GEOPOLÍTICA - Moniz Bandeira: O Brasil e as ameaças de projeto imperial dos EUA.


Marco Aurélio Weissheimer
Arquivo
Em 2005, o cientista político e historiador Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira apontou em seu livro “Formação do Império Americano” as práticas de espionagem exercidas pelas agências de inteligência dos Estados Unidos. Uma prática que, segundo ele, já tem aproximadamente meio século de existência. Desde os fins dos anos 60, diz Moniz Bandeira, a coleta de inteligência econômica e informações sobre o desenvolvimento científico e tecnológico de outros países, adversos e aliados, tornou-se uma prioridade do trabalho dessas agências.

Em seu novo livro, “A Segunda Guerra Fria - Geopolítica e dimensão estratégica dos Estados Unidos – Das rebeliões na Eurásia à África do Norte e Oriente Médio” (Civilização Brasileira), Moniz Bandeira defende a tese de que os Estados Unidos continuam a implementar a estratégia da full spectrum dominance (dominação de espectro total) contra a presença da Rússia e da China naquelas regiões. “As revoltas da Primavera Árabe”, afirma o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que assina o prefácio do livro, “não foram nem espontâneas e ainda muito menos democráticas, mas que nelas tiveram papel fundamental os Estados Unidos, na promoção da agitação e da subversão, por meio do envio de armas e de pessoal, direta ou indiretamente, através do Qatar e da Arábia Saudita”, 

Nesta nova obra, Moniz Bandeira aprofunda e atualiza as questões apresentadas em “Formação do Império Americano”. “Em face das revoltas ocorridas na África do Norte e no Oriente Médio a partir de 2010, julguei necessário expandir e atualizar o estudo. Tratei de fazê-lo, entre e março e novembro de 2012”, afirma o autor. É neste contexto que o cientista político analisa as recentes denúncias de espionagem praticadas pelos EUA em vários países, inclusive o Brasil.

A definição do Brasil como alvo de espionagem também não é de hoje. Em entrevista à Carta Maior, Moniz Bandeira assinala que a Agência Nacional de Segurança (NSA) interveio na concorrência para a montagem do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), pelo Brasil, e assegurou a vitória da Raytheon, a companhia encarregada da manutenção e serviços de engenharia da estação de interceptação de satélites do sistema Echelon. Na entrevista, o cientista político conta um pouco da história desse esquema de espionagem que, para ele, está a serviço de um projeto de poder imperial de proporções planetárias.

Moniz Bandeira defende que o Brasil, especialmente a partir da descoberta das reservas de petróleo do pré-sal, deve se preparar para defender seus interesses contra esse projeto imperial. “As ameaças existem, conquanto possam parecer remotas. Mas o Direito Internacional só é respeitado quando uma nação tem capacidade de retaliar”, afirma.

Carta Maior: O seu livro "Formação do Império Americano" já tratava, em 2005, do tema da espionagem praticada por agências de inteligência dos Estados Unidos. Qual o paralelo que pode ser traçado entre a situação daquele período e as revelações que vêm sendo feitas hoje?

Moniz Bandeira: Sim, em “Formação do Império Americano”, cuja primeira edição foi lançada em 2005, mostrei, com fundamento em diversas fontes e nas revelações pelo professor visitante da Universidade de Berkeley (Califórnia), James Bamford, que o sistema de espionagem, estabelecido pela National Security Agency (NSA), começou a funcionar há mais de meio século. O objetivo inicial era captar mensagens e comunicações diplomáticas entre os governos estrangeiros, informações que pudessem afetar a segurança nacional dos Estados Unidos e dar assistência às atividades da CIA. 

Com o desenvolvimento da tecnologia eletrônica, esse sistema passou a ser usado para interceptar comunicações internacionais via satélite, tais como telefonemas, faxes, mensagens através da Internet. Os equipamentos estão instalados em Elmendorf (Alaska), Yakima (Estado de Washington), Sugar Grove (Virginia ocidental), Porto Rico e Guam (Oceano Pacífico), bem como nas embaixadas, bases aéreas militares e navios dos Estados Unidos.

A diferença com a situação atual consiste na sua comprovação, com os documentos revelados por Edward Snowden, através do notável jornalista Gleen Greenwald, que mostram que a espionagem é feita em larga escala, com a maior amplitude. 

Desde os fins dos anos 60, porém, a coleta de inteligência econômica e informações sobre o desenvolvimento científico e tecnológico de outros países, adversos e aliados,  tornou-se mais e mais um dos principais objetivos da COMINT (communications inteligence), operado pela NSA), dos Estados Unidos, e pelo Government Communications Headquarters (GCHQ), da Grã-Bretanha, que em 1948 haviam firmado um pacto secreto, conhecido como UKUSA (UK-USA) - Signals Intelligence (SIGINT). Esses dois países formaram um pool - conhecido como UKUSA - para interceptação de mensagens da União Soviética e demais países do Bloco Socialista, a primeira grande aliança de serviços de inteligência e à qual aderiram, posteriormente, agências de outros países, tais como  Communications Security Establishment (CSE), do Canadá, Defense Security Directorate (DSD), da Austrália e do General Communications Security Bureau (GCSB), da Nova Zelândia. Essa rede de espionagem, chamada de Five Eyes e conhecida também como ECHELON -  só se tornou publicamente conhecida, em março de 1999, quando o governo da Austrália nela integrou o Defence Signals Directorate (DSD),  sua organização de  SIGINT. 

Carta Maior: Qual sua avaliação a respeito da reação (ou da falta de) da União Europeia diante das denúncias de espionagem?

Moniz Bandeira: Os serviços de inteligência da União Europeia sempre colaboraram, intimamente, com a CIA e demais órgãos dos Estados Unidos. Os governos da Alemanha, França, Espanha, Itália e outros evidentemente sabiam da existência do ECHELON e deviam intuir que o ECHELON - os Five Eyes - trabalhasse também para as corporações industriais. As informações do ECHELON, sobretudo a partir do governo do presidente Bill Clinton, eram canalizadas para o Trade Promotion Co-ordinating Committee (TPCC), uma agência inter-governamental criada em 1992 pelo Export Enhancement Act e dirigida pelo Departamento de Comércio, com o objetivo de unificar e coordenar as atividades de exportação e financiamento do dos Estados Unidos. Corporações, como Lockheed, Boeing, Loral, TRW, e Raytheon, empenhadas no desenvolvimento de tecnologia, receberam comumente importantes informações comerciais, obtidas da Alemanha, França e outros países através do ECHELON. 

O presidente Clinton recorreu amplamente aos serviços da NSA para espionar os concorrentes e promover os interesses das corporações americanas. Em 1993, pediu à CIA que espionasse os fabricantes japoneses, que projetavam a fabricação de automóveis com zero-emissão de gás, e transmitiu a informação para  a Ford, General Motors e Chrysler. Também ordenou que a NSA e o FBI, em 1993, espionassem  a conferência da Asia-Pacific Economic Cooperation (APEC), Seattle, onde aparelhos foram instalados secretamente em todos os quartos do hotel, visando a  obter informação relacionada com negócios para a construção no Vietnã, da hidroelétrica Yaly. As informações foram passadas para os contribuintes de alto nível do Partido Democrata. E, em 1994, a NSA não só interceptou faxes e chamadas telefônicas entre o consórcio europeus Airbus e o governo da Arábia Saudita,  permitindo ao governo americano intervir  em favor da Boeing Co, como interveio na concorrência para a montagem do SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia), pelo Brasil, e assegurou a vitória da Raytheon, a companhia encarregada da manutenção e serviços de engenharia da estação de interceptação de satélites do sistema  ECHELON, em  Sugar Grove.

Carta Maior: Um dos temas centrais de seus últimos trabalhos é a configuração do Império Americano. Qual é a particularidade desse Império Americano hoje? Trata-se de um Império no sentido tradicional do termo ou de um novo tipo?

Moniz Bandeira: Todos os impérios têm particularidades, que são determinadas pelo desenvolvimento das forças produtivas. Assim, não obstante a estabilidade das palavras, o conceito deve evoluir conforme a realidade que ele trata de representar. O império, na atualidade, tem outras características, as características do ultra-imperialismo, o cartel das potências industriais, sob a hegemonia dos Estados Unidos, que configuram a única potência capaz de executar uma política de poder, com o objetivo estratégico de assegurar fontes de energia e de matérias primas, bem como os investimentos e mercados de suas grandes corporações, mediante a manutenção de bases militares, nas mais diversas regiões do mundo, nas quais avança seus interesses, através da mídia, ações encobertas dos serviços de inteligência, lobbies, corrupção, pressões econômicas diretas ou indiretas, por meio de organizações internacionais, como Banco Mundial, FMI, onde detém posição majoritária. As guerras, para o consumo dos armamentos e aquecimento da economia, foram transferidas para a periferia do sistema capitalista.

É óbvio, portanto, que o Império Americano é diferente do Império Romano e do Império Britânico. Ainda que informal, isto é, não declarado, os Estados Unidos constituem um império. São a única potência, com bases militares em todas as regiões do mundo e cujas Forças Armadas não têm como finalidade a defesa das fronteiras nacionais, mas a intervenção em outros países. Desde sua fundação, em 1776, os Estados Unidos estiveram at war 214 em seus 236 anos do calendário de sua existência, até dezembro de 2012. Somente em 21 anos não promoveram qualquer guerra. E, atualmente, o governo do presidente Barack Obama promove guerras secretas em mais de 129 países. O Império Americano (e, em larga medida, as potências industriais da Europa) necessita de guerras para manter sua economia em funcionamento, evitar o colapso da indústria bélica e de sua cadeia produtiva, bem como evitar o aumento do número de desempregados e a bancarrota de muitos Estados americanos, como a Califórnia, cuja receita depende da produção de armamentos. 

Ademais do incomparável poderio militar, os Estados Unidos também detém o monopólio da moeda de reserva internacional, o dólar, que somente Washington pode determinar a emissão e com a emissão de papéis podres e postos em circulação, sem lastro, financiar seus déficits orçamentários e a dívida pública. Trata-se de um "previligégio exorbitante", conforme o general Charles de Gaulle definiu esse unipolar global currency system, que permite aos Estados Unidos a supremacia sobre o sistema financeiro internacional.

Carta Maior: Qual a perspectiva de longo prazo desse império? 

Moniz Bandeira: Os Estados Unidos, como demonstrei nesse meu novo “A Segunda Guerra Fria”, lançado pela editora Civilização Brasileira, estão empenhados em consolidar uma ordem global, um império planetário, sob sua hegemonia e da Grã-Bretanha, conforme preconizara o geopolítico Nicholas J. Spykman, tendo os países da União Européia e outros como vassalos. O próprio presidente Obama  reafirmou, perante o Parlamento britânico, em Westminster (maio de 2011) que a “special relationship” dos dois países (Estados Unidos e Grã-Bretanha), sua ação e liderança eram indispensáveis à causa da dignidade humana, e os ideais e o caráter de seus povos tornavam “the United States and the United Kingdom indispensable to this moment in history”. Entremente, o processo de globalização econômica e política, fomentado pelo sistema financeiro internacional e pelas grandes corporações multinacionais, estava a debilitar cada vez mais o poder dos Estados nacionais, levando-os a perder a soberania sobre suas próprias questões econômicas e sociais, bem como de ordem jurídica. 

O Project for the New American Century, dos neo-conservadores  e executado pelo ex-presidente George W. Bush inseriu os Estados Unidos em um estado de guerra permanente, uma guerra infinita e indefinida, contra um inimigo assimétrico, sem esquadras e sem força aérea, com o objetivo de implantar a full spectrum dominance, isto é, o domínio completo da terra, mar, ar e ciberespaço pelos Estados Unidos, que se arrogaram à condição de única potência verdadeiramente soberana sobre a Terra, de  "indispensable nation" e “exceptional”.  

O presidente Barack Obama  endossou-o, tal como explicitado na Joint Vision 2010 e ratificado pela Joint Vision 2020, do Estado Maior-Conjunto, sob a chefia do general de exército Henry Shelton. E o NSA é um dos intrumentos para implantar a full spectrum dominance, uma vez que monitorar as comunicações de todos os governantes tanto aliados quanto rivais é essencial para seus propósitos. Informação é poder
 
Carta Maior: Qual o contraponto possível a esse império no ambiente geopolítico atual?

Moniz Bandeira: Quando em 2006 recebi o Troféu Juca Pato, eleito pela União Brasileira de Escritores "Intelectual do ano 2005", por causa do meu livro “Formação do Império Americano”, pronunciei um discurso, no qual previ que, se o declínio do Império Romano durou muitos séculos, o declínio do Império Americano provavelmente levará provavelmente algumas décadas. O desenvolvimento das ferramentas eletrônicas, da tecnologia digital, imprimiu velocidade ao tempo, e a sua queda será tão vertiginosa, dramática e violenta quanto sua ascensão. Contudo, não será destruído militarmente por nenhuma outra potência. Essa perspectiva não há. O Império Americano esbarrondará sob o peso de suas próprias contradições econômicas, de suas dívidas, pois não poderá indefinidamente emitir dólares sem lastros para comprar petróleo e todas as mercadorias das quais depende, e depender do financiamento de outros países, que compram os bonus do Tesouro americano, para financiar seu consumo, que excede a produção, e financiar suas guerras. 

É com isto que a China conta. Ela é o maior credor dos Estados Unidos, com reservas de cerca US$ 3,5 trilhões, das quais apenas US$ 1,145 trilhão estavam investidos em U.S. Treasuries. E o  ex-primeiro-ministro Wen Jiabao  previu o “primeiro estágio do socialismo para dentro de 100 anos”, ao afirmar que o Partido Comunista persistiria executando as reformas e inovação a fim de assegurar o vigor e vitalidade e assegurar o socialismo com as características chinesas, pois “sem a sustentação e pleno desemvolvimento das forças produtivas, seria impossível alcançar a equidade e justiça social, requesitos essenciais do socialismo.”

Carta Maior: Na sua opinião, o que um país como o Brasil pode fazer para enfrentar esse cenário?

Moniz Bandeira: O ministro-plenipotenciário do Brasil em Washington, Sérgio Teixeira de Macedo, escreveu, em 1849, que não acreditava que houvesse “um só país civilizado onde a idéia de provocações e de guerras seja tão popular como nos Estados Unidos”. Conforme percebeu, a “democracia”, orgulhosa do seu desenvolvimento, só pensava em conquista, intervenção e guerra estrangeira, e preparava, de um lado, a anexação de toda a América do Norte e, do outro, uma política de influência sobre a América do Sul, que se confundia com suserania. 

O embaixador do Brasil em Washington, Domício da Gama, comentou, em 1912, que o povo americano, formado com o concurso de tantos povos, se julgava diferente de todos eles e superior a eles. E acrescentou que “o duro egoísmo individual ampliou-se às proporções do que se poderia chamar de egoísmo nacional”. Assim os Estados Unidos sempre tenderam e tendem a não aceitar normas ou limitações jurídicas internacionais, o Direito Internacional, não obstante o trabalho de Woodrow Wilson para formar a Liga das Nações e de Franklin D. Roosevelt para constituir a ONU. E o Brasil, desde 1849, esteve a enfrentar a ameaça dos Estados Unidos que pretendiam assenhorear-se da Amazônia. 

Agora, a situação é diferente, mas, como adverti diversas vezes, uma potência, tecnologicamente superior, é muito mais perigosa quando está em declínio, a perder sua hegemonia e quer conservá-la, do que quando expandia seu império. Com as descobertas das jazidas pré-sal, o Brasil entrou no mapa geopolítico do petróleo. As ameaças existem, conquanto possam parecer remotas. Mas o Direito Internacional só é respeitado quando uma nação tem capacidade de retaliar. O Brasil, portanto, deve estar preparado para enfrentar, no mar e em terra, e no ciberespaço, os desafios que se configuram, lembrando a máxima “se queres a paz prepara-te para a guerra” (Si vis pacem,para bellum)
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Feliz Aniversário, Garrincha! Show de bola na final do Carioca de 1962, contra o Flamengo



BOTAFOGO 3 x 0 FLAMENGO
Data: 15 / 12 / 1962
Local: Maracanã (Rio de Janeiro)
Público: 158.994 (147.043 pagantes)
Árbitro: Armando Marques
Gols: 1° tempo: Botafogo 2 a 0, Garrincha e Vanderlei (contra); Final: Botafogo 3 a 0, Garrincha
Botafogo: Manga, Paulistinha, Jadir, Nílton Santos e Rildo; Ayrton e Édison; Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. Técnico: Marinho Rodrigues.
Flamengo: Fernando, Joubert, Vanderlei, Décio Crespo e Jordan; Carlinhos e Nelsinho; Espanhol, Henrique, Dida e Gérson. Técnico: Flávio Costa.
Obs: Dida e Paulistinha foram expulsos.
Fonte: Jornal dos Sports de 16-12 e 28-12-1962.


Madame Flaubert, de Antonio Mello

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ECONOMIA - Capitalismo financeiro está baseado na extração da mais valia absoluta.


Capitalismo vive momento de extração da mais-valia absoluta, diz Louçã

Capitalismo financeiro está baseado na extração da mais-valia absoluta, no aumento da exploração do trabalho, defende dirigente do Bloco de Esquerda.


Cristina Portella
Paulete Matos
Lisboa - Dirigente do Bloco de Esquerda e professor de Economia do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), em Portugal, Francisco Louçã analisou, na sua participação no II Congresso Karl Marx, as mudanças do capitalismo após os anos 70/80 e reafirmou a atualidade do marxismo como uma ferramenta de análise do capital. Falamos com ele.

Em sua intervenção, falaste que o capitalismo passa hoje por uma mudança extraordinária. Que mudança extraordinária é essa?

Eu referia-me ao fato de que a partir dos anos 80, quando as políticas neoliberais ganharam muita força nos principais países capitalistas, isso se generalizou na grande dimensão do capital financeiro, este capital baseado na dívida, na extração da mais-valia absoluta, ou seja, no aumento da exploração do trabalho, ter permitido estes novos setores do capital acumularem uma grande parte do valor que é produzido na sociedade.

A crise de hoje pode ser lida como uma multiplicação das formas autoritárias de exploração do trabalho de todas as formas possíveis nos países capitalistas da periferia, Portugal, Grécia, etc. sob a forma da renda fiscal, do aumento dos impostos, do aumento do trabalho gratuito, da redução de salários, da redução das pensões, ou seja, do salário que os trabalhadores obtêm depois de se terem aposentado, depois de uma vida de trabalho, e esse processo é um processo totalmente baseado nesse poder imenso que o Estado dá ao capital financeiro. 

Disseste também que há uma tendência à redução à taxa de lucro, e que essa redução adquire uma dimensão tal que obriga o capital a adotar formas muito mais duras de extração de mais-valia.

Exatamente. Desde os anos 70, a seguir àqueles anos de grande crescimento nos países capitalistas avançados, não é no mundo inteiro, mas é na Europa, nos Estados Unidos, na Austrália, a outra parte do mundo estava totalmente alheada desse processo, mas nos países capitalistas avançados, a seguir à Segunda Guerra, houve 30 anos de grande crescimento, inclusive com aumento dos salários, quando um contrato social permitiu o Serviço Nacional de Saúde. E desde essa crise a redução da taxa de lucro é respondida pela afirmação das políticas liberais, ou seja, pelas políticas de vulnerabilização dos salários, precarização do trabalho, de redução dos salários dos trabalhadores mais qualificados, ou seja, por um aumento brutal da exploração.

A resposta à redução da taxa de lucro é o aumento da dívida e o aumento da exploração. E a dívida é uma forma de exploração, porque é uma garantia do valor dos salários que é pago no futuro sobre a forma de impostos. E portanto ao longo desses anos essa tendência para a contração da taxa de lucro foi respondida por uma aceleração, por uma agressividade política que nunca tínhamos conhecido em Portugal desde a revolução do 25 de Abril, porque Portugal vivia numa expansão da democracia e não numa contração da democracia. 

Essa contração da democracia foi citada há pouco como uma possibilidade de, em momentos de crise, do reaparecimento do fascismo. Acreditas na hipótese do fascismo hoje?

Hoje em dia, estamos tão distantes da II Guerra Mundial que muita gente tende a ver o fascismo como uma exceção, como alguma coisa que aconteceu com um setor extravagante, de loucos como Hitler. O fascismo foi a resposta do capital financeiro às revoluções dos anos 20, a Revolução Russa  e as ameaças revolucionárias seguintes. Foi a forma mais forte e mais organizada da resposta do capital financeiro contra o movimento operário, o movimento comunista de então.

Hoje estamos numa situação muito diferente, e as forças políticas fascistas são muito agressivas, como na Grécia, com uma grande dimensão popular, mas minoritárias na sociedade, ou florescem a partir da cultura nacionalista, como é o caso da França, mas não são uma ameaça da instituição de regimes fascistas na Europa. São uma ameaça em forma de pressão social.

Agora, todos esses momentos de crise, quando não há uma resposta, quando a democracia, ou seja, quando a luta dos trabalhadores não consegue impor os seus direitos, enfim, a regra da distribuição do rendimento que permita valorizar os salários, valorizar as pensões, atacar o capital financeiro, o risco da degradação social e da perda de identidade nacional, o surgimento de forças com essas características é certamente crescente. 

Acreditas que exista hoje algum setor da burguesia que apostem nessa opção?

Não, creio que são setores muito marginais. Por exemplo, na Grécia, uma parte da burguesia grega, o aparelho de Estado, a polícia, utilizam os fascistas para atacar os imigrantes, para ter uma divisão da classe operária. E a Frente Nacional em França faz isso também, com outros instrumentos, mas faz isso também. Agora, o que a burguesia europeia pretende é a estabilidade de um regime que permita assegurar esse aumento da extração da mais-valia, essa recuperação da taxa de lucro, esta reconstrução da sociedade, degradando todos os direitos dos trabalhadores. Ou seja, o que a burguesia pretende é uma sociedade em que não haja contrato coletivo de trabalho, não haja organização sindical representativa dos trabalhadores, o trabalhador tenha um contrato individual, o trabalhador mais qualificado tenha um salário mínimo, que haja uma grande degradação estrutural, permanente, de longo prazo, tanto do salário, quanto da capacidade de representação do trabalhador.

E o marxismo seria ainda uma resposta a esta nova situação de mudança extraordinária do capital.

O mais espantosos nos últimos anos é o fracasso das teorias tradicionais da economia burguesa, da economia neoclássica, para apreciar as contradições que nós temos. O marxismo situa-nos na análise da distribuição do valor, na análise do centro da disputa social, da relação social, onde se constrói a força do Estado e a força do capital financeiro, do capital em geral. Portanto, permite a perceção de como é criado valor na sociedade e da natureza da luta de classes. Marx dizia que não foi ele que inventou a luta de classes, com certeza que não, mas a perceção de como o capital se institui como uma relação de exploração em relação ao trabalho é o ponto de partida para qualquer análise da sociedade moderna.
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POLÍTICA - Como era de se esperar.....

Marina esvazia Campos, e Pezão rompe com Dilma Rousseff


Pedro do Coutto
O título deste artigo parece conter duas surpresas, mas os fatos concretos estão confirmados em duas reportagens publicadas na edição de O Globo de quarta-feira. A primeira de Sérgio Roxo e Efrem Ribeiro; a segunda assinada por Cássio Bruno. Numa entrevista à TV Cultura, na véspera, Marina Silva afirmou frontalmente que Eduardo Campos fazia uma política velha, mas a Rede (Sustentabilidade) lhe deu substância.
Marina Silva, na realidade, desfechou uma crítica direta ao governador de Pernambuco, acusando-o de praticar alianças políticas de estilo arcaico, sem conteúdo ideológico. Claro. Já que ela sustentou ter sido seu ingresso, levando consigo a Rede de estilo moderno, que forneceu a Campos a devida substância. Que substância? A de pensamento. Logo, uma coisa leva à outra: se foi ela quem forneceu a substância é porque, impossível negar, no seu raciocínio, essa mesma substância faltava ao candidato do PSB, partindo no qual ingressou com grande repercussão no sábado de 5 de outubro. Marina Silva evitou a pergunta feita por um dos entrevistadores se aceitaria ser vice de Campos. Sem dúvida, a candidatura de Campos saiu enfraquecida do episódio.
Relativamente ao Rio de janeiro, não poderia ter sido mais infeliz (para si próprio) a afirmativa do vice Luiz Fernando Pezão de que não aceita participar de um esquema de palanque duplo no Estado para a candidatura Dilma Rousseff. Agindo assim, provavelmente em sintonia com o governador Sérgio Cabral, Pezão isolou mais o PMDB do quadro sucessório e isolou a si mesmo. Se o tema palanque duplo foi aceito por Lindbergh Farias, como acentua Cássio Bruno na matéria, quando vier ao RJ, o que Rousseff irá fazer? Apenas não incorporar o vice de Sergio Cabral à sua campanha no Rio.
LINDBERGH EM ALTA
Em vez de palanque duplo, ela escolherá a companhia de Lindbergh. Nada mais natural, pois foi, esta é a verdade, rejeitada por Pezão. Inclusive Dilma poderá, excluído Pezão, ter vários palanques somando para ela: além de Lindbergh, os apoios de Anthony Garotinho, Marcelo Crivella, e talvez ainda caiba mais alguém a seu lado, tanto nos comícios quanto, o que hoje é mais importante, nos horários da televisão e do rádio. Luiz Fernando Pezão fez um autêntico gol contra.
Se teve como objetivo ameaçar a presidente da República, o lance não produziu para o PMDB fluminense reflexo positivo algum. Pelo contrário. Já que certamente Pezão e Sérgio Cabral não pensaram na perda de espaço na TV que caberia à aliança PT-PMDB e que, com a ruptura de contradições, o vice-governador esqueceu que a recente pesquisa do Datafolha apresentou uma posição excepcional, em termos de intenção de votos, para Dilma. Assim, sua companhia na campanha acrescenta mais para os que estiverem a seu lado do que os que estiverem a seu lado acrescentam para ela. Marina Silva jogou para substituir Eduardo campos na chapa do PSB. Teve um objetivo. Já Pezão agiu sem pensar no reflexo de suas palavras. Jogou fora um espaço político irrecuperável.
Como classificar isso?
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POLÍTICA - Folha apresenta sua agenda econômica.

Folha apresenta sua agenda econômica e a atribui a Eduardo Campos


Reportagem da Folha de S.Paulo no fim de semana (no domingo) informa que o presidenciável Eduardo Campos (PSB) avalia que quem quiser governar o Brasil a partir de 2015 terá de fazer um duro ajuste fiscal. A matéria afirma que a avaliação é reproduzida por diversos de seus interlocutores.
O problema é que essa é uma avaliação da Folha de S.Paulo sobre o que Campos diz. Mais até, é um desejo, talvez, da Folha. É o que ela diz, prega e cobra no dia a dia em seu noticiário. Nos editoriais, então, nem se fala; é a reprodução, sem tirar nem pôr, do que defende o jornal no dia a dia. Ou do que querem em matéria de política econômica para o Brasil as fontes do jornal próximas ao governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB.
De qualquer forma é um mau sinal para o Brasil e um sinal excelente para os mercados: o presidenciável Eduardo Campos pregaria o fim do aumento real do salário mínimo e a volta do superávit primário a qualquer custo e preço. Mas o que a Folha diz que ele prega já é praticado hoje.
Se é a política econômica de Campos, ele adotou a mesma do tucanato
Não há como manter superávit alto com juros elevados na atual conjuntura, sem cortar gastos e sem desvalorizar os salários. Vamos esperar para ver o que Campos propõe ao país – ele não propôs nada até agora além desse negócio vago, que repete diariamente de que “é possível fazer mais”!!!! Vamos ver que rumo e que agenda ele apresenta, já que não é nada boa a que a Folha apresentou como a dele nesse domingo.
Fora o fato de que é preciso atentar para mais um detalhe na agenda do jornal, apresentada como sendo do presidenciável Eduardo Campos: ajuste fiscal duro e fim do aumento real do salário mínimo soam como música para o mercado e vai na linha do tucanato. É o mesmo discurso do senador presidenciável tucano Aécio Neves (PSDB-MG).
Mas, vamos lá… Vamos aos principais pontos da agenda da Folha que o jornal diz ser do governador Eduardo Campos: ele tem defendido em diálogos recentes o que chama de “choque de responsabilidade”, um gesto na linha de recuperar a confiança do mercado financeiro para tornar o país governável pelos próximos anos.
Presidenciável quer mudar política do salário mínimo?
“Qualquer que seja o resultado da eleição, será um ano difícil. Vai ter de ser duro para resgatar a confiança. O que conta é a previsibilidade, sem maquiagens”, disse o governador durante conversa com auxiliares na semana passada, conta a Folha de S.Paulo.
O jornal acrescenta que Eduardo Campos sinaliza com um “mix” da doutrina liberal e da pauta desenvolvimentista, corrente na qual afirma se encaixar melhor sempre que um rótulo lhe é cobrado. Em outras situações, apenas responde secamente: “Defendo o crescimento”. O governador defende, ainda, a definição de metas de longo prazo para o superavit primário e o cumprimento estrito da meta de inflação fixada pelo governo federal, matéria em que mostra simpatia pelo regime de bandas.
De acordo com o que reproduz o jornal, nesse sistema pendular, a União economiza mais para pagar juros da dívida quando o PIB estiver crescendo mais; e promove aperto menor nos gastos quando houver desaceleração da atividade econômica. “Não tem cabimento um superavit de 3% do PIB”, diz com frequência.
O presidente nacional do PSB se mostraria contrário, também, ao método de reajuste do salário mínimo automático, com base na inflação do período e no crescimento do PIB de dois anos antes. Concorda em garantir ganho real ao trabalhador, sem indexação. Se concorda e não acredita em milagres, deveria explicar como conseguir isso. E mais: como pretende mudar a política do salário mínimo, tão duramente conquistada e negociada pelo governo, centrais sindicais e aprovada pelo congresso Nacional.

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