Atos de desagravo por causa de acusações de Valério ocorrem em São Paulo e Brasília um dia após fim do julgamento do mensalão
Dcríene Cardoso
BRASÍLIA - Oito governadores, entre eles - um tucano, estiveram ontem em São Paulo a fim de "prestar solidariedade" ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por causa das recentes acusações do empresário condena¬do Marcos Valério segundo as quais o petista deu "ok" aos empréstimos fraudulentos do mensalão e teve até despesas pessoais pagas pelo esquema.
Valério prestou depoimento à Procuradoria-Geral da República em 24 de setembro deste ano, dias após ser condenado pelo Supremo por operar o esquema de pagamento de parlamentares que funcionou entre os anos de 2003 e 2005, durante o primeiro mandato de Lula no Planalto.
O ex-presidente afirma que as acusações feitas por Valério são uma "mentira". Ministros da presidente Dilma Rousseíf e dirigentes do PT já haviam saído publicamente em defesa de Lula.
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB),cujo nome se fortaleceu para a sucessão de 2014 após as eleições municipais deste ano, não compareceu ao encontro de ontem, realizado no Instituto Lula, na zona sul paulistana. Ele justificou a ausência dizendo que não poderia faltar à diplomação do prefeito eleito do Recife, Geraldo Julio (PS B), que derrotou a chapa petista na capital em outubro.
que isso não é respeitoso para com a figura do ex-presidente e com a memória do Brasil", afirmou o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB). Segundo ele, porém, o julgamento do mensalão foi mencionado, mas não tomou todo o tempo do encontro.
Participaram, da reunião no Instituto Lula os governadores Tião Viana (PT-AC), Camilo Capiberibe (PSB-AP), Jaques Wagner (PT-BA), Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Silvai Barbosa (PMDB-MT), Agnelo Queiroz (PT-DF) e Teotónio Vilela Filho (PSDB- AL). O tucano, inclusive, foi um dos porta-vozes do grupo ao final da reunião.
O governador do PSDB disse ser "um velho amigo" de Lula. Aos jornalistas, Teotónio Vilela Filho disse que apesar de ser de um partido de oposição ficou à vontade no encontro porque es¬tava "entre companheiros".
"Sou amigo pessoal do presidente Lula e o Estado de Alagoas é muito grato à postura republica¬na, solidária e parceira que o presidente Lula teve para com o Estado," afirmou o tucano. "O presidente Lula tem um grande ser¬viço prestado ao Brasil assim co¬mo teve o presidente Fernando Henrique Cardoso. Não é uma denúncia de um Marcos Valério que vem desmanchar o trabalho que foi feito", acrescentou o governador do PSDB, afirmando que figuras prestigiadas internacionalmente como Lula e FHC "precisam ser preservadas".
O petista Agnelo Queiroz questionou a estratégia "rasteira e sórdida" de alguns grupos, que segundo ele tentam desconstruir a imagem de Lula. "Não podemos admitir i a tentativa de desconstruir a imagem do presidente Lula da for¬ma como estão fazendo", disse.
Segundo Cid Gomes, durante , o encontro os governadores tam¬bém falaram sobre reforma e va¬lorização da política, além do te¬ma mais quentes no Congresso Nacional como a distribuição dos royalties do petróleo.
Segundo relatos dos governa¬dores, Lula defendeu o diálogo entre os Estados produtores e não produtores de petróleo e a busca de um consenso. "O presidente sempre pregou o diálogo, mas às vezes se tem de radicalizar para encontrar um caminho para o meio termo", afirmou Cid Gomes*
Parlamentares do Congresso também realizaram ontem um ato pró-Lula em Brasília, comandados por petistas e aliados.
O líder do governo Dilma Rousseff na Câmara dos Deputa¬dos, Arlindo Chinaglia (PT-SP), fez um dos discursos mais veementes. "Lula é um baluarte do povo brasileiro. Lula é o maior presidente do Brasil", disse.
"Sabemos que ele, de maneira sóbria e elegante, teve a atitude de lutar com aqueles companheiros que queriam que ele tivesse mais um ou dois mandatos consecutivos", complementou.
Favorito para ocupar a presidência da Casa no próximo ano, Henrique Eduardo Alves registrou o apoio do PMDB ao ato. "O presidente Lula é um. patrimônio do País, o que ele fez mudou a história do País. Por isso a minha posição é de respeito ao, talvez, maior presidente da história do ! Brasil", afirmou o peemedebista. Irmão de José Genoino, conde¬nado no mensalão por corrupção ativa e peculato, o deputado José Guimarães (PT-CE) não fez no discurso qualquer menção ao julgamento no STF limitando-se a repetir as palavras de ordem do evento. "Lula, mexeu contigo, mexeu com o Brasil, mexeu com a democracia", disse.
Convocado pelo líder petista, Jilmar Tatto (SP), o ato contou ainda com a presença de políticos de PSB, PP, PTB, PR, PV, PC do B, entre outros. O atual presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), também participou. Ab¬solvido pelo Supremo, o ex-deputado Paulo Rocha (PT-PA) esteve presente, mas não discursou.
Pés. Ambas as manifestações pró-Lula ocorrem um dia depois de o Supremo concluir o julga¬mento do mensalão, no qual a antiga cúpula do PT e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foram condenados, segundo os ministros da Corte, por comprar votos no Congresso Nacional no governo Lula. As acusações feitas por Marcos Valério no dia 24 de setembro ainda não foram incluídas em nenhuma investigação sobre o caso. O Ministério Público Federal pode, a partir de agora, abrir um procedimento para saber se há de fato alguma prova de suas declarações. Pode também pedir o arquivamento do depoimento.
Fonte: O Estado de S. Paulo