Por Altamiro Borges
A aposta macabra da Folha
A mídia nativa até agora não entendeu a surra que a direita levou nas eleições da Venezuela no domingo. Em outubro, ela apostou no ricaço Henrique Capriles na disputa presidencial, mas teve de engolir uma nova e consagradora vitória de Hugo Chávez. Agora, ela até explorou o retornou do câncer do presidente para prognosticar um fortalecimento da oposição direitista. Mas também se deu mal. O “chavismo” venceu em 20 dos 23 estados e Capriles, o queridinho da mídia, quase perdeu em Miranda (52% a 48% dos votos).
Diante da surra, a mídia lambe as feridas. Em editorial ontem, intitulado “Um futuro sem Chávez”, a Folha fez verdadeiro malabarismo para explicar a derrota. Afirma que “os resultados das eleições estaduais na Venezuela tornam ainda mais incerto o futuro do país”. Ela só não explica a causa desta “incerteza”. Afinal, como o jornal mesmo reconhece, “o presidente Hugo Chávez – no poder há 14 anos, reeleito em outubro para mandato de mais seis – obteve vitória acachapante ao arrebatar 20 dos 23 Estados”.
A Folha tem a caradura de afirmar que Henrique Capriles, que quase perdeu a eleição no seu estado e que viu seus adeptos serem enxotados em cinco dos oito governos que administravam, saiu-se mais fortalecido da disputa estadual. “Credenciou-se, assim, como candidato natural na próxima eleição para presidente”. Na prática, a única aposta da famiglia Frias é na morte do líder bolivariano. “Chávez enfrenta um câncer designado como ‘pélvico’ que o levou à quarta cirurgia em Havana, Cuba. O prognóstico não é bom”.
Estadão e o "encanto chavista"
Já o Estadão, também em editorial, lamentou a surra sem disfarçar a sua tristeza. “Mesmo hospitalizado, enfrentando um câncer do qual se dizia curado e longe da Venezuela, o caudilho Hugo Chávez está desmantelando seus opositores, pavimentando o caminho para a manutenção do regime bolivariano na sua eventual ausência... As eleições mostraram a força do caudilho e, em igual medida, a incapacidade da oposição de superar as divergências e de apresentar-se como alternativa viável à ‘revolução bolivariana’”.
Apesar de desnorteada, a mídia nativa – que mais parece uma sucursal rastaquera do Departamento de Estado dos EUA – não desiste. Ela não tolera o “populismo” de Chávez e rejeita sua democracia “plebiscitária”. Sua aposta é no ricaço Henrique Capriles, que também é dono de veículos de comunicação. Mas admite que a situação não é fácil. “Como as urnas mostraram, a oposição venezuelana terá de ser muito mais eficiente e unida do que foi até agora para conseguir quebrar o encanto chavista”, confessa o Estadão.