Disposição do presidente de imiscuir-se como mediador na disputa com o Irã transformou o entusiasmo do governo Obama pelo Brasil em perplexidade
O bom governo do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, termina no final do ano - e algumas pessoas já falam dele como um possível candidato a suceder Robert Zoellick na presidência do Banco Mundial, ou mesmo Ban Kimoon, na secretaria-geral da ONU.
De um lado, o Brasil pode passar de uma expressiva potência regional, cuja importância costuma ser definida em parte pelo modo como conseguiu moderar esse fortalecimento das instituições conduzido pelos EUA, para um tipo diferente de participante responsável que deseja estar na primeira fileira das nações que estão reescrevendo um contrato social globalmente inclusivo.
A viagem de Lula ao Irã e seu entusiasmo para inserir-se como mediador entre o Irã e as potências da ONU mais a Alemanha estão cheios de riscos que podem comprometer as aspirações do Brasil de ser incluído nas mais poderosas instituições do mundo. Teerã e o Ocidente estão num sério impasse envolvendo as intenções nucleares iranianas, e os EUA e o Conselho de Segurança da ONU elaboram sanções contra o Irã.
Há dois resultados possíveis da viagem de Lula a Teerã. Em primeiro lugar, os esforços bem intencionados do presidente para acalmar uma das crises mais tensas do mundo, podem no final convencer Teerã de que tem uma porta de saída dessa muralha que os EUA tentam erguer em torno do Irã.
Lula poderia talvez ser a pessoa que ajudaria o Irã a prosseguir de uma maneira oposta ao que ocorre hoje, mas, nesse caso, ele não pode se permitir ser visto como uma pessoa que concorda ou promove o comportamento estridente do Irã. A realidade é que os EUA ainda são um parceiro global vital que pode fortalecer ou restringir as aspirações das novas potências.
A decisão de Lula de entrar no jogo EUA-Europa versus Irã transformou o entusiasmo do governo Barack Obama pelo Brasil e Lula em perplexidade: há dúvidas sobre o julgamento do Brasil. Alguns membros do alto escalão do governo e políticos acham que, exatamente no momento em que Lula conseguiu que os EUA se dispusessem seriamente a defender a inclusão do Brasil numa reformulação do Conselho de Segurança, o país resolve se envolver na enrascada iraniana. A posição de Lula não é necessariamente a de um mediador justo e imparcial, mas, curiosamente, parece mais a de um defensor da posição do Irã.
Alguns observadores acham que, além do problema de Lula decepcionar no caso do Irã, será o seu julgamento que pode potencialmente se tornar um obstáculo nessa questão que é uma das mais urgentes prioridades dos EUA e da Europa. Falta de habilidade política - talvez. Ou, pelo menos, uma aposta muito alta que terá um grande custo, associado ao desapontamento.
Acho que essa situação ainda pode ser manejada, dependendo da posição de Lula quando estiver no Irã, de sua disposição para comunicar-se nos bastidores com os EUA e se, como resultado de sua gestão, alguma mudança for produzida na recalcitrante posição iraniana.