De saída da liderança do PSDB na Câmara Federal, deputado vê o partido de Eduardo Campos como par perfeito para o projeto tucano
Tércio Amaral
RECIFE — As roupas esportivas, no primeiro momento, disfarçam um traço marcante de sua personalidade: o discurso forte que adotou como líder do PSDB na Câmara. Aos 40 anos, o advogado pernambucano Bruno Araújo se despede da liderança tucana contabilizando um saldo positivo: o crescimento do partido nas regiões Norte e Nordeste, nas eleições municipais; a consolidação do nome do senador Aécio Neves (MG) como candidato do partido à Presidência em 2014; e uma postura mais forte na oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT). Em entrevista ao Correio, o tucano faz uma análise da política nacional, sem esquecer dos temas ligados ao PSDB de Pernambuco, como a "aliança branca" do partido com o governador Eduardo Campos (PSB).
Como o senhor avalia a atuação do PSDB no contraponto ao overno petista?
Eu acho que a oposição participou de momentos importantes, como a redução da atenuante das dívidas previdenciárias daqui a 20, 30 anos, e a criação do Fundo de Previdência do Servidor Público. Algo que o PSDB tentou implantar com o governo FHC e que houve todo o tipo de restrição do Partido dos Trabalhadores (PT). Este ano, o fundo foi constituído porque teve um encaminhamento favorável. O PSDB não agiu como o PT agiu quando não era governo. O PSDB também teve um momento fantástico quando garantiu numa medida provisória (MP) a retirada de todos os impostos federais dos produtos da cesta básica. Foi uma vitória política que esbarrou no veto da presidente Dilma, que prometeu para o início deste ano uma comissão interministerial para estudar como fazer essa redução. E essa comissão, até hoje, não se reuniu.
Qual foi o aprendizado do senhor como líder da bancada?
Acho que quem constrói uma formação política em Pernambuco, com a diferença de pequenas nuances, está preparado para se fazer no plano nacional. Após esses seis anos como relator-geral da Receita Orçamentária, como presidente de comissão, como líder de partido, a gente passa a ter uma visão muito clara não só do funcionamento do Congresso, mas, sobretudo, das nossas diversidades regionais, da compreensão da sintonia do discurso adotado tanto por Aécio Neves (senador do PSDB) quanto por Eduardo Campos (governador de Pernambuco) na discussão de um novo pacto federativo. Fica claro como os recursos e os tributos apurados pelo país estão concentrados em Brasília em detrimento de onde, de fato, há demandas, que são os estados e os municípios.
Como o senhor avalia o veto da presidente Dilma à partilha dos royalties do petróleo?
A presidente Dilma não conseguiu fazer com que os 26 estados brasileiros mais o Distrito Federal conseguissem uma composição com outros dois estados, que são agentes dessa construção. Ela fez o que é mais fácil, mas que sempre gera um efeito colateral. Ela jogou essa decisão para o Congresso Nacional sabendo que, quando se joga isso para o Congresso, através de um veto, cria-se uma cultura de que o veto é como jogar a sujeira debaixo do tapete. Mas, dada a importância nacional da mobilização desses recursos, o Congresso deixou claro que não vai aceitar que esse veto entre para a lista dos 3 mil que nunca foram apreciados. É tarefa do Congresso Nacional apreciar os vetos, mas, neste caso, infelizmente, fica a constatação de que uma presidente da República não conseguiu agir como chefe de Estado e construir um entendimento entre as unidades da Federação. Não há, por parte dos pernambucanos, nenhuma relação de desrespeito em relação ao carioca ou ao capixaba. O que há de parte de todos nós é a compreensão de que fazemos parte de um único país e, quando falarmos de riquezas oriundas do subsolo, todos tenham a sua participação. Pela inabilidade da presidente Dilma, esse assunto será resolvido pelo Congresso com a derrubada do veto, no dia 13 (de fevereiro).
E qual a sua avaliação do governo da presidente Dilma?
Primeiro, do ponto de vista da presidente-gerente, se nós fizermos uma análise muito fria, vamos perceber que é o segundo ano da gestão Dilma Rousseff onde nós teremos um Produto Interno Bruto (PIB) próximo de zero. Consequentemente, falta muito para a presidente Dilma confirmar a fama de uma boa gerente. Do ponto de vista da presidente Dilma líder, chefe de Estado, nós assistimos muito mais o presidente Barack Obama (dos EUA) do que a presidente Dilma. Ela é reclusa no Palácio e só fala para o Brasil em cadeia de televisão duas vezes ao ano, ou fala através de suas ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Eu acho que faria melhor se a presidente falasse mais ao país.
E em relação à próxima eleição, o PSDB alimenta o sonho de uma dobradinha entre Eduardo Campos e Aécio Neves em contraponto ao governo petista?
O governador Eduardo Campos inseriu Pernambuco como um dos protagonistas no cenário nacional, falando em eleições presidenciais. A inserção do governador de Pernambuco no ambiente de uma pré-candidatura presidencial faz bem ao ego do pernambucano. Eu acho que as candidaturas começam a se delinear: a de Aécio Neves, do meu partido, e a de Eduardo Campos, do PSB, podem marcar um novo ciclo da política nacional. Um ciclo da modernidade, do eleitor que procura gestões eficientes, que tratam da vida real do brasileiro. Eu diria que a inserção de Eduardo nesse contexto faz muito bem à história política de Pernambuco. Ele tem um papel hoje maior do que qualquer vice em qualquer chapa. Eu espero que estes projetos consolidados de uma disputa presidencial de Eduardo e de Aécio em algum momento possam convergir para o que faça bem ao país.
E por que essa relação não é tão clara em Pernambuco?
Sobretudo pela simbologia. Apesar dessa boa relação nacional entre tucanos e socialistas, o PSB tem ainda, sobretudo, um compromisso muito firme com o governo do PT. E o PSDB tem, em relação ao PT, seu principal adversário nacional. Eu acho que esta tese (da nacionalização do palanque de Pernambuco) manteve um cuidado importante nas aparências entre os dois partidos.
Fonte: Correio Braziliense