Por Antonio Lassance, no sítio Carta Maior:
Começou mal, muito mal mesmo a tentativa de Aécio Neves dizer o que quer em 2014. Depois de anunciar com antecedência que lançaria seu programa e daria uma lição no atual governo, o virtual candidato fez um ato, ou melhor, um “happening”, dentro do Congresso Nacional (dia 17), que não conseguiu mobilizar nem os tucanos mais conhecidos. A desculpa oficial arranjada para as ausências é a de que era preciso deixar Aécio sozinho para “brilhar”.
Resultado: ele sequer foi capaz de confirmar se é candidato. Os 12 pontos, que devem ter sido inspirados na lenda dos 12 trabalhos de Hércules, são apenas um rascunho mal acabado do que pode vir a ser, quem sabe um dia, algo que se pareça com um programa de governo.
O evento não agradou ninguém, nem mesmo os aliados mais próximos. Foi tão ruim que talvez nem se possa dizer que esse pontapé inicial começou mal.
Simplesmente, nem começou. O pontapé inicial foi uma furada.
O elogio mais caloroso que Aécio sofreu dentro de seu partido é o de que ainda lhe “falta pegada”, um eufemismo para a sensação disseminada entre os tucanos de que eles têm, diante de si, uma pesada mala sem alça para carregar no ano que vem. Embora o senador mineiro seja a bola da vez, o problema não é isolado. O faro dos tucanos parece que anda prejudicado ultimamente, pelo menos, para gerar notícias positivas.
As manchetes da velha mídia foram todas frustradas. Aécio perdeu feio para o ato em Pernambuco que juntou Dilma e Eduardo Campos. Aécio perdeu até para a notícia de que seu marqueteiro foi afastado.
O rascunho de 12 pontos sem nó esqueceu-se de um detalhe importante em eleições: os trabalhadores. De última hora, alertado por um irritado Paulinho, da Força Sindical, o tucano foi obrigado a incluir algo sobre “mercado de trabalho com maiores salários”. Ainda bem que incluíram no meio de um dos tópicos já existentes. Do contrário, redundaria nos “13 pontos de Aécio”.
O virtual candidato usou a expressão “tolerância zero” para falar de combate à inflação. Convenhamos, um ato falho para quem, parado em uma blitz, recusou-se ao teste do bafômetro. De todo modo, o principal ponto desse rascunho de programa não está nem nas linhas, nem nas entrelinhas, mas nos encontros que Aécio tem promovido com o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central durante o governo FHC, investidor e consultor de grandes investidores e frequentador da Casa das Garças, templo do neoliberalismo no Brasil que reúne sacerdotes do Plano Real e banqueiros. Já está divulgado, a quem interesses tiver, que Fraga seria o ministro da Fazenda caso os tucanos fossem eleitos em 2014.
Para bom entendedor, basta o nome do ministro. O PSDB manteve, durante o governo FHC, o mesmo padrão de governança econômica criado pela ditadura: a de um czar da economia que faz e desfaz, e o presidente assina embaixo. O presidente da República não passa de sua guarda pretoriana, para blindá-lo de pressões políticas. É isso o que o mundo das altas finanças espera de uma gestão econômica. O resto é detalhe. Tudo em nome da responsabilidade fiscal, aquela que, no passado, levava o Brasil a pedir dólares ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e que, mais recentemente, permitiu ao governador Beto Richa (do PSDB do Paraná) quase não ter dinheiro em caixa para pagar o 13º dos funcionários públicos de seu Estado, não fosse um empréstimo recebido do Banco Mundial.
O importante é que agora ficou fácil. Quem quiser detalhes da economia em um eventual governo tucano basta marcar uma conversa com Armínio Fraga.
Vamos conversar?