Da Rede Brasil Atual:
Fernando Haddad não precisou chegar ao fim de seu primeiro ano de mandato à frente da maior cidade do país para concluir que nem só de boas intenções e competência técnica se faz uma gestão. Queira ou não, o prefeito petista de São Paulo tem de conviver com estratégias jogadas em cenas obscuras protagonizadas por aqueles que se consideram donos de São Paulo.
“Recebi um telefonema de um dono de muitos meios de comunicação dizendo que não daria trégua à prefeitura e que colocaria todos seus veículos contra o IPTU progressivo. Isso não me foi contado. Isso foi dito”, relata, durante uma conversa com jornalistas, realizada ontem (16) à noite na sede da administração municipal. O prefeito não revelou o nome do barão midiático que declarou guerra abertamente. Segundo o site Conversa Afiada, o empresário seria Johnny Saad, dono do Grupo Bandeirantes e "proprietário de muitos imóveis urbanos em São Paulo".
Questionado se já não sabia que seria assim, dado o histórico de governos do PT no Palácio do Planalto e na própria prefeitura, Haddad parece indicar que conhecia o problema, mas desconhecia seu tamanho, e admite a necessidade de repensar sua política de comunicação para evitar distorções.
O caso do IPTU resume bem o problema. Após quatro anos sem reajuste, o prefeito conseguiu aprovar na Câmara Municipal um projeto de lei para aplicar um aumento maior nos bairros mais valorizados, e baixar o valor do tributo em regiões que gozam de menor infraestrutura urbana. Mas a medida se tornou impopular devido à dificuldade da gestão de explicar justamente isso à população e à resistência de parte da mídia tradicional, que, em parceria com a Fiesp e o PSDB, conseguiu que o Tribunal de Justiça concedesse liminar congelando a aplicação dos novos níveis de cobrança.
A gestão promete apresentar recurso à decisão. “Quando discute IPTU progressivo, cobrando mais de quem pode mais, cobrando menos de quem pode menos, você está discutindo a fonte de financiamento de um Estado de bem-estar social que ainda está muito no começo no Brasil. Tem muito para avançar”, defende o prefeito, que parece manter uma característica que ajudou a levá-lo ao cargo: a clareza de ideias, a intenção de enxergar os macroproblemas a partir das microsituações, a transferência das ideias do acadêmico ao mundo da execução política e a consciência de que, na macropolítica, a filosofia de gestão é um espaço demarcado de disputa de projetos.
“Está em discussão no Brasil o modelo de Estado que nós queremos. Queremos o Estado mínimo, acreditando que o mercado vai resolver os problemas da população mais pobre, ou queremos um Estado com protagonismo, que tenha condições de dar resposta às questões sociais?”
Questionado se não gosta de fazer política, como se tem ouvido em bastidores até no meio petista, ele afirma que apenas vê sentido em que as pessoas se dediquem a algo voltado ao interesse comum, visão que tem de ser resgatada no país. Na conversa, Haddad volta a cravar que não tem problemas em sacrificar sua reeleição e reitera que entende a política como uma prática voltada à construção de soluções para o cidadão. Considera que o fundamental é pensar projetos de longo prazo e garantir a máxima execução possível nos quatro anos a que tem direito, sem que se deva preocupar se as futuras administrações darão sequência a isso ou não.
Ao traçar um balanço da gestão, Haddad parece satisfeito com aquilo que prometeu pouco mais de um ano atrás: Bilhete Único Mensal e eficiência no transporte público, Arco do Futuro, revisão do Plano Diretor Estratégico, melhoria dos serviços de saúde. Se terá tempo para fazer tudo, não sabe, mas entende que uma região da cidade estará transformada rapidamente. “A zona leste vai mudar. Vou dar alguns exemplos. Ficando pronto o Rodoanel Leste, os caminhões saem da Jacu-Pêssego. A Jacu-Pêssego, juntando com o polo de Itaquera, é a zona incentivada da prefeitura. O que queremos é geração de emprego. Você vai ver uma grande transformação física. Conglomerados econômicos, dois ou três, vão investir ali para geração de emprego. Talvez tenhamos uns 100 mil empregos.”
A principal fonte de preocupação do petista continua a ser a mesma, e nada indica que será outra quando encerrar o mandato: a baixa capacidade de investimento da Prefeitura de São Paulo. R$ 18 bilhões de pagamento de precatórios, R$ 55 bilhões de dívida, R$ 2 bilhões a menos graças ao congelamento da tarifa de transporte público e R$ 1 bilhão da decisão judicial do IPTU somam um montante muito superior ao orçamento anual de R$ 40 bilhões. A esperança reside agora no sinal verde do Ministério da Fazenda para que o Senado vote a renegociação da dívida de estados e municípios com a União, o que, espera, virá até fevereiro.
Na conversa, o prefeito afirmou ainda que a mudança de modelo de gestão das subprefeituras entra agora numa segunda etapa. Neste primeiro ano de mandato, Haddad apostou na desmilitarização das estruturas, legado de Gilberto Kassab (PSD). Agora, com a eleição dos integrantes dos conselhos participativos municipais, o petista imagina ser possível aproximar representantes populares eleitos da administração da cidade.
Confira aqui trechos da entrevista conduzida por Eduardo Maretti, da RBA, Renato Rovai, da revista Fórum, Maria Inês Nassif, da Carta Maior, Paulo Henrique Amorim, do Conversa Afiada, e Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania.
Fernando Haddad não precisou chegar ao fim de seu primeiro ano de mandato à frente da maior cidade do país para concluir que nem só de boas intenções e competência técnica se faz uma gestão. Queira ou não, o prefeito petista de São Paulo tem de conviver com estratégias jogadas em cenas obscuras protagonizadas por aqueles que se consideram donos de São Paulo.
“Recebi um telefonema de um dono de muitos meios de comunicação dizendo que não daria trégua à prefeitura e que colocaria todos seus veículos contra o IPTU progressivo. Isso não me foi contado. Isso foi dito”, relata, durante uma conversa com jornalistas, realizada ontem (16) à noite na sede da administração municipal. O prefeito não revelou o nome do barão midiático que declarou guerra abertamente. Segundo o site Conversa Afiada, o empresário seria Johnny Saad, dono do Grupo Bandeirantes e "proprietário de muitos imóveis urbanos em São Paulo".
Questionado se já não sabia que seria assim, dado o histórico de governos do PT no Palácio do Planalto e na própria prefeitura, Haddad parece indicar que conhecia o problema, mas desconhecia seu tamanho, e admite a necessidade de repensar sua política de comunicação para evitar distorções.
O caso do IPTU resume bem o problema. Após quatro anos sem reajuste, o prefeito conseguiu aprovar na Câmara Municipal um projeto de lei para aplicar um aumento maior nos bairros mais valorizados, e baixar o valor do tributo em regiões que gozam de menor infraestrutura urbana. Mas a medida se tornou impopular devido à dificuldade da gestão de explicar justamente isso à população e à resistência de parte da mídia tradicional, que, em parceria com a Fiesp e o PSDB, conseguiu que o Tribunal de Justiça concedesse liminar congelando a aplicação dos novos níveis de cobrança.
A gestão promete apresentar recurso à decisão. “Quando discute IPTU progressivo, cobrando mais de quem pode mais, cobrando menos de quem pode menos, você está discutindo a fonte de financiamento de um Estado de bem-estar social que ainda está muito no começo no Brasil. Tem muito para avançar”, defende o prefeito, que parece manter uma característica que ajudou a levá-lo ao cargo: a clareza de ideias, a intenção de enxergar os macroproblemas a partir das microsituações, a transferência das ideias do acadêmico ao mundo da execução política e a consciência de que, na macropolítica, a filosofia de gestão é um espaço demarcado de disputa de projetos.
“Está em discussão no Brasil o modelo de Estado que nós queremos. Queremos o Estado mínimo, acreditando que o mercado vai resolver os problemas da população mais pobre, ou queremos um Estado com protagonismo, que tenha condições de dar resposta às questões sociais?”
Questionado se não gosta de fazer política, como se tem ouvido em bastidores até no meio petista, ele afirma que apenas vê sentido em que as pessoas se dediquem a algo voltado ao interesse comum, visão que tem de ser resgatada no país. Na conversa, Haddad volta a cravar que não tem problemas em sacrificar sua reeleição e reitera que entende a política como uma prática voltada à construção de soluções para o cidadão. Considera que o fundamental é pensar projetos de longo prazo e garantir a máxima execução possível nos quatro anos a que tem direito, sem que se deva preocupar se as futuras administrações darão sequência a isso ou não.
Ao traçar um balanço da gestão, Haddad parece satisfeito com aquilo que prometeu pouco mais de um ano atrás: Bilhete Único Mensal e eficiência no transporte público, Arco do Futuro, revisão do Plano Diretor Estratégico, melhoria dos serviços de saúde. Se terá tempo para fazer tudo, não sabe, mas entende que uma região da cidade estará transformada rapidamente. “A zona leste vai mudar. Vou dar alguns exemplos. Ficando pronto o Rodoanel Leste, os caminhões saem da Jacu-Pêssego. A Jacu-Pêssego, juntando com o polo de Itaquera, é a zona incentivada da prefeitura. O que queremos é geração de emprego. Você vai ver uma grande transformação física. Conglomerados econômicos, dois ou três, vão investir ali para geração de emprego. Talvez tenhamos uns 100 mil empregos.”
A principal fonte de preocupação do petista continua a ser a mesma, e nada indica que será outra quando encerrar o mandato: a baixa capacidade de investimento da Prefeitura de São Paulo. R$ 18 bilhões de pagamento de precatórios, R$ 55 bilhões de dívida, R$ 2 bilhões a menos graças ao congelamento da tarifa de transporte público e R$ 1 bilhão da decisão judicial do IPTU somam um montante muito superior ao orçamento anual de R$ 40 bilhões. A esperança reside agora no sinal verde do Ministério da Fazenda para que o Senado vote a renegociação da dívida de estados e municípios com a União, o que, espera, virá até fevereiro.
Na conversa, o prefeito afirmou ainda que a mudança de modelo de gestão das subprefeituras entra agora numa segunda etapa. Neste primeiro ano de mandato, Haddad apostou na desmilitarização das estruturas, legado de Gilberto Kassab (PSD). Agora, com a eleição dos integrantes dos conselhos participativos municipais, o petista imagina ser possível aproximar representantes populares eleitos da administração da cidade.
Confira aqui trechos da entrevista conduzida por Eduardo Maretti, da RBA, Renato Rovai, da revista Fórum, Maria Inês Nassif, da Carta Maior, Paulo Henrique Amorim, do Conversa Afiada, e Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania.