A direita está precisando mais de divã do que de palanque
12 de novembro de 2013 | 08:58
Há pouco mais de um mês, vivia-se a expectativa de que o panorama das eleições presidenciais fosse mudar.
O peso político de Marina Silva e José Serra fazia as candidatura de Eduardo Campos e Aécio Neves penderem para o limbo.
Os dois podiam – e ainda podem – pretender o lugar de reis em suas tribos, mas têm contra si o fato de que, de tão perdida, a oposição vê minguarem suas possibilidades de um enfrentamento real com o governo.
Casa onde falta o pão, todos brigam e ninguém tem razão.
Tudo, então, limita-se a um jogo interno de antropofagia partidária – no caso de Marina e Campos, não de um partido, mas de um aglomerado imiscível – que se arrasta sob a indiferença pública.
Eduardo Campos vê que Marina, exceto no seu amor antigo com o Datafolha, não vai além do que tinha, mesmo com a superexposição que a manobra da aliança lhe deu e já rebarba o nome da ex-senadora como vice: “se a Marina quisesse ser candidata de qualquer jeito, ela tinha o PPS”, disse na gravação do programa do Jô, que é uma espécie de horário eleitoral da Rede-PSB.
Do lado marinista, também não há muito ânimo.
“Ser vice para quê? Essa é a pergunta que começa a ser feita cada vez mais por membros do Rede Sustentabilidade, de Marina Silva” diz um integrante do grupo marinista, na Carta Maior. Campos, porém, tem uma razão: havendo segundo turno, até a condição de candidato “excluído” lhe dá espaços de poder pessoal, partidário e midiático.
Marina, porém, terá dificuldade em leiloar o seu espólio.
No campo tucano, não há melhor descrição do que faz hoje, em sua coluna, Merval Pereira, seu “intelectual orgânico” (para se ver como anda a pobreza intelectual do tucanismo). Vale a pena ler o que escreve hoje, lógico que em favor de Aécio, na sua coluna, em O Globo:
Ao decidir permanecer no PSDB, em vez de se jogar em uma aventureira candidatura à presidência pelo PPS, tudo indicava que o ex-governador aceitara a realidade política que tem pela frente: encerrar sua carreira como deputado federal ou senador , mantendo o prestígio dentro do partido . Ia tudo dentro do script combinado com as lideranças tucanas, entre elas, a maior de todas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso , que já lhe dissera em particular o que declarou em recente entrevista: Serra tem que dar um tempo , a vez é de Aécio .
O próprio Aécio saiu em sua defesa, dizendo que ele tem todo o direito de sair pelo país fazendo palestras, e que sua imagem nacional só ajudaria o PSDB. Mas, na última semana, a receita desandou. Em uma palestra para a juventude do PSDB, Serra simplesmente chutou o pau da barraca. Disse que o PSDB “tem necessidade de ser aceito pelo PT”. E deu uma explicação psicológica adaptada às circunstâncias: “(…) o problema da Madame Bovary é querer ser aceita pelo outro lado . Ela vai à loucura, quebra a família e trai o marido com Deus e todo mundo para ser aceita.
O PSDB tem um pouco do bovarismo”. Serra tem até certa razão , e basta lembrar que nem ele nem Geraldo Alckmin usaram as conquistas do PSDB para se opor ao PT quando foram candidatos à Presidência, até mesmo escondendo o ex -presidente FH. Alckmin com aquele ridículo colete cheio de logos de empresas estatais é uma imagem inesquecível.
Mas, mesmo se a definição correta de bovarismo fosse a dada, a comparação não ficaria bem para ele . Afinal, quem foi que iniciou a campanha presidencial de 2010 querendo fazer-se passar por amigo de Lula , pensando em receber os votos petistas descontentes com a candidatura de Dilma? Após usar o nome do ex-presidente em jingle na propaganda eleitoral (“ Quando o Lula da Silva sair , é o Zé que eu quero lá ”), sua campanha exibiu imagens em que Serra e Lula se abraçam.
Mas bovarismo, no sentido mais amplo que o psicólogo Jules de Gaultier deu em 1892, não é a tentativa de ser aceito pelo outro, ou pelo menos não é só isso. Na verdade, o bovarismo passou a designar fenômeno psíquico produzido pelo choque entre as aspirações de uma pessoa e a realidade que está acima de suas possibilidades. É justamente o que ocorre hoje com Serra, político de inegáveis qualidades, que tem todo o direito de querer ser presidente, mas não aceita a realidade que o impede de atingir o objetivo.
O “pequeno problema” de Aécio é que fugir do “bovarismo” de se fingir “melhorador” do que fez Lula o leva direto a ser “regressador” a FHC e aí tem de ficar fazendo malabarismo com a turma que defende isso e, assim, a privatização, os juros altos, o arrocho dos salários…
A direita brasileira parece que não vai disputar a eleição num palanque, mas num divã.
Por: Fernando Brito
O peso político de Marina Silva e José Serra fazia as candidatura de Eduardo Campos e Aécio Neves penderem para o limbo.
Os dois podiam – e ainda podem – pretender o lugar de reis em suas tribos, mas têm contra si o fato de que, de tão perdida, a oposição vê minguarem suas possibilidades de um enfrentamento real com o governo.
Casa onde falta o pão, todos brigam e ninguém tem razão.
Tudo, então, limita-se a um jogo interno de antropofagia partidária – no caso de Marina e Campos, não de um partido, mas de um aglomerado imiscível – que se arrasta sob a indiferença pública.
Eduardo Campos vê que Marina, exceto no seu amor antigo com o Datafolha, não vai além do que tinha, mesmo com a superexposição que a manobra da aliança lhe deu e já rebarba o nome da ex-senadora como vice: “se a Marina quisesse ser candidata de qualquer jeito, ela tinha o PPS”, disse na gravação do programa do Jô, que é uma espécie de horário eleitoral da Rede-PSB.
Do lado marinista, também não há muito ânimo.
“Ser vice para quê? Essa é a pergunta que começa a ser feita cada vez mais por membros do Rede Sustentabilidade, de Marina Silva” diz um integrante do grupo marinista, na Carta Maior. Campos, porém, tem uma razão: havendo segundo turno, até a condição de candidato “excluído” lhe dá espaços de poder pessoal, partidário e midiático.
Marina, porém, terá dificuldade em leiloar o seu espólio.
No campo tucano, não há melhor descrição do que faz hoje, em sua coluna, Merval Pereira, seu “intelectual orgânico” (para se ver como anda a pobreza intelectual do tucanismo). Vale a pena ler o que escreve hoje, lógico que em favor de Aécio, na sua coluna, em O Globo:
Ao decidir permanecer no PSDB, em vez de se jogar em uma aventureira candidatura à presidência pelo PPS, tudo indicava que o ex-governador aceitara a realidade política que tem pela frente: encerrar sua carreira como deputado federal ou senador , mantendo o prestígio dentro do partido . Ia tudo dentro do script combinado com as lideranças tucanas, entre elas, a maior de todas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso , que já lhe dissera em particular o que declarou em recente entrevista: Serra tem que dar um tempo , a vez é de Aécio .
O próprio Aécio saiu em sua defesa, dizendo que ele tem todo o direito de sair pelo país fazendo palestras, e que sua imagem nacional só ajudaria o PSDB. Mas, na última semana, a receita desandou. Em uma palestra para a juventude do PSDB, Serra simplesmente chutou o pau da barraca. Disse que o PSDB “tem necessidade de ser aceito pelo PT”. E deu uma explicação psicológica adaptada às circunstâncias: “(…) o problema da Madame Bovary é querer ser aceita pelo outro lado . Ela vai à loucura, quebra a família e trai o marido com Deus e todo mundo para ser aceita.
O PSDB tem um pouco do bovarismo”. Serra tem até certa razão , e basta lembrar que nem ele nem Geraldo Alckmin usaram as conquistas do PSDB para se opor ao PT quando foram candidatos à Presidência, até mesmo escondendo o ex -presidente FH. Alckmin com aquele ridículo colete cheio de logos de empresas estatais é uma imagem inesquecível.
Mas, mesmo se a definição correta de bovarismo fosse a dada, a comparação não ficaria bem para ele . Afinal, quem foi que iniciou a campanha presidencial de 2010 querendo fazer-se passar por amigo de Lula , pensando em receber os votos petistas descontentes com a candidatura de Dilma? Após usar o nome do ex-presidente em jingle na propaganda eleitoral (“ Quando o Lula da Silva sair , é o Zé que eu quero lá ”), sua campanha exibiu imagens em que Serra e Lula se abraçam.
Mas bovarismo, no sentido mais amplo que o psicólogo Jules de Gaultier deu em 1892, não é a tentativa de ser aceito pelo outro, ou pelo menos não é só isso. Na verdade, o bovarismo passou a designar fenômeno psíquico produzido pelo choque entre as aspirações de uma pessoa e a realidade que está acima de suas possibilidades. É justamente o que ocorre hoje com Serra, político de inegáveis qualidades, que tem todo o direito de querer ser presidente, mas não aceita a realidade que o impede de atingir o objetivo.
O “pequeno problema” de Aécio é que fugir do “bovarismo” de se fingir “melhorador” do que fez Lula o leva direto a ser “regressador” a FHC e aí tem de ficar fazendo malabarismo com a turma que defende isso e, assim, a privatização, os juros altos, o arrocho dos salários…
A direita brasileira parece que não vai disputar a eleição num palanque, mas num divã.
Por: Fernando Brito
Do Blog TIJOLAÇO.