Até agora o Senado pouco contribuiu para o projeto do PSDB de fortalecer a pré-candidatura de Aécio Neves à Presidência da República. Seus discursos não calam o plenário, efeito produzido quando um grande orador sobe à tribuna (cada vez mais raros). Nas comissões, exceto num tema ou outro, sua atuação pouco se destaca. Os embates com governistas são considerados tímidos. Essa percepção começou a mudar, a partir da discussão da medida provisória que permitiu a renovação das concessões do setor elétrico em troca da redução das tarifas da energia pelas empresas, aprovada terça-feira. E, coincidentemente, dias após o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ter dado um empurrãozinho na candidatura.
Surgiu um Aécio diferente, mais participativo do debate e afirmativo nas críticas, apesar do forte apelo popular e da pressão do setor produtivo a favor da MP. "Não temos que temer esse debate", diz. Parece pronto a subir no palanque, já que a presidente Dilma Rousseff, na sua opinião, subiu muito antes da hora. Cita, como exemplo, o fato de ela ter anunciado, dias antes das eleições municipais, que tomaria medidas para aumentar o desconto na conta de luz. Só não avisou que precisaria contar com a colaboração de Estados e empresas.
O senador mineiro sinaliza que, como candidato em 2014 - como tudo indica -, estará pronto para defender ideias e pontos de vista do partido, ainda que pareçam impopulares. A maior movimentação de Aécio também pode revelar que falta pouco para ele aceitar suceder o deputado Sérgio Guerra (PE) na presidência do partido. A convenção deve ocorrer em maio.
Sinais mais claros da decisão de disputar
Para o PSDB voltar a aglutinar as oposições - não só os partidos, mas os setores da sociedade cansados do PT - o senador sabe que, primeiro, tem que resolver problemas internos. Um deles, a eterna briga entre aecistas e serristas. "Vou procurar Serra. Ele é muito importante nesse projeto. O PSDB precisa vencer o estigma de um partido desunido", diz.
Na ponta da língua, o caminho que o PSDB deve "resgatar": o de partido progressista, social democrata, não intervencionista, com discurso pela modernização da economia, ousadia nas grandes reformas, gestão eficiente, que estimule parcerias com o mercado. Com uma visão social forte, embora não assistencialista. Para isso, defende a profissionalização da sigla na capacidade de verbalizar e comunicar as posições.
"O PSDB tem que se apresentar de roupa nova. É isso que temos que fazer. Temos 2013 inteiro para isso", afirmou. Aécio está cheio de planos para o partido. Fala em "cara nova no ano que vem", em "coragem para enfrentar" o debate com o governo. Para ele, 2013 é o momento, já que, na sua visão, começam a ruir os dois pilares principais sobre os quais Dilma foi eleita: o sucesso da economia herdado do governo Lula e sua marca de grande gestora. Além disso, acredita que ela passará também a ser cobrada pelos problemas éticos nos quais petistas se envolveram, à margem das quais se manteve até agora.
Acusado de não ter atuado como líder da oposição no Senado, Aécio avalia que ainda não era hora. Nos dois primeiros anos de um governo, o eleitorado tem esperança de que as coisas deem certo. Como bom mineiro, não queria aparecer como o "cara da negação", que só vê pontos negativos e prega o caos.
Os tucanos querem uma reação organizada a partir de 2013, já que a população dá sinais de que começa a perceber que a gestão tem muitos problemas, embora a presidente mantenha a popularidade alta. Por enquanto, essa avaliação positiva é creditada pelos tucanos, ainda, ao fato de ela continuar sendo vista como a "candidata do Lula". A aposta é que, na segunda metade do governo, essa visão comece a mudar. Espera-se que, além de perder a máscara de boa gestora, Dilma terá a imagem de autoritária reforçada.
Está sendo feito um levantamento dos 13 compromissos de governo assumidos por Dilma na campanha. A intenção do PSDB é mostrar o que aconteceu, apontando os erros e, ao mesmo tempo, alternativas que o PSDB apresentaria.
Criticar a MP do setor elétrico foi um começo. Apesar do forte apelo popular e da pressão do setor produtivo, Aécio combateu a medida da tribuna, refutou sua utilização política pela presidente e tentou mostrar que, ao contrário da propaganda do governo petista, o PSDB não é contra baixar a conta de luz. Justificou o fato de empresas geradoras de energia de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, Estados comandados por tucanos, não terem aderido às novas regras como "uma coincidência", já que as empresas geradoras estão nesses Estados. E, na sua opinião, a MP vai "desorganizar" o setor e inibir sua capacidade de investimento.
Mostrou que Minas e São Paulo isentam setores da população do ICMS sobre as contas de energia, enquanto Estados governados por petistas, como o Rio Grande do Sul, não isenta "uma família sequer" do tributo. Afirmou que o Brasil está vivendo "apagões setoriais" e vai precisar de novos investimentos em geração.
"Lamentavelmente, as geradoras estaduais não têm o privilégio com que poderá contar a Eletrobrás, que a partir do ano que vem certamente buscará no Tesouro Federal os recursos necessários para manter em dia o seu cronograma de investimentos, em torno de R$ 9 bilhões, perdidos por essa medida provisória", disse. Para ele, o governo Dilma busca o "caminho do intervencionismo, da surpresa e da inviabilização dos investimentos em geração por parte de várias empresas estaduais".
Para Aécio, o PSDB não pode fugir de seu papel de aglutinador das oposições, já que, como ele mesmo reconhece, "menos pelas virtudes e mais pelas circunstâncias da vida e da política", mesmo o partido tendo perdido três eleições presidenciais, não surgiu outra força hegemônica no campo oposto ao do PT.
No cenário da economia "patinando" até 2014, o aparelhamento do Estado e a perda de capacidade de formar políticas públicas na gestão de Dilma, Aécio aposta, ainda, na relação desgastada entre governo federal e os Estados e os municípios. Defende um pacto federativo "pra valer", que transfira recursos diretamente para municípios e descentralize rodovias federais para os Estados. Para colegas, já encomendou o guarda roupa novo.
Fonte: Valor Econômico