onde estão aqueles brasileiros que, mesmo tendo uma visão positiva do governo Dilma, e até apontando intenções de votos para uma vitória do governo em outubro, também deixam claro que querem mudanças. Além da denúncia da corrupção – testada e reprovada tanto em 2006 como em 2010 – Aécio ainda não achou um bom motivo para pedir voto para os brasileiros.

Ao contrário do que ele disse ontem, falar de economia não é covardia num país que enfrenta o desemprego mais baixo da história e mantém uma política de distribuição de renda. As taxas de crescimento seguem positivas, ainda que baixas. Para a maioria dos eleitores, é isso o que conta – e seguirá assim enquanto a tragédia que os jornais anunciam diariamente continuar fora da experiência real dos cidadãos.

Ao cobrar direitos autorais tucanos pelo Bolsa Família, como fez ontem, Aécio apenas reforça uma polarização inconveniente para sua candidatura. O esforço já deu errado outras vezes. Se prefeitos tucanos e petistas têm méritos indiscutíveis nessa iniciativa, foi o governo Lula que transformou a distribuição de renda numa política de governo, que beneficia 50 milhões de brasileiros, integrou-se ao crescimento do mercado interno e outras medidas de promoção dos mais humildes.

Nessa situação, toda tentativa de diminuir o papel do governo Lula-Dilma no Bolsa Família ajudará a lembrar a postura tucana dos primeiros anos, quando dizia que era um programa eleitoreiro, que até estimula a preguiça dos brasileiros. Chato, né.

Após três derrotas presidenciais, Luiz Inácio Lula da Silva achou o caminho para o Planalto quando mostrou que poderia fazer mais pelos eleitores brasileiros, especialmente os mais pobres. O colapso do segundo mandato de FHC falava por si.

Expondo sua mensagem, a campanha de 2002 colocou a questão social na agenda do debate eleitoral, lançando um movimento irresistível que já se anunciava vitorioso nos primeiros meses do ano.

Como Lula em 2002, em 2014, a oposição irá realizar uma quarta tentativa para vencer o condomínio Lula-Dilma. Enfrenta uma presidenta muito mais popular do que FHC em seu mesmo momento, como mostra uma comparação de Fernando Rodrigues.

Mesmo longe do patamar anterior a junho, a aprovação atual de Dilma se encontra em 43%. Fernando Henrique tinha 37%, na mesma época.

Em 2002, quando Lula derrotou o candidato do PSDB José Serra, a aprovação de FHC se reduzira a 13 pontos negativos.

Num cenário que se mostra inteiramente diverso, ao menos até aqui, Aécio precisa da atitude humilde necessária para encontrar uma mensagem capaz de atrair milhões de eleitores que procuram mudanças e podem aceitar novidades – mas, agarrados a melhorias obtidas até aqui, não exibem a menor disposição de abandonar conquistas certas em troca de promessas duvidosas.
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Barbosa e a exceção da exceção

http://pigimprensagolpista.blogspot.com.br/
Por Cynara Menezes, na revista CartaCapital:

Se algo pode ser dito a respeito do julgamento do “mensalão”, é o fato de ele ser único, inédito na história do Brasil. Para muitos, um julgamento de exceção. Assim como todos os ritos judiciais foram peculiares nesse processo, também tem sido incomum a fase de execução das penas. Quem explica a seguinte contradição: condenados beneficiados pelo direito a embargos infringentes ainda não julgados estão presos, e outros sem direito a qualquer embargo continuam soltos? Enquanto o Supremo não se posiciona sobre a razão dos dois pesos e duas medidas, chovem críticas, óbvio, à falta de equanimidade do tribunal.

Dos 25 condenados no julgamento, 11 estão presos desde o sábado 16 de novembro e um está foragido (Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil). Entre os petistas processados, só um permanece solto, o deputado João Paulo Cunha, que aguarda julgamento de recurso em companhia de outros dois envolvidos. Três réus começam em dezembro a cumprir penas alternativas e sete estão na situação inusual de aguardar em liberdade uma definição sobre o início do cumprimento das penas, entre eles o delator do esquema, Roberto Jefferson, e os deputados federais Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP).

Na quinta-feira 28, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, negou “tratamento diferenciado” aos réus ainda livres, mas se esquivou da responsabilidade. “É questão do Supremo e não da Procuradoria.” Esta é, porém, apenas uma das várias situações sui generis no entorno das prisões. Não se pode acusar Joaquim Barbosa, relator do processo e atual presidente do STF, de falta de criatividade.

Uma das mais flagrantes “excepcionalidades” da execução das penas foi a alteração do regime de cumprimento. Réus com direito ao semiaberto foram enviados ao regime fechado, casos de José Dirceu e José Genoino. Este último, afetado por problemas de saúde, recorreu ao STF e solicitou prisão domiciliar. Uma junta médica contratada por Barbosa concluiu, no entanto, que a condição do deputado não é tão grave. O desencontro dos laudos médicos deixou os petistas nas redes sociais em polvorosa.

O primeiro laudo, assinado por peritos do Instituto Médico Legal, logo após Genoino passar mal na prisão, favorecia a argumentação do petista e de sua família a respeito dos riscos de vida na prisão, em consequência da recente cirurgia cardíaca do detento. “Trata-se de paciente com doença grave, crônica e agudizada, que necessita de cuidados específicos, medicamentosos e gerais, controle periódico por exame de sangue, dieta hipossódica, hipograxa e adequada aos medicamentos utilizados, bem como avaliação médica cardiológica especializada regular”, avaliaram os peritos.

Os cinco profissionais da Universidade de Brasília convocados por Barbosa tiveram entendimento diferente: “O conceito de doença cardiovascular grave não se aplica ao corrente caso em seu conceito clínico-cirúrgico de momento atual, que se apresenta sob impressão de expectativa favorável”. O laudo prossegue: “Não sendo imprescindível, para tanto, a permanência domiciliar fixa do paciente, salvaguardadas a oferta e administração do regime terapêutico”.

Uma terceira avaliação, produzida pelos profissionais do serviço médico da Câmara dos Deputados, apesar de também negar a “cardiopatia grave”, foi mais cautelosa: “Trata-se de indivíduo sob risco de desenvolver futuros eventos cardiovasculares e progressão da doença”. Os médicos da Câmara concederam afastamento por 90 dias a Genoino, pois “a atividade laboral poderia acarretar riscos de descontrole da pressão arterial que, em associação à anticoagulação inadequada, aumentaria o risco de eventos cardíacos e cerebrais”. Após a licença, Genoino deveria ser avaliado novamente, advertem os médicos.

A Câmara acabou por adiar a decisão sobre a aposentadoria por invalidez solicitada pelo petista. Barbosa tampouco havia se pronunciado sobre o pedido de prisão domiciliar do deputado até o fechamento desta edição. Miruna, filha de Genoino, divulgou nota em protesto contra a avaliação da junta convocada pelo presidente do Supremo.

“Finalmente Joaquim Barbosa tem o que queria, um laudo médico, feito com meu pai já alimentado corretamente e medicado, e ao lado da família, dizendo que não, ele não tem nada grave”, escreveu a jovem, antes de perguntar aos médicos sobre as condições da penitenciária da Papuda, em Brasília. “Com que autoridade os senhores sentem-se no direito de dizer que meu pai pode voltar para lá? Viram as condições oferecidas? Comeram a comida de lá? Foram ao banheiro de lá? Viram o ambulatório? Equipamentos de lá?”

Outra exceção veio à tona nos últimos dias. Relator do caso e responsável pelas prisões, Barbosa criou uma nova classe processual para a execução, uma norma não prevista no regimento interno do STF e instituída por resolução do presidente assinada em 14 de novembro, um dia antes da decretação da prisão de 12 dos condenados. O texto, denominado Execução Penal (EP) e divulgado no Diário da Justiça do dia 19, prevê que o processo seja distribuído ao relator da ação penal e tenha tramitação eletrônica. A norma definiu ainda os modelos das guias de recolhimento, de execução e tratamento médico.

A execução do processo de Genoino foi identificada com o número 1. Dirceu ganhou o número 2, e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, o 3. Os demais condenados vieram em seguida. Barbosa teria atuado, por fim, para mudar o juiz titular da Vara de Execuções Penais, Ademar Silva de Vasconcelos, por criar “entraves” ao andamento do cumprimento das penas. Vasconcelos foi substituído por Bruno André da Silva Ribeiro, filho de um ex-deputado distrital pelo PSDB em Brasília, o que gerou nova polêmica, sobretudo pelo fato de a mãe do magistrado fazer campanha feroz contra o PT nas redes sociais.

A interferência foi criticada por juízes e advogados. "Na Constituição que tenho em casa não diz que o presidente do Supremo pode trocar um juiz, em qualquer momento, num canetaço", afirmou João Ricardo Costa, da Associação dos Magistrados do Brasil. "O povo não aceita mais o coronelismo no Judiciário", emendou Kenarik Boujikian, da Associação Juízes para a Democracia.

O presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, Dácio Vieira, negou, porém, a troca. Segundo declarou em nota, a Vara de Execuções Penais não elegeu um único juiz para atuar no episódio, e sim uma equipe. “A delegação remetida pela presidência do STF, na referida ação penal, foi dirigida ao juízo da VEP-DF e não elegeu nem excluiu qualquer dos magistrados ali lotados para a prática de atos processuais, razão pela qual mais de um juiz já atuaram (sic) no feito, nos estritos limites da delegação e em absoluta observância ao ordenamento jurídico nacional e às rotinas da unidade judiciária”.

O clima generalizado de justiçamento alcançou Dirceu. Depois de anunciar ter sido contratado como gerente de um hotel da capital federal, voltou a ser achincalhado. Pelo posto, receberá 20 mil reais por mês. De propriedade de um político aliado do governo, o hotel recebeu centenas de mensagens de críticas e piadas, enquanto a mídia buscava sinais de favorecimento público ao novo empregador.

Nos bastidores do STF, comenta-se que Barbosa, beneficiado pela legislação eleitoral que dá aos juízes a prerrogativa de se licenciar apenas seis meses antes da eleição, deixará o tribunal em março para se lançar a algum cargo eletivo. Morreria um juiz, nasceria um salvador da pátria.
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Serra sai de fininho da campanha

Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

Serra sai de fininho da campanha do "eu sozinho"

O título até rimou, mas é o melhor resumo da ópera bufa protagonizada nos últimos meses pelo ex-pré-candidato José Serra, do PSDB. Não poderia ter sido mais melancólico o anúncio da sua desistência num texto de módicas sete linhas publicado em seu Facebook, às 19h56 desta segunda-feira, que reproduzo abaixo, tal como foi escrito:

"Para esclarecer a amigos que têm me perguntado:

Como a maioria dos dirigentes do partido acha conveniente formalizar o quanto antes o nome de Aécio Neves para concorrer à Presidência da República, devem fazê-lo sem demora. Agradeço a todos aqueles que têm manifestado o desejo, pessoalmente ou por intermédio de pesquisas, de que eu concorra novamente".



Pouco depois, ele entrou em contato com o portal UOL para desmentir a informação já publicada em todos os meios eletrônicos. Como assim?

Se ele sugere que o partido "formalize o quanto antes o nome de Aécio Neves", é porque está tirando o time de campo, por absoluta falta de apoio, tanto dentro como fora do PSDB.

Demorou para cair a ficha de Serra, que passou meses vagando pelo país a bordo de uma campanha do "eu sozinho", sem ter a seu lado nenhuma liderança importante do PSDB, apenas para falar mal do governo, e agora resolveu sair de fininho da disputa, embora ainda queira deixar uma porta aberta.

Nas pesquisas por ele citadas, o ex-governador de São Paulo, que foi duas vezes derrotado ao tentar a Presidência da República, fazendo lembrar a "Viúva Porcina", lendária personagem de Regina Duarte, aquela "que foi sem nunca ter sido", Serra levava uma pequena vantagem sobre Aécio, mas os seus índices de rejeição eram tão altos que inviabilizavam a candidatura.

Foi isso, a meu ver, mais do que tudo, que levou Serra a colocar sua mensagem no Facebook, um dia antes de Aécio Neves apresentar as diretrizes do seu futuro programa de governo (ver matéria "Aécio lança projeto para eleição 2014" aqui no R7).

Com isso, o ex-pré-candidato acabou roubando espaço do seu adversário tucano no noticiário dos jornais, no mesmo momento em que se tornou público o rompimento de Aécio com seu marqueteiro, o antropólogo Renato Pereira.

O que era para ser uma terça-feira festiva do PSDB, com o objetivo de colocar o bloco de Aécio Neves nas ruas, acabou ofuscada, mais uma vez, por problemas internos do partido e da candidatura.

Para completar, o antigo aliado Roberto Freire, do PPS, do alto dos seus 16 segundos de TV e meia dúzia de deputados, resolveu oficializar o apoio do seu partido a Eduardo Campos, do PSB, que disputa uma vaga com o tucano no segundo turno, com o pragmático argumento de que é "mais fácil ganhar com Campos do que com Aécio".

Como Freire, fiel seguidor de José Serra, não rasga dinheiro e gosta de surfar numa boa onda, é bom Aécio se precaver. O único objetivo de Serra daqui para a frente pode ser o de atazanar a vida dele, dando o troco pela falta de apoio do mineiro às suas campanhas presidenciais.

Desta forma, a nove meses e meio das eleições de 2014, o PSDB ainda não conseguiu fechar aliança com nenhum outro partido. Agora é esperar pelas próximas pesquisas para se saber se era mesmo a sombra de Serra que atrapalhava a campanha de Aécio ou se desta vez os tucanos correm o risco, pela primeira vez nos últimos 20 anos, de ficarem fora do segundo turno por falta de um candidato competitivo.

Fernando Henrique Cardoso, que ganhou duas vezes de Lula no primeiro turno, patrono da candidatura de Aécio, deve ter ficado feliz com a decisão de Serra - se é que ela foi mesmo para valer.

Para quem já chegou a registrar em cartório a garantia de que não seria candidato a governador, durante sua campanha a prefeito de São Paulo, na década passada, e acabou sendo, tudo é possível. Só não se deve esperar um entusiasmado apoio de José Serra a Aécio Neves. Aí também já seria pedir demais.
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Brasil não cabe na agenda de Aécio

Por Saul Leblon, no sítio Carta Maior:

Pode-se discordar – por razões ideológicas - da regulação soberana instituída em dezembro de 2010 para a exploração do pré-sal.

Pode-se conceber, não sem razão, que a energia fóssil é uma fonte crepuscular de abastecimento da civilização.

Da transição dessa dependência para uma matriz menos poluente depende uma parte importante do futuro da sociedade humana.

Pode-se associar as duas coisas e disso extrair uma visão estratégica do passo seguinte do desenvolvimento brasileiro.

Mas, objetivamente, nenhuma agenda relevante de debate sobre os desafios brasileiros pode negligenciar aquela que é a principal fronteira crível do seu desenvolvimento nas próximas décadas.

Foi exatamente esse sugestivo lapso que cometeu um dos candidatos a candidato do dinheiro grosso em 2014.

O pré-sal brasileiro, a maior descoberta de petróleo registrada no planeta neste século, não cabe na agenda eleitoral de Aécio Neves, divulgada com o alarido previsível nesta 3ª feira.

Em oito mil e 17 palavras encadeadas em um jorro espumoso do qual se extrai ralo sumo, o presidenciável do PSDB não menciona uma única vez –repita-se-, uma única vez-- o trunfo que mudou o perfil geopolítico do país: o pré-sal. Não é um simples tropeço da memória.A mais concreta possibilidade de emancipação econômica do país, não se encaixa na concepção de futuro do conservadorismo.

Em outras palavras: a omissão fala mais do que consegue esconder.

O pré-sal, sobretudo, avulta como o fiador das linhas de resistência do governo em trazer a crise global para dentro do Brasil, como anseia o conservadorismo.

Um dado resume todos os demais: estima-se em algo como 60 bilhões de barris os depósitos acumulados na plataforma oceânica. A US$ 100 o barril, basta fazer as contas para concluir: o Brasil não quebra porque passou a dispor de um cinturão financeiro altamente líquido expresso em uma fonte de riqueza sobre a qual o Estado detém controle soberano.

A agenda mercadista não disfarça o mal estar diante dessa blindagem, que esfarela a credibilidade do seu diagnóstico de um Brasil aos cacos.

Seu diagnóstico e a purga curativa preconizada a partir dele são incompatíveis com a existência desse incômodo cinturão estratégico.

Ao abstrair o pré-sal em oito mil e 17 palavras a agenda tucana mais se assemelha a uma viagem de férias à Disneylândia do imaginário conservador, do que à análise do Brasil realmente existente –com seus gargalos e trunfos.

Fatos: desde o início da crise mundial, em 2007, o Brasil criou 10 milhões de novos empregos.

Para efeito de comparação, a União Europeia fechou 30 milhões de vagas no mesmo período.

E condenou outros tantos milhões de jovens ao limbo, negando-lhes a oportunidade de uma primeira inserção no mercado de trabalho.

A Espanha, a título de exemplo, fez e faz, desde 2007, aquilo que o conservadorismo apregoa como panacéia para os males do Brasil hoje.

Com que desdobramentos palpáveis?

‘A Espanha levará 20 anos para recuperar os 3 milhões de empregos perdidos durante a crise global iniciada em 2008. A economia espanhola só conseguirá alcançar a taxa de desemprego de 6,8% - média na zona do euro, à exceção dos países do sul do continente-- a partir de 2033’ (PricewaterhouseCoopers (PwC); estudo divulgado pela consultoria nesta terça-feira, 3/12).

A ênfase sobressaltada e seletiva da agenda tucana, insista-se, não decorre de escorregões da lógica.

Ela atende a interesses de bolso, ideologia e palanque.

A prostração inoculada diuturnamente pelo noticiário econômico é um dente dessa engrenagem, não um recorte isento do país.

A escolha menospreza singularidades que podem subverter a dinâmica da crise, entre elas a maior de todas: o impulso industrializante representado pelo pré-sal, uma oportunidade ímpar –talvez a última da história-- de regenerar uma base fabril asfixiada por décadas de esmagamento cambial e competitivo.

Só se concebe desdenhar dessa fresta –como faz a agenda do PSDB— se a concepção de país aí embutida menosprezar o papel de um parque manufatureiro próprio.

Mais que isso: se a alavanca acalentada para devolver dinamismo à economia for o chamado ‘choque de competitividade’, tão a gosto da Casa das Garças tucana.

Do que consta?

Daquilo que a emissão conservadora embarcada na mesma agenda alardeia dia sim, o outro também.

Uma abrupta redução de tarifas que mataria um punhado de coelhos ao mesmo tempo: dizimaria o parque industrial ‘ineficiente’ –como fez Pinochet no Chile; como fizeram Ernesto Zedillo e Vicente Fox no México, com as maquiladoras; reduziria de imediato a inflação e despejaria boa parcela do operariado industrial na rua, barateando o ‘custo Brasil’ e aleijando os sindicatos e o PT.

É esse o recheio que pulsa na omissão ao pré-sal na agenda tucana.

O velho recheio feito de ingredientes tão excludentes que se recomenda dissimular em um texto eleitoral propagandístico: ajuste fiscal drástico; ampla abertura comercial; livre movimento de capitais; intensa privatização das empresas estatais (quando Aécio fala em ‘estatizar’ a Petrobrás é a novilíngua, em ação beligerante contra o PT); eliminação dos subsídios e incentivos a diferentes segmentos produtivos; cortes de direitos trabalhistas e de poder aquisitivo real dos salários.

Ou seja, o ideário neoliberal que jogou o planeta na crise na qual se arrasta há cinco anos.

Por último, ressuscitar o espírito da Alca e atrelar a diplomacia do Itamaraty aos interesses norte-americanos.

Reconheça-se, não é fácil pavimentar o percurso oposto, como vem tentando o Brasil desde 2008.

O dinamismo industrial que o Brasil perdeu nas últimas décadas, por exemplo –sob cerco da importação barata da Ásia e do Real valorizado-- teria que ser substituído por um gigantesco esforço de inovação e redesenho fabril, a um custo que uma nação em desenvolvimento dificilmente poderia arcar.

O atraso da inserção brasileira nas grandes cadeias globais de fornecimento e tecnologia seria praticamente irreparável.Exceto se tivesse em seu horizonte a exploração soberana, e o refino, das maiores jazidas de petróleo descobertas no século 21.

Que a maior fábrica farão do país o maior fabricante de plataformas de petróleo do século XXI. E que já erguem na ilha do Fundão , na Universidade Federal do RJ, um dos maiores centros de pesquisa tecnológica do planeta associado à energia.

É esse bilhete premiado que a agenda de Aécio omite olimpicamente: o trunfo que avaliza a possibilidade da reindustrialização como resposta brasileira à crise.

O pré-sal não é uma panacéia, mas uma realidade.

Que já produz 400 mil barris/dia.

Em quatro anos, a Petrobras estará extraindo 1 milhão de barris/dia da Bacia de Campos.

Em menos de sete anos serão 2,1 milhões de barris/dia.

Praticamente dobrando da produção atual.

Isso mudou o tamanho geopolítico do Brasil.

E pode mudar o destino do seu desenvolvimento.

Não é uma certeza, mas uma possibilidade histórica.

Os efeitos virtuosos desse salto no conjunto da economia brasileira exigem uma costura de determinação política.

Que a agenda eleitoral do PSDB omite, renega e descarta.
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Barbosa gera crise no sistema prisional

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Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:

Ao produzir um espetáculo midiático grotesco para encarcerar os réus petistas, Joaquim Barbosa trouxe instabilidade ao sistema prisional do Distrito Federal. E agora, a Globo, por incrível que pareça, mais uma vez coloca a culpa nos… réus petistas.

Reportagem do Globo diz que a tensão na Papuda é causada, “principalmente em razão das regalias concedidas a eles pela administração penitenciária. Entre esses privilégios estava um dia especial de visitas, medida derrubada pelos juízes substitutos da VEP.”

A alquimia da mídia é uma coisa extraordinária. Jamais na história do Brasil, presos foram tão enxovalhados, de maneira tão sensacionalista. Ao mesmo tempo em que agredia a imagem dos presos de maneira espetacular, a mídia divulgava sobre supostos “privilégios” dos réus. Ao fazer isso, gerava mais animosidade contra réus já encarcerados. Animosidade em setores da opinião pública e junto aos próprios presos. Ou seja, é o privilégio de ser linchado… com risco, inclusive, de ser linchado fisicamente dentro da prisão. Que privilégio!

E agora, o Globo dá uma manchete sensacionalista, chamando para uma matéria na qual procura, inacreditavelmente, pôr a culpa de uma eventual rebelião dos presos da Papuda nos… réus petistas. Ou seja, os caras estão dentro de uma cela, sem privilégio nenhum, sendo enxovalhados dia e noite pela imprensa, e agora são novamente condenados por uma rebelião que sequer aconteceu, uma rebelião talvez apenas inventada por um judiciário posto em crise pelo despotismo insano de Joaquim Barbosa. Os serviços de inteligência do Distrito Federal não identificaram risco nenhum de “rebelião” na Papuda, mas a mídia é capaz de promover uma, já que os presos acabam tendo acesso às notícias.

O único “privilégio” dos presos petistas era receber visitas na sexta-feira, o que foi uma medida do presídio para dar conta das caravanas de parlamentares, ministros e autoridades dispostas a visitar os presos políticos do mensalão. Como policiais presos recebem visitas num dia especial, a administração da Papuda tomou uma medida similar em relação a presos envolvidos num caso que ainda provoca, para um lado e para outro, grande comoção nacional. Não era “privilégio”. Era sensatez.

Na verdade, a Globo, com ajuda de seu mais novo capanga no judiciário, Joaquim Barbosa, resolveu adotar o estilo de sequestradores barra-pesada. Os réus petistas se tornaram reféns da mídia. Se o governo não ceder aos interesses dos barões, a mídia irá torturá-los lentamente, até o fim dos tempos.

O governo está numa situação complicada, porque à mídia interessa produzir crise institucional. Ela quer provocar Dilma e o governo a cometerem qualquer deslize para pedirem um impeachment, ou, na falta disso, constrangê-la. O artigo de Miriam Leitão, na semana passada, dizendo que Dilma “enfraqueceu a democracia” ao estar presente em evento do PT onde o STF foi duramente criticado, tem esse sentido. As redes sociais do PSDB reproduziram o artigo de Miriam Leitão freneticamente.

Só que as crises passam, e tudo que temos visto agora será cobrado. Os golpistas não perdem por esperar.
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Haddad e a dieta política

Por Marco Piva

Sem dúvida, Fernando Haddad é um sábio, um gênio da nova política. Quer fazê-la sem fazê-la. Desvenda um tremendo esquema de corrupção que se arrastava há anos na prefeitura e consegue colocar a culpa em sua própria administração. Propõe um IPTU mais do que justo para uma megacidade complexa como São Paulo, com o mote “quem tem mais paga mais e quem tem menos paga menos”, e põe a população da periferia, exatamente a mais beneficiada, contra ele. Gasta milhões de publicidade na grande mídia comercial e recebe, todos os dias, petardos e mais petardos, justos ou injustos.


Na prática, é uma sumidade dos nossos tempos onde envergar um corpo de atleta e uma silhueta grega bem talhada é o que importa. Em pouco menos de um ano, Haddad queimou toda a gordura política conquistada na eleição de 2012 sem fazer esforço algum. Apenas se deixou seduzir pelas planilhas, pelos gabinetes e, enquanto isso, as ruas começaram a ir até ele. Para protestar.

A cena de um Viaduto do Chá ocupado por barracas, num desfile colorido suficiente para bancar a primeira página de todos os jornais, não deixa margem para dúvidas. O prefeito está magro, ancorado agora apenas em uma pífia performance dos corredores de ônibus que, sem um processo paralelo de reeducação comportamental dos motoristas, fará água logo mais. Com a devida mãozinha da mídia que ele ajuda e de onde espera obter dividendos.

Haddad não sabe se comunicar, não quer se comunicar. Prefere a interlocução dos próximos e a sua própria visão de cidade. São Paulo é mais que isso. Quando o elegeu, não buscou um chefe de laboratório de testes. A capital paulista não suporta tentativas. Esse é um território minado onde ou se faz e dá certo ou não se faz. O que não pode é dar errado. Por isso, a política comporta um “quê” de cinismo digno dos nossos tempos.

Não sei o que pensa Lula, seu mentor, nessa altura do campeonato. Mas o fato é que, com uma eleição presidencial pela frente, a principal vitrine do país, que poderia dar um belo impulso às candidaturas de Dilma e Padilha, certamente está embaçada, quase trincando. Retomar a comunicação com os movimentos sociais, falar diretamente com a sociedade, exige uma mudança de postura e de atitude. Exige compreender o novo mundo que vivemos. Ele é rápido, ele é questionador, ele sim é o novo motor político.
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Genoino e a maldade de Joaquim Barbosa

http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br/
Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

Você tem que fazer muita maldade para que alguém beba quando você morrer. Você tem que despertar muito ódio.

Margaret Thatcher, por exemplo.

Fui a Trafalgar Square, no centro de Londres, cobrir, como jornalista, a festa que fizeram quando ela morreu.

Fazia mais de vinte anos que ela deixara Downing Street, a sede do governo britânico, e ainda assim Thatcher era lembrada com uma raiva que fazia você pensar que ela ainda era primeira ministra.

Me lembro claramente da imagem de um um velho sindicalista que abriu uma garrafa de uísque e disse, antes de tomar a primeira dose: “Esperei vinte anos por esse momento.”

Thatcher massacrou os sindicalistas, e acabou promovendo uma brutal concentração de renda no Reino Unido, uma coisa comparável à era vitoriana, tão bem retratada nos miseráveis de Dickens.

Em minha vida adulta, vi no Brasil apenas um personagem capaz de provocar um sentimento tão ruim.

É ele, Joaquim Barbosa.

Nunca houve alguém tão antibrasileiro quanto Joaquim Barbosa: mesquinho, vingativo, cruel, recalcado.

O que ele está fazendo com Genoino e família tem um nome: terrorismo. Terrorismo moral, terrorismo sádico.

Qual o sentido em deixá-los em suspenso às vésperas do Natal, uma época de concórdia, sem saber se Genoino será devolvido ou não à cadeia?

É vingança. A mesma coisa que levou Barbosa a tentar demitir do STF a mulher do jornalista que revelou que ele gastou 90 000 reais do dinheiro público para reformar os banheiros de seu apartamento funcional.

Barbosa debitou, na conta de Genoino, as críticas que recebeu, na semana passada, de petistas reunidos em um congresso.

Bandeira de Mello, o jurista, disse que, se fosse o PT, tentaria o impeachment de Joaquim Barbosa.

Digo também: se eu fosse o PT, faria o mesmo.

Joaquim Barbosa está ajudando a construir um país da discórdia. Ele não une: é um desagregador.

Como Lula não percebeu os seus imensos defeitos ao escolhê-lo?

A biografia de Lula estará sempre manchada por haver indicado para a mais alta corte do país uma pessoa tão má quanto Barbosa.

Não há desculpa para este erro monumental de Lula.

Os brasileiros estão tendo agora que arcar com a infeliz, negligente, descuidada indicação de Lula.

Entre os brasileiros, ninguém está enfrentando mais as consequências disso que Genoino e família.

Miruna, a filha mais velha de Genoino, uma guerreira na defesa do pai, mais uma vez ergueu sua voz diante do terrorismo barbosiano.

Ela está desesperada. Ela não finge, ela não mente: é uma filha que está vendo o pai ser massacrado impiedosamente – e injustamente.

Ninguém vai fazer nada? Esta a pergunta central, doída de Miruna.

Pelo visto, a resposta é não.

A prioridade do PT é a campanha de Dilma, e Genoino está no fim da fila. Uma palavra aqui, outra ali, e não mais que isso.

Mas o futuro haverá de trazer uma resposta para a questão de Miruna.

Muitos brasileiros, e não necessariamente apenas petistas, haverão de fazer exatamente o que o sindicalista inglês fez quando recebeu a notícia da morte de Thatcher.
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Só o PT pode eleger ou derrotar o PT

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Chegamos ao estertor do ano pré-eleitoral de 2013 com o país indo bem, superando uma crise internacional que colocou o Primeiro Mundo de joelhos, com a economia se preparando para um salto, com a pobreza e a desigualdade caindo, com pleno emprego, com salários subindo…
Em tese, um país com a trajetória em que segue o nosso dificilmente sofrerá mudança de governo a não ser que seu eleitorado seja ludibriado ou que o partido desse governo ou ele mesmo cometam algum erro colossal.

Como em toda eleição desde 2002, sempre aparecem candidatos a governar o Brasil enxergando um “sentimento de mudança”, mas tudo isso não passa de balela. Só se quer mudar o que está indo mal. Esse desejo de “mudança”, pois, não é do povo, mas de uma parcela que já deseja o mesmo há muito tempo e que vem se mostrando minoritária.

Burra, desinformada, ignorante, conformista, seja lá como queiram chamar a maioria que elegeu o atual grupo político em 2002 e não parou mais de reeleger, o fato é que essa gente sabe muito bem por que tem feito tal opção política.

Só quem não sabe é quem acha que essa maioria não sabe o que faz ou por que faz.

O que pode derrotar o PT, então, no ano que vem?

Em primeiro lugar, a sua forma de lidar com as críticas construtivas, justas e bem-intencionadas. Claro que o partido sofre críticas injustas demais e, assim, seus expoentes e seus anônimos vivem na defensiva, mas não são todas as críticas.

Sem entender isso, não só o PT como qualquer um estará semeando o fracasso.

Há problemas com o PT, por exemplo, no que diz respeito à política. O partido, em suas alas majoritárias, parece que abdicou por um bom tempo de fazer política, talvez achando ser possível coexistir com as forças políticas extrapartidárias que o combatem, como a mídia.

Esse tipo de erro de avaliação ficou patente durante recente entrevista de que participei com o prefeito Fernando Haddad. Ele mostrou certa surpresa diante dos ataques que passou a receber da mídia após o “aumento” do IPTU ou após a investigação da corrupção na gestão anterior.

Altos petistas instalados no Poder Executivo, portanto, precisam saber separar as críticas construtivas das destrutivas e oportunistas. Frequentemente, governantes desse partido tem sido intolerantes com as primeiras e tolerantes com as segundas.

Não é o caso do prefeito Fernando Haddad, vale dizer. Na entrevista que mencionei acima ele se mostrou surpreendentemente aberto a críticas de blogueiros que vêm questionando sua administração no que tange a políticas de comunicação.

Haddad admitiu com tranquilidade que não está conseguindo se comunicar com aqueles que elegeu por não saber como furar o bloqueio da mídia, que vem tratando de confundir o eleitorado acusando seu governo daquilo pelo que não tem a menor responsabilidade.

Mas essa não é a realidade do governo federal, que, após a saída de Lula, passou a ver os movimentos na internet que o apoiam como um constrangimento, mas só até o ponto em que percebeu que sem esses movimentos a mídia estaria agindo sem contraponto, ainda que tal contraponto seja pífio diante do poder midiático.

Ou nem tanto…

É claro que blogs e redes sociais não têm a força da televisão, mas vão disseminando informações que, se forem corretas e justas, acabam encontrando eco entre formadores de opinião que passam difundi-las.

Ou seja: esqueçamos do público submisso a um meio de comunicação. O público, hoje, é crítico, é formulador inclusive de correntes opinativas. Pode contrariar grandes grupos de mídia, governos, qualquer cacique que o queira conduzir como gado.

Nesse aspecto, a forma de governantes petistas lidarem com críticas precisa ser muito bem pensada. As críticas mal-intencionadas têm que ser rebatidas sem a menor hesitação, pois quem cala, consente. Mas é das críticas bem-intencionadas que os governos petistas podem tirar reflexões vitais.

Na segunda-feira, deixava a prefeitura de São Paulo e, a alguns metros do edifício que lhe serve de sede, vi duas mulheres de aparência humilde, cheias de sacolas, criticando com fúria o governo da cidade, que não tem nem um ano.

Provavelmente residem na periferia, de forma que deverão ser beneficiadas por um novo modelo de IPTU que vai reduzir o imposto para quem vive nas franjas da cidade. Contudo, diziam que essa era mais uma artimanha petista para roubar o povo pobre…

Fiquei estarrecido. Como essa gente pode não saber que será beneficiada?

Francamente, não sei como o governo Haddad ou mesmo o governo Dilma podem enfrentar uma campanha midiática desse tamanho, mas também é verdade quem em São Paulo a situação é diferente da do resto do país. Sempre foi e, pelo visto, continuará sendo.

Mas o governo pode, sim, encontrar fórmulas se estiver disposto a ter uma política vigorosa de comunicação. E, para falar a verdade, acho que já começa a se preocupar com isso. Ano eleitoral faz milagre no desejo dos políticos de entrarem em sintonia com o povo.

Um bom sinal, porém, foi a reação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, à tentativa da mídia e do PSDB de jogarem no seu colo a culpa pela roubalheira dos trens em São Paulo. Foi uma reação forte e que fez os tucanos e a mídia baixarem a bola.

Foi na medida certa.

Contudo, a militância petista tem que sair do choque que se produziu a partir do linchamento dos condenados do mensalão e começar a entender que não se pode reagir com intolerância a críticas, pois não existe governo perfeito, partido perfeito ou um único ser vivo perfeito.

Essa postura da base do petismo, porém, reflete problemas de liderança da cúpula, ainda que esta pareça estar encontrando um caminho.

A militância, pois, tem que se preparar para, ano que vem, discutir com paciência as queixas sinceras que possam surgir. Será um trabalho de formiguinha. Muitas vezes, se se conversar pacientemente com alguém que tem uma ideia pré-concebida é possível fazê-lo ver os fatos pelo ângulo correto – contanto, é claro, que exista tal ângulo a ser mostrado.

Estamos, pois, chegando a uma encruzilhada. O caminho que o PT escolher e que precisará ser indicado às suas bases terá que primar por uma sintonia fina do enfrentamento do debate político.

Se o cidadão comum sentir que é possível dialogar com o PT em relação às suas queixas, sentirá confiança em que o partido, se eleger de novo o governo, irá levá-lo a sério. Por outro lado, se a cúpula do PT abandonar a militância à própria sorte, provocará um desânimo fatal.

Ataques descabidos como sofreu recentemente o prefeito Fernando Haddad têm que ser rebatidos com dureza e com a indignação dos justos. Calar ante tais ataques confiando em que a economia tudo proverá será um erro fatal de avaliação.

Por fim, peço desculpas se estiver parecendo que tenho a fórmula da Coca-Cola da comunicação. Ninguém tem essa fórmula. Se alguém tiver, ficará muito rico. Mas certas fórmulas não precisam se igualar à do refrigerante hegemônico no mundo para vingar.

Um primeiro passo para achar tais fórmulas é sempre ouvir, pesquisar fundo sobre o que se ouviu e nunca, jamais, deixar que cresçam problemas detectados. Afinal, quando você for ver descobrirá que cresceram tanto que já não são mais problemas, mas tragédias.
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