Poema de Natal

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  • terça-feira, 24 de dezembro de 2013
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  • Poema de Natal

    Para isso fomos feitos:
    Para lembrar e ser lembrados
    Para chorar e fazer chorar
    Para enterrar os nossos mortos —
    Por isso temos braços longos para os adeuses

    Mãos para colher o que foi dado
    Dedos para cavar a terra.
    Assim será nossa vida:
    Uma tarde sempre a esquecer
    Uma estrela a se apagar na treva
    Um caminho entre dois túmulos —

    Por isso precisamos velar
    Falar baixo, pisar leve, ver
    A noite dormir em silêncio.
    Não há muito o que dizer:

    Uma canção sobre um berço
    Um verso, talvez de amor
    Uma prece por quem se vai —

    Mas que essa hora não esqueça
    E por ela os nossos corações
    Se deixem, graves e simples.
    Pois para isso fomos feitos:

    Para a esperança no milagre
    Para a participação da poesia
    Para ver a face da morte —

    De repente nunca mais esperaremos...
    Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
    Nascemos, imensamente.

          Vinícius de Moraes
     
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