Eu pilotei um Gripen

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  • quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
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  • Em 2009, o editor de uma revista ligada ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, me ligou e pediu que eu fosse a Suécia fazer uma matéria sobre o avião.
    Flávio Aguiar, Carta Maior
    Acabo de ler a notícia e de assitir o ministro Celso Amorim anunciando a compra dos 36 aviões Gripen, suecos, para a FAB. Não pude deixar de me emocionar. Eu fui o primeiro brasileiro a pilotar um Gripen, em plena Suécia.

    No meio de 2009, o editor-chefe da Inovabcd, revista ligada ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, me ligou aqui em Berlim.

    “Flávio, queremos que você vá à Suécia”.  A conversa era no Skype.

    “Como assim”?

    “É que o nosso sindicato resolveu apoiar a oferta da Gripen/Saab/Scania para a compra das 36 aeronaves com que a FAB deseja renovar seu plantel de caças de defesa”.

    “Celso, eu sou um zero em matéria de caças. Só entendo deles em filmes de guerra”.

    “É, mas você está aí perto, em Berlim”. “Vamos te arranjar um contato na Saab”. “Topa”? “Vai ser matéria de nossa inauguração da revista Inovabcd, sobre tecnologia”.

    “Claro que eu topo, Celso. Tudo pelo social, como dizia... deixa pra lá”.

    Celso me explicou: a concorrência, depois de (naquela altura) mais de dez anos, estava entre o Gripen sueco, o Dessault  francês e um Boeing norte-americano. O então ministro da Defesa, Nelson Jobim, anunciara a preferência pelo Dessault. E sentenciara: “o Gripen só existe no papel”.

    “Queremos que você vá lá, Flávio, e veja se o Gripen só existe no papel”, complementou o Celso.

    Bom, tudo demorou um pouco.  Mas fui, vi, e constatei que o Gripen era algo mais do que papel impresso.

    A reportagem completa pode ser vista aqui:
    http://file.smetal.org.br/Publicacao/INOVABCD/maio-2010.pdf

    Inclusive com fotos, da equipe que me recebeu, e de mim – eu – no cockpit do Gripen, com um oficial da Forá Aérea Sueca ao lado. Ele me disse:

    “Está vendo este botão aqui, no meio das suas pernas? Não aperte nele, porque senão você vai parar no teto deste galpão (que tinha uns dez ou doze metros de altura, pelo menos). É o botão de ejeção no caso do piloto precisar saltar de pára-quedas”.

    Não apertei.

    Daí ele me explicou um monte de coisas sobre os botões e luzinhas à minha frente, e sobre o avião à minha volta. Compreendi que um caça de guerra é, antes de tudo, um tanque de combustível. Tudo precisa ser poupado para o avião ter combustível para ir, atirar e voltar. Assim o próprio aviào é o tanque de combustível. O resto são mísseis, metralhadoras, bombas nas asas, e pilotagem: o piloto precisa ser super-treinado, mais para apertar botões e decidir como executar as ordens que recebeu – e voltar vivo.

    Tive também verdadeiras aulas sobre a história dos Gripen, da aviação sueca, uma das mais poderosas do mundo, explicações sobre investimentos e transferências de tecnologias, além da projetada parceria na produção das peças do avião.

    Para completar pilotei um Gripen. O primeiro brasileiro a tal fazer.

    Bom, tratou-se de um protótipo, no salão de simulações, com direito a telão e tudo.

    E daí? Algum outro brasileiro já fizera isto, em Linköping, Suécia, perto de Götteborg e Estocolmo, onde o Brasil conquistara a Copa de 58?

    Com ajuda do instrutor, decolamos o aparelho. Aí ele me instruiu como fazê-lo voar. E fomos sobre a simulação da própria fábrica da Scaab/Scania, em Linköping.

    Ele me obrigou atá a fazer piruetas, loops, parafusos,  voar de cabeça para baixo (enjoei, voltei rápido à posição normal). De repente ele me disse:

    “Vamos entrar em combate”.

    Senti-me como num filme da Segunda Guerra. É impressionante como estas coisas podem ser enebriantes.

    “Veja lá, ali estão os aviões. Se você apertar aqui, dispara um míssil. Vai!”.

    Olhei, mirei, apertei, disparei, derrubei. O avião à minha frente explodiu.

    “Tudo bem?”, perguntei.

    “OK”, ele me disse. “Só que você derrubou um avião amigo. Mas não tem importância”.

    Senti dois frios no estômago. Primeiro: não tinha importância ser um avião amigo. Segundo: eu sentira uma forma de júbilo por derrubar um avião, mesmo que um simulacro de avião.

    A partir daí começamos a voltar. Fazer o raio do avião aterrissar é muito mais difícil do que pô-lo no ar. A trancos e barrancos, com ajuda do simpático instrutor consegui fazê-lo pousar, derrapando, com as rodas de uma das asas fora da pista de simulação. Mas pousei.

    Conclusão para mim: nunca mais, nem de mentirinha.
    Fico contente de ter participado desta experiência, que levou o Brasil – cuja defesa é necessária – a optar pelos Gripen suecos, que, pelo que entendi, trarão com eles vantagens tecnológicas que os outros não trariam, além de problemas de dependência que os outros trariam. De todas as maneiras, cada um destes modelos traz consigo componentes de muitos e vários páises, na dependência tecnológica destes tempos de século XXI em que as utopias estão na UTI e as distopias sobre a mesa.

    Parece que os Gripen são os que trarão menos dependência e mais transferência, além de vários componentes de todos os modelos, em escala mundial, serem produzidos aqui.

    Parabéns Gripen e equipe, parabéns aviões. Que eles venham, sejam produzidos.
    E espero – rezo para todos os santos de todas as religiões, inclusive as ateias – que jamais sejam usados para valer.”
     
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