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CQC e Pânico estão em decadência?

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Por Altamiro Borges

Na semana passada, o “irreverente” programa CQC, da Band, deixou o humor de lado e teve ares de velório. Segundo registro de Paulo Pacheco, do sítio Notícias da TV, “durante a despedida de Monica Iozzi, na noite de segunda-feira (23), o apresentador Marcelo Tas cutucou ex-integrantes que saíram fazendo críticas ao programa da Band. ‘Eu espero que você não saia falando mal do CQC para aparecer na mídia, como algumas pessoas fazem e que ficam eternamente um ex-CQC. Você não tem o direito de ser uma ex-CQC’, alfinetou Tas”.

O sítio lembra que o programa, conhecido por suas técnicas invasivas e sua cruzada fascistóide contra os políticos, já perdeu vários integrantes. Quando deixou o CQC, em 2012, Rafael Cortez, saiu atirando: “A gente teve que se submeter a essa coisa de cobrir celebridades, de falar com pessoas públicas, de ir a festas, porque o nosso público exige isso", criticou. Outro que não poupou críticas foi o tresloucado Rafinha Bastos, que saiu do CQC em 2011. “Virou um programa de bundão”, afirmou o ex-integrante no programa Roda Viva, da TV Cultura.

Na ocasião, Marcelo Tas reagiu irritadinho no Twitter: “Por que ao invés de assistir e julgar o CQC, esse rapaz não cuida do programa dele que vive às traças e traços?", afirmou, referindo-se ao “Saturday Night Live”, programa de Rafinha Bastos que fracassou na Rede TV. Agora, com a saída de Monica Iozzi, o chefão do CQC volta a manifestar seu incômodo e falta de humor. Mas não é apenas o CQC que está em crise. Outro programa invasivo, o Pânico, também da Band, parece não viver bem das pernas.

Na semana retrasada, a principal estrela do Pânico da Band, a apresentadora Sabrina Sato, confirmou a sua contratação pela concorrente Record. Não houve sequer despedida na sua saída. Keila Jimenez, em sua coluna na Folha, apontou a provável causa da surpreendente mudança. “Ex-BBB, Sabrina integra o ‘Pânico’ desde 2003, quando o programa era exibido pela RedeTV!. A atração, que desde abril de 2012 está na Band, sofre uma crise de audiência: enquanto na estreia a média atingida era de dez pontos, no mês passado foi de 5,7 pontos”.

Em outra coluna, Keila Jimenez esmiuçou o problema: “Com um dos maiores orçamentos de produção na Band e grandes salários, o ‘Pânico’ vem enfrentando sua pior crise de audiência na emissora... Atualmente, o programa briga pelo quarto lugar em ibope aos domingos, registrando audiência média de 5,7 pontos. Cada ponto equivale a 62 mil domicílios na Grande São Paulo. No último domingo (10), o programa deu um susto na Band, ao registrar cinco pontos. Essa é a audiência da atração quando ela está em período de férias, com a exibição de reprises”.

“Acontece que o ‘Pânico’ não só está indo ao ar ao vivo como também tem investido cada vez mais em sua produção. São muitas as coberturas de festas e eventos internacionais. Na edição passada, Sabrina Sato chegou a fazer uma viagem de dois dias a Portugal só para entrevistar o ‘verdadeiro rei do camarote’. A emissora não revela valores, mas produtores dizem que o programa tem verba de cerca de R$ 400 mil mensais. Isso sem contar os salários dos integrantes e a divisão de lucros fruto do faturamento da atração, um dos melhores da Band”.
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A violência "sem regras" do UFC

Por Haroldo Ceravolo Sereza, no sítio Opera Mundi:

A grave contusão de Anderson Silva e o interesse generalizado pelo destino do ex-campeão expõe, mais uma vez, a popularidade dessa luta incrivelmente aceita que é o UFC, o Ultimate Fight Championship – a grande competição mundial de artes marciais mistas, ou MMA.

As disputas de MMA surgiram nos anos 1990, e substituíram em prestígio, especialmente entre o público masculino, o boxe. Embora essas lutas tenham, conforme passaram a se tornar atração televisiva (especialmente no Pay Per View), adotado algumas restrições – proibiu-se o “dedo no olho”, o puxão de cabelos e o ataque a genitais, por exemplo -, o esporte foi criado e prosperou como negócio sob o slogan “There are no rules!”, ou seja, nada de regras.

A proposta inicial era criar uma espécie de competição entre as diversas artes marciais, sem diferenciação de peso (isso foi mudado depois das primeiras edições do UFC), para que os “especialistas” nas modalidades – boxe, kung fu, karatê, kickboxing, jiu-jítsu – se enfrentassem e se chegasse à conclusão de qual seria a mais completa e eficaz arte marcial.

Como na economia neoliberal e na natureza darwinista em sua simplificação mais improdutiva, a lógica era “que vença o mais apto” (Darwin pensa nos limites naturais como um fator de diversificação, a seleção que em geral estimula a diferença e, ao cabo, a convivência, e não a destruição de todos pelo mais forte). Mas o que aconteceu de fato nesse ambiente da luta sem regras pela sobrevivência no octógono?

O MMA não levou ao aprimoramento das artes marciais. Pelo contrário: as artes marciais se dissolveram em um grande vale-tudo. Quando é preciso ter uma regra que iniba o puxão de cabelos e o “dedo-no-olho”, é porque na prática tudo é permitido.

Nesse ambiente, a lesão de Anderson Silva não é um mero acidente, é consequência lógica de um tipo de luta que não tem muito pouco de arte e um excesso de guerra. Não se sabe ainda como não passou pela cabeça dos organizadores a ideia genial de por um homem para lutar com um felino de grande porte. Que vença o melhor, afinal.

Há algo de infantilmente belo em todas as lutas marciais. A ideia de treino, de dedicação, de perfeição pela repetição é algo de fato admirável. É essa beleza que explica sucessos como a série Karatê Kid e que inspira a filosofia que está por trás, por exemplo, do karatê e do judô.

Mas toda essa beleza convive com a ideia do grotesco, especialmente quando o respeito ao saber e ao conhecimento do adversário sucumbe diante da ideia de que o melhor espetáculo não é o do movimento perfeito, mas o da violência absoluta. Aquela que não apenas dá cabo ao adversário, mas que o destrói e o desfigura.

Nunca fui um fã de boxe, mas confesso que, ao abrir os portais de internet neste ano da graça de 2013 que não acaba, fiquei com saudades daquele bom moço chamado Mike Tyson. Para não falar de Mohammed Ali, Sugar Ray Leonard, George Foreman e Éder Jofre.
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Em 2014, segue a batalha das ideias

Editorial do sítio Vermelho:

Durante o ano que se encerra, foi vasta, intensa e multidimensional a batalha das ideias. O Portal Vermelho sente-se gratificado por ter integrado uma das trincheiras dessa luta e, ao mirar retrospectivamente o caminho percorrido, constatar que as forças comunistas, revolucionárias, progressistas, de esquerda consequente deram novos passos na afirmação das suas convicções.

Na luta de ideias, aspecto inseparável do conjunto da luta política e social de classes, confrontamo-nos no cotidiano com o poderoso arsenal de ideias conservadoras e retrógradas, elaboradas segundo o figurino dos interesses do imperialismo, da burguesia monopolista-financeira, oligarquias agrárias e proprietários dos meios de comunicação/indústria cultural.

O pano de fundo desta luta, o cenário objetivo em que se desenrola, é a conjuntura mundial e nacional caracterizada por embates entre as forças conservadoras e as progressistas, pela crise do capitalismo, por abalos e transições na “ordem” mundial, por rivalidades interimperialistas, lancinantes conflitos, agressões aos povos, ameaças à paz advindas das potências dominantes e pelas lutas dos povos por sua emancipação nacional e social.

Como intérprete e porta-voz da corrente comunista, o Portal Vermelho se empenhou na difusão de um programa de luta pelo socialismo em nosso País, em sintonia com o desenvolvimento do curso político real e as aspirações do povo brasileiro. Nas condições concretas do Brasil deste início do século 21, a luta pelo socialismo entrelaça-se com as grandes bandeiras nacionais e populares: pelo desenvolvimento, a soberania nacional, o aprofundamento da democracia, a solução dos graves problemas sociais, as reivindicações dos trabalhadores e de todo o povo, as reformas estruturais democráticas. É uma luta em que as vertentes patriótica, democrática e social formam um todo único e inseparável e dão substância à mobilização do povo brasileiro e das amplas correntes políticas e sociais que o representam.

Do ponto de vista dos comunistas, o ano de 2013 foi pontilhado de acontecimentos – que culminaram na realização do 13º Congresso do PCdoB. Muito se acumulou em termos de amadurecimento de uma organização política que possui apurado referencial ideológico. Tomou ainda maior nitidez a luta pelo socialismo, a afirmação do caráter revolucionário do partido, sua identidade comunista, seu caráter de classe como intérprete e defensor das aspirações mais sentidas das classes trabalhadoras. Faz parte desse amadurecimento a defesa e desenvolvimento criador da teoria marxista-leninista nas condições peculiares da presente época e do desenvolvimento concreto da realidade objetiva nacional e mundial.

Foi o ano de 2013 um período rico para o desenvolvimento da luta de ideias também no âmbito do exercício do internacionalismo proletário. Fez parte do nosso cotidiano a denúncia das mazelas do capitalismo, a análise das contradições inarredáveis desse sistema, da sua crise geral e estrutural. Inseriu-se nesse quadro o combate às políticas de guerra do imperialismo estadunidense e demais potências a este aliadas, a denúncia dos crimes do sionismo, a oposição às políticas neoliberais, antidemocráticas e militaristas de governos conservadores mundo afora. Nesse combate, afirmamos os direitos dos trabalhadores, suas aspirações, assim como os valores da paz, da justiça, do progresso social, da soberania nacional, do direito internacional, da autodeterminação das nações e dos povos.

As forças progressistas e revolucionárias empenharam-se pela afirmação de suas ideias em meio a uma guerra midiática que se iguala a uma espécie de terrorismo, a “guerra fria” da atualidade, uma guerra em que o inimigo usa mentira e a manipulação como norma e arma. Os meios de comunicação a serviço do imperialismo estadunidense e seus aliados se transformaram em uma verdadeira usina de mentiras e na trincheira privilegiada de orientação e ação das classes dominantes.

As forças transformadoras que se dispõem a figurar na vanguarda da luta pelo socialismo têm nas ideias revolucionárias o indispensável referencial de identidade e orientação para a formulação correta de suas linhas estratégicas e as necessárias flexões táticas e políticas de alianças.

Neste contexto, é animador que partidos comunistas à frente de países socialistas, imersos na realização da gigantesca tarefa de atualizar seus modelos de desenvolvimento, tenham recentemente reiterado em pronunciamentos oficiais dos seus principais dirigentes a vigência do socialismo e proclamado a atualidade de sua linha política geral, missão histórica e ideologia.

A batalha das ideias se projeta também para 2014, tão aguda quanto no período precedente e com novos e maiores desafios.
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Um Bolsa-Dondoca pra madame da Folha

http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br/
Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Enquanto Lula e Dilma se preocupavam com futilidades como tirar dezenas de milhões de brasileiros da pobreza extrema, em implantar o virtual pleno emprego no país, em fazer a renda média do trabalhador bater recordes sucessivos de crescimento, em levar médicos a regiões em que muitos nunca foram atendidos por tais profissionais durante toda uma vida, aqueles que realmente importam neste país foram deixados à míngua.

A crueldade da ditadura lulopetista, porém, ultrapassou todos os limites com o recente aumento do IOF sobre os gastos dos turistas brasileiros no exterior. Esse governo sádico acaba de impor mais uma sevícia a essa pobre classe social rica que, lá se vai mais de uma década, vem sendo submetida a torturas cada vez mais diabólicas e que agora, para completar, nem pode mais buscar refúgio consumista em Miami.

Para se refazer das agruras nacionais, as madames e os doutores podiam ir obter suas bolsas Prada, seus X-Box ou mesmo um mísero burgundy Henri Jayer de 16 mil dólares em condições monetárias minimamente aceitáveis. Agora, no entanto, graças à perversidade de Dilma Rousseff tais condições ficaram insuportáveis.

É um crime de lesa-pátria, se não de lesa-humanidade. Só porque uma classe social que tem tanto do que reclamar – não é mesmo? – torrou vinte bilhõezinhos de dólares em compras de bugigangas no exterior, chegando a desequilibrar as contas externas do país, a imperadora vermelha baixou uma carga desumana de impostos sobre quem produz.

E o que é pior: para torrar tudo em programas sociais para uma gentinha que não faz a menor ideia do que são esses itens tão essenciais a qualquer pessoa com um mínimo de bom gosto.

Mas eis que surge uma heroína, fidedigna defensora dos pobres e oprimidos ricaços. Essa verdadeira Joana D’Arc dos Jardins e do Leblon tem nome e profissão. Eliane Cantanhêde, uma simples colunista de jornal, levantou seu brado retumbante contra a iniquidade lulodilmista.

Quem não leu o grito de indignação contra a crueldade rubra da presidente da República agora pode conhecer esse documento histórico que se ombreia à Declaração francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão – muito mais chique do que as declarações de direitos humanos sucedâneas.

O post, claro, prossegue em seguida, logo que o leitor tiver ingerido um copo d’água para arrefecer a emoção.

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Eliane Cantanhêde

Presente de grego no Natal

BRASÍLIA – Os viajantes brasileiros deixaram (deixamos) mais de US$ 20 bilhões no exterior neste ano. No fim das contas vai dar umas cinco vezes mais do que a compra de caças suecos para renovar a frota da FAB, a serem pagos durante décadas.

Em vez de aquecer a economia do Brasil, estamos movimentando o comércio e gerando empregos nos países alheios, sobretudo nos ricos. Miami passou a ser o principal destino da brasileirada, que volta com malas gigantescas abarrotadas de peças de grife e todo tipo de bugiganga.

Na versão cor de rosa do governo, tudo isso é resultado do sucesso: o país está bombando, e os brasileiros estão cheios de amor para dar e com montanhas de dinheiro para viajar e gastar. Mas a realidade é outra e tem um nome: preço. Os preços no Brasil estão pela hora da morte.

Numa tarde em Miami, sentei para tomar um café e me senti em casa, mas a minha casa é aqui. À mesa da direita, paulistas; à da esquerda, nordestinos. E havia três moças de Minas. Todos cheios de sacolas.

Na volta, fiquei vagando duas horas num shopping em São Paulo à procura de lembrancinhas de Natal e tudo o que comprei foram dois lencinhos de seda, só para não sair de mãos abanando. Ah! E gastei R$ 60 de estacionamento num único dia.

Os produtos nacionais viraram artigo de luxo, os importados custam três vezes mais que nos EUA. Nem as feiras e o comércio popular escapam. Imagine a aflição da maioria de trabalhadores ao procurar brinquedos, tênis e roupas para os filhos.

Não foi nenhuma surpresa saber que o comércio teve seu pior Natal em 11 anos. A surpresa ficou por conta da reação desvairada do governo: em vez de se preocupar e se ocupar com os preços internos abusivos, aumentou o IOF e penalizou os cartões de débito em moeda estrangeira. Falta pão? Suprimam-se os brioches.

Se o brasileiro ficar, o bicho preço come; se correr, o bicho imposto pega. Obrigada, presidente Dilma, pelo presente de grego no Natal.
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Essa classe que afirma, pela pena da colunista revolucionária, que não pode pagar os preços extorsivos do Brasil – e que, como mostra essa colunista, já não encontra por aqui os itens que lhe apeteçam o paladar consumista –, diante de tanta carestia teve que recorrer aos aeroportos que a ditadura petralha encheu de “paraíbas” e “baianos”.

Com tantos brasileiros vivendo nessas condições degradantes na ponte aérea Cumbica/Galeão-Miami, a presidente da República vai à televisão e ainda tem a petulância de reclamar do que fazem a colunista e seus coleguinhas ao alardear racionamentos de energia que teimam em não dar as caras, crises inflacionárias que não se materializam, surtos de desemprego que ninguém vê.

Aquela que um site dito “de homens bons” chama de “búlgara escarlate” bem que poderia, em seu pronunciamento do último domingo, ter anunciado um programa social para madames como a tal colunista. Uma espécie de Bolsa-Dondoca. Uns mil dólares mensais para cada membro da família. Para sacar o benefício bastaria procurar as boas casas de câmbio dos shoppings e dos aeroportos. Com câmbio subsidiado, claro.
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Ilusão e utopia na imprensa

Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:

Os jornais e revistas destes dias festivos trazem suas próprias versões dos fatos que consideraram mais relevantes no ano que termina. Em geral, são os acontecimentos que eles mesmos selecionaram ao longo do tempo, com os quais tentaram influenciar a opinião dos cidadãos.

Como a imprensa, de modo geral, há muito mergulhou no processo de espetacularização da notícia, tudo tem um certo ar de banalidade, como se o excesso de informações transformasse toda novidade em um ato a ser superado no momento seguinte.

As imagens remetem a um mundo de emoções misturadas: o lutador com a perna fraturada, a presidente da República denunciando guerra psicológica na economia, ruas vazias e praias lotadas, tudo acaba na conta do entretenimento.

Um olhar sobre o conjunto do universo mediado, que alguns chamam de hipermediado, passa a convicção de que o ambiente social, ou seja, o espaço público onde nos realizamos como seres sociais, está vazio de significados.

Se, como dizia Norbert Wiener, criador do conceito de Cibernética, o ciclo da comunicação reorganiza o mundo dos homens e das máquinas, criando uma resistência ao processo natural de nulificação, é preciso pensar se o que recebemos dos sistemas da mídia ainda é informação.

Boa parte do que a mídia apresenta como relevante não passa do conjunto de ilusões que formulam a estrutura simbólica da cultura de massa. Esse sistema institucional compõe um campo político próprio, com suas doutrinas e dogmas, e pode-se dizer que se assemelha muito ao sistema das religiões, onde a racionalidade é condicionada pelas crenças. Faz parte desse processo, por exemplo, tratar como ilusão as utopias coletivas, quase sempre apresentadas como objetivos inalcançáveis, em contraposição às potencialidades da vontade individual.

Uma dessas fantasias é exatamente a ideia de que existem seres superiores, capazes de produzir, por sua iniciativa particular, o paraíso capitalista. O ano de 2013 trouxe um exemplo catastrófico dessa ilusão específica, na figura do empresário Eike Batista.

Erigido a super-herói da iniciativa privada, ele montou um conglomerado de negócios com apoio do Estado, e tudo desmoronou quando se revelou que havia errado os cálculos de riscos numa empresa de petróleo. Quando foi à bancarrota, e sua fortuna caiu do patamar dos bilhões para “meras” centenas de milhões de reais, a imprensa passa a tratá-lo como um pária.

O padrão residual
Esse fato específico, visto a partir do final desastroso, dissimula o que se passa no dia a dia da imprensa. Em geral, se olharmos para trás, acompanhando a retrospectiva proposta por jornais e revistas, o que vamos ver é uma coleção de erros da própria mídia, com previsões que nunca se realizaram, avaliações que acabaram negadas pelos fatos, e análises que o tempo desmentiu.

No entanto, no apanhado seletivo do passado recente, omitem-se os erros e renova-se a crença na capacidade do sistema de produzir reflexões lineares que possam se amoldar à realidade complexa e multifacetada. Como em todo processo comunicacional se produz sempre um padrão residual de informações que se convenciona chamar de realidade, a imprensa trabalha esse resultado como se fosse a completa realidade.

O curioso exercício de ler as retrospectivas tendo ao lado aquilo que a mídia apresentou sobre cada fato em seu tempo mostra como esses padrões residuais se distanciam dos fatos reais.

Sabemos que o processo de educação de uma sociedade passa quase sempre pela capacidade de seus indivíduos de identificar os sinais de realidade em meio aos eventos ilusórios da vida. Um povo alienado dificilmente aprenderá a reconhecer e exercer seus direitos e deveres de cidadania e um dos papéis da imprensa é colocar na agenda pública as informações socialmente mais relevantes e os meios para sua compreensão.

Até que ponto a manutenção de ilusões favorece o conservadorismo? O que impede o sistema da mídia, poder estruturante da indústria cultural, de propor uma visão mais progressista do mundo?

Quando o ano termina e as pessoas se abrem a manifestações de boa vontade, os balanços de notícias poderiam ser úteis para captar o que seria o desejo coletivo de uma sociedade melhor. Mas a seleção da mídia é centrada em sua própria versão da história, uma versão particular que prefere a manutenção das coisas como elas sempre foram.

Muda o calendário, mas os dias são iguais.
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Como o PSDB controla a mídia em MG

Por Lúcia Rodrigues, no blog Viomundo:

A explicação para que o mensalão tucano e outros escândalos que envolvem políticos do partido não repercutam em Minas Gerais tem nome, segundo o deputado estadual Sávio Souza Cruz (PMDB-MG), líder do bloco Minas Sem Censura, na Assembleia Legislativa do Estado. Trata-se de Andréa Neves, irmã mais velha do senador Aécio Neves (PSDB-MG).

O parlamentar se refere a ela como a “Goebbels das Alterosas”, em uma clara alusão ao ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, que exercia forte controle sobre os meios de comunicação da Alemanha.

De acordo com Sávio, Andréa comanda o controle à mídia mineira com mão-de-ferro, para evitar que o irmão e políticos aliados sejam atingidos por notícias desfavoráveis.

Formada em jornalismo pela PUC Rio, Andréa integra desde 2003, quando Aécio assumiu o Executivo, o Grupo Técnico de Comunicação do Governo de Minas Gerais. O núcleo estratégico reúne representantes de empresas públicas e dos órgãos da administração direta, responsáveis pelas áreas de comunicação.

O deputado oposicionista relata que a maioria das empresas privadas sediadas em Minas está concentrada nas áreas de mineração, siderurgia e metalurgia, e que estas normalmente não são grandes anunciantes na imprensa local. Isso confere ao governo mineiro poder e controle sobre a mídia, por ter peso decisivo como anunciante preferencial.

Tudo dominado
É por isso que escândalos como o do mensalão tucano quase não reverberam nas páginas dos noticiários locais. Ao ser anunciante de destaque, o governo cuida de abafar o que o desfavorece. O controle exercido por Andréa evita que em Minas os tucanos apareçam de forma negativa na mídia.

Sávio tem esperança de que a situação se inverta, mas ressalta que a pressão exercida sobre os vários setores do Estado e da sociedade é praticamente total.

“Aqui tá tudo dominado… Produzimos um Aécinho Malvadeza. A Assembleia [Legislativa] está de joelhos. Se o governador mandar pra cá um projeto revogando a Lei da Gravidade, a Assembleia aprova. A imprensa, comprada, sempre disposta a publicar os releases da Andréa Neves. O nosso Ministério Público não denuncia os mal-feitos do governo. E o Tribunal de Contas se converteu em um tribunal do faz de contas”, denuncia.

Rompendo o esquema
Quando foi secretário de Administração do governo Itamar Franco, Sávio orientou o governador a romper todos os contratos com as empresas do publicitário Marcos Valério.

Itamar sucedeu Eduardo Azeredo, hoje réu no processo do mensalão tucano, que aguarda julgamento. O esquema teria sido montado para garantir a reeleição de Azeredo, em 1998, com o desvio de dinheiro de estatais minerais para as empresas de Marcos Valério.

O publicitário foi recentemente condenado no STF por envolvimento com o mensalão do Partido dos Trabalhadores, o esquema de caixa dois que o Supremo entendeu ser voltado para comprar votos no Congresso.

Quando assumiu o cargo no governo Itamar, Sávio diz ter percebido que as agências de publicidade de Valério serviam de fachada para o desvio do dinheiro público que abasteceu o mensalão tucano.

Sávio Souza Cruz ressalta que não foi difícil chegar à conclusão.

É que agências de publicidade recém formadas, às quais ele se refere como “portinholas”, tiveram crescimento extraordinário em pouco tempo.

Cita outros indícios, como declarações do então presidente da Copasa, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais, de que teria sido orientado a abastecer as empresas.

O deputado do bloco Minas Sem Censura destaca que quando Aécio Neves assumiu o governo do Estado, sucedendo Itamar Franco, deu um giro de 360 graus.

Os contratos com agências de publicidade, que haviam sido cancelados pelo antecessor, foram retomados.

Hoje o líder do bloco Minas Sem Censura critica a manobra que excluiu vários beneficiários do mensalão tucano dos processos que correm no STF e na Justiça estadual de Minas.

O senador do PSDB Aécio Neves foi um dos que se beneficiaram da decisão do Supremo Tribunal Federal.

Segundo o relatório da Polícia Federal, ele teria recebido R$ 110 mil no esquema de corrupção montado pelo partido.

Para o parlamentar, a pressão da sociedade é fundamental para que justiça seja feita no caso do mensalão tucano.

“Não tem nada mais injusto do que justiçar um lado”, afirma ao se referir à condenação dos réus no processo do mensalão petista.

Enquanto isso, o esquema original só deverá ser julgado no final de 2014 ou em 2015.

Ele espera que as redes sociais ajudem na cobrança por isonomia do STF.

Sávio exemplifica com o caso de Marcos Valério, operador dos dois esquemas de corrupção.

Por enquanto, foi condenado apenas na ação penal que envolveu representantes do Partido dos Trabalhadores.

“Fica essa situação para o Judiciário explicar”, frisa.

Segundo o deputado, o tratamento diferenciado do Supremo Tribunal Federal em relação aos dois mensalões se deve à influência exercida pelo PSDB sobre a mídia.

Casos parecidos são tratados com dois pesos, duas medidas, diz o peemedebista.

Sávio lamenta que outro esquema de corrupção promovido por tucanos de Minas Gerais não tenha resultado em punição, pelo menos até agora: o da Lista de Furnas.

O esquema, voltado para abastecer as campanhas do PSDB e do extinto PFL em 2002, teria tido início em 2000.

Dirigentes da estatal de energia elétrica Furnas são acusados de fazer pressão sobre fornecedores da empresa para arrancar doações que abasteceram o caixa de campanha.

A autenticidade da lista com a relação de doadores foi reconhecida em perícia da Polícia Federal.

Sávio não descarta a hipótese de que outro esquema de corrupção esteja em marcha em Minas Gerais.

Como não existe espaço para o contraditório na mídia do Estado fica muito difícil exercer a vigilância sobre quem governa, diz o líder do bloco Minas Sem Censura.
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Anderson Silva, lutas e berinjelas

Por Fabio Chiorino, na revista CartaCapital:

Nunca fui fã de MMA. Não consigo captar a essência da modalidade. Simplesmente olho para uma luta e penso que estão lá basicamente para machucar um ao outro. Mas até aí, um assíduo em UFC poderá replicar que enxerga a mesma coisa ao observar as arquibancadas do futebol brasileiro. E teremos então duas visões distorcidas basicamente pelos motivos que levam alguém a eleger um esporte como preferido.

Essa concepção bastante simplória da minha parte não provoca qualquer miopia em relação a Anderson Silva. Sim, trata-se de um dos maiores ídolos esportivos da história do Brasil. As provas são inequívocas: conquistas, patrocinadores, audiência, torcedores que o acompanham pelo mundo. Torcedores brasileiros que foram até Las Vegas para ver o duelo contra o americano Chris Weidman, que talvez tenha representado a aposentadoria de Spider.

É triste demais ver um esportista sofrendo uma grave lesão, mesmo que se coloque em uma posição de risco muito maior, como é o caso do lutador brasileiro. Impossível não fazer as associações com outros ídolos. Gustavo Kuerten e Ronaldo, por exemplo, que sofreram muito com questões físicas em suas carreiras. A diferença brutal é a repulsa que a imagem da canela de Anderson quebrada provoca.

Há muitos torcedores que passaram a acompanhar o UFC por causa de Anderson Silva. Mas também há tantos outros que, por essa mesma razão, descobriram e acompanharam diversos lutadores, até mesmo de outras nacionalidades. Spider hoje não é o único brasileiro de destaque nos octógonos, mas é o maior nome, a referência máxima para o torcedor do seu país.

Desqualificar o UFC por conta desse episódio é desonesto. A canela triturada de Anderson Silva é uma entre tantas graves lesões já presenciadas no UFC. A proporção é maior justamente pelo que o lutador representa. A modalidade segue após o choque e continuará existindo como uma das indústrias esportivas mais rentáveis e de maior alcance no mundo.

Aos 38 anos, Anderson Silva possivelmente se despede da luta de forma melancólica. Mesmo que consiga retornar, dificilmente terá a mesma confiança que demonstrou durante toda a carreira. Mas também fazem parte dos roteiros dos grandes ídolos os retornos impossíveis, as redenções fabulosas. Impossível cravar o desfecho desse acidente.

Nunca fui fã de MMA, mas isso equivale a dizer que nunca fui fã de berinjela. Quem se importa? Nenhuma percepção contrária diminui a importância de Anderson Silva. Deixo de lado a pressa em apontar a luta como selvageria e apenas mantenho o foco em outros esportes. A queda de Spider, a sexta em toda a sua carreira, comove, pois impossibilita o homem – e não só o atleta – de fazer aquilo que mais gosta na vida. E isso vai muito além de qualquer preferência particular.
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Jango teria sido reeleito em 1965

Por Luis Nassif, no Jornal GGN:

A primeira vez que ouvi falar nas pesquisas do Ibope sobre o governo Jango foi em um congresso da Wapor (a associação latino-americana de pesquisas de opinião) em Belo Horizonte. Participei de um debate sobre o novo papel dos blogs junto à opinião pública. Um dos papers apresentados mencionava dados gerais da pesquisa, localizada nos arquivos que o Ibope doou à Unicamp.

Nesta semana, na Carta Capital, há uma entrevista de Rodrigo Martins com o historiador Luiz Antônio Dias sobre as pesquisas. Os números são impressionantes:

· Em junho de 1963, Jango era aprovado por 66% da população de São Paulo, desempenho superior ao do governador Adhemar de Barros (59%) e do prefeito Prestes Maia (38%).

· Pesquisa de março de 1964 revela que, caso fosse candidato no ano seguinte, Goulart teria mais da metade das intenções de voto na maioria das capitais pesquisadas. Apenas em Fortaleza e Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek tinha percentuais maiores

· Havia amplo apoio à reforma agrária, com um índice superior a 70% em algumas capitais.

· Pesquisa na semana anterior ao golpe, realizada em São Paulo a pedido da Fecomercio, apontava que 72% da população aprovava o governo Jango.

· Entre os mais pobres a popularidade alcançava 86%.

· 55% dos paulistanos consideravam as medidas anunciadas por Goulart no Comício da Central do Brasil, em 13 de março, como de real interesse para o povo.

· Entre as classes A e B, a rejeição a Goulart era um pouco maior em 1964. Ao menos 27% avaliavam o governo como ruim ou péssimo na capital paulista.

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É o mais contundente documento até agora divulgado sobre o desproporcional poder político dos grupos de mídia na democracia brasileira e latino-americana no século 20.

Quase todas as ditaduras latino-americanas foram implementadas por meio de golpes de Estado legitimados por um suposto apoio da opinião pública. E esse apoio era medido exclusivamente pelo volume de notícias veiculados nos grupos de mídia, e pela mobilização que conseguiam em algumas classes sociais. Um enorme espectro da opinião pública passava ao largo desse jogo restrito.

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Depois da redemocratização, houve vários golpes de Estado institucionalizados no continente, não apenas contra governos ditos de esquerda - como o fracassado golpe contra o venezuelano Hugo Chávez - como contra governos tidos como de direita - Fernando Collor, no Brasil, Carlos Andrés Perez, na Venezuela.

Em todos os episódios, juntavam-se interesses contrariados de grupos políticos e de grupos de mídia. Levantavam-se denúncias sólidas ou meros factoides, criava-se a atoarda, passando a sensação de que a maioria da opinião pública desejava a queda do governante.

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O ponto mais relevante das pesquisas do Ibope é mostrar que a chamada opinião pública midiática sempre foi um segmento minoritário indo a reboque de uma aliança que incluíam os grupos, alguns partidos conservadores e alguns interesses do grande capital.

Esse modelo, que domina o debate econômico e político em todo século 20, chega ao fim com o advento das redes sociais.
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Comissão da Verdade peitará a mídia?

Por Altamiro Borges

O governo decidiu prorrogar por mais sete meses os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, que agora terá até 16 de dezembro de 2014 para apresentar seu relatório final. O novo prazo, definido em Medida Provisória assinada pela presidente Dilma Rousseff, foi publicado nesta semana no Diário Oficial da União. O objetivo é garantir mais tempo para que os integrantes do colegiado consigam detalhar todas as violações aos direitos humanos cometidas durante a ditadura militar (1964-1985). Será que agora os megaempresários que financiaram as torturas serão convocados para depor? E os barões da mídia, que criaram o clima para o golpe militar e apoiaram a sanguinária ditadura?

A Comissão Nacional da Verdade foi empossada em maio de 2012 pela presidenta Dilma, com prazo de dois anos para concluir os seus trabalhos. Neste período, ela promoveu várias audiências e coletou importantes documentos, que comprovam inúmeros crimes da ditadura - como "mortes, ocultação de cadáveres e tortura". Também foram criadas mais de cem comissões em todo o país com o intento de apurar os atentados aos direitos humanos nos municípios e estados. Agora, com a prorrogação do prazo, será possível aprofundar e sistematizar as informações coletadas.

Para Pedro Dallari, coordenador da comissão, a decisão do governo dá mais folego para o trabalho e é muito positiva. "Estávamos preparando o nosso relatório e a novidade nos dará um tempo maior para aprofundarmos algumas investigações... Assim como aconteceu em outros países, o trabalho final da comissão será a base para a continuidade das investigações nos próximos anos. O trabalho de tentar esclarecer o que aconteceu no passado não se esgota na comissão".

De fato, ainda há muito o que apurar - como o objetivo de se evitar a repetição dos crimes praticados pela ditadura. Não basta saber quem foram os torturadores e quais os métodos bárbaros que usaram - nem saber quantos foram mortos e estão desaparecidos. É preciso saber quais foram as empresas, inclusive as multinacionais, que financiaram os órgãos de repressão, deram respaldo à ditadura e acumularam fortunas neste período sombrio. É preciso saber qual foi o papel da mídia no apoio ao golpe militar e na cobertura dos assassinatos e torturas de patriotas brasileiros.

Muita gente graúda ainda deve explicações ao Brasil, como aponta recente artigo do jurista Marcelo Semer, no blog "Sem Juízo", que reproduzo abaixo:

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Imprensa também é devedora de verdade sobre Jango

“Mídia contribuiu muito para difundir tese falaciosa de que Jango não tinha apoio popular”

Os restos mortais do ex-presidente João Goulart foram exumados por determinação da Comissão da Verdade para apurar suspeitas de homicídio.

A presidenta Dilma Roussef realizou uma cerimônia para recebê-los com honra de chefe de Estado em Brasília.

O Congresso simbolicamente anulou a sessão na qual, de forma canhestra, a presidência havia sido declarada vaga, como uma forma hipócrita de disfarçar o golpe militar que o arrancara do poder.

Mas nem todas as verdades ainda foram repostas a Jango.

O historiador Luis Antonio Dias revelou, em entrevista recente à revista Carta Capital, que o Ibope não divulgou, à época, pesquisa realizada em que mostra amplo apoio popular a Jango em 1964 e perspectivas extremamente positivas à sua reeleição no ano seguinte. As pesquisas foram doadas pelo instituto, em 2003, para o Arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp, mas a maior parte dos dados permanece desconhecida.

O curioso, e relevante, nesse caso, é que o “apoio popular” foi justamente um dos álibis construídos pela imprensa para justificar a legitimidade do golpe.

O editorial do jornal O Estado de S. Paulo de 12 de março de 1964, por exemplo, anunciava peremptoriamente, o “aprofundamento do divórcio entre o governo da República e a opinião pública nacional”.

A Folha de S. Paulo já admitiu por mais de uma vez o apoio dado ao golpe militar e, recentemente, de uma forma ainda tímida, foi a vez das Organizações Globo de promover um contraditório ‘meaculpa’ pelo apoio ao regime –embora baseando-se em editorial que o elogiava até seus últimos dias, em 1984.

O certo é que, como afirma Dias, a “mídia contribuiu muito para difundir essa tese falaciosa de que Jango não tinha apoio popular” –e que continua difundindo, fazendo referência explícita a um dos livros de maior pesquisa sobre o tema, a encargo do jornalista Élio Gaspari.

A ligação entre essa demonstração de fraqueza e a realização do golpe são evidentes para o historiador:

“As reportagens e os editoriais enfatizavam o isolamento de Goulart e a oposição da população às reformas de base, consideradas demagógicas. À exceção do Última Hora de Samuel Wainer, todos os jornais de expressão nacional clamavam por uma intervenção das Forças Armadas, sempre em nome da opinião pública. É interessante, pois os militares, em seus livros de memória, usam esse apoio como justificativa: eles só agiram porque a população pediu. As pesquisas do Ibope provam o contrário”.

O abuso inapropriado da titularidade da “opinião pública” pode perverter importantes decisões políticas, principalmente quando se sabe que muitas vezes se restringem a opiniões de classe média urbana fortemente sensibilizada por discursos propositadamente catastrofistas.

Os dados reunidos por Dias apontam que, em 1964, 55% dos paulistanos achavam relevantes para o país as reformas de base e o apoio à reforma agrária passava de 70% em certas capitais. Apenas 27% avaliavam o governo como ruim ou péssimo na capital paulista –percentual extremamente inflado pelas manchetes da grande mídia.

Os trabalhos da Comissão da Verdade ainda engatinham.

Judicialmente, o panorama é incipiente na avaliação dos crimes contra a humanidade, embora já tenha havido alterações de registro de falsos suicídios, condenação cível por tortura e denúncias recebidas em casos de sequestros.

Falta ainda que a própria imprensa se debruce sobre o papel nos anos de chumbo, para honrar a utilidade pública e responsabilidade social que permeiam seu discurso –e que suportam, por exemplo, não apenas a firme e correta vedação à censura, como o benefício das imunidades tributárias no texto constitucional.

Afinal, o maior risco que envolve o encobrimento da verdade é justamente a repetição da mentira.

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Leia também:

- 50 anos do golpe militar. O que fazer?

- O ano em que a direita voltou às ruas

- Projeto do mal de 1964 ganha corpo
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Mídia festejava Natal fraco de FHC


Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Nos últimos dias, o país se surpreendeu com o imenso alarde que a mídia fez em relação a um crescimento ao redor de 6% nas vendas de Natal deste ano. Segundo esses meios de comunicação, foi o “pior Natal em 11 anos”. Essa “desgraça” artificial ganhou as primeiras páginas de todos os grandes jornais no dia seguinte ao Natal.

Apesar de em todos os 11 Natais sob governos do PT as vendas desses períodos terem crescido fortemente, o aumento de vendas mais modesto neste ano foi visto pela mídia como sinônimo de “esgotamento” do modelo de inclusão de pessoas pobres no mercado de consumo de massas, como se não houvesse mais gente excluída para incluir.

Graças a ajuda-memória do leitor Sergio Kempers, porém, descobriremos, agora, como era diferente quando quem governava era o PSDB. Os magros Natais de Fernando Henrique Cardoso eram retratados timidamente nas páginas internas dos jornais enquanto se amontoavam desculpas pelo mau desempenho das vendas natalinas.

Nunca se viu vendas de Natal ganharem destaque nas primeiras páginas de jornais. Pelo contrário. Veja como era o noticiário em matéria da Folha de São Paulo de 26 de dezembro de 2001, quando o partidarismo e o servilismo midiático chegou ao cúmulo de dar desculpas para uma retração geral das vendas de Natal que ficou ao redor de 2%.

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FOLHA DE SÃO PAULO

26 de dezembro de 2001
Comércio de São Paulo “festeja” queda de 2% nas vendas

Para quem esperava uma queda nas vendas de até 5% em relação a 2000, o Natal deste ano foi bom. A avaliação é do presidente da Associação Comercial de São Paulo, Alencar Burti, ao prever que as vendas foram 2% menores do que as registradas no ano passado.

Segundo a associação, o comércio a prazo caiu 6,2% em relação a 2000, enquanto as compras à vista cresceram 8,1% na mesma comparação. Os números levam em conta as vendas feitas entre os dias 1º e 24 de dezembro até as 11h. “O movimento de pessoas aumentou, mas os valores gastos foram menores. O consumidor está mais racional, mais cauteloso para comprar a longo prazo.”

Para o consultor em varejo Marcos Gouvêa, as vendas no país devem ter empatado, na média de todos os setores, com o Natal passado. Alguns setores, estima, tiveram crescimento de até 15% no seu faturamento -como confecção, calçados e cosméticos.

A Alshop (Associação dos Lojistas de Shopping do Estado de São Paulo), também comemora o resultado deste final de ano. Segundo o presidente da entidade, Nabil Sahyoun, as vendas em dezembro devem ficar entre 1% e 2% superiores às de dezembro de 2000.

O resultado é inferior ao estimado no início do ano -esperava-se aumento entre 5% e 6% nas vendas. “Considerando todos os problemas em 2001, como a crise energética, a situação da Argentina, a alta do dólar e o terrorismo, podemos dizer que o saldo deste Natal foi positivo.”

Sahyoun diz que o valor gasto por consumidor nos shoppings frequentados pelas classes média e alta cresceu entre 10% e 15% neste ano. “No ano passado, ficou entre R$ 45 e R$ 60. Neste ano, esses valores foram de R$ 50 a R$ 70.” Segundo ele, isso aconteceu porque muitos consumidores, com medo das ameaças de atentados em 2001, cancelaram viagens ao exterior e usaram o dinheiro na compra de presentes.

Para a superintendente do Shopping Interlagos, Carla Bordon Gomes, ao deixar de viajar, o consumidor gastou com presentes mais caros, como DVDs e TVs de 29 polegadas.

Segundo o gerente de marketing do Shopping Central Plaza, Wilson Franciscão, as compras deste ano também foram mais planejadas. “Na semana, entre os dias 17 e 21, o consumidor pesquisou muito. De sábado até o dia 24 comprou.”
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O sanduíche à moda da Globo

Por Nirlando Beirão, na revista CartaCapital:

Sempre revolucionário – sem mencionar outros atributos seus, como a blindada imparcialidade, o apartidarismo irrestrito e o compromisso em defender os interesses da nação, e não os do casa –, o jornalismo da Globo inverteu a lógica do sanduíche, segundo a qual o recheio deve ser mais saboroso do que as peças que o contêm.

O Jornal Nacional, sob a expertise do chef Ali Kamel, decretou, voluntariamente ou não, outro método de degustação. As novelas das 7 e das 9 é que falam hoje ao apetite – peculiar que seja esse apetite – do telespectador. O JN virou apenas um entremet muito do insosso entre um melodrama e outro.

O Ibope, a quem não se pode atribuir propósito de prejudicar a Globo, indica que a plateia do JN minguou em 30% nos últimos dez anos. Na esteira do show produzido em conjunto pela Globo e pelo Supremo Tribunal, o carro-chefe do jornalismo platinado mergulhou recentemente em inéditos 18 pontos de audiência. Um recorde.

Em prol dos imperativos comerciais (a publicidade brasileira é a última adepta do JN), o jornalismo da Globo inverte mais uma vez a realidade e tenta atribuir às novelas – a que a precede e a que a sucede – a culpa pelo desastre de público. Mas está na cara que, dos vilões que o JN operosamente fabrica, nenhum tem a mesma graça perversa, por exemplo, daquele Félix de Amor à Vida.

Haverá quem queira tributar os tropeços do JN a detalhes menores como, digamos, a credibilidade. Bobagem: credibilidade nunca foi o forte da Globo, mesmo antes do Ali Kamel.
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A mídia e o ano partido ao meio

http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br
Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:

O ano que se encerra deixa lições interessantes para quem observa o ambiente da mídia e a sociedade no Brasil. Foi um ano que se dividiu ao meio, exatamente no mês de junho, quando uma onda de manifestações colocou nas ruas a pauta das insatisfações que assombram principalmente os mais jovens. O ponto de conjunção desses descontentamentos é a mobilidade urbana, sem a qual tudo se torna mais penoso: a conquista da educação, a saúde, a segurança, a cultura e o lazer.

A imprensa, como todas as instituições, foi apanhada de surpresa, porque não acompanhou o desenvolvimento dos debates que vinham acontecendo desde os primeiros encontros do Fórum Social Mundial, em 2001. A ideia que se consolidava nessas reuniões de organizações sociais era que “um outro mundo é possível”.

A necessidade de romper a barreira da mídia institucional se tornou explícita durante o evento realizado em 2005, em Porto Alegre. Foi nessa ocasião que as organizações sociais empenhadas na agenda de mudanças se deram conta de que era preciso sair da reflexão para a ação. O processo se deu segundo o padrão das flash mobs, ou mobilizações instantâneas, que se tornaram possíveis com o crescimento e popularização das redes sociais digitais.

Talvez por trabalhar em estruturas hierarquizadas, e sem conexão com as redes capilares e complexas da sociedade, a mídia tradicional foi tão surpreendida quanto as instituições do poder público, quando os manifestantes saíram às ruas. Depois, foi o que se viu: apropriada por grupos organizados e facilmente manipuláveis, a onda de protestos se esvaziou em meio aos atos de violência policial e vandalismo.

No entanto, o processo ainda não se completou. A agenda básica das manifestações foi apenas parcialmente atendida, com o congelamento das tarifas de transporte público na maioria das grandes cidades, mas as razões para descontentamento não foram removidas.

Apesar de as ruas terem sido ocupadas por grupos oportunistas em favor de seus interesses específicos, o núcleo original das manifestações de junho volta a se articular.

Ano dos estilhaços
A possibilidade da volta das grandes manifestações deverá se tornar mais concreta após o período de festas, quando os estudantes retornarem às aulas e se derem conta de que, embora as tarifas tenham sido congeladas há seis meses, o transporte público segue sendo um tormento na maioria das cidades. Nas metrópoles, pelo excesso de veículos nas ruas e pela precariedade histórica do sistema de coletivos; nas cidades médias e pequenas, pela insuficiência e baixa frequência das redes. Junte-se a isso o recrudescimento do radicalismo político na imprensa, que acontece nos períodos eleitorais, e teremos o cenário perfeito para as tempestades sociais.

Em junho, quando as ondas de protesto tomaram as ruas, a mídia desviou a responsabilidade pelos descontentamentos para os poderes Executivo e Legislativo, ao mesmo tempo em que exaltava aquilo que era tido como o ponto de mutação do poder Judiciário.

As autoridades responderam a algumas das demandas, com medidas de impacto, como o lançamento do Programa Mais Médicos, o congelamento das tarifas de transporte e cortes de R$ 260 milhões nos gastos anuais do Senado. Na semana passada, uma nota na imprensa registrou que 95% dos médicos formados no exterior que se inscreveram no programa foram aprovados na segunda etapa do exame de proficiência.

O cenário apresenta um desafio interessante para a imprensa: se continuar priorizando declarações, que simplesmente aquecem a temperatura política, sem oferecer alternativas para os problemas nacionais, poderá estar dando uma força para os grupos que têm interesse na volta dos distúrbios. Se apostar num jornalismo crítico, mas fundado na análise dos desafios que se apresentam, poderá contribuir para o apaziguamento das ruas, mas estará poupando o governo federal, ao qual se opõe.

O ano que se inaugura promete uma complexidade nunca antes vista por aqui, com a realização da Copa do Mundo no Brasil, cujo encerramento irá coincidir com o início oficial da campanha eleitoral que, segundo as pesquisas, poderá definir a permanência, no poder federal, da aliança que governa o país desde 2003.

Por outro lado, a imprensa estará trabalhando com duas realidades econômicas antagônicas: aquela dos indicadores pessimistas, que costumam frequentar as manchetes, e a percepção das ruas, com desemprego em baixa, salários em alta e consumo aquecido.

Se 2013 foi um ano partido ao meio, 2014 poderá ser o ano dos estilhaços.
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A direita e as farsas de 2013 e 2014

Por Cadu Amaral, em seu blog:

A História se repete como farsa. Essa máxima de Karl Marx é bastante usada quando acontecimentos presente se remetem ao passado. Em 2013, pudemos presenciar alguns fatos que nos fazem pensar nela. As manifestações de junho – e seu uso por parte da direita e a, acreditem ou não, proibição de leitura em presídio no Brasil.

Em junho, aquelas pessoas que foram às ruas desejavam mais qualidade nos serviços públicos e mais democracia, mais acesso às decisões do Estado brasileiro. A direita, via “grande imprensa” tentou transformar aquilo em atos contra o governo federal. Tentaram, sem sucesso, transformar o que aconteceu em junho nas marchas pela família e a propriedade da década de 1960.

O resultado das marchas de cinquenta anos atrás foi a ditadura civil-militar. Pessoas eram presas e mortas apenas suas posições políticas e à ideológicas. O Brasil viveu esse terror por mais de vinte anos. Torturas corriam à solta nos quartéis e delegacias. Nas prisões, os perseguidos não podiam receber visitas – ou quase não podiam recebê-las. Eram submetidos a interrogatórios sem fim e todo os tipo de maus tratos. Mas não eram impedidos de lerem livros. Pelo menos não há relatos desse tipo.

Agora a direita tenta mais uma vez insuflar manifestações para o próximo mês de junho. Ano de Copa do Mundo e de eleições presidenciais. No decorrer das últimas manifestações todos os governantes tiveram seus índices de aprovação reduzidos. Afinal, no calor das ruas, “contra tudo o que está aí”, ninguém que estivesse na vitrine de governança poderia segurar os números de aprovação nos patamares pré-manisfestações. Passado o tempo as coisas se normalizaram e Dilma, principalmente ela, teve sua avaliação de volta a “normalidade”.

Se foram os pactos propostos por ela; a condição de pleno emprego; poder de compra da população; médicos estrangeiros, o que for ou apenas o tempo, os debates sobre isso correm à vontade. O fato é que ela voltou a ser bem avaliada pela população, de acordo com os institutos de pesquisa (os da “grande imprensa”, inclusive) e seus números seguem em crescimento.

O sonho de ver as ruas cheias de gente, com máscaras, fazendo confusão para rechear os noticiários de mau agouro se reflete em convocações para manifestações no ano que vem nos veículos da grande mídia. Eles tem a certeza de que Dilma não teria como recuperar sua popularidade a tempo da disputa eleitoral. Seria a segunda farsa. A primeira foi o uso e a interpretação dada pela direita em junho último.

Outra farsa, essa com “F” maiúsculo, é julgamento da Ação Penal 470 e todos os seus desdobramentos. Pessoas presas em regime fechado quando teriam direito ao semiaberto e com o processo em andamento, expostas à execração midiática. Tudo ao gosto da elite conservadora e detentora de um ódio de classe que pôs o Brasil na escuridão entre 1964 e 1986. Para ficarmos apenas nesse período.

Agora aqueles que já sofreram a humilhação pública para regozijo de um presidente de Supremo Tribunal Federal (STF) sem as mínimas condições de exercer qualquer tarefa pública que seja, estão proibidos, pelo juiz de execuções penais, escolhido a dedo pelo presidente do Supremo e filho de liderança do PSDB e empregado de Gilmar Mendes, também do STF, em uma escola, de ler por mais de duas horas.

Pasmem. Está proibido ler no presídio da Papuda.

Está aí outra farsa. Tentam repetir os atos “legais” do golpe de 1964, mas com ar de legalidade democrática. E, mais uma vez, com o apoio da “grande imprensa”.

É difícil prever acontecimentos futuros, mas dá para imaginar o que a direita golpista do país está planejando. 2014 será um ano repleto de embates, inclusive por direitos. Seja para mantê-los ou ampliá-los. O povo não parece querer retrocesso, ao contrário de nossa elite. Não estranhem se dos aparelho de tevê e ao espremer os jornalões e revistas saia sangue.
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Como os jornalões estragaram o Natal

Por Luis Nassif, no Jornal GGN:

Folha e Estadão esmeraram-se em tratar as vendas de Natal como um fracasso.

Manchete da Folha: “Comércio tem o pior resultado no Natal em 11 anos”.

Manchete do Estadão: “Com crédito contido e juros altos, vendas de Natal decepcionam”.

Ambos os jornais trabalham em cima de dados da Serasa Experian e da Alshop (a associação dos lojistas de shoppings).

Vamos a alguns erros de manchetes e de análises.

1. Erro de manchete: Se em 2013 vendeu-se mais do que em 2012, como considerar que foi o pior resultado em 11 anos?

2. A Serasa trabalha especificamente com pedidos de informação para crédito. Houve retração no crédito, mas a maior ferramenta de vendas têm sido o parcelamento (em até dez vezes) em cartões de crédito e de loja. Os jornalões trataram os dados da Serasa como se representassem o universo total de vendas.

3. As vendas em shoppings deixam de lado o comércio para classes C e D - justamente as que mais vêm crescendo. Mesmo assim, os jornalões trataram os dados como se representassem o todo.

4. A Alshop (associação dos lojistas) informou que as vendas cresceram 6% no Natal. O problema maior foi o aumento do número de lojas, que fez com que as lojas mais antigas permanecessem com o mesmo faturamento. Ora, o que expressa o mercado são as vendas totais. A distribuição entre lojas novas e antigas é problema setorial, que nada tem a ver com a conjuntura.

5. Os jornalões deixaram de lado o comércio eletrônico - que tem sido o principal competidor das lojas de shopping. Em 2013 os shoppings centers venderam R$ 138 bilhões, 8% a mais do que em 2012. O comércio eletrônico vendeu R$ 23 bilhões, ou 45% a mais do que em 2012. Somando a venda dos dois segmentos, saltou de R$ 151 bi em 2012 para R$ 161 bi em 2013, aumento de expressivos 12%.

6. Os jornais falam em “decepção”, porque a Alhosp esperava crescimento de 10% nas vendas de Natal e conseguiu-se “apenas" 6%. Esperar 10% de crescimento com uma economia rodando a 2% é erro clamoroso de análise. Mas, para os jornalões, o erro está na realidade, que não acompanhou os sonhos.

Se não houvesse essa politização descabida do noticiário econômico, as análises estariam em outra direção: a razão do consumo ainda não ter se acomodado mesmo com dinheiro mais caro, o crédito mais escasso, com a competição de Miami, com o PIB andando de lado etc. E suas implicações sobre as contas externas brasileiras. Estariam questionando também que raios de política monetária é esta, na qual aumenta-se a Selic para supostamente reduzir a demanda agregada, e ela continua crescendo.
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Pochmann e o colapso da imprensa

Por Marcelo Hailer, na revista Fórum:

Marcio Pochmann, economista e professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudo Sindicais e de Economia do Trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), recebeu a reportagem da revista Fórum para conversar sobre o primeiro ano de sua gestão à frente da Fundação Perseu Abramo (FPA). Ele também falou sobre a cobertura política da imprensa e o papel das redes no ativismo.

Segundo Pochmann, a imprensa clássica não dialoga com a geração atual, mas apenas com “seus militantes”. O economista fez uma análise das manifestações de junho e afirma que não se pode fazer uma leitura dos atos tendo como referencial as organizações sociais do século XX. Confira a entrevista abaixo:

O que você destacaria deste primeiro ano de sua gestão frente a Fundação Perseu Abramo?
A Fundação Perseu Abramo tem 17 anos de existência e tem reproduzido a evolução do PT ao longo desse período. 2013, de certa maneira, apresentou algumas conexões mais fortes em relação aos desafios que o partido vem vivendo e nós organizamos a Fundação para responder a três desafios que são centrais na perspectiva do Partido dos Trabalhadores.

E quais são esses desafios?
O primeiro desafio foi buscar responder a questão a respeito do projeto petista de governo. O PT é governo em mais de 600 prefeituras, em vários estados, já é governo federal há mais de dez anos e, portanto, tem uma série de carências em relação ao próprio monitoramento das suas ações. Ao mesmo tempo, tem uma necessidade enorme de formação de quadros, de gestores, justamente para viabilizar o projeto petista de transformação da sociedade. Essa reconstrução do projeto em termos de ênfase, de método, de atuação é um dos aspectos que nos fez organizar a Fundação para responder a isso.

O segundo desafio que o PT enfrenta é em relação ao seu projeto para o país e, em última análise, para o mundo. O partido político, do ponto de vista da esquerda, tem essa visão mais ampla em relação ao mundo no que diz respeito à transformação da sociedade. E nesse aspecto a Fundação reuniu cerca de 400 estudiosos, professores, intelectuais de maneira geral, trabalhando em torno de 20 temas que, para nós, são definitivos do ponto de vista de um diálogo sobre o futuro do Brasil.

O que estes estudos revelaram até o momento?
Há uma configuração de um novo federalismo no Brasil, um federalismo que não mais depende, na perspectiva do passado, de haver uma “locomotiva São Paulo”, com os demais Estados sendo vagões. Os estudos estão mostrando que temos um Brasil reconfigurado, que a dinâmica está mudando, que hoje nós temos novas elites, há uma reestruturação da sociedade. E como é que o partido está conectado com as grandes mudanças que tivemos na estrutura social? Somos um país que está envelhecendo, ou seja, uma crescente participação de pessoas com mais idade.

Tivemos uma mobilidade social enorme no Brasil, fruto da geração de mais empregos, que permitiram à base da pirâmide social se recolocar no mercado de trabalho, mas grande parte dessas pessoas não foram para os sindicatos. Da mesma forma, tivemos mais de 1,5 milhão de jovens que ascenderam à universidade por intermédio do ProUni, mas não se envolveram com as instituições que representam os estudantes; tivemos quase 1,3 milhão de famílias que ascenderam à casa própria a partir do programa Minha Casa, Minha Vida, mas essas pessoas não se engajaram nas associações de bairro e de moradores.

Então, a nossa preocupação é conhecer melhor essa estrutura social para entender os seus desejos, os seus anseios e que medidas o partido precisa desenvolver. Fizemos uma série de debates e pesquisas sobre classes, drogas, reforma política, sobre a mídia. Agora, vamos fazer um debate sobre Estado Laico, sobre a questão das religiões, são vários temas quase que pontuais, mas com o objetivo de entender como conectar esse segmento com a política.

Há uma tese de que estes jovens que ascenderam à universidade, as famílias que passaram a ter casa própria, são grupos não foram para os espaços políticos por que os partidos de esquerda esqueceram da sua base. Você concorda?


Temos duas hipóteses para explicar, pelo menos. Uma que é a crise da direção. Ou seja, a direção das instituições não está conectada com estes segmentos que estão ascendendo. A outra é que as instituições que nós não são contemporâneas a esses novos segmentos. Se é um problema de crise de direção, é mais fácil de mudar. E, até nesse sentido, o PT fez um grande debate neste semestre que envolveu meio milhão de participantes e também uma oxigenação na sua direção. Ele está contemporâneo a essa ascensão.

Agora, se de fato for um problema das instituições, aí a questão é muito mais grave. Particularmente, acredito que, de certa maneira, esses novos segmentos que ascenderam representam um fenômeno que ocorreu à margem das instituições que temos, não se envolveram muito com esses segmentos novos. Algumas interpretações é de que estes segmentos são muito conservadores, individualistas, que acreditam que o êxito de sua ascensão se deveu ao seu esforço individual. É natural que ocorra isso quando se trata de uma ascensão sem politização do ponto de vista da interpretação, da narrativa necessária a ser feita pra demonstrar que as pessoas ascenderam por que tiveram um salário mínimo maior e que foi necessário tomar uma decisão para ter um salário mínimo maior. Teve emprego porque houve decisões favoráveis ao investimento e a políticas de renda que integrassem as pessoas de baixa renda.

Qual tem sido o papel da rede/ internet no embate no político?


O papel da rede não é, está sendo. É um processo de construção e essa construção é permeada de idas e vindas. A sociedade está aprendendo a identificar o potencial da rede, que parece ser enorme, e a forma como isso pode ser usado por um lado e pelo outro. A nossa preocupação em relação às mídias digitais é em torno da regulação, a construção de um marco civil.

Você acredita na aprovação do Marco Civil com a neutralidade de rede?


Se não for pra isso, eu não sei qual é o sentido de ter um Marco Civil.

E, falando em redes, nós tivemos as manifestações de junho, que foram organizadas, majoritariamente, pela redes sociais. O que estas manifestações trouxeram?


As manifestações aqui são mais contemporâneas às questões ocidentais do ponto de vista da vida humana neste século e dizem respeito à revolução informacional e dos serviços. Nós estamos transitando de uma sociedade industrial para uma sociedade de serviços e, de maneira geral e heterogênea, as reclamações que levaram o povo às ruas eram questões relacionadas aos problemas de serviço: saúde, educação… A minha leitura é que se trata de serviços públicos: a saúde não funciona, a cidade não tem mobilidade.

Se formos olhar do ponto de vista do consumidor, as maiores reclamações são direcionadas aos planos de saúde privada, para as empresas de transporte aéreo, para os bancos, então há um problema nos serviços para os quais não temos grandes respostas, a não ser a resposta derivada da forma de o Estado atuar que vem do século passado, que é trabalhar com caixinhas. O todo ainda é fatiado e as pessoas que foram para as ruas foram reclamar de tudo. Perdemos a capacidade de olhar o indivíduo na sua totalidade e o Estado ainda não teve a capacidade de entender isso.

Muitos setores da política disseram que os atos eram despolitizados, não tinham um foco. Você concorda com essa crítica?


É uma crítica adequada para os movimentos sociais do século XX, que eram constituídos a partir de organizações existentes que articulavam os atos políticos. Esses movimentos (que atuaram nos atos de junho) são característicos do século XXI. Essas pessoas foram às ruas por que não acreditam nas instituições existentes e essa é uma explicação para a qual não tenho resposta, mas acredito que na política, onde não existe o tal do vácuo, em algum momento alguma instituição vai ter que assumir essa contemporaneidade.

Recentemente, tivemos a descoberta da máfia dos fiscais a partir de uma investigação da atual gestão municipal de São Paulo. Posteriormente, a cobertura jornalística acabou misturando as responsabilidades da administração Haddad e da gestão Serra-Kassab. Como encarou essa cobertura?


É uma cobertura coerente com a forma de imprensa que temos no Brasil. Incoerente se ela tivesse dado uma certa imparcialidade, o que não aconteceu.

Trabalhei na gestão da Marta (2001-2004), é impressionante a presença da chamada grande imprensa. Encerrado o governo da Marta, iniciou-se outro governo e praticamente desapareceu. Quando tinha um problema na Secretaria de Transporte, a chamada era “O governo da Marta está com um problema assim…”, depois que mudou o governo era “Secretaria X…”, nunca estava vinculado ao prefeito. Na verdade, quando você define a pauta, já é uma coisa muito ideológica. Então, vejo com coerência, incoerência é a nossa de imaginar que a imprensa faria uma cobertura imparcial.

Há 20 anos Perseu Abramo escreveu o ensaio “Padrões de Manipulação da grande imprensa” e lá ele já identifica a imprensa enquanto uma força política. Acredita que hoje vivemos isso de maneira aprofundada?


Parece que os jornais assumiram aquilo que eles criticavam da imprensa comunista. Você tinha o Pravda, que sempre tinha uma crítica ao capitalismo, ou seja, era um jornal que escrevia para os seus militantes. Os jornais que temos hoje também escrevem para os seus militantes, escrevem o que eles querem ouvir, e por isso esses jornais estão com dificuldades para ampliar o seu número de leitores, é por isso que os jovens não interagem com esses jornais. Mas eles têm um público cativo, e para manter esse público cativo ficam alimentando uma visão que é, a meu ver, insustentável, isso não tem futuro. Estamos assistindo ao fim desse tipo de imprensa. Está em construção uma outra imprensa, uma outra cobertura, que é a coisa digital e isso também está em construção.
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Elio Gaspari: novo guru dos coxinhas?

Por Miguel do Rosário, no blog Tijolaço:

Em sua coluna de hoje, publicada na Folha e no Globo, Elio Gaspari tenta se auto-promover como guru dos coxinhas. Ou como ironizou um colega da blogosfera: “Elio Gaspari convoca Eremildo às ruas. De idiota a incendiário”.

O novo mote revolucionário de Gaspari tem como alvo Renan Calheiros. Rememora podres do senador no passado e bate no mais recente escândalo: Renan usou jatinho da FAB para ir à Recife, onde fez um implante capilar.

Renan já falou que vai devolver o dinheiro correspondente ao custo da viagem, mas o que importa, neste caso, é o comportamento reiteradamente despudorado do senador. Parece que ele vive em outro mundo. Esse tipo de postura, naturalmente, presta uma ajuda solene à campanha midiática para desqualificar o parlamento.

Em vista disso, Gaspari convoca as ruas:

“Em 2014 a turma que paga as contas irá às urnas. Elas poderão ser um bom corretivo, mas a experiência deste ano que está acabando mostra que surgiu outra forma de expressão, mais direta: ‘Vem pra rua você também’.”

É um tanto engraçado ver um conservador midiático como Gaspari dando uma de carbonário e guru de black blocs. Provavelmente ele tem em mente um monte de coxinhas protestando contra a viagem da FAB de Renan Calheiros. Sim, porque não imagino que ele queira nada além disso. Protestos contra a grande mídia, por exemplo, nem pensar! Acontece que a mídia é justamente a fonte de poder do neocoronelismo eletrônico brasileiro. De onde vem o poder eleitoral de Renan? Vem do fato dele ser, juntamente com Collor e a família Lyra, o braço político das oligarquias alagoanas, que dominam a política do estado através do controle dos meios de comunicação. Assim como em todos os estados do Nordeste, as famílias que detêm os direitos de retransmissão de Globo (principalmente), SBT, Band e Record, tem uma desproporcional vantagem política sobre todos seus concorrentes.

Há vários estudos sobre isso. E os partidos que mais dominam as mídias nordestinas são DEM e PSDB. Com o lulismo, eles vem perdendo poder, e daí o ódio cada vez maior. O ódio nasce do medo de perder poder. Entretanto, eles ainda têm poder. Perderam governos do Estado, mas ainda tem vereadores, deputados estaduais, prefeituras, e, sobretudo, poder econômico e midiático para desestabilizar governos constituídos.

As ruas serão muito bem-vindas em 2014, desde que não se deixem manipular pela mídia, nem por pseudo-gurus como Elio Gaspari. A viagem de Renan em aviãozinho da FAB é um sintoma. As ruas não devem perder tempo atacando os sintomas, e sim as causas. As ruas deveriam vir pedindo uma profunda reforma política e leis de mídia. Aí sim eu quero ver se o Elio Gaspari vai continuar posando de revolucionário.
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Quem é contra a liberdade na internet

Por Deborah Moreira, no sítio Vermelho:

Em entrevista ao Especial da Rádio Vermelho, Retrospectiva 2013, o professor Sergio Amadeu, da Universidade Federal do ABC, e representante da sociedade civil no Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), que faz a governança da rede brasileira, lamenta que o Marco Civil da Internet não tenha sido votado neste ano, na Câmara.


Para ele, em ano eleitoral, a única chance de votar o projeto de lei 2126/11, com os princípios que mantêm a liberdade na rede, é alertar os eleitores sobre os deputados que são contrários a manter a democracia no ciberespaço.

“Temos que dizer aos brasileiros quais os parlamentares que são contra a internet livre. Essa é a única chance de aprovar o Marco Civil. Se não for votado neste ano, as dificuldades vão aumentar no ano que vem porque aumenta o poder de influência dessas operadoras de telecomunicação. Isso porque se aproximam as eleições e os deputados são candidatos e quem tem dinheiro para financiar a campanha são as operadoras. As operadoras conseguem paralisar a votação no Congresso Nacional por conta de seu poder econômico”, lamenta, referindo-se ao lobby das operadoras de telefonia, conhecidas também como teles, sobre os deputados para alterar o projeto de lei.

Para Sergio Amadeu, a razão está do lado da sociedade que vem alertando a todos sobre a importância de conhecer o que está em jogo. Os novos negócios pretendidos pelas teles consistem em criar pacotes de serviço, aos moldes dos oferecidos atualmente na TV a cabo, limitando o acesso. Quanto mais informação você quiser acessar, maior o valor do seu pacote. Ou seja, a informação se transformará em produto. “Ninguém vai concordar com o argumento falacioso que eles usam. O principal lobista das teles, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) chegou a alegar que defendia a quebra de neutralidade em beneficio dos pobres”, exclama Amadeu, lembrando que em uma audiência na Câmara, apresentou uma pesquisa que aponta que a classe mais baixa não quer somente e-mail e acessar sites. “Eles [a classe de menor poder aquisitivo] também acessam multimídia como Youtube, redes sociais, baixam música e filmes. E na realidade, esse conteúdo ficará mais caro justamente para os mais pobres[com a quebra da neutralidade]”, afirma.

A neutralidade da rede é um dos fatores que garante a liberdade na rede. “É um princípio segundo o qual os donos do cabo [as teles] por onde passam as informações, não podem interferir nas informações. Por interesses comerciais, querem filtrar o tráfego de dados, criando cercas digitais, impedindo que possamos acessar qualquer aplicação da rede”, avisa.

Além disso, o especialista em tecnologia digital lembra que não há somente o fator econômico: “Se eles puderem filtrar a rede e bloquear as informações, eles vão ter o controle sobre a criatividade da internet. A internet não é uma obra acabada, nós estamos criando coisas o tempo todo na rede. A gente cria uma nova tecnologia sem precisar pedir autorização para as operadoras de telefonia”.

Sergio Amadeu destaca que o Marco Civil da Internet brasileiro é atualmente a legislação mais avançada para a garantia de direitos e responsabilidades. “Essa batalha está sendo travada no mundo todo. E o mundo espera que o marco Civil da Internet, que é a lei mais avançada do planeta em tramitação, seja aprovado. Por isso que as operadoras de telefonia estão jogando pesado. São empresas transnacionais e sabem que o que for aprovado aqui no Brasil será usado em todos os países como exemplo de defesa da liberdade”, ressaltou.

Datacenters
Diante das denúncias da existência de uma rede internacional de espionagem, liderada pelo governo estadunidense, feitas pelo ex-técnicos da SNA Edward Snowden, o governo brasileiro alterou o PL 2126/11, incluindo a obrigatoriedade de datacenters (equipamentos que abrigam os dados dos usuários) em território nacional para proteger os brasileiros.

Sergio Amadeu não concorda com a alteração feita pelo governo federal e explica: “Eu não concordo muito com a ideia de colocar no texto do Marco civil essa questão dos datacenters. Essa questão não se resolve com lei. Obrigar as redes sociais serem brasileiras não vai dar certo. Por exemplo, o Facebook, se obrigarmos essa rede a ser brasileira, isso não vai resolver o problema. Agora, se a gente aprovar o Marco Civil, teremos estabilidade jurídica, porque o Marco Civil traz isso. E nos Estados Unidos não tem mais essa estabilidade por causa das leis antiterror. E, somado a isso, se a Anatel [Agência Nacional de Telecomunicações] começar a funcionar, obrigando a baixar as tarifas de telecomunicação, caindo o custo Brasil de telecomunicações, se a Anatel obrigar as operadoras a entregar para nós consumidores o que a gente já paga de velocidade, aí os datacenters vão vir naturalmente para o Brasil”.
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Hipocrisia da mídia e presos na Papuda

http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br/
Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:

O texto abaixo é trecho de um post publicado pelo Eduardo Guimarães a respeito da ação da mídia para punir os punidos, ou seja, retirar supostas “regalias” que os condenados do mensalão teriam recebido na penitenciária da Papuda, no Distrito Federal, dentre elas a possibilidade de ler:

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A leitura pode ser um bálsamo para o encarcerado que a aprecie. Deveria ser estimulada, aliás. Tira a mente do que não presta. Contudo, a “regalia” que permitia que condenados do mensalão lessem à vontade foi revogada por estarem “lendo mais do que o permitido”.

A tortura psicológica costuma ser vista como até mais intensa e penosa do que a tortura física, que, após algum tempo, o torturado aprende a suportar, até por seu corpo e seus sentidos não resistirem. Já a psique humana é um parque de diversões para o sádico; permite supliciar sem limites.

Se a mídia não quer “regalias” para os condenados do mensalão tais como ler um livro, tampouco quer algum direito constitucional como o de um condenado cumprir sua pena tal como foi preconizada – e nunca de forma mais dura ou mais branda.

O objetivo que excita o sadismo midiático é o de minar o espírito dos dois petistas e o dos companheiros que partilham a dor deles não só por sabê-los condenados injustamente, mas por cumprirem uma pena mais dura do que aquela que deveriam estar cumprindo.

Sob essa sanha pervertida, os sádicos midiáticos já encontraram mais direitos a suprimir enquanto os direitos a preservar são ignorados: os condenados do mensalão poderão ficar com a luz acesa até às 24 horas do dia 24 de dezembro. E, escândalo dos escândalos, após receberem uma “ceia de natal”.

Dizem os instrumentos de tortura conformados em papel impresso que os “mensaleiros” receberão “quentinhas” contendo com arroz, feijão, carne, legumes e verduras. E o luxo é tanto que terão acesso à cantina do presídio, onde poderão comprar cigarros e refrigerante.

Esses “mensaleiros” não se emendam, não é mesmo?

As “regalias” de que desfrutariam os petistas que atiçam a perversidade midiática, porém, não são regalias coisa alguma. Eles ainda dispõem de alguma diferenciação dos condenados ao regime fechado simplesmente porque estão padecendo sob ele ilegalmente, pois deveriam estar no regime semiaberto.

Isso em um país em que traficantes, estupradores, assassinos e até políticos corruptos conseguem ficar em liberdade contando com a sabida e consabida leniência que o dinheiro ou a influência da mídia podem comprar da Justiça.
*****

Digo eu, Azenha, que desde que O Globo e a Folha, especialmente, passaram a prever rebelião iminente na Papuda, dado o descontentamento de presos com supostos privilégios dos petistas, era óbvio o desenrolar: as autoridades seriam forçadas a agir. Se não agissem e houvesse uma rebelião, seriam condenadas. Se agissem impedindo a rebelião imaginada por O Globo… bem, conseguiram impedir a rebelião, certo?

O que nos choca acima de tudo é que essa gente tente se passar por defensora:

1. Da aplicação rigorosa da lei;

2. Dos presos mais humildes, que não teriam os supostos privilégios dos petistas.

Ora, se é assim, a mídia deveria, em defesa dos presos desprotegidos, denunciar com toda a força o domínio que o PCC tem sobre a maior parte dos presídios paulistas, onde a facção protege alguns, mas explora a maioria.
*****

Trecho de texto publicado por Vasconcelo Quadros no IG:

“O PCC é uma organização criminosa armada, de caráter permanente”, afirmam 22 promotores do Ministério Público paulista na denúncia de 876 páginas – resultado da maior investigação já feita no Brasil e que esquadrinhou a estrutura da quadrilha – em que o Estado brasileiro reconhece, pela primeira vez, a existência da organização.

[...]

As investigações oficiais confirmam: a organização controla 169.085 dos 201.699 presos paulistas, 137 das 152 unidades prisionais; tem mais de seis mil integrantes trabalhando dentro dos presídios mediando conflitos e 1.800 “soldados” nas ruas da capital. Outros 2.398 detentos filiados estão esparramados por presídios de outros estados.


*****
 Qual seria a consequência de um aperto sobre o PCC nestas 137 unidades prisionais controladas pela facção em São Paulo? Uma explosão em ano eleitoral, complicando a reeleição de Geraldo Alckmin.

O acordo é tácito, não declarado. Decidiram até não falar o nome do PCC, para ver se ele desaparece.

No Presídio Central de Porto Alegre o acordo entre o Estado e as facções locais pelo menos é explícito: cada uma controla uma das galerias, em troca de não matar, nem “virar” a cadeia.

Foi o que contamos na reportagem abaixo. O arranjo é sustentado pelas famílias de todos os presos e implica em enriquecer os líderes das facções dentro do presídio:

Um arranjo que custa caro às famílias de presos from Luiz Carlos Azenha on Vimeo.

Se a mídia está realmente preocupada com os presos mais simples, que não contam com os supostos privilégios dos petistas, deveria denunciar também a situação do complexo penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão, uma das cadeias mais violentas do Brasil, onde mais de 40 presos foram mortos só em 2013, alguns dos quais degolados e esquartejados.

A segurança foi terceirizada, numa daquelas soluções tão caras aos que defendem o “ajuste do Estado”. Por conta da falta de segurança, o borracheiro Elson, condenado pela receptação de quatro pneus que alegava não saber terem sido produto de furto, foi preso junto com homicidas e ladrões de banco e morreu decapitado num confronto entre facções:

Selvageria no Maranhão from Luiz Carlos Azenha on Vimeo.

No entanto, não se vê, a não ser com raras exceções – como a de Vasconcelo Quadros, no IG – uma tentativa de expor as mazelas do sistema prisional equivalente às manchetes indignadas com o suposto tratamento privilegiado dado a petistas.

Mesmo que houvesse um petista preso em cada uma das penitenciárias brasileiras, justificando a atenção da mídia, dificilmente isso aconteceria.

O motivo é óbvio: na onda dos que acreditam em “direitos humanos para humanos direitos”, ou seja, vale tudo contra quem não é “direito”, a mídia nunca de fato se preocupou com os presos a ponto de atingir a apoplexia causada pela leitura fora de hora dos “mensaleiros”.

O Globo não é porta voz da massa carcerária, como agora se pretende. Quer apenas ter certeza de que os petistas presos vão sofrer tanto — ou mais que os outros. É, como escreveu Eduardo Guimarães, puro sadismo. Só isso.
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