No "saídão", presos se queixam de mensaleiros
Detentos que deixaram a Papuda para passar o Natal com a família reclamam que os condenados da Ação Penal 470 são "bem tratadinhos" e recebem visitas na área administrativa
LEANDRO KLEBER
DIEGO ABREU
JOÃO VALADARES
DIEGO ABREU
JOÃO VALADARES
Primeira leva de presos deixa o Complexo Penitenciário da Papuda: pelas regras da Vara de Execuções Penais, eles precisam retornar até 10h de amanhã |
Almir Mendes, 60 anos, condenado por tráfico de drogas, informou que ele e outros presos precisaram ser removidos das celas. “Tiraram a gente de umas celas para colocar os presos do mensalão. Não encontro o grupo com frequência, mas já vi todos a distância. A visita deles é na administração. Eles estão sendo ‘bem tratadinhos’. Os outros são numa área externa”, afirmou. Ele defendeu que todos os detentos precisam de cuidado. “A pessoa presa tem que ser bem tratada mesmo. A prisão já é uma punição. Estou muito feliz por poder passar o Natal com minha família. Tenho certeza de que vou partir para outra. O crime não compensa”, disse enquanto, esperava o ônibus para visitar a família em Samambaia.
Os principais condenados pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão estão presos na Papuda desde 16 de novembro. Como eles não cumpriram o mínimo de um sexto da pena, não têm direito ao benefício de passar o Natal com a família. “A gente se cruza lá dentro. Ficamos na ala do lado da deles. Mas eu vou falar uma coisa para você: não gosto dos camaradas. Eles são os verdadeiros serial killers do país”, afirmou José Mourão Farias, 63 anos, um dos contemplados pela liberação da penitenciária.
Ele preferiu não comentar sobre os crimes que teria cometido. Disse apenas que cumpre pena de 3 anos e 3 meses. “Agora, só falta um ano”, comemorou, ao ver o filho que o aguardava de carro do lado de fora do complexo. Segundo o detento, a maioria dos presos de sua ala trabalha durante o dia e, por isso, eles têm pouco contato com os condenados do mensalão.
Nada de ceia
Algumas pessoas que estiveram na porta da Papuda para receber os parentes se decepcionaram ao ver que eles não estavam na primeira leva de presos. Mães choraram achando que os filhos não viriam mais. Porém, outros ônibus saíram da penitenciária. No total, segundo a Secretaria de Segurança Pública, 1.328 presos foram beneficiados no saidão, incluindo cerca de 200 mulheres que deixaram a Penitenciária Feminina do Distrito Federal, no Gama, conhecida como Colmeia. “Estou muito feliz com a saída do meu irmão. É o primeiro saidão dele em quatro anos de prisão. Vamos passar o Natal com a família”, contou uma irmã que preferiu não se identificar.
Na Rodoviária, detentos celebraram a liberdade provisória de dois dias: 1.328 pessoas fora da prisão |
O primeiro ônibus com mais de 40 presos, todos de branco, chegou à Rodoviária do Plano Piloto às 9h50. Assim que o veículo parou, os detentos comemoraram. Muitos gritaram ao descer do coletivo. O ônibus chegou escoltado em duas patrulhas da Polícia Civil. Um grupo de policiais militares acompanhou a dispersão a distância.
O detento Jorge Muniz, 33 anos, disse que observa com frequência condenados do mensalão que estão no semiaberto. “Eu os vejo sempre de longe. Não tenho muito contato. Não sei se eles estão tendo privilégios”, afirmou. Jorge cumpre pena por assalto e vai passar o Natal com a família em Samambaia. “O clima lá dentro está normal como sempre.” A Secretaria de Segurança Pública informou que os presos não terão direito à ceia de Natal. O cardápio é o de sempre: arroz, feijão, salada, carne e um suco.
Um policial ouvido pelo Correio afirmou que a maioria dos beneficiados vai ao encontro da família, mas um pequeno grupo aproveita o saidão para cometer novos crimes. “A gente tem que ficar de olho. Alguns saem direto atrás de droga e vão beber. Há casos em que eles praticam pequenos furtos”, comentou.
Onde estão
Confira onde estão os condenados que tiveram a prisão decretada pelo Supremo Tribunal Federal
Papuda
Regime semiaberto
José Dirceu, ex-ministro do governo Lula
Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT
Valdemar Costa Neto, ex-deputado federal
Jacinto Lamas, ex-assessor parlamentar
Bispo Rodrigues, ex-deputado
Pedro Henry, ex-deputado (aguarda transferência para o Mato Grosso)
Pedro Corrêa, ex-deputado (aguarda transferência para Pernambuco)
Regime fechado
Marcos Valério, empresário
Ramon Hollerbach, publicitário
Cristiano de Mello Paz, publicitário
Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem (MG)
Vinícius Samarane, ex-dirigente do Banco Rural
José Roberto Salgado, ex-diregente do Banco Rural
Penitenciária José Maria de Alkmin, em Ribeirão das Neves (MG)
Romeu Queiroz, ex-deputado
Rogério Tolentino, advogado e ex-sócio de Marcos Valério
Penitenciária Feminina Estevão Pinto, em Belo Horizonte
Kátia Rabello, ex-presidente do Banco Rural
Simone Vasconcelos, ex-gerente da empresa de Marcos Valério
Prisão domiciliar
José Genoino, ex-deputado