Assim como o Fórum Social Mundial, o Fórum Temático que está ocorrendo em Porto Alegre conseguiu reunir um amplo espectro de organizações, movimentos e partidos do mundo inteiro para debater um outro mundo possível, baseado na democracia real, na justiça social e no desenvolvimento sustentável. Graziano, Boaventura, Ramonet, Camila Vallejo, Emir Sader, Leonardo Boff, Gilberto Gil, Dilma, Pepe Mujica são alguns dos nomes presentes que buscam articular alternativas capazes de superar o capitalismo, principal responsável por uma crise mundial sem precedentes. Apesar disso, a mídia tem se omitido de informar sobre os grandes debates realizados e centrou sua atenção na presença do italiano Cesare Battisti em uma das mais de mil atividades que compõe o Fórum. Tática já utilizada em outras edições do Fórum, quando condenou a participação do ativista francês José Bove, de representantes das FARC e da delegação cubana buscando macular a importância dos debates e jogar a sociedade contra a esquerda.
Battisti é somente um dos mais de quarenta mil participantes do Fórum Temático. Tem lá sua importância política pela trajetória militante na esquerda italiana durante a década de 1970. Década marcada pela violência política naquele país protagonizada tanto por organizações de esquerda quanto por organizações de direita. Foi condenado à revelia e sem direito a defesa pela justiça daquele país à prisão perpétua por suposto envolvimento em ações armadas que teriam resultado em morte de quatro pessoas. O ex-militante da organização italiana “Proletários Armados pelo Comunismo”, viveu na França e chegou ao Brasil em 2007. A pedido do governo de Sílvio Berlusconi, que deixou o poder após denúncias de corrupção, envolvimento com a máfia e escândalos sexuais com menores de idade, Cesare ficou preso por quatro anos até o julgamento de sua extradição. Sua libertação ocorreu após o ex-presidente Lula negar o pedido de extradição em dezembro de 2011, decisão confirmada pelo Supremo Tribunal Federal em junho último. Durante o Fórum, o ex-militante da esquerda italiana esteve presente como ouvinte no colóquio de José Graziano sobre a importância da sociedade civil na segurança alimentar e foi convidado pelo Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro a lançar seu 15º romance, escrito durante o período de reclusão e intitulado “Ao Pé do Muro”. Fora isso, não será palestrante de nenhuma atividade. Como bem declarou, a legislação brasileira impede a participação e mesmo a declaração de refugiados sobre a política.
Portanto, nada de excepcional. Apenas mais uma tentativa das grandes empresas de comunicação de denegrir as discussões em torno da troca de experiências e da construção de conceitos políticos voltados ao combate às desigualdades sociais proporcionadas pelo capitalismo em todas as suas fases, bem como para a defesa da soberania alimentar, dos direitos humanos e do desenvolvimento ambientalmente sustentável em todo o mundo.