Leilão do campo de Libra. "Edital contém irregularidades flagrantes"
O leilão do pré-sal fere o interesse nacional e seu edital contém ilegalidades, acredita o ex-diretor de Gás e Energia da Petrobrás, Ildo Sauer, que entrou com ação popular na Justiça Federal contra a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Segundo Sauer, a variabilidade do óleo lucro para o governo e a redução da competitividade da Petrobrás no leilão são ilegais. Na ação protocolada quinta-feira, ele calcula que o Brasil deixará de ganhar de R$ 176, 8 bilhões a R$ 331, 3 bilhões (em cenários com o barril de petróleo entre US$ 60 e US$ 160 dólares) se a Petrobrás não detiver 100% da operação no campo de Libra.
A entrevista é de Wladimir Dandrade e Gabriela Vieira e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 19-10-2013.
Além disso, a estratégia geopolítica do governo é errada, na visão do diretor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP). Sauer propõe que o governo siga o modelo de controle de produção adotado pelos países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Eis a entrevista.
Por que o sr. é contra o leilão?
O leilão não atende à lei do interesse nacional e seu edital contém irregularidades flagrantes: a tabela variável do óleo lucro destinado ao governo, o impedimento de maior participação da Petrobrás, o próprio modelo de exploração... Além disso, o leilão é um erro de geopolítica estratégica. Ele favorece o interesse da China, que quer baratear o preço do petróleo no mercado internacional ao diversificar suas fontes. A China está próxima de se tornar o maior importador de petróleo do mundo.
Qual seria a melhor atitude do ponto de vista geopolítico?
O Brasil adotou um modelo que favorece os países importadores de petróleo, e o modelo a ser seguido deve o ser o de controle de produção, para manutenção do preço do petróleo, a exemplo do que já fazem Rússia e os países da Opep.
Mas isso não é cartel?
Sim, é um cartel, mas um cartel em defesa de seu povo. De que lados estamos, dos consumidores brasileiros ou dos ambiciosos da América do Norte, Europa e Ásia? Não há nada ilegítimo nisso, só não pode ter cartel aqui dentro.
Mas qual modelo de exploração o sr. defende?
A Petrobrás deveria explorar 100% do campo de Libra e converter o petróleo em melhores condições de vida para a população: saúde, educação moradia... O pré-sal é uma riqueza que pertence à população brasileira. Converter esse petróleo em dinheiro agora é correr o risco de ter redução de preço lá na frente, além do risco financeiro ao converter o petróleo em moeda estrangeira. Me sinto mais seguro com o petróleo embaixo do mar.
E a Petrobrás tem condições financeiras para explorar o Campo de Libra?
A Petrobrás é a mais capacitada tecnologicamente para operar no pré-sal e dinheiro em caixa nenhuma tem. Todas estão buscando recursos no mercado financeiro, o que também pode ser feito pela estatal.
Segundo Sauer, a variabilidade do óleo lucro para o governo e a redução da competitividade da Petrobrás no leilão são ilegais. Na ação protocolada quinta-feira, ele calcula que o Brasil deixará de ganhar de R$ 176, 8 bilhões a R$ 331, 3 bilhões (em cenários com o barril de petróleo entre US$ 60 e US$ 160 dólares) se a Petrobrás não detiver 100% da operação no campo de Libra.
A entrevista é de Wladimir Dandrade e Gabriela Vieira e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 19-10-2013.
Além disso, a estratégia geopolítica do governo é errada, na visão do diretor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP). Sauer propõe que o governo siga o modelo de controle de produção adotado pelos países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Eis a entrevista.
Por que o sr. é contra o leilão?
O leilão não atende à lei do interesse nacional e seu edital contém irregularidades flagrantes: a tabela variável do óleo lucro destinado ao governo, o impedimento de maior participação da Petrobrás, o próprio modelo de exploração... Além disso, o leilão é um erro de geopolítica estratégica. Ele favorece o interesse da China, que quer baratear o preço do petróleo no mercado internacional ao diversificar suas fontes. A China está próxima de se tornar o maior importador de petróleo do mundo.
Qual seria a melhor atitude do ponto de vista geopolítico?
O Brasil adotou um modelo que favorece os países importadores de petróleo, e o modelo a ser seguido deve o ser o de controle de produção, para manutenção do preço do petróleo, a exemplo do que já fazem Rússia e os países da Opep.
Mas isso não é cartel?
Sim, é um cartel, mas um cartel em defesa de seu povo. De que lados estamos, dos consumidores brasileiros ou dos ambiciosos da América do Norte, Europa e Ásia? Não há nada ilegítimo nisso, só não pode ter cartel aqui dentro.
Mas qual modelo de exploração o sr. defende?
A Petrobrás deveria explorar 100% do campo de Libra e converter o petróleo em melhores condições de vida para a população: saúde, educação moradia... O pré-sal é uma riqueza que pertence à população brasileira. Converter esse petróleo em dinheiro agora é correr o risco de ter redução de preço lá na frente, além do risco financeiro ao converter o petróleo em moeda estrangeira. Me sinto mais seguro com o petróleo embaixo do mar.
E a Petrobrás tem condições financeiras para explorar o Campo de Libra?
A Petrobrás é a mais capacitada tecnologicamente para operar no pré-sal e dinheiro em caixa nenhuma tem. Todas estão buscando recursos no mercado financeiro, o que também pode ser feito pela estatal.