Fernando Exman
BRASÍLIA - Com as articulações para a eleição presidencial como pano de fundo, o ministro do Trabalho, Brizola Neto, e o presidente do PDT, Carlos Lupi, intensificaram nas últimas semanas a disputa pelo comando da sigla. A próxima eleição para a presidência do partido está prevista para março de 2013. Seu resultado deve indicar qual será o destino do partido em 2014, e, por isso, é acompanhado de perto pelo Palácio do Planalto.
Na avaliação de pedetistas e articuladores políticos do governo, uma eventual vitória de Brizola Neto seria a garantia de que a legenda integrará a chapa a ser encabeçada pela presidente Dilma Rousseff em sua campanha à reeleição já no primeiro turno. Não à toa, o ex-deputado Carlos Araújo, ex-marido de Dilma, já se movimenta para tentar retornar ao PDT a fim de apoiar a família Brizola na disputa.
Já a permanência de Lupi à frente do PDT, partido que Dilma ajudou a fundar no Rio Grande do Sul antes de filiar-se ao PT, é vista como uma "incerteza". Depois de demitido pela presidente do Ministério do Trabalho, o ex-ministro passou a emitir sinais divergentes em relação à posição que a sigla adotará nas próximas eleições presidenciais. Já manteve conversas com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ambos cotados para disputar a sucessão de Dilma. A correligionários, também não descarta a possibilidade de o partido lançar candidato próprio.
Brizola Neto: bandeira de seu grupo será a falta de democracia interna
Uma ala da sigla já defende o nome do senador Cristovam Buarque (DF), que, embora seja entusiasta da existência de um candidato à esquerda de Dilma em 2014, ainda se mostra reticente à ideia de personificar esse projeto. Além de preocupar-se com a possibilidade de sua candidatura à Presidência não ser bem aceita por seus eleitores no Distrito Federal, o senador acredita que a divisão do PDT fragilizaria um eventual candidato pedetista. Assim, Cristovam defende que o partido realize debates em todos os Estados sobre o assunto, o que garantiria maior legitimidade e representatividade ao candidato pedetista que emergisse dessas discussões.
"O Brizola significa o alinhamento total ao projeto Dilma-PT. O Lupi pode significar outra coisa", resume Cristovam Buarque, para quem o atual modelo de social-democracia brasileiro está esgotado. "É uma alternativa de alinhamento ou de independência."
Como bandeira, o grupo liderado por Brizola Neto critica a falta de democracia interna no PDT. "Entendo que todas as decisões deveriam ser tomadas de forma coletiva dentro do partido, o que não vem acontecendo. O estatuto está datado, é da época do meu avô. O estatuto não foi feito por Brizola, mas para o Brizola. O que não dá mais é que um presidente se perpetue no poder sem ter representação e identificação popular", argumenta a irmã de Brizola Neto, Juliana Brizola, deputada estadual pelo PDT no Rio Grande do Sul. "A gente entende que é muito importante esse caminhar com a presidente Dilma. Para mim, a Dilma é o meu avô Leonel Brizola na Presidência da República. E melhor: ela é mulher."
Aliados de Lupi, porém, asseguram que o atual presidente do PDT conta com o apoio da maioria do partido para permanecer na função. "Ele é candidato à reeleição, e a ampla maioria apoia a reeleição dele. Isso não quer dizer que não haja contestação, mas essas são posições claramente minoritárias", rebate um parlamentar próximo ao ex-ministro do Trabalho, sob a condição do anonimato. "Estão usando o nome dela [Dilma] em vão. Acho que ela não se intrometeria em uma questão interna do partido."
Para alguns pedetistas, entretanto, Dilma não tem alternativa. Precisará influenciar a definição do próximo presidente do PDT, caso queira já garantir o partido ao seu lado em 2014. "Com o Lupi, o PDT não deve ir com Dilma. E hoje tem um sentimento contra o governo [na bancada do partido no Congresso]", diz um parlamentar da sigla, lamentando a falta de interlocução com o Palácio do Planalto. "A impressão que ficou é que a Dilma só atende bem em época de eleição."
Em meio à disputa, rumores circularam no meio político com o objetivo de enfraquecer ambos os lados. Adversários de Lupi chegaram a dizer que, caso ocorresse uma ruptura entre o PT e a presidente, Carlos Araújo abriria caminho para Dilma também retornar ao PDT. Já aliados do presidente pedetista aventaram a possibilidade de o ex-deputado Ciro Gomes (PSB) filiar-se ao PDT para disputar a Presidência da República contra Dilma. A veracidade de ambos os boatos é rechaçada pelos envolvidos.
Juliana Brizola, por exemplo, diz não ver razão para Dilma deixar o PT. Mas não esconde o entusiasmo com a ideia de ver a presidente de volta aos quadros do PDT: "É o meu sonho e de muita gente no partido".
Fonte: Valor Econômico