Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
Chegamos ao estertor do ano pré-eleitoral de 2013 com o país indo bem, superando uma crise internacional que colocou o Primeiro Mundo de joelhos, com a economia se preparando para um salto, com a pobreza e a desigualdade caindo, com pleno emprego, com salários subindo…
Em tese, um país com a trajetória em que segue o nosso dificilmente sofrerá mudança de governo a não ser que seu eleitorado seja ludibriado ou que o partido desse governo ou ele mesmo cometam algum erro colossal.
Como em toda eleição desde 2002, sempre aparecem candidatos a governar o Brasil enxergando um “sentimento de mudança”, mas tudo isso não passa de balela. Só se quer mudar o que está indo mal. Esse desejo de “mudança”, pois, não é do povo, mas de uma parcela que já deseja o mesmo há muito tempo e que vem se mostrando minoritária.
Burra, desinformada, ignorante, conformista, seja lá como queiram chamar a maioria que elegeu o atual grupo político em 2002 e não parou mais de reeleger, o fato é que essa gente sabe muito bem por que tem feito tal opção política.
Só quem não sabe é quem acha que essa maioria não sabe o que faz ou por que faz.
O que pode derrotar o PT, então, no ano que vem?
Em primeiro lugar, a sua forma de lidar com as críticas construtivas, justas e bem-intencionadas. Claro que o partido sofre críticas injustas demais e, assim, seus expoentes e seus anônimos vivem na defensiva, mas não são todas as críticas.
Sem entender isso, não só o PT como qualquer um estará semeando o fracasso.
Há problemas com o PT, por exemplo, no que diz respeito à política. O partido, em suas alas majoritárias, parece que abdicou por um bom tempo de fazer política, talvez achando ser possível coexistir com as forças políticas extrapartidárias que o combatem, como a mídia.
Esse tipo de erro de avaliação ficou patente durante recente entrevista de que participei com o prefeito Fernando Haddad. Ele mostrou certa surpresa diante dos ataques que passou a receber da mídia após o “aumento” do IPTU ou após a investigação da corrupção na gestão anterior.
Altos petistas instalados no Poder Executivo, portanto, precisam saber separar as críticas construtivas das destrutivas e oportunistas. Frequentemente, governantes desse partido tem sido intolerantes com as primeiras e tolerantes com as segundas.
Não é o caso do prefeito Fernando Haddad, vale dizer. Na entrevista que mencionei acima ele se mostrou surpreendentemente aberto a críticas de blogueiros que vêm questionando sua administração no que tange a políticas de comunicação.
Haddad admitiu com tranquilidade que não está conseguindo se comunicar com aqueles que elegeu por não saber como furar o bloqueio da mídia, que vem tratando de confundir o eleitorado acusando seu governo daquilo pelo que não tem a menor responsabilidade.
Mas essa não é a realidade do governo federal, que, após a saída de Lula, passou a ver os movimentos na internet que o apoiam como um constrangimento, mas só até o ponto em que percebeu que sem esses movimentos a mídia estaria agindo sem contraponto, ainda que tal contraponto seja pífio diante do poder midiático.
Ou nem tanto…
É claro que blogs e redes sociais não têm a força da televisão, mas vão disseminando informações que, se forem corretas e justas, acabam encontrando eco entre formadores de opinião que passam difundi-las.
Ou seja: esqueçamos do público submisso a um meio de comunicação. O público, hoje, é crítico, é formulador inclusive de correntes opinativas. Pode contrariar grandes grupos de mídia, governos, qualquer cacique que o queira conduzir como gado.
Nesse aspecto, a forma de governantes petistas lidarem com críticas precisa ser muito bem pensada. As críticas mal-intencionadas têm que ser rebatidas sem a menor hesitação, pois quem cala, consente. Mas é das críticas bem-intencionadas que os governos petistas podem tirar reflexões vitais.
Na segunda-feira, deixava a prefeitura de São Paulo e, a alguns metros do edifício que lhe serve de sede, vi duas mulheres de aparência humilde, cheias de sacolas, criticando com fúria o governo da cidade, que não tem nem um ano.
Provavelmente residem na periferia, de forma que deverão ser beneficiadas por um novo modelo de IPTU que vai reduzir o imposto para quem vive nas franjas da cidade. Contudo, diziam que essa era mais uma artimanha petista para roubar o povo pobre…
Fiquei estarrecido. Como essa gente pode não saber que será beneficiada?
Francamente, não sei como o governo Haddad ou mesmo o governo Dilma podem enfrentar uma campanha midiática desse tamanho, mas também é verdade quem em São Paulo a situação é diferente da do resto do país. Sempre foi e, pelo visto, continuará sendo.
Mas o governo pode, sim, encontrar fórmulas se estiver disposto a ter uma política vigorosa de comunicação. E, para falar a verdade, acho que já começa a se preocupar com isso. Ano eleitoral faz milagre no desejo dos políticos de entrarem em sintonia com o povo.
Um bom sinal, porém, foi a reação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, à tentativa da mídia e do PSDB de jogarem no seu colo a culpa pela roubalheira dos trens em São Paulo. Foi uma reação forte e que fez os tucanos e a mídia baixarem a bola.
Foi na medida certa.
Contudo, a militância petista tem que sair do choque que se produziu a partir do linchamento dos condenados do mensalão e começar a entender que não se pode reagir com intolerância a críticas, pois não existe governo perfeito, partido perfeito ou um único ser vivo perfeito.
Essa postura da base do petismo, porém, reflete problemas de liderança da cúpula, ainda que esta pareça estar encontrando um caminho.
A militância, pois, tem que se preparar para, ano que vem, discutir com paciência as queixas sinceras que possam surgir. Será um trabalho de formiguinha. Muitas vezes, se se conversar pacientemente com alguém que tem uma ideia pré-concebida é possível fazê-lo ver os fatos pelo ângulo correto – contanto, é claro, que exista tal ângulo a ser mostrado.
Estamos, pois, chegando a uma encruzilhada. O caminho que o PT escolher e que precisará ser indicado às suas bases terá que primar por uma sintonia fina do enfrentamento do debate político.
Se o cidadão comum sentir que é possível dialogar com o PT em relação às suas queixas, sentirá confiança em que o partido, se eleger de novo o governo, irá levá-lo a sério. Por outro lado, se a cúpula do PT abandonar a militância à própria sorte, provocará um desânimo fatal.
Ataques descabidos como sofreu recentemente o prefeito Fernando Haddad têm que ser rebatidos com dureza e com a indignação dos justos. Calar ante tais ataques confiando em que a economia tudo proverá será um erro fatal de avaliação.
Por fim, peço desculpas se estiver parecendo que tenho a fórmula da Coca-Cola da comunicação. Ninguém tem essa fórmula. Se alguém tiver, ficará muito rico. Mas certas fórmulas não precisam se igualar à do refrigerante hegemônico no mundo para vingar.
Um primeiro passo para achar tais fórmulas é sempre ouvir, pesquisar fundo sobre o que se ouviu e nunca, jamais, deixar que cresçam problemas detectados. Afinal, quando você for ver descobrirá que cresceram tanto que já não são mais problemas, mas tragédias.
Chegamos ao estertor do ano pré-eleitoral de 2013 com o país indo bem, superando uma crise internacional que colocou o Primeiro Mundo de joelhos, com a economia se preparando para um salto, com a pobreza e a desigualdade caindo, com pleno emprego, com salários subindo…
Em tese, um país com a trajetória em que segue o nosso dificilmente sofrerá mudança de governo a não ser que seu eleitorado seja ludibriado ou que o partido desse governo ou ele mesmo cometam algum erro colossal.
Como em toda eleição desde 2002, sempre aparecem candidatos a governar o Brasil enxergando um “sentimento de mudança”, mas tudo isso não passa de balela. Só se quer mudar o que está indo mal. Esse desejo de “mudança”, pois, não é do povo, mas de uma parcela que já deseja o mesmo há muito tempo e que vem se mostrando minoritária.
Burra, desinformada, ignorante, conformista, seja lá como queiram chamar a maioria que elegeu o atual grupo político em 2002 e não parou mais de reeleger, o fato é que essa gente sabe muito bem por que tem feito tal opção política.
Só quem não sabe é quem acha que essa maioria não sabe o que faz ou por que faz.
O que pode derrotar o PT, então, no ano que vem?
Em primeiro lugar, a sua forma de lidar com as críticas construtivas, justas e bem-intencionadas. Claro que o partido sofre críticas injustas demais e, assim, seus expoentes e seus anônimos vivem na defensiva, mas não são todas as críticas.
Sem entender isso, não só o PT como qualquer um estará semeando o fracasso.
Há problemas com o PT, por exemplo, no que diz respeito à política. O partido, em suas alas majoritárias, parece que abdicou por um bom tempo de fazer política, talvez achando ser possível coexistir com as forças políticas extrapartidárias que o combatem, como a mídia.
Esse tipo de erro de avaliação ficou patente durante recente entrevista de que participei com o prefeito Fernando Haddad. Ele mostrou certa surpresa diante dos ataques que passou a receber da mídia após o “aumento” do IPTU ou após a investigação da corrupção na gestão anterior.
Altos petistas instalados no Poder Executivo, portanto, precisam saber separar as críticas construtivas das destrutivas e oportunistas. Frequentemente, governantes desse partido tem sido intolerantes com as primeiras e tolerantes com as segundas.
Não é o caso do prefeito Fernando Haddad, vale dizer. Na entrevista que mencionei acima ele se mostrou surpreendentemente aberto a críticas de blogueiros que vêm questionando sua administração no que tange a políticas de comunicação.
Haddad admitiu com tranquilidade que não está conseguindo se comunicar com aqueles que elegeu por não saber como furar o bloqueio da mídia, que vem tratando de confundir o eleitorado acusando seu governo daquilo pelo que não tem a menor responsabilidade.
Mas essa não é a realidade do governo federal, que, após a saída de Lula, passou a ver os movimentos na internet que o apoiam como um constrangimento, mas só até o ponto em que percebeu que sem esses movimentos a mídia estaria agindo sem contraponto, ainda que tal contraponto seja pífio diante do poder midiático.
Ou nem tanto…
É claro que blogs e redes sociais não têm a força da televisão, mas vão disseminando informações que, se forem corretas e justas, acabam encontrando eco entre formadores de opinião que passam difundi-las.
Ou seja: esqueçamos do público submisso a um meio de comunicação. O público, hoje, é crítico, é formulador inclusive de correntes opinativas. Pode contrariar grandes grupos de mídia, governos, qualquer cacique que o queira conduzir como gado.
Nesse aspecto, a forma de governantes petistas lidarem com críticas precisa ser muito bem pensada. As críticas mal-intencionadas têm que ser rebatidas sem a menor hesitação, pois quem cala, consente. Mas é das críticas bem-intencionadas que os governos petistas podem tirar reflexões vitais.
Na segunda-feira, deixava a prefeitura de São Paulo e, a alguns metros do edifício que lhe serve de sede, vi duas mulheres de aparência humilde, cheias de sacolas, criticando com fúria o governo da cidade, que não tem nem um ano.
Provavelmente residem na periferia, de forma que deverão ser beneficiadas por um novo modelo de IPTU que vai reduzir o imposto para quem vive nas franjas da cidade. Contudo, diziam que essa era mais uma artimanha petista para roubar o povo pobre…
Fiquei estarrecido. Como essa gente pode não saber que será beneficiada?
Francamente, não sei como o governo Haddad ou mesmo o governo Dilma podem enfrentar uma campanha midiática desse tamanho, mas também é verdade quem em São Paulo a situação é diferente da do resto do país. Sempre foi e, pelo visto, continuará sendo.
Mas o governo pode, sim, encontrar fórmulas se estiver disposto a ter uma política vigorosa de comunicação. E, para falar a verdade, acho que já começa a se preocupar com isso. Ano eleitoral faz milagre no desejo dos políticos de entrarem em sintonia com o povo.
Um bom sinal, porém, foi a reação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, à tentativa da mídia e do PSDB de jogarem no seu colo a culpa pela roubalheira dos trens em São Paulo. Foi uma reação forte e que fez os tucanos e a mídia baixarem a bola.
Foi na medida certa.
Contudo, a militância petista tem que sair do choque que se produziu a partir do linchamento dos condenados do mensalão e começar a entender que não se pode reagir com intolerância a críticas, pois não existe governo perfeito, partido perfeito ou um único ser vivo perfeito.
Essa postura da base do petismo, porém, reflete problemas de liderança da cúpula, ainda que esta pareça estar encontrando um caminho.
A militância, pois, tem que se preparar para, ano que vem, discutir com paciência as queixas sinceras que possam surgir. Será um trabalho de formiguinha. Muitas vezes, se se conversar pacientemente com alguém que tem uma ideia pré-concebida é possível fazê-lo ver os fatos pelo ângulo correto – contanto, é claro, que exista tal ângulo a ser mostrado.
Estamos, pois, chegando a uma encruzilhada. O caminho que o PT escolher e que precisará ser indicado às suas bases terá que primar por uma sintonia fina do enfrentamento do debate político.
Se o cidadão comum sentir que é possível dialogar com o PT em relação às suas queixas, sentirá confiança em que o partido, se eleger de novo o governo, irá levá-lo a sério. Por outro lado, se a cúpula do PT abandonar a militância à própria sorte, provocará um desânimo fatal.
Ataques descabidos como sofreu recentemente o prefeito Fernando Haddad têm que ser rebatidos com dureza e com a indignação dos justos. Calar ante tais ataques confiando em que a economia tudo proverá será um erro fatal de avaliação.
Por fim, peço desculpas se estiver parecendo que tenho a fórmula da Coca-Cola da comunicação. Ninguém tem essa fórmula. Se alguém tiver, ficará muito rico. Mas certas fórmulas não precisam se igualar à do refrigerante hegemônico no mundo para vingar.
Um primeiro passo para achar tais fórmulas é sempre ouvir, pesquisar fundo sobre o que se ouviu e nunca, jamais, deixar que cresçam problemas detectados. Afinal, quando você for ver descobrirá que cresceram tanto que já não são mais problemas, mas tragédias.