Entrevista com a prefeita Luizianne Lins

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  • domingo, 23 de dezembro de 2012
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  • A prefeita explica pela primeira vez o cancelamento do Réveillon, diz que Cid Gomes já tinha planos de fazer a festa, comenta sua decepção com o governador e defende seu desempenho como gestora.
    O POVO – Qual a marca que a prefeita Luizianne Lins deixa para Fortaleza?
    Luizianne Lins – Vou partir do princípio que estou deixando uma cidade radicalmente diferente da que eu recebi, em todos os sentidos. E, principalmente, a alma da cidade. Acho que a alma da cidade foi tocada verdadeiramente. Acho que a cidade foi descoberta pelo Brasil. Os índices oficiais do Ministério da Saúde, do Ministério do Trabalho são impressionantes. Não vi nenhuma cidade no
    Brasil que teve tanto legado virtuoso, no ponto de vista que a cidade aconteceu.  Como marca, acho que a gestão se caracterizou por começar a construção de um projeto de cidade. Porque essa cidade tava tão defasada do ponto social, político, de cultura política, postura política, que deixamos a marca de perceber, de olhar pra cidade de forma diferenciada. Invertemos a pauta da cidade. Olhamos pro povo mais pobre. Compreendemos que Fortaleza é uma cidade apartada socialmente e juntamos a cidade. Somos responsáveis por inaugurar o primeiro espaço de massa, de socialização das pessoas, que foi o Réveillon. Em sete anos nessa travessia, onde não houve um problema de violência, de denúncias policiais ou coisas do tipo. O evento foi todo caracterizado por uma paz absoluta, de juntar as pessoas mesmo com classe social diferenciada, idade diferenciada, orientação sexual diferenciada. E dá certo e sempre foi caracterizado pelo fenômeno da paz. Isso pra mim é muito forte. Não acho que isso vem por acaso, mas de uma coisa anterior. Porque nós melhoramos em todas as áreas. Por exemplo, essa preocupação da marca do social envolve a diminuição das áreas de risco, da estruturação da defesa civil, que até então só existia defesa civil estadual. Nós começamos a criar e estruturamos a defesa civil municipal. Nenhum cidadão morreu vítima de alagamento ou vítima de problemas nas áreas de risco, que tínhamos muitas. Uma gestão que se caracterizou, por exemplo,  por uma questão forte do pensamento ambiental. Recuperamos lagoas que estavam se acabando e ninguém falava nisso. Ninguém falava em preservar o patrimônio ambiental da cidade. Nós vamos deixar a marca do resgate do patrimônio histórico e cultural da cidade, que também nunca teve. Fortaleza era uma cidade muito largada, que não tinha essa consciência. Deixamos uma cidade com muita virtuosidade no sentido de investimentos. Fortaleza hoje é a cidade do Nordeste que mais abre pequenas e médias empresas. Uma cidade que fez com que a periferia se sinta no direito de cobrar os direitos dela, assim como a área nobre sempre cobrou. A marca da Fortaleza Bela pra nós traz um conceito de cidade para além da infraestrutura física, que nós também melhoramos e fizemos grandes obras. Nós também soubemos fazer a Fortaleza Bela porque nós pegamos uma cidade cheia de lixo. Nós regularizamos a coleta, nós pegamos a cidade com muitos problemas de infraestrutura e resolvemos uma boa parte. Mas a Fortaleza Bela pra nós é uma utopia de cidade que não está, mas está para ser.  Nós iniciamos o processo de construção da Fortaleza. É um legado que nós vamos deixar na consciência das pessoas. Hoje o cidadão mais simples e o mais rico dessa cidade exigem a Fortaleza Bela do mesmo jeito. Porque ele quer a Fortaleza Bela no bairro dele, seja o bairro mais pobre dessa cidade. Eu acho que essa consciência política da cidade, a consciência da cidade para todos, que se percebe senhora de si é um grande legado que nós deixamos. Nós vamos deixar a marca da participação popular. Nós revitalizamos todos os conselhos populares institucionais. Criamos o processo do orçamento participativo que é levado muito à sério por nós, desde as assembleias, desde as definições a as publicações. Dentre nossas grandes obras está o PV, que nós construímos com muito amor. Tem também o transporte escolar gratuito. Os conjuntos habitacionais, o Vila do Mar. A Domingos Olímpio, o Transfor. A avenida Abolição, o riacho Maceió urbanizado. O Paço Municipal foi tombado e restaurado. O Passeio Público, o Estoril. Academia na comunidade, tai chi chuan nas praças,  inclusão social das pessoas com deficiência, estádio Antony Costa no Antônio Bezerra. Criamos praças em cada regional. A gente deixa um legado muito grande na cultura. Não tinha política cultural nessa cidade, só uma Fundação de Cultura, Esporte e Turismo (Funcet). Nós construímos uma Secretaria de Cultura, outra de Esporte e outra de Turismo. A praia de Iracema foi completamente requalificada e resgatada. Tem o espigão da Rui Barbosa e o calçadão da Barra do Ceará. Estou deixando outra cidade. Muito mais inteira.
    OP – A senhora fala da consolidação do Réveillon em Fortaleza. A senhora não acha que não fazer o Réveillon nesse momento, vai atrapalhar a sua marca?
    Luizianne - Não vou fazer porque estou saindo mesmo. Se a festa fosse dia 30, dia 29, dia 28, podia ser. Nós vamos fazer um festival de inaugurações na praia de Iracema que vamos ter três shows, 28, 29 e 30. Se fosse período, podia ser. Uma festa daquela você precisa vinte dias antes se dedicar completamente a ela. É uma festa complexa, que envolve muitas responsabilidades. Foi muito duro fazer esse esforço por todos esses anos e ter muita crítica. Crítica da imprensa, do TCM, do MPE, do MPF, do TCU, da CMF, da AL. E processos e processos que até hoje respondo por causa das festas de Réveillon. Agora respondo porque estou aqui, prefeita. E a partir de 1° de janeiro?
    OP – Mas a senhora não acha que isso vai pesar na marca que a senhora deixa como prefeita? A senhora não acha que a população não vai lembrar disso como marca final da gestão?
    Luizianne - Acho que não. Eu recebi tanto apoio das pessoas pra não fazer. Porque as pessoas sabem que uma marca negativa do Réveillon, caso acontecesse alguma coisa na festa, pode suplantar todas as outras marcas boas que deixei. É um momento delicado, eu tô saindo. As pessoas têm que entender que meu governo acabou. Durante meu governo eu posso fazer as coisas e me responsabilizar por elas. Eu não tenho medo de enfrentar dificuldades, tanto que fiz um Réveillon ano passado com um milhão e meio de pessoas, mesmo com a greve da polícia militar. O Réveillon já é pra estar consolidado ao ponto de que hoje a própria cidade, a iniciativa privada, entre de cabeça e o poder público venha só auxiliar, como acontece em outros lugares. Nós não conseguimos ainda que a inicitiva privada comprasse pra si a ideia da festa e o poder público só ajudasse. A carga ainda é toda sobre o poder público municipal. Mas, acho que isso não vai ficar marcado na cabeça das pessoas não. As pessoas entendem que no final das contas foi um produto criado por nós, mas que meu governo acabou.Nunca me foram dadas as seguranças necessárias do ponto da segurança pública pra fazer a festa. A Secretaria do Patrimônio da União cedeu o aterro pra fazer uma festa recentemente, mas, até agora, estranhamente, não licenciou pra nós. Então, não me senti à vontade. Porque, no fundo, o que o governador queria era fazer a festa, era me tirar esse legado. Talvez por isso as instituições que estão no entorno fizessem com que a gente, a esta altura do campeonato, não tivéssemos a estrutura pra fazer a festa.
    OP – A senhora acha que o governador já tinha planos de fazer a festa?
    Luizianne - Acho. Eu tava sendo abordada por pessoas que estavam querendo saber de forma muito ansiosa se eu não ia fazer a festa. Pessoas, produtores que estavam interessadas em fazer a festa como se já soubessem que ela ia ser feita. Como é que uma pessoa diz que não vai fazer a festa num dia  e no outro dia os artistas estão todos contratados? Não existe isso. Como o governo dele está em curso, no próximo ano ele continua governador, facilita pra ele. Não acho que isso vai me deixar uma marca negativa não. Eu não sei se a policia militar, a segurança que é do Governo do Estado, que não é mais meu aliado, vai de fato cumprir com as responsabilidades institucionais que eles têm e que contei durante todos esses anos.
    OP – Uma das marcas dos especialistas que ouvimos foi da Luizianne como mulher guerreira, heroína, mulher simples, mulher que veio pra trabalhar para o povo. A senhora acha que se encaixa nesse perfil?
    Luizianne - Acho que sim. Acho que meu objetivo foi esse, governar pro povo mais simples, não que a gente tenha esquecido de governar para todos. Mas pra governar pra todos é tratar diferente os diferentes. Por que o nosso Réveillon sempre foi da paz? Porque a visão da festa é que todos são importantes pro poder público. Uma outra marca que eu não tenho dúvidas que vou deixar é na qualidade das nossas obras. Nossas obras são de excelente qualidade. Obras maravilhosas para as pessoas pobres, porque a gente acha que todo cidadão merece a mesma qualidade de obra, coisa boa. Você vê um Cuca, um Hospital da Mulher, fizemos com bom gosto, com detalhes. O Paço, o Estoril, são todas obras de qualidade, como o povo merece.
    OP – Os especialistas ouvidos falaram também que faltou gestão, faltou execução, faltou a prefeita executora. Como a senhora encara isso?
    Luizianne - É completamente equivocada essa avaliação. As pessoas têm uma concepção formal, burocrática do que seja gestão.  O que é gestão além de você tirar a cidade de um buraco financeiro, sanear as finanças da cidade, captar mais de 1 bilhão de obras e projetos da cidade e executar mais do que nós executamos? Vila do Mar, Praia de Iracema, 81 novas escolas construídas padrão MEC, 900 novas salas de aula, criação da defesa civil, ampliação da guarda municipal, transfor, 190 km de rebaixamento de calçadas, drenagem urbana em 60% da cidade, casas construídas, iluminação de áreas de risco, lagoas urbanizadas...Isso é gestão. Isso é execução. Isso é obra.
    OP – A senhora acha que essa avaliação se deve às obras inacabadas? Os dois CUCAS prometidos, das regionais V e VI, ainda não foram entregues.
    Luizianne - Esses dois serão inaugurados, sim, antes do fim do meu governo. Não é porque as obras são inacabadas, é porque Fortaleza precisava de muita obra e eu abri muitas frentes  de serviço de obras porque eu consegui muito dinheiro pra investir na cidade. Fortaleza é a cidade brasileira que, desde 2006, mais investe recursos externos em obras. Tivemos recursos do BNDS, BID, CEF, Governo Federal. Nós fizemos obras demais porque a cidade precisava. E não é que não terminou. Por exemplo, nós terminamos o Transfor 1, mas tem o Transfor 2 e o 3. Mas não podemos fazer tudo em 8 anos. Nós recebemos o caixa de dívida fundada, que é dívida de empréstimo, no valor zero. Estava zerado.  E vamos deixar mais de um bilhão de reais pro próximo prefeito. Tudo eu comecei do zero: os projetos, depois captar recursos, depois licitar. Não tinha nada como estou deixando. Estou deixando o projeto licitado da Beira Mar inteiro. 204 milhões de reais capitados, ele só tem que executar.  A visão geral da cidade, e o que ela precisava, era muita coisa.  E muita coisa foi concluída. O Paço Municipal foi concluído, também o Passeio Público, o Jardim Japonês, a Praia de Iracema, o Estoril, o Pavilhão Atlântico, o Boulevard da Almirante Tamandaré, o Espigão da Praia de Iracema, o Vila do Mar, aumento de praia, indenização das casas, foi construído mais de 500 casas no Vila do Mar e outras estão em construção de forma a somar 1.300. O que é isso, se não executar? Essa cidade nunca viu, nos últimos 50 anos, tantas obras quanto nós fizemos. Foi o governo que mais fez obra na cidade e tá deixando dinheiro, projeto licitado e obras apenas pra executar. Não foram concluídas algumas obras porque foram tantas, que uma ou outra vai ficar por ser concluída. Mas o caminho foi dado e há dinheiro para que se finalize a execução.  O Hospital da Mulher foi entregue, vão ser entregues 3 Cucas, escolas padrão MEC. O que é gestão, se não isso? Acho que isso é um preconceito.
    OP – Preconceito pelo fato de a senhora ser mulher?
    Luizianne - Não, isso é um preconceito com a minha forma de ser e como eu trabalho. As pessoas têm uma visão tradicional de gestor, e eu não sou uma gestora tradicional. Isso não quer dizer que eu não tenha feito uma grande gestão.
    OP – Mas a senhora acha que sofreu algum preconceito por ser uma gestora mulher?
    Luizianne - Muito!
    OP – Inclusive na execução? Houve essa coisa de “a mulher não sabe gerir”?
    Luizianne - Sempre querem estabelecer isso. Quando é boa na política dizem que não sabe fazer gestão. Como? Quem foi o prefeito dessa cidade que fez tanta obra quanto eu fiz? Qual prefeito mais fez essa cidade se movimentar culturalmente? Isso não é gestão? O que é gestão, então? Isso é uma visão burocrática, preconceituosa do que seja gestão.
    OP – O candidato da senhora, completamente desconhecido, teve quase metade dos votos da população de Fortaleza no segundo turno. O que faltou para que Elmano de Freitas (PT) conquistasse mais do que os 48% de eleitores que foram insuficientes para que ele fosse eleito?
    Luizianne - Eu tenho uma visão de que a eleição nos foi tomada. Tanto é que existe uma ação que questiona isso. Até a véspera da eleição a pesquisa estava rigorosamente empatada. O que eu acho foi que não faltou compreensão, mas houve uma série de irregularidades no processo eleitoral como antes essa cidade nunca viu. Essa cidade no dia do segundo turno nunca foi tão agredida. Nunca, geração alguma que eu conversei, viu algo parecido com o que aconteceu naquele dia. Nem na época dos coronéis se viu tanta agressão à cidade. Mais de 100 mil pessoas se deslocaram do interior pra cá para fazer isso. Mas, acho que eu pequei num ponto. Eu achava que inaugurar obra não era importante, eu tinha mais era que fazer. Achava que inaugurar era vaidade. Qual o gestor que em quatro anos construiu mais de 40 escolas no padrão MEC? Não sei. O que eu acho foi que faltou mostrar à população tudo o que foi feito.  O que me faltou foi uma estratégia mais organizada na comunicação, e ao mesmo tempo, talvez, essa gestão do espetáculo que eu não gosto de fazer. Tem gente que faz as coisas pela metade e divulga dez vezes como se tivesse feito. Eu fiz dez vezes e divulguei pela metade. Eu acho que isso aí é algo que eu reavaliaria. Mas, com relação a todas as outras coisas, eu faria tudo de novo, mesmo sendo incompreendida.  Eu faria mais uma vez o Vila do Mar antes da Beira Mar, mesmo sabendo que era uma área onde os formadores de opinião só transitam na área nobre da cidade e não sabem nem que o Vila do Mar existe, mas eu faria de novo por uma questão moral. Porque a minha história como militante de direitos humanos e como amante dessa cidade, me faz ver que eu tinha obrigação moral e ética com esse povo em primeiro lugar, que esse povo tava sofrendo há mais tempo.
    OP – Como a senhora avalia sua imagem depois da eleição?
    Luizianne - Eu não sei precisar isso. Mas, ouvi uma coisa do Lula que foi muito bacana. Quando ele me chamou no Instituto Lula depois da eleição, ele me disse uma coisa interessante: “Luizianne,  você sai mais forte do que quando você foi reeleita em 2008. Porque primeiro você não tava pedindo voto pra você, e quando a gente não pede voto pra gente é sempre mais difícil. E a segunda coisa é que estavam todos do seu lado em 2008: PMDB, PCdoB, PSB. E agora estavam todos contra você. E mesmo assim você conseguiu quase a metade da cidade do seu lado lhe apoiando. Então você agora sai politicamente mais forte”.  Ouvi dele isso e isso pra mim foi muito confortante, um sentimento de entender que várias pessoas, apesar de tudo, reconheceram nosso trabalho. E principalmente o povo que foi testemunha ocular disso. Os conselheiros do orçamento participativo, por exemplo, foram testemunhas de problemas que foram resolvidos que não estavam na visão da classe média ou da área mais nobre da cidade. Pouca gente sabe que tem uma ponte maravilhosa, uma obra gigantesca, fruto do orçamento participativo. É uma ponte que liga o José Walter ao Conjunto Palmeiras, se chama Valparaíso. Um projeto de estrutura maravilhoso. Mas quem sabe disso? Só o povo que mais precisava da ponte. Eu sou muito crítica com quem acha que a cidade é um espaço pra se ficar experimentando suas vaidades. Todas as obras da cidade têm que estar em sintonia com o pulsar da cidade, com as pessoas que moram na cidade. Só em ter feito um governo pautado por isso, isso pra mim já é uma grande vitória.
    OP – O sentimento agora é de decepção com os que eram aliados até pouco tempo e depois da derrota acharam muito fácil pular do barco? Os seus antigos aliados do PMDB, PSB, não foram prestigiar a visita da presidente Dilma ao Hospital da Mulher.
    Luizianne - Minha maior decepção foi com o governador Cid Gomes, porque era uma pessoa em que eu acreditei em determinado momento. Eu confiei nele. Principalmente quando ele não era nada, apenas ex-prefeito de Sobral . E eu achei que ele era diferenciado. Pra mim, ele foi uma profunda decepção. Decepção pela forma como ele me tratou, pelo que ele disse de mim. Coisas injustas e duras com a minha figura pessoalmente. Eu nunca o ofendi, principalmente em momentos que ele mereceu até. Eu nunca fiz isso, porque aliado não é pra fazer isso. Eu me decepcionei muito com a agressão que ele me tratou, com as coisas que ele disse pessoalmente de mim, críticas injustas à minha pessoa.  A minha vida toda eu dediquei a política, faz 14 anos que eu não tiro férias oficiais. E ele ter dito que eu não gostava de trabalhar e só gosto de fazer confusão foi de um desrespeito enorme. De uma arrogância profunda que eu não esperava dele. Ele é minha pior decepção  porque foi nele que eu mais coloquei expectativa. Hoje, não. Acho que ele é dissimulado. Acho que ele é enrustido, no sentido de não falar, mas na hora que ele acha que é conveniente ele vai lá e agride. Eu não esperava isso dele. Mas tem muita gente fiel também. Parceiro e companheiro nas dificuldades. Mas a minha principal mágoa é dele. O resto faz parte do jogo, da história. Não criei expectativa com outras pessoas, mas com ele sim. Se eu soubesse que essa história seria contada dessa forma  e que ele me agrediria na forma como me agrediu, eu jamais tinha levado muitos dos meus a apoiá-lo como eu fiz, acreditando nele, na pessoa dele. Isso pra mim foi doloroso.
    OP – Qual a diferença entre a Luizianne que entrou na prefeitura em 2005 e a que sai agora em 2012?
    Luizianne - Mais madura no sentido da compreensão de todo esse processo. O Executivo é um poder muito duro. Eu fui oito anos parlamentar e estive oito anos no Executivo, e o Executivo é incomparável no sentido de ser muito duro como poder mesmo. São várias decisões a serem tomadas, os conflitos sociais que você tem que estar o tempo todo se posicionando, é preciso ser muito forte. Por isso, é impossível você sair do mesmo jeito.  Hoje eu me sinto preparada pra qualquer coisa, depois que eu passei por isso.
    OP – A senhora será candidata a governadora ou senadora em 2014?
    Luizianne - Isso serão águas futuras que ainda não estão postas. Sobre isso eu não falo porque também tenho muitas dúvidas do que vai ser da minha vida daqui pra frente.
    OP – E no dia 1° de janeiro de 2013? O que a senhora pensa em fazer?
    Luizianne - Depois que eu transmitir o cargo ao prefeito eleito vou sair no meu Pálio, meu carro particular, e fazer o que eu não faço há 16 anos: cuidar das minhas vontades, dos meus desejos, dos meus hobbies. Vou ler, escrever, estudar. Vou cuidar do meu filho porque fui muito ausente, não estive presente, viajei muito. A partir desse dia eu vou buscar contato comigo mesma. Pelo menos no mês de janeiro vou fazer isso. Me permitirei ficar sem preocupações. Porque você nunca deixa de ser prefeita, ainda mais no meu caso, porque meu atual vice foi eleito deputado. Então, eu não tenho vice. Mas em tempo integral você é prefeita, sua vida vira isso, você está trabalhando nisso e só pensa nisso. Eu sempre fui muito dedicada, então vou pensar em mim. Desde muito jovem cuidei do povo, dos outros, então agora vou olhar pra dentro e me encontrar de novo, a Luizianne pessoa física.
    OP – Mas já tem uma ideia para onde a senhora vai?
    Luizianne - Vou passar o mês de janeiro fora. Vou para o Rio de Janeiro. Na hora que sair daqui vou direto pro aeroporto, sozinha. Vou olhando o tempo, sem me preocupar de forma concreta com a responsabilidade que é ser prefeita de uma cidade tão grandiosa como essa. Pela primeira vez, depois de 16 anos de vida pública institucional e quatro anos de vida pública do movimento social, sindical, estudantil, partidário, eu fecho um ciclo de 24 anos de vida pública.,
    OP – A senhora vai pra Câmara na posse de RC?
    Luizianne - A cerimônia vai ser aqui, no Paço. Vou fazer mais ou menos como foi a passagem do dr. Lúcio Alcântara para o Cid. O Cid tomou posse na Assembleia sem o dr Lúcio, e depois foi pro Palácio da Abolição pra transmissão de cargos, que são duas cerimônias diferentes.  Eu vou fazer ao menos isso. Vou sair daqui no meu carro particular para o aeroporto.
    OP – Como fica a relação da senhora com a UFC?
    Luizianne - Vou pedir licença pra interesses particulares porque eu preciso estudar pro mestrado. É isso que eu vou fazer agora. Eu fazia mestrado na UFC de Filosofia Contemporânea, mas fui jubilada porque comecei a disputar a Prefeitura. Agora, vou estudar pra um novo mestrado e depois doutorado. E vou continuar sendo presidente estadual do PT até novembro, porque o  ex-presidente Lula e a presidente Dilma me chamaram em momentos diferenciados e pediram que eu não saísse da vida pública de Fortaleza, nem da presidência estadual do PT. Porque eu pretendia me licenciar também da presidência estadual do PT. Isso o Rui Falcão, que é presidente nacional do PT também me pediu. Ou seja, é um pedido de pessoas muito especiais, por isso vou atender. Vou ficar só janeiro afastada, mas a partir de fevereiro estou de volta às atividades como presidente estadual do PT no Ceará e devo ficar até novembro.
    OP – Qual a mensagem que a senhora deixa como prefeita numa última entrevista como prefeita?
    Luizianne - Primeiro, que eu saio com o coração alegre, porque eu saio com o sentimento de dever cumprido. Fiz um governo onde procurei dar o máximo de mim, principalmente do ponto de vista ético. Saio sem nenhum tipo de escândalo nem nada que me envergonhe, muito pelo contrário. Em oito anos, fiz as coisas direito e saio do jeito que eu entrei. Isso é um motivo de alegria muito grande. E fiz tudo o que eu podia, me dediquei mesmo a essa cidade. De corpo e alma. A única coisa que eu queria é que as pessoas entendessem que essa cidade não pode dar nem um passo pra trás, em nenhum aspecto. Porque os passos mais difíceis foram dados. Agora a cidade tem que cobrar mais conquistas ainda. Tenho um amor grandioso por essa cidade, sou apaixonada por Fortaleza. Nunca sai daqui pra morar fora, vivi minha vida toda aqui. Isso porque acredito nessa cidade, no potencial do povo, no potencial econômico e turístico dessa cidade, acredito na nossa Fortaleza. Saio acima de tudo com sentimento de dever cumprido. Tudo o que podia ter sido feito eu fiz. Fiz até coisa demais, tanto que não deu tempo de terminar. Não pequei por omissão, mas por excesso. E isso só me deixa muito orgulhosa e feliz, além de grata à metade da cidade que, oito anos depois, compreendeu a nossa luta e foi lá e marcou a diferença votando no candidato do PT para dar continuidade ao nosso projeto. Ou seja, pelo menos metade da cidade queria a continuidade do projeto. E isso pra mim é motivo de muita alegria e só aumenta meu carinho por essa cidade.
    OP – O PT vai continuar aliado ao PSB? Já decidiram se farão oposição ao Cid?
    Luizianne - Não. Isso é uma discussão que faremos no início do próximo ano. Em fevereiro retomaremos esse debate.Reproduzido do Jornal O Povo.
     
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