A revista Veja emitiu nota considerando "revanchismo" o indiciamento do seu diretor da sucursal de Brasília, Policarpo Júnior, na CPI do Cachoeira. Para tentar desqualificar trabalho do relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), a nota da revista diz que o Ministério Público e a Polícia Federal teriam passado uma espécie de atestado de idoneidade ao jornalista. Nada mais falso. Pelo contrário, a intensidade da relação do jornalista com o contraventor chamou atenção da Polícia Federal. O que não havia era um aprofundamento nesta linha de investigação, dado o volume de coisas e pessoas que haviam para serem investigadas.
Está transcrito com todas as letras na página 4509 do relatório de Odair Cunha, um trecho de um relatório da Polícia Federal de 2011 (antes do início da CPI, portanto) que levanta suspeitas sobre condutas que podem ir além das relações jornalista-fonte. Eis o trecho:
Nesse sentido, a própria Polícia Federal, asseverou em relatório parcial de conclusão das investigações (Ofício n. 68/2011-0PMC/SR/DPF/DF Ref.: Processo
cautelar de Interceptação telefônica n° 13279-78.2011.4.01.3500, em apartado aos autos do Processo 12023-03.2011.4.01.3500 - IPL 08912011-SR/DPF/DF):
“(...)
Exmo. Sr(a) Juiz(a) Federal da te Vara Federal de Goiânia-GO (em mãos)
O DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL, por intermédio de seu Delegado de Polícia Federal que subscreve esta peça, vem, no exercício de suas atribuições legais, perante V. Exa., em obediência ao r. despacho de I1s.6435/3436, datado de 02 de agosto de 2011, apresentar RELATÓRIO DE
INTELIGÊNCIA acerca dos ENCONTROS-FORTUITOS envolvendo pessoas que possuem prerrogativa de foro, que foram interlocutores (ou referidos) de investigandos dos autos principais.
....
CARLINHOS CACHOEIRA, além de utilizar parte da imprensa de ANÁPOLIS de forma direta, demonstra, pelos áudios interceptados; conseguir "emplacar" reportagens de seu interesse em outros órgãos da mídia. Destaca-se sua ligação com dois importantes jornalistas, RENATO ALVES, repórter do Jornal
CORREIO BRAZILIENSE, e POLICARPO JÚNIOR, Editor Chefe da Revista VEJA em BRASÍLIA.
Por sua vez, CACHOEIRA utiliza de seu contato com POLICARPO para passar informações que obtém que levam a reportagens na Revista VEJA, que venham a favor de seus interesses políticos. Exemplo disso é a reportagem veiculada na página da Veja que teria sido o "estopim" da queda da cúpula do MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES.
Os dados iniciais que deram subsídios à investigação da VEJA que resultou na série de reportagens, teriam sido repassados a POLICARPO pessoalmente por CLÁUDIO ABREU, após intermediação feita por CARLINHOS. O interesse de CLÁUDIO ABREU deveu-se ao fato de que a DELTA estaria sendo prejudicada nos possíveis negócios escusos envolvendo o DNIT em obras de engenharia.
Este episódio demonstra que CARLINHOS possui informações e contatos que lhe permitem, mesmo que indiretamente, causar abalos políticos de tamanhas proporções, como o que ocorreu no MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES...
Há mais de 80 páginas no relatório de Odair Cunha descrevendo diálogos e o relacionamento entre o jornalista da Veja e o bicheiro, desde 2004. Se há alguma falha é, nesta parte, não ter incluído como mais um dos motivos para indiciamento, a ameaça da mulher de Cachoeira ao juiz Alderico Rocha Santos, com um dossiê que seria divulgado na revista Veja, através de Policarpo Júnior.
Diante de fartas evidências, não indiciar o jornalista praticamente equivaleria a prevaricar. E o indiciamento não é condenação. É uma recomendação para abertura de inquérito, onde o jornalista, a revista e Cachoeira poderão apresentar suas versões dos fatos, já que a própria revista fez forte lobby para não prestar depoimento na CPI, de forma a apresentar os esclarecimentos necessários.