Fogo na casa de Castro Alves, enfumaça início da gestão de ACM Neto

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  • segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
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  • ...Do Solar Boa Vista: joia arquitetônica da história e da cultura da Bahia
    O ano do glorioso Santo Antonio para os católicos – ou de Ogum, poderoso orixá dos adeptos dos cultos de Candomblé dos terreiros baianos -, começa pegando fogo na Cidade da Bahia. Real e metaforicamente falando, como se verá nas linhas seguintes deste artigo semanal, que incluem fatos e murmúrios sobre o incêndio – no primeiro dia da gestão do novo prefeito ACM Neto – do histórico prédio do Solar Boa Vista, antiga morada do poeta Castro Alves na infância, sede atual da Secretaria Municipal de Educação.  
    Cidade da Bahia: sempre foi assim que Jorge Amado preferiu denominar Salvador em seus romances e outros escritos geniais. A linda, complexa e complicada (e bota complicação nisso!) capital do estado governado pelo petista Jaques Wagner, mas cuja Prefeitura foi conquistada nas urnas do ano passado – e assumida no primeiro dia deste novo ano –  por Antonio Carlos Magalhães Neto, o ACM Neto, rara figura de expressão política nacional daquilo que restou do DEM, mas cuja vitória eleitoral impediu o quase total desmoronamento no País do partido de oposição aos governos estadual e federal.
    ACM Neto é jovem político baiano, de linhagem notória expressa no nome em forma de sigla e signo copiados do avô, que enfrenta seu primeiro e crucial desafio na administração pública. Pisa em terreno praticamente devastado pela gestão predatória do ex-prefeito João Henrique de Barradas Carneiro, que sai do poder com as contas recusadas e cercado de denúncias de "malfeitos" por todo lado.
    Ainda assim, o ex-ocupante do palácio Tomé de Souza conseguiu, sabe-se lá por quais acordos, razões ou caprichos da sorte, deixar plantados no primeiro escalão do novo governo da capital, herdeiros de um inquilinato em ruínas, fruto da gestão de má fama ética e de flagrante incompetência administrativa.
    Mais quentura que esta é impossível, pensarão ou dirão alguns. No terreno das metáforas, talvez sim. No campo da realidade, no entanto, nada é tão ruim que não possa piorar ainda mais um pouco, repetem há décadas sábios políticos e filósofos mineiros, gregos e baianos. Foi exatamente isso o que aconteceu na quinta-feira, 03/01, antes da meia-noite do primeiro dia de fato da gestão de ACM Neto.
    Tudo corria “às mil maravilhas” desde as primeiras horas da manhã do “dia seguinte” à confusa, mas consagradora festa da posse na Praça Tomé de Souza.
    Simbiose quase perfeita entre a firmeza e decisão nos atos assinados pelo novo prefeito ( “alguns bem amargos”, ele próprio admitiu), aparentemente decidido “a dar um jeito na Cidade da Bahia” (como pede Caetano Veloso em sua famosa canção), e a ação seguinte: O prefeito nas ruas seguido por animada caravana de seus principais auxiliares em visita ao bairro suburbano de Nova Constituinte, para abraçar moradores e adotar providências “in loco”, e assim começar a cumprir  promessas recentes de palanques.
    Por volta das 10 horas da noite, quando o novo governo municipal já comemorava “um começo perfeito e exemplar de gestão”, tocaram as sirenas dos carros do Corpo de Bombeiros de Salvador. ACM Neto e seu secretário de Educação, João Carlos Bacelar (umas das heranças mais polêmicas deixadas pelo prefeito João Henrique no governo de seu sucessor) foram avisados de que as labaredas de um grande incêndio, avistadas a quilômetros de distância em vário pontos da capital, consumiam o soberbo prédio principal do Parque Solar Boa Vista.
    A notícia, nas circunstâncias, não podia ser pior. Salvo um improvável( mas não impossível na terra dos maiores absurdos, segundo Octávio Mangabeira) desabamento do Elevador Lacerda, mundialmente reconhecido cartão postal da capital baiana. O Solar Boa Vista, monumento arquitetônico tombado pelo IPHAN como patrimônio nacional, é o lugar onde em 1858 residia a família do então garoto Castro Alves, que viria a se transformar no maior poeta da Bahia.Já abrigou também, por um período, a prefeitura da capital baiana, na administração de Mario Kertész, durante a construção da nova sede municipal, ao lado do elevador famoso.
    Diante das chamas, ACM Neto mandou seu secretário dar queixa imediatamente na Polícia Técnica do Estado, para apurar causas do desastre, que começou na coordenação da administração escolar e praticamente destruiu o prédio, uma jóia preciosa da historia cultural, política e da arquitetura da Bahia.O prédio que pegou fogo pertence ao governo estadual e estava cedido à prefeitura de João Henrique. Ontem de manhã, o governador Wagner visitou o  local arrasado pelo fogo, para levar um abraço de conforto e solidariede a um ACM Neto desconsolado, com a garantia do petista ao  adversário do DEM de que a edificação histórica está no seguro, será reformado e devolvido para continuar abrigando a secretária municipal de Educação, na nova administração.
    Sim, a Bahia ainda preserva essas gentilezas democráticas e republicanas (ou mero jogo de aparências, como alguns desconfiam)!
    “Um acidente lastimável”, tem pressa em qualificar o polêmico secretário municipal de Educação deixado por João Henrique, antes de terminar o rescaldo do fogo e da polícia técnica começar o seu trabalho para descobrir as causas do incêndio. Nas redes sociais multiplicam-se as comparações – das “más línguas adversárias”, mas inevitáveis na Bahia  dividida além das aparências entre DEM e PT – com o incêndio do Mercado Modelo, na primeira administração de Antonio Carlos Magalhães como prefeito nomeado de Salvador pelo regime militar…
    ACM Neto começou a primeira sexta-feira de 2013 com um “gabinete de crise” instalado na Prefeitura e uma “reunião de emergência” convocada por ele “para avaliar prejuízos e tomar providências”. As caravanas aos bairros estão suspensas “até segunda ordem”.
    O resto, para quem tem fé, é com Santo Antonio ou Ogum.
    A conferir.
    Vitor Hugo Soares é jornalista. E-mail: vitor_soares1@terra.com.br
    Fonte: Terra Magazine.
     
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