por Leonardo Cavalcanti
leonardocavalcanti.df@dabr.com.br
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A piloto de caças suecos
É pouco provável que 36 aviões possam trazer grandes ganhos eleitorais a Dilma Rousseff, mas a decisão da compra dos caças nesta semana reduz a pressão dos militares contra o Palácio do Planalto. Se não dá votos, pelo menos não os tira e, por tabela, ainda diminui a pecha pouco favorável da presidente de ser centralizadora e indecisa. Assim, o anúncio da aquisição das aeronaves foi também eleitoreira, pois.
Reportagem de Paulo de Tarso Lyra e de Leandro Kleber, do Correio, revela que Dilma decidiu anunciar a compra dos aviões suecos da Saab antes do fim do ano para evitar críticas dos partidos e dos negociadores internacionais. Como não precisa pagar um centavo até o fim do mandato, a presidente apenas anunciou a compra, que será paga a partir de 2015. Nada poderia ser mais simples.
Havia uma clara pressão da cúpula militar para o fim de uma novela que se arrastava desde 2001, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso. Depois, o então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, fez demagogia e ensaiou o cancelamento do programa com o argumento de que o dinheiro da compra dos caças seria transferido para o Fome Zero. Como era de se esperar, Lula recuou, abrindo oficialmente o lobby de fabricantes internacionais: a norte-americana Boeing, a francesa Dassault, além da Saab.
Apostas
Ao longo de 12 anos, a Dassault e a Boeing apareceram como favoritas em algum momento. No caso da francesa, Lula chegou a anunciar que tinha escolhido o Rafale. A empresa norte-americana, por sua vez, ganhou força nas mesas de apostas nos últimos dois anos, antes de ser descartada com as denúncias de espionagem dos Estados Unidos contra o Brasil. Não ficaria bem para Dilma escolher a tecnologia da terra de Obama, of course.
Do ponto de vista diplomático, Dilma foi habilidosa. Avisou ao presidente francês François Hollande antes de anunciar a decisão pelo jato sueco. E deixou assessores divulgarem que não fez questão de comunicar o fato aos norte-americanos, em resposta à espionagem feita pela Agência Nacional de Segurança (NSA), dos EUA. Seria uma resposta brasileira à altura da covardia dos arapongas.
Outra reportagem do Correio, assinada pelo repórter Paulo Silva Pinto, mostra que o movimento de Dilma é quase uma encenação dentro de um amplo cenário diplomático e comercial. É que, no fim das contas, a vitória dos caças suecos na concorrência aberta pelo governo não deixa de ser a vitória também dos norte-americanos por causa de dois fatores simples de explicar a partir de um comentário de um funcionário de alto escalão brasileiro, dito na condição de anonimato.
Durante evento promovido para funcionários do Brasil e da França, em meados deste mês, por causa da visita de Hollande, um servidor brasileiro revelou o lobby norte-americano contra o Rafale: “Eles chegaram a dizer: se não quiserem levar o F/A-18 (o caça dos Estados Unidos), escolham o Gripen”. Do lado dos americanos, amargar a derrota para os franceses não seria fácil. É que a Boeing considera a Dassault uma concorrente direta, ao contrário da empresa sueca, vista como jogadora de menor porte.
Além disso, parte das peças do Gripen é produzida nos Estados Unidos, como, por exemplo, a turbina. Assim, na real, Dilma apenas fez um jogo de cena ao tentar mostrar que escanteou os Estados Unidos. O Planalto sempre soube que o resultado favorável aos suecos não seria algo muito dramático para o governo Obama. A presidente se comporta de forma rápida, tal qual uma pilota de caças. Resta rezar para que ela não torne a metáfora real e, depois da motocicleta, queira pegar carona no Gripen.