Por Altamiro Borges
A vizinha Argentina está vivendo dias tensos e preocupantes. Os últimos dois meses foram abalados por ondas de saques, quedas suspeitas no fornecimento de energia elétrica, revolta das forças policiais e até mortes. A mídia local, liderada pelo Grupo Clarín – que fez fortuna na sanguinária ditadura no país –, e a mídia colonizada do Brasil afirmam que a culpa do caos é da presidenta Cristina Kirchner, “uma populista”. Já o governo argentino acusa as forças de direita de tentarem desestabilizar a nação com vistas às eleições de 2015.
Nesta sexta-feira (27), parte de Buenos Aires ficou às escuras e os moradores de alguns bairros foram às ruas para protestar contra a falta de luz. A rodovia Luis Dellepiane, que liga o centro da capital ao aeroporto de Ezeiza, foi bloqueada pela quarta vez em dois dias. Também ocorreram panelaços em áreas nobres, como no bairro turístico de Palermo. Segundo as distribuidoras, privatizadas na gestão neoliberal de Carlos Menem, o corte no fornecimento se deu devido às altas temperaturas – o verão mais quente em 43 anos –, que elevaram a demanda por energia.
Diante da postura irresponsável das empresas, “o chefe de gabinete da Presidência, Jorge Capitanich, voltou a ameaçar estatizar as companhias de distribuição de energia elétrica se os problemas não forem solucionados. Já o ministro do Planejamento, Investimentos e Serviços, Julio De Vido, informou que os consumidores serão ressarcidos por danos causados pela falta de energia”, relata a Folha. Na avaliação de integrantes do governo federal, há fortes indícios de que várias empresas estejam apostando na desestabilização econômica do país e no caos social.
A mesma suspeita surge diante dos protestos radicalizados de policiais que atingiram 20 das 23 províncias argentinas nos últimos dois meses. As greves exigiram reajuste salarial – e vários governos cederam à pressão. Mas muitos protestos foram violentos. Com a crise na segurança pública, uma onda de saques a lojas e residências se espalhou pelo país. A mídia divulga que 1.888 estabelecimentos foram saqueados e a Federação Argentina de Empresas (Came) garante que os prejuízos superaram os US$ 210 milhões. Estima-se que onze pessoas morreram nos confrontos.
Em pronunciamento na televisão após a onda de saques, a presidenta Cristina Kirchner disse respeitar os protestos democráticos, mas atribuiu a violência a uma ação planejada “com precisão cirúrgica”. “Eu não sou ingênua, não acredito em casualidades. Tampouco acredito em fatos que se produzem por contágio”, afirmou. Ela acusou grupos de oposição de incitarem a insegurança para “desgastar a democracia” e reafirmou as medidas recentes do governo de congelamento de preços dos produtos essenciais.
Neste quadro de turbulência, a mídia local e internacional aposta no aumento dos protestos em 2014 – algo parecido com o que ocorre no Brasil. A revista britânica “Economist”, conhecida por seus vínculos com a ditadura financeira, divulgou nesta semana que a Argentina – juntamente com a Bolívia e a Venezuela – apresenta “risco muito alto de instabilidade social” no próximo ano. A “Unidade de Inteligência” da publicação analisou a probabilidade de distúrbios em 150 países. O Brasil aparece na categoria abaixo da mais grave, a de "alto risco", com outras 45 nações.
Sintonizada com a oligarquia internacional, a mídia nativa também detona o país vizinho. Em editorial no último dia 13, a Folha quase decretou a falência da Argentina, acusando o governo de irresponsabilidade fiscal. Já o Estadão, em editorial na mesma data – comemorativa dos 30 anos de reestabelecimento da democracia no país –, garantiu que a onda de explosões que abala o país “não é um problema pontual”, mas sim “sintoma da insatisfação generalizada” e prevê que “a temporada de protestos na Argentina pode estar apenas começando”.
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Leia também:
- Teremos protestos de rua em 2014?
- O ano em que a direita voltou às ruas
- Usaid e a interferência na América Latina
A vizinha Argentina está vivendo dias tensos e preocupantes. Os últimos dois meses foram abalados por ondas de saques, quedas suspeitas no fornecimento de energia elétrica, revolta das forças policiais e até mortes. A mídia local, liderada pelo Grupo Clarín – que fez fortuna na sanguinária ditadura no país –, e a mídia colonizada do Brasil afirmam que a culpa do caos é da presidenta Cristina Kirchner, “uma populista”. Já o governo argentino acusa as forças de direita de tentarem desestabilizar a nação com vistas às eleições de 2015.
Nesta sexta-feira (27), parte de Buenos Aires ficou às escuras e os moradores de alguns bairros foram às ruas para protestar contra a falta de luz. A rodovia Luis Dellepiane, que liga o centro da capital ao aeroporto de Ezeiza, foi bloqueada pela quarta vez em dois dias. Também ocorreram panelaços em áreas nobres, como no bairro turístico de Palermo. Segundo as distribuidoras, privatizadas na gestão neoliberal de Carlos Menem, o corte no fornecimento se deu devido às altas temperaturas – o verão mais quente em 43 anos –, que elevaram a demanda por energia.
Diante da postura irresponsável das empresas, “o chefe de gabinete da Presidência, Jorge Capitanich, voltou a ameaçar estatizar as companhias de distribuição de energia elétrica se os problemas não forem solucionados. Já o ministro do Planejamento, Investimentos e Serviços, Julio De Vido, informou que os consumidores serão ressarcidos por danos causados pela falta de energia”, relata a Folha. Na avaliação de integrantes do governo federal, há fortes indícios de que várias empresas estejam apostando na desestabilização econômica do país e no caos social.
A mesma suspeita surge diante dos protestos radicalizados de policiais que atingiram 20 das 23 províncias argentinas nos últimos dois meses. As greves exigiram reajuste salarial – e vários governos cederam à pressão. Mas muitos protestos foram violentos. Com a crise na segurança pública, uma onda de saques a lojas e residências se espalhou pelo país. A mídia divulga que 1.888 estabelecimentos foram saqueados e a Federação Argentina de Empresas (Came) garante que os prejuízos superaram os US$ 210 milhões. Estima-se que onze pessoas morreram nos confrontos.
Em pronunciamento na televisão após a onda de saques, a presidenta Cristina Kirchner disse respeitar os protestos democráticos, mas atribuiu a violência a uma ação planejada “com precisão cirúrgica”. “Eu não sou ingênua, não acredito em casualidades. Tampouco acredito em fatos que se produzem por contágio”, afirmou. Ela acusou grupos de oposição de incitarem a insegurança para “desgastar a democracia” e reafirmou as medidas recentes do governo de congelamento de preços dos produtos essenciais.
Neste quadro de turbulência, a mídia local e internacional aposta no aumento dos protestos em 2014 – algo parecido com o que ocorre no Brasil. A revista britânica “Economist”, conhecida por seus vínculos com a ditadura financeira, divulgou nesta semana que a Argentina – juntamente com a Bolívia e a Venezuela – apresenta “risco muito alto de instabilidade social” no próximo ano. A “Unidade de Inteligência” da publicação analisou a probabilidade de distúrbios em 150 países. O Brasil aparece na categoria abaixo da mais grave, a de "alto risco", com outras 45 nações.
Sintonizada com a oligarquia internacional, a mídia nativa também detona o país vizinho. Em editorial no último dia 13, a Folha quase decretou a falência da Argentina, acusando o governo de irresponsabilidade fiscal. Já o Estadão, em editorial na mesma data – comemorativa dos 30 anos de reestabelecimento da democracia no país –, garantiu que a onda de explosões que abala o país “não é um problema pontual”, mas sim “sintoma da insatisfação generalizada” e prevê que “a temporada de protestos na Argentina pode estar apenas começando”.
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