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Algumas das revelações do Wikileaks

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Grato, CV

Foto de Tasso Marcelo, da Agência Estado. Veja as outras.
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PT anuncia medidas contra "guerra suja" na campanha

Do Mulheres com Dilma:

Combate à “guerra suja” de boatos na campanha

O Partido dos Trabalhadores anunciou duas medidas importantes para combater os boatos e as falsidades contra a campanha de Dilma Rousseff. A coligação Para o Brasil Seguir Mudando lançará um manifesto para acabar com a "guerra suja" vista no final do primeiro turno das eleições presidenciais.

O segundo ponto é o pedido à Polícia Federal (PF) para investigar a autoria do panfleto apócrifo distribuído ontem no encontro nacional do PSDB e aliados que apóiam a candidatura de José Serra. O texto orienta como difundir uma campanha contra Dilma na internet. O caso foi noticiado no blog do jornalista Fernando Rodrigues.

"O manifesto faz uma análise do primeiro turno e contém uma avaliação de como deve ser a discussão do segundo turno, que vai balizar a ação política da militância do PT e dos partidos aliados", disse o presidente do PT, José Eduardo Dutra, após reunião da Executiva do partido, em Brasília.

Segundo ele, "queremos evitar e repelir esta verdadeira guerra suja que está sendo feita por alguns setores, tentando inclusive colocar temas religiosas como centro de uma disputa eleitoral".

No documento, além de combate à boataria, os partidos da coligação querem comparar os projetos das gestões Lula e Fernando Henrique Cardoso. Também apontarão os problemas questionamentos sobre as privatizações dos anos 90, a dependência de programas do Fundo Monetário Internacional e sobre o marco regulatório do pré-sal, que mudou o sistema de concessão para o sistema de partilha de produção de campos de petróleo.

“Vamos continuar fazendo uma campanha de debate de idéias, de projetos. Todas as vezes que nos sentirmos caluniados, atacados, todas as vezes que detectarmos prática de crimes vamos recorrer aos órgãos competentes", garante Dutra.
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Semana Esfarrapada

Ano passado, o Tinta China homenageou o 20 de setembro com a Semana Esfarrapada. Abaixo, selecionamos algumas charges da turma da GRAFAR - Grafistas Associados do RS.


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Imperialismo

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Desfraldando a bandeira, falsificando as notícias

John Pilger no Resistir Info*

Diz-se que Edward Bernays, o sobrinho americano de Sigmund Freud, inventou a propaganda moderna. Durante a Primeira Guerra Mundial, fazia parte do influente grupo de liberais que organizaram uma campanha governamental secreta para persuadir os americanos mais relutantes a enviar um exército para o banho de sangue europeu. No seu livro, Propaganda , publicado em 1928, Bernays escrevia que "a inteligente manipulação dos hábitos e das opiniões organizadas das massas são um elemento importante da sociedade democrática" e que os manipuladores "são o governo invisível que governa, de facto, o nosso país". Em vez de lhe chamar propaganda, criou o eufemismo "relações públicas".

A indústria tabaqueira americana contratou Bernays para conseguir convencer as mulheres de que estas deviam fumar em público. Por intermédio da associação do acto de fumar à libertação da mulher, transformou os cigarros em "tochas da liberdade". Em 1954, conjurou a ameaça comunista na Guatemala como desculpa para o derrube do governo democraticamente eleito, cujas reformas sociais estavam a afectar o monopólio do comércio de banana da United Fruit. Baptizou-o de "libertação".

Bernays estava longe de ser um radical de direita. Era um elitista liberal que acreditava que "engenhar o consentimento público" servia um bem maior. Tal era obtido por intermédio da criação de "falsas realidades" que se tornavam posteriormente "eventos noticiosos". Nomeio de seguida alguns exemplos de como tal é efectuado actualmente:

Falsa realidade: as últimas tropas dos EUA abandonaram o Iraque, "como prometido e dentro do prazo", de acordo com o presidente Barack Obama. Os ecrãs das televisões encheram-se de cenas cinematográficas com as imagens das silhuetas dos "últimos soldados dos EUA" contra a luz do nascer do Sol, a cruzar a fronteira para o Kuwait.

Facto: ainda lá estão. Continuam a operar, em 94 bases, pelo menos 50 mil tropas. As incursões aéreas não sofreram qualquer alteração, bem como os assassinatos selectivos levados a cabo pelas forças especiais. O número de "subcontratados militares" está actualmente nos 100 mil, e continua a aumentar. A maior parte do petróleo iraquiano encontra-se agora sob controlo estrangeiro.

Falsa realidade: os apresentadores e os jornalistas da BBC têm descrito a partida das tropas dos EUA como "uma espécie de exército vitorioso" que conseguiu concretizar "uma notável alteração nos destinos [do Iraque]". O seu comandante, o general David Petraeus, é uma "celebridade", "encantador", "hábil" e "notável".

Facto: não houve qualquer vitória. Há um desastre catastrófico; a tentativa de o apresentar como sendo outra coisa qualquer não passa do modelo Bernays de levar a cabo uma campanha para "rebaptizar" o banho de sangue da Primeira Guerra Mundial como tendo sido "necessário" e "nobre". Em 1980, Ronald Reagan, na corrida à presidência, rebaptizou a invasão do Vietname, na qual tinham morrido três milhões de pessoas, de "causa nobre", temática entusiasticamente açambarcada por Hollywood. Os actuais filmes sobre a guerra do Iraque têm uma similar temática purgante: os invasores são simultaneamente retractados como sendo vítimas e idealistas.

Falsa realidade: Não se sabe quantos iraquianos terão morrido. As baixas são "incontáveis" ou "na ordem das dezenas de milhares."

Facto: como consequência directa da invasão liderada pelos anglo-americanos, morreram um milhão de iraquianos. Esta estatística da Opinion Research Business baseia-se numa pesquisa, revista pelos seus pares, levada a cabo pela Universidade Johns Hopkins de Washington, DC, cujos métodos são secretamente tidos na conta de "melhor prática" bem como a mais "robusta" por parte do principal conselheiro científico do governo Blair, como foi revelado numa pesquisa efectuada ao abrigo da lei da Liberdade de Informação. Raramente se confrontam os "encantadores" e "hábeis" generais americanos com esta estatística. Nem com a expropriação de quatro milhões de iraquianos, a subnutrição da maior parte das crianças iraquianas, a epidemia de doenças mentais ou o envenenamento do meio ambiente.

Falsa realidade: a economia britânica tem um défice de milhares de milhões que deve ser reduzido recorrendo a cortes nos serviços públicos e a uma taxa de impostos regressiva, no espírito do "isto afecta-nos a todos".

Facto: isto não nos afecta a todos. O mais notável neste triunfo das relações públicas é que há uns meros 18 meses as primeiras páginas e os ecrãs das televisões enchiam-se precisamente com o oposto. Na altura, num estado de choque, a verdade era inevitável, embora só durante um breve período. Os financistas da Wall Street e da City de Londres estavam a descoberto pela primeira vez, bem como a venalidade dos seus outrora ilustres focinhos. Milhares de milhões de fundos públicos foram entregues a ineptas e tortuosas organizações, conhecidas pelo nome de bancos, as quais foram poupadas à responsabilidade das suas dívidas graças aos seus patronos no governo trabalhista.

Passado um ano, voltaram a publicar-se notícias acerca dos seus lucros recorde e dos seus bónus pessoais, e a propaganda da comunicação social e do Estado recuperaram o seu equilíbrio. Subitamente, o "buraco negro" deixou de ser culpa dos bancos, cujas dívidas serão pagas por aqueles que não são de nenhum modo responsáveis por esta: o povo. A sabedoria adquirida com base na comunicação social acerca desta "necessidade" é agora um coro, que vai da BBC até ao The Sun. Um golpe de mestre, diria certamente Bernays.

Falsa realidade: o ex-ministro Ed Miliband constitui uma "verdadeira alternativa" à liderança do Partido Trabalhista Britânico.

Facto: Miliband, bem como o seu irmão David, ex-secretário de Estado para os Negócios Estrangeiros, e quase toda a actual liderança trabalhista, encontra-se imersa no Novo Trabalhismo [New Labour]. Como deputado e ministro neo-trabalhista, não recusou trabalhar para Blair nem se opôs à persistente promoção da guerra por parte dos trabalhistas. Agora apoda a invasão do Iraque de "erro profundo". Chamar-lhe um erro é um insulto para com a memória e para com os mortos. Foi um crime, do qual existem volumosas provas. Nada tem a dizer acerca das outras guerras coloniais, nenhuma delas foi um erro. Nem tem exigido a mais básica justiça social: que aqueles responsáveis pela recessão limpem a porcaria que fizeram e que se tribute a minoria dos britânicos fabulosamente ricos recorrendo a pesados impostos, começando por Rupert Murdoch.

Claro, as boas notícias são que as falsas realidades falham frequentemente quando o povo confia no seu próprio espírito crítico, em vez de confiar na comunicação social. Dois documentos secretos, tornados públicos recentemente pela Wikileaks, expressam a preocupação da CIA acerca das populações dos países europeus, as quais se opõem às políticas de guerra dos seus governos, não estarem a sucumbir ao habitual fluxo de propaganda emitido pela comunicação social.

Para os governantes do mundo, trata-se de uma questão difícil de lidar, dado que o seu inescrutinável poder assenta na falsa realidade de que a resistência popular não funciona. Mas funciona.

Tag: EUA

*Tradução de Flávio Gonçalves.
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Patagônia: vende-se o fim do mundo*


21/8/2010, Pepe Escobar, Asia Times Online,
reproduzido em Huffington Post

No glaciar Perito Moreno. A "deserta e estéril” Patagônia (na avaliação inicial de Charles Darwin), são nada menos que 230 mil quilômetros quadrados de bacias de rios que deságuam no Atlântico. São 4.000 quilômetros quadrados de gelo continental e glaciares – além de uma das maiores reservas de água doce do planeta.

Vivemos hoje os estágios avançados de uma guerra global sem fim à caça de petróleo e gás (há dos dois, aliás, na Patagônia). Relatório crucial da Unesco, em 2000, já avisava que, nos 50 anos seguintes, praticamente todos os seres que habitam o planeta enfrentariam problemas relacionados à falta de água ou à contaminação de grandes massas de água. Quando eclodir a Grande Guerra das Águas – esperada para 2020 – essa Patagônia de lagos azuis translúcidos e glaciares milenares será posta a prêmio; ter água implicará riqueza infinitamente maior do que, hoje, ter petróleo ou gás.

Mentes analítico-bélicas no Pentágono e na Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA não conseguirão deter os sonhos molhados de uma Patagônia secessionistas, que será uma espécie de última Arábia Saudita líquida da Terra; população rarefeita (menos de 2 milhões de habitantes), com toda aquela água, abundantíssima energia hidrelétrica e 80% das reservas de petróleo e gás natural da Argentina. O grau de descaso e negligência de que se ressentem os habitantes da Patagônia, em relação a Buenos Aires, pode ser comparado ao que se sente no Baluquistão, no Paquistão, em relação a Islamabad. Pesquisas recentes mostraram que o desejo de viver numa Patagônia independente sempre está acima de 50% (e chega a 78% entre os mais jovens e os desempregados).

Descrição de uma rota de colisão e desastre, de quatro séculos de “desenvolvimento” patagônico, teria aproximadamente o seguinte feitio. No começar foram os povos nativos. Depois vieram os navegadores ibéricos, os piratas ingleses, todos os tipos de aplicados cientistas europeus, os missionários religiosos, os exilados que sonhavam fazer da Patagônia uma versão austral da América. Então chegaram os latifundiários – do Chile ou da Holanda, de Gales ou da Polônia, de Escócia ou Dinamarca. Livrar-se das populações nativas foi colonialismo nu e cru; os patagônios do norte foram exterminados da infame, eufemística, Campanha do Deserto, de 1879; os do sul foram convertidos, à força, em força de trabalho para o agro-business. E então, nos anos 1990s, chegaram os bilionários do Primeiro Mundo.

Como bem o sabem todos os bilionários encantados com a vida selvagem e seus executivos corporativos enfarpelados, a venda da Patagônia começou em 1996, no governo do ultra-neoliberal Carlos Menem. Em suas próprias palavras, Menem desejava vender “o excesso de terra” do país que presidia. Não há legislação federal, na Argentina, que regule a venda de terras a estrangeiros. Só no final da década dos 1990s, venderam-se mais de 8 milhões de hectares de terra. Segundo o exército argentino, mais de 10% do território nacional argentino pertence hoje a estrangeiros – e as vendas prosseguem. O problema não é a venda; o problema é o controle, virtualmente nenhum, sobre os projetos propostos para investimento.

Se você for abonado, ainda comprará o que quiser, onde quiser – inclusive as áreas dos espetaculares parques nacionais. Cada província fixa regras próprias. Se você encontrar o funcionário certo e levar com você a mala certa carregada com os dólares certos, o mundo – à moda de Tony Montana** – é seu. Não surpreende que praticamente todos os moradores das províncias de Rio Negro ou Santa Cruz digam que o gabinete do prefeito é a principal agência de venda de terras da cidade. Os mesmos moradores inevitavelmente lamentam que a Patagônia esteja sendo comprada por estrangeiros – de Ted Turner à família Benetton. E duas das maiores empresas de petróleo da Patagônia pertencem a estrangeiros; uma delas, estatal, foi vendida à Espanha; a outra, privada, à Petrobrás brasileira.

Andando sobre as águas

Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse – versão local, no fim do mundo – são Tompkins, Turner, Lewis e Benetton. São a safra do século 21 dos conquistadores, aventureiros e piratas da Patagônia – de Francis Drake e George Newbery a Butch Cassidy e Sundance Kid (o rancho deles continua lá, em Cholilla, resto de pueblo que combinaria perfeitamente no cenário das áreas mais miseráveis do Novo México). Os estrangeiros sempre sonharam com esse fim do mundo. A beleza violenta desse lugar – como adiante se verá – leva às lágrimas muito homem feito.

Doug Tompkins é guru ‘verde’ californiano, fundador de duas organizações, The North Face e Esprit. Na Patagônia é conhecido como “o dono da água”. É o maior proprietário privado de recursos naturais da Patagônia chilena, e da região de Corrientes, na Argentina; e é dono de várias estâncias, todas estrategicamente distribuídas pelo mapa. Quando Tompkins bateu os olhos pela primeira vez no sul da Patagônia, do lado chileno, e depois no noroeste da Patagônia, do lado argentino, em 1961, chorou feito bebê. Depois voltou – e pôs-se a comprar.

Ted Turner, fundador da CNN e fanático por pesca de trutas, é dono de uma villa espetacular, em área de 5 mil hectares, no sul da província de Neuquen, de onde controla completamente o acesso a um dos rios mais virgens da Patagônia. Tem outra propriedade de 35 mil hectares na mesma província, mais outra, de 5 mil hectares, na Terra do Fogo. Ted só comprou terra nos EUA e na Patagônia.

Villa Traful é um vale verde, privado, que cerca o espetacular lago de mesmo nome – e faz pensar que dessa matéria são feitos todos os Xangrilás, antes do advento do Facebook. Comprar terras em Traful, nos anos 1990s, era sopa. Quem sabia jogar o jogo rapidamente virou proprietário da terra pública em torno do lago. Agora, a festa acabou. Só Jorge Sobisch, de família de emigrados croatas e ex-governador da província de Neuquen que quer ser presidente, já praticamente vende tudo, todos os dias, para gigantescas massas de turistas.

Mas, acima de tudo e todos, toda essa terra pertence a Ted Turner. Turner é proprietário de La Primavera, estância cinematográfica, de 5 mil hectares na boca do rio Traful. Ali pesca, como abençoado, a melhor truta e o melhor salmão que a natureza consegue gerar. Jane Fonda era doida por La Primavera. Tompkins era hóspede frequente, além de George Bush pai e Henry Kissinger. A área é policiada por satélite. Estive lá no inverno, tudo vazio e gelado. Assim, não tive o prazer de navegar em águas que pertencem a Ted Turner. Claro. Ted jamais se deixa ver na Vila Traful – mas sabe-se que visita a estância La Primavera algumas vezes por ano.

La Primavera foi fundada, de fato, por um dentista norte-americano e ex-vice cônsul dos EUA em Buenos Aires, George Newbery, em 1894. George e Ralph Newbery (pai do famoso aviador Jorge, cujo nome hoje decora o portal de entrada de um dos aeroportos de Buenos Aires) convenceram-se de que, para povoar a Patagônia, o melhor seria importar cowboys do Texas.

Assim, já desde o início do século 20, temia-se, em todo o norte da Patagônia, uma onda de colonização yankee. Mas a fonte de cowboys exilados do Texas logo secou. La Primavera foi vendida para um inglês, depois para um francês, depois para um argentino, até que, finalmente, pousou no colo de Ted Turner, que andava profundamente envolvido num projeto conservacionista de 2 milhões de hectares – ou expansão territorial – em Montana, Novo México e Nebraska. Mas, sobre a Patagônia, ele jamais negociou nem cedeu um palmo. Coisas de pescador de trutas.


Um, dois, mil Xangrilás


Brit Joseph Lewis, dono da 6ª maior fortuna do Reino Unido, conhecido na Patagônia como “Tio Joe”, por causa de incontrolável mania de fazer filantropia, controla todos os 14 mil hectares de terra em volta do sublime, indescritível Lago Escondido, a 92 km de Bariloche, junto à fronteira com o Chile, e controla também toda a bacia do premiado rio Azur. O ultradiscreto Lewis, que vive entre Londres, Orlando, as Bahamas e a Patagônia é alto tubarão da especulação financeira, além de acionista da pesquisa genética, e as garras de seu Tavistock Group estão pousadas sobre tudo, do petróleo e gás da Sibéria, aos sapatos e roupas marcas Puma e Gottex.

A Xangrilá andino-patagônica de Lewis não fica longe de El Bolson, a meca dos hippies argentinos nos anos 1970s, convertida, por transmigração dos espíritos, na primeira prefeitura ecológica do início dos anos 1990s. Nas florestas, ao estilo Tolkien, há árvores multimilenares, os alerces, de madeira lahuan – os organismos vivos mais antigos que há na Argentina, os terceiros entre os mais antigos do planeta. Assim como se veem alerces por todos os lados e até onde a vista alcança, também se veem até onde a vista alcança sinais de que, hoje, Lewis só pensa, mesmo, em fazer o trabalho que caberia às autoridades provinciais e nacionais – quer dizer: em construir um estado de fato, dentro do estado.

Em apenas alguns poucos anos, Lewis comprou terras em metragem equivalente a três quartos da cidade de Buenos Aires – mas sob a forma de florestas milenares, glaciares, lagos e rios intocados. Por pouco, Lewis não comprou o próprio lago, o que a lei não permitiu. Mas, sim, comprou toda a terra à volta do lago, o que significa que, se você quiser chegar até o lago, tem de viajar por 18 km, em estrada dentro de sua propriedade. Conhecer essa Xangrilá só é possível com ajuda do alto, i.e., dos guardas de Lewis. Há suspeitas de que Lewis tenha tentado comprar as nascentes de vários rios da região. E, considerando que o Grupo Tavistock está pesadamente envolvido em pesquisa genética e biotecnologia, há suspeitas, também, de que já esteja extraindo e exportando as espécies mais raras que vivem (viviam) na Cordillera.

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*Esse artigo é a segunda parte de trabalho maior. A primeira parte, “In Tierra del Fuego, Darwin still rocks”, pode ser lida em http://atimes.com/atimes/Front_Page/LH21Aa01.html.

**Antonio Montana, conhecido como “Tony Montana”, é o personagem interpretado por Al Pacino no filme Scarface (1983). Sobre o filme, ver http://www.imdb.com/character/ch0003932/.
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“COM PEDAÇOS DE PAU E PEDRAS”


Laerte Braga

O presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad disse em discurso na inauguração da usina nuclear de Bushehr, em presença de autoridades russas e de seu país (a usina tem tecnologia russa e se destina à produção de energia) que a defesa da revolução islâmica no caso de um ataque norte-americano ou por parte de Israel, que “nossas opções não terão limites, envolverão todo o planeta”.

Documentos liberados pelo site WikiLeaks e criados pela unidade especial da CIA – CENTRAL INTELIGENCY AGENCY – apontam casos em que cidadãos norte-americanos financiaram atividades terroristas. [1]

Em documentos anteriores o mesmo site, perto de noventa e dois mil documentos sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão, mostra que o governo dos Estados Unidos exporta terrorismo na forma de seqüestros, assassinatos seletivos, prisões indiscriminadas em qualquer parte do mundo, práticas acentuadas no governo de George Bush como reação ao ataque às torres gêmeas do World Trade Center.

Uma das grandes dificuldades do atual presidente dos EUA Barack Obama é desmontar esse aparato repressivo, bárbaro, que, no todo, acaba se vendo presa fácil de quadrilhas de grande porte no tráfico de drogas, de mulheres e agora tráfico de petróleo a partir do México.

As políticas de terceirização de atividades de inteligência e militares postas em curso por Bush geraram distorções de tal ordem que nem a Casa Branca sabe mais a real extensão de todo o conjunto de insensatez do governo anterior.

Essas dificuldades se apresentam visíveis na reação de republicanos comandados agora pelo senador John McCain, derrotado nas eleições presidenciais por Obama e deixam claros os novos contornos do que era uma nação e hoje é um conglomerado de interesses privados de bancos, corporações do petróleo, das armas, com tentáculos capazes de paralisar o Estado e transformar a maior nação do mundo numa grande empresa voltada para o terrorismo.

Obama até agora não conseguiu entrar no salão oval.

A guerra global é uma realidade e pode ser entendida na afirmação feita por Hans Blinx, mês passado, sobre as advertências feitas a Bush que não existiam provas da presença de armas químicas e biológicas no Iraque. Blinx fala que os norte-americanos estavam “em estado de embriaguez pelo poder do arsenal que dispunham”. E continuam a dispor. Blinx foi um dos inspetores da ONU no Iraque à época que precedeu a invasão daquele país pelos EUA, à revelia do Conselho de Segurança da ONU.

Só que agora boa parte do que se convencionou chamar de forças armadas é controlada por empresas privadas e muitas ações pertinentes àquelas forças, são executadas por essas empresas. Generais norte-americanos são fachadas para executivos de companhias que tanto operam contra os Talibãs no Afeganistão, como traficam drogas, mulheres, armas, petróleo, lavam dinheiro, toda a sorte de operações criminosas de grande porte e possíveis.

A união de todas as máfias sonhada e desejada por cada chefe mafioso na história dessas organizações criminosas. Chegaram ao topo. Vendem democracia, drogas, mulheres, lavam dinheiro e têm milhares de ogivas nucleares capazes de destruir o planeta pelo menos cem vezes.

A vala com corpos de cidadãos latino-americanos que foi encontrada no México exibe o estado de caos que permeia aquele país. Ou “ex-país”. Colônia dos EUA desde a assinatura do NAFTA (tratado de livre comércio entre EUA, Canadá e México).

Uma das conseqüências ou exigências para que o conglomerado terrorista formado pelos EUA e por Israel opere é a presença de governantes dóceis e isso se consegue com corrupção. Foi o caso de FHC no Brasil, Menem na Argentina, Uribe na Colômbia e é agora com Calderón no México. Para citar apenas latino-americanos.

O chamado mundo institucional é a face visível em cor laranja dos operadores do terrorismo de estado.

No Brasil trabalham a partir do PSDB, DEM, PPS, mídia privada (GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, RBS, VEJA, ÉPOCA, etc) e corporações de banqueiros, empresas nacionais e multinacionais e latifúndio. Se abrigam simbólica e realmente na sigla FIESP/DASLU.

O golpe militar em Honduras e a farsa democrática montada com o governo terrorista de Pepe Lobo (mais um jornalista foi assassinado hoje, quinta-feira, dia 26 de agosto, o nono neste ano), não difere de ações na Colômbia a partir do governo central, ou no México, tanto quanto o massacre de palestinos por Israel e as guerras do Iraque e do Afeganistão.

Despejam seus dejetos em containers democráticos no mar da Somália, ou em navios que enviam ao Brasil.

São perto de quinhentas bases militares dos EUA em todo o mundo e uma série de operações em todo o planeta para manter intato o poder dos grupos que controlam a mega empresa EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

Ahmadinejad não disse nada diferente do que acontece na prática, disfarçada de democracia cristã e ocidental. Quis apenas mostrar que seu país está pronto para reagir a esse terrorismo e tem condições militares de fazê-lo.

O Irã detém a terceira maior reserva de petróleo do mundo. Ao transformar-se numa potência coloca em risco os “negócios” das grandes corporações que detêm o controle acionário de EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

São assassinatos de civis no México, na Colômbia, em Honduras, no Iraque, no Afeganistão, ou de líderes de movimentos de resistência por agentes de Israel com documentos oficiais, mas nomes falsos, de países controlados pelos EUA (Grã Bretanha, Itália e Alemanha) e tudo isso mostrado ao mundo em forma de torta de maçã com canela pela mídia privada e corrompida.

Ou como disse a um grupo de professores e alunos de uma universidade paulista em visita à redação do JORNAL NACIONAL, o apresentador do dito cujo, sobre determinada notícia. “Esta não, pois contraria os nossos amigos americanos”.

Um dos fatos mais significativos desse estado de terrorismo oficial está no último discurso do presidente Lula ao referir-se ao diretor da FOLHA DE SÃO PAULO como alguém que queria saber se ele falava inglês. Se não fala, como vai governar o País? É que a FOLHA pensa em inglês, e empresta caminhões para que mortos por tortura sejam desovados em pontos de São Paulo. Preconceito puro, estampado em cores vivas na imbecilidade dos subordinados ávidos de poder.

O que tem uma coisa a ver com a outra? O discurso de Lula, o Irã, a guerra global?

Todos os fatos se encadeiam num projeto terrorista gerado em Washington desde o fim da guerra fria, para controle do resto do mundo, o que Fidel Castro chamou de “governo mundial”.

Quem acha que Hitler perdeu está equivocado. Por enquanto, em boa parte do mundo está ganhando e levando. Só mudou de bandeira. Tem as estrelas do Tio Sam e a de Davi.

E de nome.
Quem tiver boa memória vai se lembrar dos momentos que antecederam ao anúncio da invasão do Iraque. O terrorista George Bush apareceu em rede mundial de tevê sendo maquiado. Transformado por pós e cremes em anjo de guarda da democracia. Dias depois, quando ainda era viva a resistência iraquiana à invasão, proclamou que se necessário fosse “para evitar a destruição em massa do planeta, os EUA usarão armas atômicas no Iraque”.

Essa destruição em massa está acontecendo desde que Ronald Reagan assumiu o governo dos EUA. O papel de presidente bonzinho vivido por Jimmy Carter terminou com o próprio.

No filme DOCTOR STRANGELOVE, do extraordinário cineasta Stanley Kulbrick, um general comandante de uma base nuclear norte-americana decide por conta própria atacar a ex-URSS. Afirma que o comunismo está chegando ao seu país “pela água”.

O terrorismo norte-americano/sionista chega por bases militares (a Europa Ocidental hoje é colônia dos EUA), por golpes de estado, pela mídia privada vendendo idéias e factóides montados para transformar o ser humano em mero objeto.

Reduzir o Irã, a Venezuela, a Coréia do Norte, a Bolívia, Cuba, Nicarágua e alguns outros países a classificação de “ditaduras” é parte desse jogo de dominação, é a guerra global em curso.

Assassinar civis latino-americanos e jogá-los em covas rasas (México, Colômbia e Honduras) é apenas construir outras formas de muros para que o genocídio de palestinos se transforme em algo corriqueiro.

E palestinos restamos sendo todos nós.

Comemorar a morte de civis iraquianos com expressões como “matamos os bastardos”, quer dizer apenas que boçais fardados tomaram o petróleo do Iraque. Que os “negócios” vão continuar prosperando.

Sustentar governos de fachada como na Colômbia, no México, em Honduras, Costa Rica (“sem a polícia, sem a milícia...” A canção cantada por Milton Nascimento já não tem mais sentido, só saudades, uma base militar dos EUA já está sendo montada em San José), Afeganistão, Iraque, etc, controlar os países europeus, avançar sobre a América Latina, matar a África de fome, isso é a guerra global.

A barbárie capitalista. Tem sede em Washington e em Tel Aviv e filiais em todos os cantos do mundo.

No Brasil a mídia privada vende vinte e quatro horas por dia a idéia que Hollywood é o paraíso.

Se você conseguir pular o muro e escapar dos “grupos organizados de extermínio”.

A não ser que seu nome seja William Bonner, Boris Casoy, ou outros menores como Miriam Leitão, Lúcia Hipólito, Pedro Bial, Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, um monte. E lógico, o tal Frias da FOLHA da ditabranda.

Com sorte, consegue virar ex-BBB e escapar para as cavernas, pois a próxima guerra, a quarta, a terceira está em curso, como dizia Einstein, será travada “com pedaços de pau e pedras”.

O que Ahmadinejad disse foi apenas que seu povo resistirá. E está pronto para isso.



[1] Leia também o Ficha Corrida: VEJA quem defende o terrorismo de estado no Brasil

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“Ladrões durante o dia, terroristas à noite”


Hoda Abdel-Hamid, Al-Jazeera, Qatar

Por todos os lados para onde se olhe, em Cabul, capital do Afeganistão, só se veem paredes derrubadas, ruínas e grupos de guardas de segurança armados: são os funcionários das empresas privadas contratadas pelos EUA para fazer a segurança dos prédios onde circulam diplomatas, representantes de organizações não-governamentais e funcionários de grandes empresas norte-americanas.

Os mesmos guardas têm acompanhado comboios militares em deslocamento – quase sempre dirigindo em alta velocidade, causando pânico e gerando caos nas estradas. De fato, esses guardas privados armados, sejam afegãos, norte-americanos ou quaisquer outros, são odiados no Afeganistão. Vários deles têm-se envolvido em acidentes e outros eventos violentos, sempre com mortes de civis inocentes. O último desses casos envolveu funcionários da empresa Dyncorps (EUA), na estrada do aeroporto, em Cabul: quatro civis afegãos foram mortos num acidente de carro; os funcionários da Dyncorps fugiram do local do acidente, e uma multidão enfurecida incendiou os carros e atacou policiais afegãos.

O comportamento desses soldados mercenários há tempos preocupa o presidente afegão Hamid Karzai que, recentemente, se referiu a eles como “ladrões durante o dia, terroristas à noite”. Agora, ao que parece, Karzai decidiu fechar o cerco contra as empresas de segurança privada.

Decreto de Karzai

Decreto do presidente Karzai, dessa semana, exige que todas as empresas de segurança que contratam guardas armados no país sejam extintas, no prazo de quatro meses. Para o governo afegão, esses mercenários agem como exército paralelo e são causa de instabilidade no país.

Até o início do próximo ano, esses “geradores de confusão e instabilidade” deverão ser desmobilizados. Todos os vistos para permanência no país serão revogados.

Poucas horas depois de o decreto ser divulgado, conversei com um dos empresários estrangeiros encarregados daqueles funcionários – para saber se estavam preocupados com o risco de perderem os empregos em poucos meses.

A resposta foi um claro “Não”. E acrescentou: “Se sairmos, esse país mergulhará no caos completo”. É possível que tenha alguma razão.

O que dizem os militares

Há cerca de 40 mil guardas privados armados em operação no Afeganistão. Mais da metade, empregados por empresas contratadas pelo exército e pelo Departamento de Estado dos EUA.

Para os militares, são indispensáveis, porque liberam os soldados regulares para as missões de combate. As empresas de segurança privada cumprem várias das tarefas que, sem eles, caberiam aos soldados – segurança das bases, prédios e instalações, segurança pessoal e, sobretudo, a proteção armada aos comboios militares nas rotas de suprimento das bases e acampamentos militares. E é nas estradas que ocorrem a maioria dos confrontos que sempre fazem grande número de vítimas civis.

Recentemente, o governo decidiu que a segurança dos comboios passará a ser feita por soldados do exército afegão – empreitada difícil, se se considera que os soldados afegãos ainda estão pouco treinados, não dispõem de armas adequadas e não têm experiência.

Os comboios de suprimento são alvos preferenciais dos Talibã e de outros grupos de guerrilheiros e milícias armadas que proliferam no país, e não se acredita que os militares norte-americanos aceitem entregar a segurança de seus comboios aos afegãos. Para dificultar ainda mais, aumentam as notícias de que o exército afegão já estaria infiltrado de militantes da resistência afegã. E, isso, ainda sem considerar que as estradas que cortam o país são controladas por diferentes senhores-da-guerra locais, e acredita-se que as empresas privadas de segurança pagam regularmente a vários desses senhores-da-guerra, em troca do direito de circular pelas estradas – recurso ao qual nem o exército dos EUA nem o exército afegão podem recorrer diretamente, pelo menos em teoria.

Os contatos de Karzai

Outro motivo pelo qual o empresário com quem conversei não acredita que as empresas privadas de segurança armada venham a ser de fato expulsas do Afeganistão é que várias delas pertencem, totalmente ou em parte, a famílias influentes no país.

“Será que o irmão do presidente fechará sua empresa?”, perguntou ele, referindo-se a Ahmed Wali Karzai, meio-irmão de Hamid Karzai e temido governador da província de Candahar.

O que se diz no país é que Wali Karzai controlaria várias das empresas privadas de segurança na área crucial de Candahar, apesar de jamais se haver provado qualquer conexão financeira entre ele e as empresas de segurança.

Os mais cínicos – muitos, nas ruas em torno do Capitólio – garantem que o decreto servirá apenas para entregar à família do próprio Karzai o monopólio da segurança privada no país, depois de expulsas as empresas estrangeiras, quase todas norte-americanas. Para outros, seria golpe de propaganda que Karzai estaria tentando, em busca de maior apoio popular, com vistas às eleições previstas para meados de setembro.

Num ponto, todos concordam: os mercenários armados são força de desestabilização ativa no Afeganistão – ideia que se encontra até no último relatório do Congresso dos EUA.

De fato, vai-se firmando a ideia de que as milícias mercenárias constituem hoje uma ameaça ao sucesso da estratégia dos EUA no Afeganistão, exatamente como aconteceu no Iraque, antes. Mas não se sabe se a expulsão seria a melhor solução com vistas ao futuro do Afeganistão.

Há quem diga que a expulsão das milícias privadas mercenárias criaria um vácuo de segurança, que os militares dos EUA – já sobrecarregados –, dificilmente conseguiriam preencher.



Tradução Vila Vudu
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Gen. Petraeus convoca a imprensa pró-guerra


Norman Solomon, Commondreans*

Já é história: em meados de agosto de 2010, o comandante do exército dos EUA no Afeganistão lançou gigantesca campanha de mídia, para impedir qualquer retirada significativa das forças militares, no próximo verão.

Na 2ª.-feira, imediatamente depois de o Gen. David Petraeus ter dado longa entrevista no domingo, ao programa “Meet the Press” [Encontro com a imprensa], da rede de televisão NBC, para promover o esforço de guerra, o jornal New York Times publicou, em primeira página, a entrevista que o general dera ao próprio jornal, e noticiou que o general “sugeriu que resistirá a qualquer tipo de retirada rápida ou em grande escala, das forças norte-americanas”.

De fato, o general apenas comentou que poderia vir a opor-se a qualquer redução no nível das tropas dos EUA que estão no Afeganistão no período de um ano. Sobre a entrevista à NBC, o Times comentou que “Petraeus pareceu estar deixando aberta a possibilidade de não recomendar qualquer tipo de retirada de soldados norte-americanos no próximo verão.”

Na mesma 2ª-feira, o Washington Post também publicou uma linha sibilina sobre Petraeus que, repentinamente, parece extraordinariamente empenhado em dar entrevistas; para o Post, “Petraeus continua a apoiar a decisão do presidente Obama de iniciar a retirada no próximo mês de julho, mas disse que é cedo demais para definir o tamanho da retirada”. O jornal observou que “a presença do general em Cabul, não no quartel-general do Comando Central dos EUA em Tampa, dá força extra à sua voz, para reduzir a retirada, se escolher essa via.”

“Reduzir a retirada” significa manter a máquina de guerra girando com força máxima.

Sejamos bem claros sobre o que está acontecendo. O alto comando do exército no Afeganistão – evidentemente com pleno apoio da Casa Branca – desencadeou feroz blitz pela imprensa, para detonar qualquer possibilidade política de qualquer retirada daqui a um ano. A pleno galope, montado na imagem de que seria um “militar civil”, Petraeus está no comando de um movimento estratégico, com a imprensa, para manipular o que deveria ser processo democrático para decidir questões de guerra e paz.

E quem é, em última instância, o responsável por esse movimento manipulatório e antidemocrático? O comandante-em-chefe.

Muito suspeita e perigosamente, a ofensiva de imprensa de Petraeus foi posta em andamento poucos dias depois de o porta-voz do presidente Robert Gibbs ter comprado briga contra a ala progressista do Partido Democrático – o grupo que tem feito empenhada oposição à guerra no Afeganistão.

Mais de quarenta anos depois de o presidente Johnson ter usado a expressão “nervous Nellies” [aprox. “as nervosinhas”; na cultura norte-americana, corresponde à imagem de mulheres superansiosas, assustadiças, excessivamente preocupadas com a família] para desmoralizar o número crescente de Democratas que se manifestavam contra a guerra do Vietnã, a Casa Branca de Obama agora obra para desmoralizar os dissidentes progressistas, com expressões como “a esquerda profissional”[1].

Semana após semana, o presidente Obama sacrifica incontáveis vidas e bilhões de dólares a serviço do que Martin Luther King Jr. chamou – noutro momento de enlouquecido e horrendo esforço de guerra dos EUA – de “a loucura do militarismo”. Naquele momento como hoje, a Casa Branca pôs lenha na máquina de guerra do Pentágono, na ânsia de parecer forte e escapar às acusações de fraqueza, dos Republicanos.

Embora a história não seja igual ontem e hoje, repete-se e rima. Como um réquiem.

Hoje, como nos tempos finais do Dr. King, a guerra está em franca escalada, enquanto as vozes que se calam coniventes, ou que gritam a favor da guerra são vistas como sábias, prudentes. Quem não concorda e se cala, como sempre, é cúmplice.

O problema mais imediato que o governo e o Pentágono enfrentam é obterem, para a guerra, o aval da opinião pública. Por isso é hora, agora, de falar contra os esforços de um general comandante para fazer de uma nação, rebanho de ovelhas, e nos arrastar, todos, para mais guerra. Não importa quem trabalhe para persistir na loucura do militarismo. Temos de resistir.

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[1] Sobre isso, ver “Casa Branca desabafa contra ‘a esquerda profissional


* Norman Solomon é jornalista, historiador e ativista pacifista. Membro do grupo Fairness & Accuracy In Reporting (FAIR), em http://www.fair.org/index.php?page=100 .
Tradução Vila Vudu
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Corte colombiana declara inconstitucional o acordo militar com Estados Unidos


Natasha Pitts * para Adital

Conforme previsto, a Corte Constitucional colombiana divulgou ontem (17) o resultado da sentença sobre a inconstitucionalidade do acordo militar que permitia aos Estados Unidos operar em sete bases colombianas, desde 30 de outubro de 2009. O acordo, que já se encontra sem efeito deste ontem, precisará ser aprovado pelo Congresso Nacional para que seja afirmada ou negada sua validade.

No início de outubro de 2009, o Conselho de Estado já havia alertado o governo colombiano para a necessidade de que o ‘Acordo Complementar para a Cooperação e Assistência Técnica em Defesa e Segurança’ fosse renegociado, já que afetava de maneira evidente a soberania nacional. Além disso, emitiu um conceito em que recomendou que os trâmites fossem resolvidos junto ao Congresso da República.

Mesmo com todas as orientações e recomendações e ignorando o Conselho de Estado, o governo de Álvaro Uribe passou por cima da Constituição colombiana e firmou o contrato com o governo estadunidense, dando o aval para a entrada de cerca de 800 militares, 600 civis, além de navios e aviões do exército dos EUA.

"Desta forma se comprova que sim, tinham fundamento os questionamentos que amplos setores democráticos da população colombiana e estadunidense vinham fazendo sobre o acordo militar e sobre a forma mansa com que o governo de Uribe, com seu então ministro de Defesa hoje presidente, Juan Manuel Santos, pretendia renunciar à soberania nacional", reflete a Coalizão Colômbia Não Bases, que nasceu para combater a instalação de bases militares no território colombiano.

Pela junção de todas as ilegalidades, a presidente da Corte Constitucional, Mauricio González, declarou que o acordo é contrário às praxes constitucionais e por não ter sido avalizado pelo Congresso não pode surtir efeitos na ordem jurídica interna do país até que seja sanada a exigência. Conforme acrescentou a Coalizão Colômbia Não Bases em notícia publicada ontem, como o acordo já vinha sendo executado "deverão ser retiradas as tropas e equipes estrangeiras das bases militares colombianas".

O acordo foi devolvido ao presidente Juan Manuel Santos e a partir da data da liberação da sentença o governo terá um ano para retificá-lo e para que o mesmo tramite junto ao Congresso. No caso de ser enviado e aprovado pelo Congresso, de maioria oficialista, deverá ser submetido a um novo exame do tribunal.

Ciente do resultado da sentença, o governo nacional, por meio do ministro de Defesa, Rodrigo Rivera, anunciou que acata a sentença e "estudará detalhadamente dita decisão à luz das normas do direito internacional, dos acordos vigentes e das demais normas aplicáveis".

Segundo informações da agência AFP, durante pronunciamento, o governo nacional deixou claro que a decisão da Corte "não afeta os acordos previamente subscritos e vigentes com os Estados Unidos", os quais "se vêm cumprindo e seguirão sendo cumpridos de boa fé".

Após a liberação da sentença, o advogado Luis Guillermo Pérez, do Coletivo jurídico José Alvear Restrepo Cajar, ONG que havia pedido por própria conta a declaração de inconstitucionalidade, reforçou a postura de que os colombianos precisam "resolver o conflito por seus próprios meios". O advogado também relembrou que a ocupação estadunidense no país nunca havia sido analisada de modo adequado e criticou o fato de a população ignorar o que os militares faziam na região.

* Jornalista da Adital

Imagem: IELA - INSTITUTO DE ESTUDOS LATINO-AMERICANOS
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Afeganistão, antes do imperialismo dos EUA


David Coimbra, cronista de Zero Hora, leu uma reportagem na revista Time, a qual defende a continuidade da invasão estadunidense aos EUA, pois isso seria um meio de defender as afegãs dos abusos dos talibãs. Partindo dessa leitura, ele disse: "Viva o imperialismo". Foi uma das coisas mais crueis que li nos últimos dias.

Deixando de lado se tal intervenção em país alheio é um meio para tal fim, e também se é o melhor meio, ou o único, o fato é que o cronista concluiu, dessa leitura, que o imperialismo é uma boa coisa. Esta conclusão é grotesca, quase cômica, se não fosse de mau gosto. E é de mau gosto, pois é de mau gosto sugerir que o imperialismo salva as afegãs, sendo que o imperialismo as escravizou e as mutilou.

Vamos aos fatos: a barbárie contra as mulheres afegãs é fruto do imperialismo, como sabe qualquer um que não é ingênuo ou safado ante o que dizem as Vejas e porcarias similares da vida.

Caso você ainda não saiba disso, leia o ótimo livrinho 11 de setembro, do professor Noam Chomsky. Ele explica, claramente, que hoje o Afeganistão é um lugar de barbárie contra as mulheres e contra as luzes em geral por causa dos EUA, visto que os EUA treinaram a milícia talibã. Hoje o talibã oprime duramente as mulheres, mas antes da intervenção dos EUA elas tinham uma vida bem mais livre, e também ocidentalizada.

Quer saber como era a vida das mulheres afegãs antes dos EUA treinarem os talibãs? Olhe a foto acima. Nesta foto, mulheres estão de saia, com pernas e rostos de fora, em uma bela loja de discos de Cabul, olhando LPs ocidentalizados de rock'n'roll e gêneros similares. Isto era o que havia no Afeganistão antes do imperialismo dos EUA entrarem em cena.

Olhe as outras fotos de como viviam as mulheres afegãs antes dos EUA terem treinado os fanáticos do talibã. Veja que todas elas estão com os narizes nos lugares, como podemos ver pelos seus rostos descobertos.

Olhe, nas fotos, as mulheres afegãs andando de saias curtas e justas pela rua, antes dos EUA treinarem a milícia talibã.

Olhe que, antes dos EUA treinarem os talibãs, as mulheres afegãs estudavam, pesquisavam e trabalhavam, junto com os homens.

Depois de olhar tudo isso, você seria cruel a ponto de dizer "Viva o imperialismo", como fez David Coimbra?

Eu acho que não. Afinal de contas, com tais informações, você certamente lamentaria que os EUA, em sua sanha imperialista, tenham destruído o antigo e livre modo de vida das mulheres afegãs, ao dar poder aos fanáticos religiosos do talibã.

Você lamentaria, como eu, o fato das afegãs de hoje não poderem circular com as roupas de sua escolha em lojinhas de CDs, por causa do imperialismo estadunidense. Sabendo de tudo isso, você nunca diria "Viva o imperialismo".

Cabe ao sr. David Coimbra se informar, e pedir desculpas às mulheres, e também aos leitores.
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Guerras ocidentais X mulheres muçulmanas

Tradução: Caia Fittipaldi

5/8/2010, Marwan Bishara, Al-Jazeera, Qatar
http://blogs.aljazeera.net/imperium/2010/08/05/western-wars-vs-muslim-women

Marwan Bishara é jornalista, editor-chefe e analista político da rede Al-Jazeera [1]

A imprensa ocidental transborda de matérias sobre os maus tratos dos Talibãs às mulheres no Afeganistão e no Paquistão, e desperta incontáveis vozes de apoio, muito menos às mulheres do que à guerra que, como se diz, assegurará “futuro mais promissor aos direitos das mulheres”. Essa semana, a matéria de capa da revista Time promove exatamente esse tema.

Se as guerras ocidentais algum dia tivessem feito alguma coisa para ‘libertar’ as mulheres orientais, as muçulmanas seriam as mulheres mais ‘libertadas’ do mundo – depois de séculos de intervenções militares por exércitos ocidentais. Não são, nem serão, sobretudo quando qualquer ‘liberdade’ venha necessariamente associada ao mando ocidental.

O Afeganistão conheceu sua quota de intervenção militar por britânicos, russos e norte-americanos, e até agora, ninguém libertou uma única muçulmana. De fato, relatos de grupos feministas confiáveis locais demonstram que as condições de vida das mulheres afegãs pioraram muito desde a invasão pelos EUA, há quase uma década.

As normas sociais dos Talibã talvez afrontem modernos valores ocidentais, mas de modo algum podem ser sumariamente trocadas por valores ocidentais implantados, muito menos a tiros (ou a peso de bombas de fósforo).

Se, como insiste o general Petreaus, os soldados dos EUA devem “viver” com os afegãos, para conseguir derrotar os guerrilheiros, devem também esperar hostilidade cada vez maior contra os invasores estrangeiros e seus valores.

A carga do homem branco?[2]

Os mesmos argumentos da civilização pró-ocidente que têm sido usados há séculos para justificar as mais sangrentas guerras coloniais no oriente são reaproveitados hoje para manipular a opinião pública que sempre resiste contra todas as guerras e induzi-la a apoiar a escalada militar na Ásia Central.

A velha fantasia dos homens ocidentais, de ‘salvarem’ mulheres veladas das garras de seus opressores e raptores, está sendo explorada para promover a ideia de que a guerra ‘libertará’ as mulheres veladas da ‘maldição’ de terem de conviver com ‘terroristas barbudos’, assim como a mesma guerra também ‘libertará’ os EUA do ‘terrorismo’ dos mesmos barbudos.

À luz de tão pesada overdose de moralismo, foi particularmente embaraçoso para os líderes norte-americanos constatar que seus aliados são perfeitamente competentes para construir acordos com os mesmos grupos de barbudos aterrorizantes, que chegam para parlamentar, é claro, com suas barbas e suas práticas sociais.

Ano passado, o governo Obama condenou publicamente o presidente do Paquistão Asif Ali Zardari, por reconhecer as leis da Xaria no pequeno vale do rio Swat. Para o governo Obama, seria “rendição” aos Talibã. O mesmo governo Obama também condenou o presidente do Afeganistão Hamid Karzai, por ter assinado lei que admite o estupro nos casamentos da minoria xiita que vive no país.

Ninguém se lembrou de lembrar-se que até há bem pouco tempo, o estupro conjugal foi legal na Grã-Bretanha e nos EUA, onde ainda é legalmente considerado crime menor que o estupro não-conjugal em vários estados.

Os que buscam solução militar para problemas sociais falham sempre ao não fazer distinção ente o Islã e os Talibã, ou entre aspectos culturais e religiosos da vida na Ásia Central. E falham sempre, também, porque jamais explicam como, afinal, alguma mulher poderá alcançar algum direito, por meios militares.

Afinal de contas, a grande maioria dos paquistaneses e afegãos já votaram contra os Talibã – e no caso do Paquistão elegeram um partido secular liderado por uma mulher ocidentalizada, a falecida Benazir Bhutto, supostamente assassinada pelos Talibã. De fato, os fundadores do Paquistão eram tão seculares quanto muitos de seus equivalentes ocidentais.

Os últimos meses mostraram que o governo do Paquistão é capaz de fazer frente aos Talibã, quando entenda necessário. E quando a televisão paquistanesa mostrou o chicoteamento de uma jovem de 17 anos, houve indignação nacional, dos mais de 170 milhões de paquistaneses.

Por décadas, paquistaneses e afegãos foram vítimas de Talibã de estilo medieval, de mujahedeen e de senhores-da-guerra apoiados e armados pelos EUA através dos serviços de inteligência do Paquistão e da Arábia Saudita.

De fato, durante grande parte do século 20, todas as intervenções militares diretas ou apoiadas por países ocidentais, no Oriente Médio expandido, visaram a derrubar regimes seculares na região – do Irã de Mossadegh ao Egito de Nasser, passando pelo Iraque de Hussein, e para não falar de Najibullah, no Afeganistão soviético.

A carga da mulher branca

Ironia, que outros conservadores não veem, é o conservador britânico Cyril Townsend publicar, no jornal panárabe dos sauditas Al-Hayat, em artigo que levava o título “Direito das mulheres no Afeganistão”, que as soldadas britânicas lutam para que também no Afeganistão as mulheres tenham respeitados os seus direitos.

E nem uma linha de explicação sobre por que, 18 anos depois de meio milhão de soldados de EUA e Grã-Bretanha tanto terem guerreado para libertar o Kuwait e proteger sua aliada, a Arábia Saudita, as mulheres sauditas, até hoje, são proibidas de votar e de dirigir carros.

Tolices semelhantes apareceram em 2001, enunciadas pelas primeiras-damas Laura Bush e Cherie Blair, de apoio à “guerra para libertar as mulheres do Afeganistão”, quando de fato só faziam promover a guerra de seus respectivos homens e outros, e nunca, em tempo algum, promoveram algum direito de alguma mulher.

A revista Time seguiu a mesma toada, essa semana, com lembrete para que não se esquecesse o suplício das mulheres afegãs. Richard Stengel, editor-gerente da revista, escreveu que não publicara a matéria nem exibira aquela imagem “para apoiar nem o esforço de guerra dos EUA nem os que são contra a guerra”. Pode ser. Mas a matéria e a capa contribuíram para justificar a guerra em círculos humanitários ‘civilizados’ e nada fizeram para criticar a guerra naqueles mesmos círculos.

Um século depois de o poeta inglês Rudyard Kipling ter pela primeira vez invocado “A carga do homem branco”1 para explicar a invasão e a ocupação das Filipinas pelos EUA, Washington e Londres continuam a tentar justificar suas ações militares de intervenção e ocupação, servindo-se das mesmas falsidades requentadas.

É escandaloso que depois de as mentiras sobre “A carga do Homem Branco” terem sido desmascaradas, ao preço do sangue de milhões de homens e mulheres, novas doses gigantescas da mesma violência ainda apareçam justificadas sob o pretexto de alguma “carga” sobre ombros de algum homem ou mulher.

E é exatamente isso que se vê, quando tantos advogam que se bombardeiem incansavelmente culturas que não conhecem, até que se tornem culturalmente semelhantes ao Ocidente.

Essa perigosa escatologia espera construir sobre o que destrói e pode acabar destruindo sociedades muçulmanas inteiras, arrastada pela fantasia de que, pela morte e pelo sangue, o ocidente alcançará a liberdade que fantasia para outros, sem assegurá-la sequer às suas mulheres.

A guerra é o abuso máximo

Como principais vítimas do abuso do poder, as mulheres ocidentais vivem em posição única, da qual podem denunciar e rejeitar, mais que todas as mulheres, o maior e mais completo abuso, o abuso dos abusos, o abuso destrutivo, pelo homem ocidental, do poder patriarcal: a guerra.

Quanto às mulheres muçulmanas, não há qualquer espaço nessa guerra para ouvir o que pensem, suas esperanças ou aspirações. A voz delas está sendo progressivamente calada, pelo som ensurdecedor das bombas e explosões.

As mulheres orientais foram as primeiras vítimas civis das guerras ocidentais. Quantas viúvas, mães, irmãs e filhas enlutadas o ocidente ainda terá de produzir, antes de aprender a rejeitar todas as guerras de agressão, e de aprender a ver o que é, de fato, a suposta ‘missão civilizadora’ do Ocidente? Depois de décadas de guerras, o Iraque e o Afeganistão são hoje nações de viúvas – até agora são cinco milhões de viúvas, e o número não para de aumentar.

Os maus tratos contra mulheres não são limitados por culturas ou fronteiras. Paradoxalmente, a violência contra mulheres, em famílias de veteranos de guerra, nos EUA, é de três a cinco vezes maior do que na média das famílias norte-americanas. Essa, sim, é, literalmente, uma Carga da Mulher Branca.

Muitas mulheres alistam-se no serviço militar para alcançar plena igualdade no campo dos direitos. Há mais mulheres soldadas em combate no Iraque e no Afeganistão, do que jamais antes em todas as guerras. Penso mais nas mulheres que resistem ao mundo masculino das guerras, muito mais do que penso nas mulheres que se engajam nele.

Seja como for, homem algum jamais fez guerra para libertar mulher alguma. Bem diferente disso, segundo Martin Van Creveld, historiador de guerras, os homens fazem guerra para fugir de suas esposas e famílias, à caça de êxtase e transcendência. Não se pode dizer que seja causa propriamente feminista.



[2] Orig. The White Man's Burden é título de um poema do inglês Rudyard Kipling, publicado originalmente na revista popular McClure’s em 1899, com o subtítulo “The United States and the Philippine Islands”. H á uma ambiguidade no título, talvez mais clara em inglês que em português, e no modo como o poema (que teve várias versões) foi construído, que permite várias interpretações [a carga que pesa sobre os ombros do homem branco, e por extensão, a tarefa ‘civilizatória’ que lhe caberia; ou a carga representada pelo homem branco invasor e colonialista, que pesa sobre outros ombros, dentre outras intepretações]. Efeito dessa ambiguidade, o poema tem servido como ‘referência poética’ tanto para os que combatem o racismo eurocêntrico quanto para os que partilham as ambições ocidentais de dominar o mundo em desenvolvimento [NT, com informações de http://en.wikipedia.org/wiki/The_White_Man's_Burden].

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Chomsky: “Os EUA são o maior terrorista do mundo”


Noam Abraham Chomsky, intelectual estadunidense, pai da linguística e polêmico ativista por suas posturas contra o intervencionismo militar dos Estados Unidos, visitou a Colômbia para ser homenageado pelas comunidades indígenas do Departamento de Cauca. Falou com exclusividade para Luis Angel Murcia, do jornal Semana.com, em 21 de Julho de 2010.

O morro El Bosque, um pedaço de vida natural ameaçado pela riqueza aurífera que se esconde em suas entranhas, desde a semana passada tem uma importância de ordem internacional. Essa reserva, localizada no centro da cidade de Cauca, muito próxima ao Maciço colombiano, é o cordão umbilical que hoje mantêm aos indígenas da região conectados com um dos intelectuais e ativistas da esquerda democrática mais prestigiados do planeta.

Noam Abraham Chomsky. Quem o conhece assegura que é o ser humano vivo cujas obras, livros ou reflexões, são as mais lidas depois da Bíblia. Sem duvida, Chomsky, com 81 anos de idade, é uma autoridade em geopolítica e Direitos Humanos.

Sua condição de cidadão estadunidense lhe dá autoridade moral para ser considerado um dos mais recalcitrantes críticos da política expansionista e militar que os EUA aplica no hemisfério. No seu país e na Europa é ouvido e lido com muito respeito, já ganhou todos os prêmios e reconhecimentos como ativista político e suas obras, tanto em linguística como em análise política, foram premiadas.

Sua passagem discreta pela Colômbia não era para proferir as laureadas palestras, mas para receber uma homenagem especial da comunidade indígena que vive no Departamento de Cauca. O morro El Bosque foi rebatizado como Carolina, que é o mesmo nome de sua esposa, a mulher que durante quase toda sua vida o acompanhou. Ela faleceu em dezembro de 2008.

Em sua agenda, coordenada pela CUT e pela Defensoria do Povo do Vale, o Senhor Chomsky dedicou alguns minutos para responder exclusivamente a Semana.com e conversar sobre tudo.

Quê significado tem para o senhor esta homenagem?

Estou muito emocionado; principalmente por ver que pessoas pobres que não possuem riquezas se prestem a fazer esse tipo de elogios, enquanto que pessoas mais ricas não dão atenção para esse tipo de coisa.

Seus três filhos sabem da homenagem?

Todos sabem disso e de El Bosque. Uma filha que trabalha na Colômbia contra as companhias internacionais de mineração também está sabendo.

Nesta etapa da sua vida o que o apaixona mais: a linguística ou seu ativismo político?

Tenho estado completamente esquizofrênico desde que eu era jovem e continuo assim. É por isso que temos dois hemisférios no cérebro.

Por conta desse ativismo teve problemas com alguns governos, um deles e o mais recente foi com Israel, que o impediu de entrar nas terras da palestina para dar uma palestra.

É verdade, não pude viajar, apesar de ter sido convidado por uma universidade palestina, mas me deparei com um bloqueio em toda a fronteira. Se a palestra fosse para Israel, teriam me deixado passar.

Essa censura tem a ver com um de seus livros intitulado ‘Guerra ou Paz no Oriente Médio?

É por causa dos meus 60 anos de trabalho pela paz entre Israel e a Palestina. Na verdade, eu vivi em Israel.

Como qualifica o que se passa no Oriente Médio?

Desde 1967, o território palestino foi ocupado e isso fez da Faixa de Gaza a maior prisão ao ar livre do mundo, onde a única coisa que resta a fazer é morrer.

Chegou a se iludir com as novas posturas do presidente Barack Obama?

Eu já tinha escrito que é muito semelhante a George Bush. Ele fez mais do que esperávamos em termos de expansionismo militar. A única coisa que mudou com Obama foi a retórica.

Quando Obama foi galardoado com o prêmio Nobel de Paz, o quê o senhor pensou?

Meia hora após a nomeação, a imprensa norueguesa me perguntou o que eu pensava do assunto e respondi: “Levando em conta o seu recorde, este não foi a pior nomeação”. O Nobel da Paz é uma piada.

Os EUA continuam a repetir seus erros de intervencionismo?

Eles tem tido muito êxito. Por exemplo, a Colômbia tem o pior histórico de violação dos Direitos Humanos desde o intervencionismo militar dos EUA.

Qual é a sua opinião sobre o conceito de guerra preventiva que os Estados Unidos apregoam?

Não existe esse conceito, é simplesmente uma forma de agressão. A guerra no Iraque foi tão agressiva e terrível que se assemelha ao que os nazistas fizeram. Se aplicarmos essa mesma regra, Bush, Blair e Aznar teriam de ser enforcados, mas a força é aplicada aos mais fracos.

O que acontecerá com o Irã?

Hoje existe uma grande força naval e aérea ameaçando o Irã e, somente a Europa e os EUA pensam que isso está certo. O resto do mundo acredita que o Irã tem o direito de enriquecer urânio. No Oriente Médio três países (Israel, Paquistão e Índia) desenvolveram armas nucleares com a ajuda dos EUA e não assinaram nenhum tratado.

O senhor acredita na guerra contra o terrorismo?

Os EUA são os maiores terroristas do mundo. Não consigo pensar em qualquer país que tenha feito mais mal do que eles. Para os EUA, terrorismo é o que você faz contra nós e não o que nós fazemos a você.

Há alguma guerra justa dos Estados Unidos?

A participação na Segunda Guerra Mundial foi legítima, entretanto eles entraram na guerra muito tarde.

Essa guerra por recursos naturais no Oriente Médio pode vir a se repetir na América Latina?

É diferente. O que os EUA tem feito na América Latina é, tradicionalmente, impor brutais ditaduras militares que não são contestados pelo poder da propaganda.

A América Latina é realmente importante para os Estados Unidos?

Nixon afirmou: “Se não podemos controlar a América Latina, como poderemos controlar o mundo”.

A Colômbia tem algum papel nessa geopolítica ianque?

Parte da Colômbia foi roubada por Theodore Roosevelt com o Canal do Panamá. A partir de 1990, este país tem sido o principal destinatário da ajuda militar estadunidense e, desde essa mesma data tem os maiores registros de violação dos Direitos Humanos no hemisfério. Antes o recorde pertencia a El Salvador que, curiosamente também recebia ajuda militar.

O senhor sugere que essas violações têm alguma relação com os Estados Unidos?

No mundo acadêmico, concluiu-se que existe uma correlação entre a ajuda militar dada pelos EUA e violência nos países que a recebem.

Qual é sua opinião sobre as bases militares gringas que há na Colômbia?

Não são nenhuma surpresa. Depois de El Salvador, é o único país da região disposto a permitir a sua instalação. Enquanto a Colômbia continuar fazendo o que os EUA pedir que faça, eles nunca vão derrubar o governo.

Está dizendo que os EUA derruba governos na América Latina?

Nesta década, eles apoiaram dois golpes. No fracassado golpe militar da Venezuela em 2002 e, em 2004, seqüestraram o presidente eleito do Haiti e o enviaram para a África. Mas agora é mais difícil fazê-lo porque o mundo mudou. A Colômbia é o único país latinoamericano que apoiou o golpe em Honduras.

Tem algo a dizer sobre as tensões atuais entre Colômbia, Venezuela e Equador?

A Colômbia invadiu o Equador e não conheço nenhum país que tenha apoiado isso, salvo os EUA. E sobre as relações com a Venezuela, são muito complicadas, mas espero que melhorem.

A América Latina continua sendo uma região de caudilhos?

Tem sido uma tradição muito ruim, mas, nesse sentido, a América Latina progrediu e, pela primeira vez, o cone sul do continente está a avançando rumo a uma integração para superar seus paradoxos, como, por exemplo, ser uma região muito rica, mas com uma grande pobreza.

O narcotráfico é um problema exclusivo da Colômbia?

É um problema dos Estados Unidos. Imagine que a Colômbia decida fumigar a Carolina do Norte e o Kentucky, onde se cultiva tabaco, o qual provoca mais mortes do que a cocaína.

Fonte: Agência de Notícias Nova Colômbia. Original em espanhol.
Imagem: Luis Ángel Murcia, Semana

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