Questão Agrária e o que não sai na manchete por aí!

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  • domingo, 28 de março de 2010
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  • Já foi postado aqui no blog o quão difícil é viver em um país que simplesmente não apura os crimes (e, consequentemente, não pune os responsáveis) pela Ditadura Militar.

    Grande parte dessa situação, ao meu ver, dá-se pelo fato de o Brasil não romper suas tradicionais estruturas autoritárias. Na verdade, sequer superou devidamente suas questões coloniais. Exatamente! Entre outros fantasmas de uma passado colonial que ainda nos assombram, padecemos de uma estrutura agrária tão arcaica quanto as capitanias hereditárias, as sesmarias e as plantations!


    Mas tudo bem! Dou a mão à palmatória, ou melhor, às costas à chibata. Tiro meu chapéu para as pessoas e instituições que conseguem manipular quase 190 milhões de pobres almas (uau! cante um hino e ganhe um país) fazendo com que sintam nojo e ódio de algo que sequer já pensaram a respeito: um monstro  pavoroso chamado reforma agrária!... dá mesmo um medão, não dá?!

    Reconheço, por exemplo, que não é nada fácil ser como a Veja. Gente! Imagine só você ter de ficar sempre, sempre, sempre produzindo escândalos sobre factóides inventados por si mesmo e conseguir com que grande parte da população (que, aliás, não tem sequer 1cm de terra) assuma a defesa dos latifundiários e da concentração fundiária como se defendesse a própria honra.



    Muito árdua e penosa também é a tarefa da  igualmente árdua e penosa senadora Kátia Abreu (do DEMO de Tocantins, pré-candidata ao governo do mesmo estado). Imagino que enquanto pecuarista latifundiária que é, dá muito trabalho ficar distorcendo verdades óbvias, latir contra contra os movimentos sociais do campo e ainda por cima liderar a bancada ruralista no governo (a chamada Frente Parlamentar da Agropecuária - FPA).

    É um trabalho sujo, mas alguém tem que fazer... e como fazem bem!

    Senadora Kátia Abreu e sua fonte imparcial de dados e teorias

    E já que esses pessoalzinho malvadão adora distorcer a verdade,  não quero que eles percam a forma, sobretudo em ano e eleições. Quero ver como que eles irão travestir as informações que estão circulando por aí, mas que obviamente você não leu nas manchetes dos grandes veículos de comunicação! No máximo em uma notinha de rodapé.

    Por exemplo, a Mônica Bergamo soltou uma matéria na Folha de São Paulo comentado sobre uma investigação da Confederação Nacional da Agricultura (CNA - entidade dos latifundiários cuja presidente é a própria Kátia Abreu) realizada em 1.020 fazendas constatando que nem 1% delas cumpre as leis trabalhistas no campo! Isso mesmo: menos de 1%! 

    O relatório, assinado por professores da Universidade Federal de Minas Gerais e da FGV-SP, será divulgado na próxima semana, demonstrando os flagrantes de trabalhadores sem carteira assinada, alojamentos inadequados e que costumam almoçar ali mesmo na plantação, com terra, herbicidas e sei lá mais o que de coisas super saudáveis, sem refeitórios apropriados, etc. 

     
     E não é só! Em uma matéria do site do MST, é apontado que o Tribunal de Contas da União (TCU) detectou irregularidades em convênios firmados entre o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e a Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp). 

    Entre 2000 e 2006, cerca de R$ 884 milhões saíram dos cofres públicos para o Senar. O TCU comprovou que esse dinheiro foi destinado, entre outros alvos, ao custeio da máquina de duas entidades patronais. Os responsáveis pela utilização indevida da verba foram condenados a devolver mais de R$ 4 milhões aos cofres do Senar.E ai, o que você leu na imprensa sobre isso?

    Da mesma forma que exige CPI para investigar o MST, será que a Kátia Abreu vai exigir uma investigação mais apurada sobre esse fato?

    Mas é claro que não! Ao contrário, a bancada ruralista está se armando até os dentes para a guerra eleitoral em curso em 2010.

     
    Recentemente o jornal Valor Econômico, em uma reportagem de Mauro Zanatta, apontou que cerca de 2 milhões de ruralistas estão realizando uma mobilização para dobrar o número de parlamentares ligados à bancada ruralista no Congresso Nacional.

    Isso ocorre com base em uma lei eleitoral de setembro de 2009 (Lei nº12.034) permite a doação de até 2% do faturamento bruto de sindicatos rurais, federações e cooperativas agrícolas para as campanhas de seus políticos. Futuros aliados na hora de fazer desvio de dinheiro!

    E quando é que tudo isso vai sair na capa da indispensável Veja?

    Em 17 de abril iremos completar 14 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, onde o governo do Pará assassinou 19, mutilou 69 e feriu outras centenas de trabalhadores rurais (no ápice da era FHC). Com uma artilharia pesada como essa que está vindo da bancada ruralista (inclusive com desvio de dinheiro público) qual o cenário que podemos esperar?


     
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