POLÍTICA - O dia de Guy Fawkes

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  • quarta-feira, 6 de novembro de 2013
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  • Diário do Centro do Mundo

    O dia de Guy Fawkes, um heroi desvirtuado no Brasil

    by Paulo Nogueira
    A máscara de Fawkes em V de Vingança
    Hoje, 5 de novembro, é o Dia de Guy Fawkes. Protestos em cidades no mundo todo celebrarão Fawkes, um heroi improvável que tentou explodir o Parlamento inglês no começo dos anos 1600.
    Você vê Guy – fala-se Gui porque Guy vem de Guido – nas máscaras que as pessoas associam a duas coisas: o filme V de Vingança e o grupo de hacker Anonymous.
    Mas é Guy Fawkes que está ali, tal como idealizado na história em quadrinhos de Alan Moore que serviria de base para V de Vingança, com a expressão zombeteira e altiva de quem é invencível em qualquer circunstância, especialmente na derrota.
    Mas quem é ele?
    Guy Fawkes participou da Conspiração da Pólvora, pouco mais de 400 anos atrás. O que os conspiradores queriam não era pouca coisa: simplesmente explodir o Parlamento no momento em que o Rei Jaime I abriria, formalmente, os trabalhos, em 5 de novembro de 1605.
    Na essência do complô estava a raiva e a frustração que Jaime despertara entre os católicos ingleses. Ele sucedera Elizabete, filha de Henrique 8.
    Elizabete, feia e indesejada, morreu virgem e sem sucessores, e com ela chegou ao fim a dinastia Tudor.
    Ela perseguira cruelmente os católicos, como seu pai. Imaginava-se que Jaime, escocês da família Stuart que ascendera por conta de laços familiares com um ramo dos Tudor, facilitaria a vida dos católicos.
    Não facilitou.
    Os católicos logo o detestaram – não só por manter a perseguição como porque ele era escocês. Logo começou uma trama para matá-lo – e a todos os parlamentares.Os conspiradores compraram uma casa ao lado do Parlamento, em Westminster, e foram aos poucos, em completa discrição, enchendo de pólvora.
    Fawkes, alto, forte, bonito, um guerreiro provado em várias guerras nas quais atuou como mercenário, tomava conta da casa, e estava preparado para explodir a si próprio, com a casa, caso fosse descoberto.
    Uma fraqueza pessoal de um dos conspiradores pôs o plano a perder.
    Na tentativa de salvar um amigo, o conspirador relutante mandou a ele um recado cifrado e anônimo. Recomendou-lhe que não fosse à abertura do Parlamento, no dia 5 de novembro.
    O destinatário estranhou.
    A carta chegou a Jaime, e o plano foi descoberto. Fawkes foi impedido, na ação de surpresa da polícia, de explodir a casa. Ele bem que tentou, para evitar que os conspiradores fossem descobertos, presos e punidos.
    Ele foi levado à presença de Jaime, e nasceram aí frases memoráveis. O rei perguntou por que o objetivo era matar tanta gente – a família real, todos os parlamentares etc? “Tempos desesperadores exigem medidas desesperadas”, respondeu Fawkes.
    O rei insistiu e perguntou: para que tanta pólvora? “Era a maneira mais rápida de mandar todos os escoceses de volta à Escócia”, disse Fawkes.
    A coragem de Fawkes assombrou. Foi condenado à morte por enforcamento e esquartejamento. Submetido a uma sessão infernal de torturas, não revelou nada que já não fosse conhecido.
    Em sua História da Inglaterra para Crianças, Dickens o define como um “homem de ferro”. (De Jaime, diz que era o mais feio, o mais ridículo e o mais inepto dos mortais.)
    O dia 5 de novembro passou a ser comemorado na Inglaterra com uma queima de fogos. Aos poucos, a imagem de Fawkes de vilão foi se transformando na de um justiceiro, de um guerreiro heroico e libertário.
    No filme V de Vingança é assim que ele aparece, reencarnado num homem que usa sua máscara e, para punir um Estado totalitário, faz o que Fawkes não conseguiu: explode o Parlamento.
    A máscara de Fawkes aparece, hoje, em manifestações de protesto mundo afora, incluídos os no Brasil. Entre os brasileiros, no entanto, acabou desvirtuado. A maior parte dos manifestantes que colocam sua máscara, no Brasil, são reacionários que desonram sua memória.
    Fora do Brasil, a máscara é também utilizada pelos hackers do grupo Anonymous, junto com este lema: "Nós não esquecemos, nós não perdoamos". A história é escrita pelos vencedores. Fawkes perdeu, e por isso foi inicialmente tratado como um traidor vil e inclemente.
    Mas, num caso raro, a posteridade transformou o perdedor esquartejado num exemplo de coragem, bravura e justiça -- num personagem que inspira lutas contra a opressão dos Jaimes que se espalham pelo mundo em todas as épocas.
     
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