Para variar, a cobertura da crise financeira internacional da vez - que se iniciou ano passado no mercado imobiliário de risco nos EUA - tem sido extremamente tendenciosa, na maior parte dos órgãos da mídia brasileira. Ao se ler "O Globo" de hoje, 18/09, tem-se a impressão de que entre os articulistas do jornal, bem como entre seus comentaristas econômicos, há uma discreta torcida para que os efeitos da crise sejam sentidos logo no Brasil. Isto ocorre para, quem sabe, ver se a popularidade do Presidente da República não começa a cair. Logo na manchete, ironiza-se a declaração dada por Lula anteontem de que a crise não afeta o Brasil: "Crise? Que Crise?" Brasil e Rússia perdem mais. A seguir, ao se abrir o caderno de economia, vê-se uma matéria com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - sem sombra de dúvidas, um grande "especialista" no assunto - em que o brilhante intelectual - que deixou a economia brasileira em um "ótimo" estado ao término de seu governo - vaticina que "o ministro Mantega deve pôr as barbas de molho por causa da crise". Bem, se lembrarmos que quando os problemas no mercado imobiliário norte-americano vieram à tona no ano passado, estes senhores previram que haveria uma diminuição do ritmo de crescimento da economia brasileira e, mesmo assim, o PIB brasileiro cresceu 6% no primeiro semestre deste ano, talvez não haja tanto motivo para alarmismo: pelo jeito, eles são tão "competentes" em previsões econômicas, quanto o são em política. A grande questão é que eles não conseguem (ou não querem) distingüir sua torcida pessoal pelo insucesso do atual governo, de uma análise econômica isenta e calcada na realidade concreta. É indiscutível que, devido ao alto grau de interdependência da economia mundial, o Brasil não vai ficar imune aos efeitos desta crise; no entanto, também é inegável que, atualmente, nossos fundamentos macroeconômicos estão muito mais sólidos do que naquelas que ocorreram em 1998 ou em 2001. Assim, portanto, estamos em melhores condições de navegar com mais tranqüilidade pelas ondas turbulentas que agitam os mercados globais. Em tempo: não é interessante que os mesmos - incluindo-se aí a grande imprensa - que hoje fazem um grande alarde em torno da atual crise, sejam aqueles que em 1998 procuraram "maquiar" a gravidade da crise de então para não prejudicar a reeleição de FHC? O problema é que depois, quem pagou a conta fomos nós.