Paulo Nogueira
Você às vezes tem que descer ao inferno para se dar conta do horror que está vivendo e tomar alguma providência.
Aparentemente, no caso do futebol brasileiro, o inferno aconteceu ontem. As cenas brutais da briga entre duas torcidas chocaram os brasileiros.
Em sua conta no Twitter, a presidenta Dilma Roussef manifestou sua indignação. Imagens da guerra viajaram mundo afora. Os brasileiros parecem ter-se unido num único berro de chega.
Ao estudar o problema e buscar soluções, é vital entender o papel de quem tem dominado o futebol brasileiro: a TV Globo.
A relação da Globo com o futebol brasileiro obedece ao padrão da empresa: ela ganha muito e enriquece. A outra parte, bem, a outra parte que se dane.
Um site especializado calcula, com base nas cotas de patrocínio, que o futebol vai render à Globo, em 2014, 2,55 bilhões de reais.
Este ano, sem Copa, o faturamento futebolístico, informa o site, passou de 1,1 bilhão de reais.
Qual foi o lucro da Globo?
Veja o patrimônio da família Marinho, veja o estado falimentar do futebol brasileiro – e você vai concluir que alguém está ganhando uma fábula pelo pouco, ou nada, que está entregando.
Fosse uma distribuição mais equânime de receita, é provável que os clubes brasileiros conseguissem reter craques como Neymar e Oscar.
Se você levar em conta que, fora tudo, a Globo obriga que os jogos de quarta sejam realizados num horário absurdo para os torcedores porque não abre mão de passar antes sua novela, você vai ficar indignado.
A Globo poderia ter modernizado o futebol brasileiro, mas se ocupou em fazer dinheiro, e fazer dinheiro, e fazer dinheiro.
A Globo ocupou o futebol – e fez um trabalho em que só ela ganha. Quer dizer: durante muito tempo, como se viu, também João Havelange e Ricardo Teixeira participaram da farra.
No escandaloso caso da sonegação de impostos na compra dos direitos da Copa de 2002, emergiram denúncias de pagamento de propinas a Havelange e Teixeira, então influentes na Fifa, para que a Copa não saísse da Globo.
O que a Globo, com sua conhecida ganância predadora, não faria para manter um negócio que dá, de um golpe, 2,55 bilhões?
Seria um erro monstruoso buscar respostas para o caos do futebol brasileiro sem responsabilizar quem esteve e está à frente dele nestes anos todos: a Globo.
Com seus conhecidos cojones, a presidenta Cristina Kirchner tirou o futebol argentino do controle de outro predador, o grupo Clarín.
Fazer o mesmo no Brasil traria um grande ganho para o futebol brasileiro.