A cada ano, repetimos o velho hábito. O rito da passagem do ano é recheado de balanços, previsões, profecias, projeções. Videntes escolhem suas vítimas e os grandes acontecimentos, os búzios preveem o fim do mundo e catástrofes climáticas, cartomantes predizem guerras e campeões, economistas ditam a inflação futura e as taxas de crescimento. Acaba o ano e o calendário maia fica desmoralizado, o ministro da Fazenda, desacreditado - jurou que o PIB cresceria 4% e foi desmentido pelo 1% real. Videntes, tarólogos, cartomantes e economistas fazem novas assertivas sobre o futuro, sem sequer pedir desculpas pelos erros do ano anterior.
O mito da virada do ano faz parte do exercício daquilo que mantém o mundo em movimento e a humanidade em ação: o sonho, a esperança, o processamento das perdas e a fé em dias melhores.
No Brasil, o pessimismo é proibido. Afinal, sempre fomos e seremos o país do futuro. Nosso povo é contaminado por um otimismo atávico. Este, definitivamente, não é um país qualquer. É o Brasil de Pixinguinha, Noel, Chico, Caetano, Vila Lobos, Gonzaga e Paulinho. É a terra de Guimarães, Machado e Drummond. É o solo de Garrincha, Pelé, Zico, Romário, Ronaldos e Neymar. É a nação de homens como JK, Vargas, Tancredo e Ulysses. É o universo de um povo alegre, criativo, batalhador. Como ser pessimista? A lógica gregoriana está aí para nos avisar que é só uma questão de tempo, o futuro é nosso e ninguém tira, é só ter paciência e fé.
Gostaria de me somar à "banda dos contentes", ao exercício fácil de prognósticos otimistas. Mas não devo e não posso.
O ano de 2012 não terminou bem. O Brasil está perdendo oportunidades, sacrificando o horizonte de médio e longo prazo. Escândalos se sucedem a cada semana. O PIB de apenas 1% e a queda dos investimentos sinalizam tempos difíceis. A instabilidade regulatória, o viés estatista e a insegurança jurídica afastam parcerias. A má condução de assuntos em setores essenciais, como energia elétrica e petróleo, impede avanços. O Congresso, parecendo uma nau a deriva diante da incapacidade monumental de Dilma para a coordenação política e a promoção do diálogo, patrocinou cenas lamentáveis na votação dos royalties e sequer conseguiu votar o Orçamento para 2013. O PT, alvejado pela condenação de seus principais líderes no processo do mensalão, frequenta o perigoso terreno do confronto com as instituições democráticas e republicanas, como o Poder Judiciário, o Ministério Público Federal e a imprensa. Os estímulos fiscais e creditícios pontuais e a queda dos juros não produzem os efeitos esperados. Fica claro que uma nova rodada de reformas se faz necessária. A inflação ensaiou sair de controle. Enfim, 2012 não será lembrado como céu de brigadeiro ou mar de rosas.
Que venha 2013. Um pé no sonho, o outro na realidade. Se quisermos concretizar o país do futuro, não podemos ficar deitados em berço esplêndido. Há que se arregaçar as mangas e trabalhar duro.
Marcus Pestana é deputado federal (PSDB-MG)
Fonte: O Tempo (MG)