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Acompanhem a entrevista concedida ao blog pelo escritor Fernando Morais, que condena a superexposição na forma como as prisões e deslocamentos dos presos foram conduzidos. Sobre o julgamento, Morais é taxativo: “Estamos diante de um tremendo erro judiciário”.
Fernando, qual sua análise do julgamento?
Sempre fui muito pessimista em relação ao desfecho desse processo. De todas as pessoas que estavam próximas do Zé Dirceu, do Genoino, e de outros, eu sempre fui dos mais céticos, não acreditava que isso terminaria de outra maneira. O desenrolar do processo indicava isso.
Agora, o que mais me surpreendeu nisso tudo é essa superexposição a que estão submetidos os presos. Da forma como conduzem as prisões, os deslocamentos, parece haver a nítida intenção de expô-los à execração pública. Da forma como conduzem essas ações nada mais é do impor-lhes uma pena adicional a que eles não estavam condenados.
No auge da perseguição que sofreu de Joseph Stalin na União Soviética, Trotsky disse que “a pior das agressões a uma pessoa, a um cidadão, é expor-lhe a humilhações, porque elas desarmam o indivíduo e o agridem no essencial de sua dignidade”.
E mesmo com a saúde frágil do Genoino…
Sem falar no Genoino, de quem não quero, não posso e não consigo falar, ainda… Em qualquer parte do mundo um cardiopata como ele tem direito a tratamento, assistência médica completa, a uma internação hospitalar, a uma alimentação condizente com o seu estado. E eu li uma entrevista de uma das filhas dele dizendo que ele está comendo sanduíches, porque nem deixam a família levar-lhe comida.
Zé Dirceu e os demais desse processo são vítimas de um aberrante, um tremendo erro judiciário. É sempre arriscado fazer avaliações políticas no calor dos acontecimentos, embora esse julgamento, desde o início do processo, seja eminentemente político. Mas, na hora que baixar a poeira, quando os ânimos serenarem, o Brasil descobrirá que nós estamos diante de um tremendo erro judiciário.
Você atuou no documentário do Raimundo Pereira “AP470 – o julgamento medieval”.
Sim, eu ajudei o jornalista Raimundo Pereira na pesquisa e na elaboração do documentário “AP 470 – o julgamento medieval” (clique aqui e confira o vídeo). Ali, com a obsessão do Raimundo pelo detalhe, pela minúcia, pela precisão, o erro judiciário fica absolutamente claro. Ele prova e comprova a exaustão que o dinheiro público dessa história, os R$ 74 milhões da Visanet, que constituem o maior montante que, dizem, foi usado no mensalão, na verdade foram empregados no pagamento de publicidade e patrocínios normais do cartão que se chamava Visa e hoje é Cielo.
No caso, a maior parte foi em pagamento de publicidade e de patrocínio às meninas do vôlei, ao tenista Guga… E boa parte desse dinheiro foi para premiar gerentes do Banco do Brasil, em bônus e prêmios porque como qualquer outro, o Banco do Brasil estabelecia cotas de venda de cartões para seus gerentes e os bonificava, os premiava quando eles as atingiam.
A disparidade das penas também é outro dado que chama atenção. Por exemplo, Ramon Hollerbach, ex-sócio do Marcos Valério, foi condenado a 29 anos, 7 meses e 20 dias de prisão. O goleiro Bruno, do Flamengo, que mandou matar a namorada, esquartejá-la e distribuir seus restos aos cachorros, foi condenado a 22 anos de prisão. Isso dá bem a medida do que é a justiça no Brasil.